Quais os benefícios de uma corrida moderada?


Em um esporte que premia a velocidade, às vezes é mais saudável ser a tartaruga do que a lebre

Por Danielle Friedman

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Muitos corredores são movidos pelo desejo de cruzar a linha de chegada o mais rápido possível. Sou movida pelo desejo de atravessá-la antes que os organizadores da corrida vão embora.

Eu quase não consegui. Durante os últimos quilômetros da Maratona de Nova York de 2016, tive o que parecia ser minha própria escolta policial, enquanto trabalhadores da cidade desmontavam a pista atrás de mim. Amigos que prometeram me animar abandonaram seus postos para irem jantar. A corrida foi o ponto alto da minha vida, mas estaria mentindo se dissesse que fiquei emocionada por cruzar a linha de chegada quase por último.

Como muitas pessoas que optam por correr maratonas, sou uma batalhadora - quero conseguir, otimizar e impressionar. Mas em uma cultura que celebra velocidade e poder, há pouca glória em ser um retardatário.

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E, no entanto, depois de centenas de quilômetros de treinamento e dezenas de corridas de rua, estou aprendendo a conciliar meu ritmo de tartaruga com meu desejo de me considerar uma atleta. Isso foi melhor resumido pelo que a psicóloga de saúde da Universidade de Stanford, Kelly McGonigal, chamou de “o barato da persistência” - uma espécie de recompensa fisiológica por não desistir.

O barato da persistência funciona assim: quando nos movemos em um ritmo fácil a moderado - o que McGonigal descreveu como um nível de intensidade para “sentir-se bem” - por pelo menos 20 minutos, muitas vezes experimentamos uma enxurrada de bioquímicos chamados endocanabinóides que há muito tempo foram identificados como “o barato do corredor”.

Curiosamente, alguns pesquisadores descobriram que não experimentamos esse efeito psicológico se corrermos com esforço máximo. Correr em um ritmo gerenciável é o que geralmente leva a essa sensação de que tudo está certo no mundo. “Não há uma medida objetiva de desempenho que você deva alcançar, nenhum ritmo ou distância que você precise alcançar, que determine se você experimenta uma euforia induzida pelo exercício”, escreveu McGonigal em seu livro The Joy of Movement: How Exercise Helps Us Find Us Find Happiness, Hope, Connection, and Courage. (A Alegria do Movimento: Como o exercício nos ajuda a encontrar a felicidade, esperança, conexão e coragem) A recompensa vem simplesmente de manter o curso.

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Many runners are driven by a desire to cross the finish line as fast as possible, but in a sport that rewards speed, sometimes itÕs healthier to be the tortoise than to be the hare. (Chris Gash/The New York Times) Ñ FOR EDITORIAL USE ONLY WITH NYT STORY SLUGGED SCI FINISHING LAST BY DANIELLE FRIEDMAN FOR JUNE 13, 2022. ALL OTHER USE PROHIBITED Ñ Foto: CHRIS GASH

A vista do caminho de volta

A cultura fitness nem sempre facilita a persistência dos corredores da retaguarda. A corrida só se tornou uma atividade de lazer para as massas na década de 1970 e geralmente incentivava a velocidade. “Historicamente, correr não era para ser um hobby”, disse Martinus Evans, treinador de atividades e criador do Slow AF Run Club, uma comunidade global de mais de 8.000 corredores que abraçam seu próprio ritmo. “Acho que essa ideia ainda está lá.”

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Embora a comunidade de corridas de rua tenha gradualmente recebido os corredores lentos, ainda enfrentamos preconceitos e obstáculos. Temos histórias de maratonas que anunciam um limite de tempo de sete horas, mas começam a desmontar as estruturas depois de seis horas, ou corridas que ficam sem medalhas de finalização. “É muito frustrante quando você termina e eles já retiraram a linha de chegada”, disse Ruth Gursky, advogada do bairro de Queens, em Nova York, que já correu seis maratonas.

Corredores lentos que têm corpos maiores enfrentam desafios adicionais, já que nossa cultura há muito tempo equipara físicos ágeis a estilos de vida virtuosos. “As pessoas vão dizer: ‘Você está fora de forma. Você só precisa se esforçar mais’”, disse Kendra Dolton, maratonista do bairro do Brooklyn, em Nova York, que apoia a inclusão de corpos maiores na corrida. “Você está lá e está tentando, mas as pessoas ainda estão julgando que você é muito lento, ou que você não se parece com o que eles acham que você deveria ser.”

Vários estudos sugerem que, quando as pessoas se sentem julgadas por seu peso, elas são menos propensas a se exercitar. Também sabemos que o estigma social pode causar estresse, o que pode desencadear uma cascata de hormônios do estresse - basicamente o oposto do “barato do corredor”.

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Os benefícios de correr em um ritmo ‘agradável’

Eu costumo correr cerca de uma milha a cada de 13 minutos e meio. Em corridas longas, geralmente corro muito mais devagar. Também corro usando o método Galloway, que incorpora estrategicamente pausas para caminhada. Fundado pelo maratonista olímpico Jeff Galloway no início da década de 1970, o método corrida-caminhada-corrida demonstrou em alguns estudos diminuir a fadiga e as dores musculares relatadas. Para mim, transformou a corrida em uma alegria.

Ao longo dos anos, aprendi que, assim como a aceitação do corpo, a aceitação do ritmo pode vir de mudar nosso foco de métricas externas e julgamentos dos outros para como realmente nos sentimos em nossa própria pele. Como Evans, do Slow AF Run Club, colocou: “A aceitação do ritmo é a aceitação do corpo, e a aceitação do corpo é a aceitação do ritmo”. Quando nos comparamos com os outros, disse o Dr. Justin Ross, psicólogo clínico de Denver especializado em saúde mental e desempenho de atletas, estamos nos dispondo a sofrer. Em vez disso, “os verdadeiros benefícios psicológicos vêm de aproveitar o que seu corpo pode fazer”, ele disse.

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Além disso, no entanto, também aprendi que correr na retaguarda pode cultivar uma coragem mental e física que é valiosa por si só. “Uma maratona de sete horas exigirá muita força mental”, disse Ross. Talvez ainda mais, acrescentou, do que uma de três horas.

Há também benefícios físicos em correr em um ritmo que não parece punitivo, disse Claire Bartholic, treinadora de Asheville, Carolina do Norte, que ajudou centenas de pessoas a desenvolver uma prática de corrida.

“A coisa mais difícil que faço como treinadora é ensinar as pessoas a correr mais devagar”, ela disse, porque parece “contraintuitivo”. Correr com intensidade pode construir músculos, mas correr em um ritmo tranquilo - que é único para cada corredor, ela observou - faz um trabalho melhor no condicionamento de nosso coração e pulmões e aumenta nossa resistência. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Muitos corredores são movidos pelo desejo de cruzar a linha de chegada o mais rápido possível. Sou movida pelo desejo de atravessá-la antes que os organizadores da corrida vão embora.

Eu quase não consegui. Durante os últimos quilômetros da Maratona de Nova York de 2016, tive o que parecia ser minha própria escolta policial, enquanto trabalhadores da cidade desmontavam a pista atrás de mim. Amigos que prometeram me animar abandonaram seus postos para irem jantar. A corrida foi o ponto alto da minha vida, mas estaria mentindo se dissesse que fiquei emocionada por cruzar a linha de chegada quase por último.

Como muitas pessoas que optam por correr maratonas, sou uma batalhadora - quero conseguir, otimizar e impressionar. Mas em uma cultura que celebra velocidade e poder, há pouca glória em ser um retardatário.

E, no entanto, depois de centenas de quilômetros de treinamento e dezenas de corridas de rua, estou aprendendo a conciliar meu ritmo de tartaruga com meu desejo de me considerar uma atleta. Isso foi melhor resumido pelo que a psicóloga de saúde da Universidade de Stanford, Kelly McGonigal, chamou de “o barato da persistência” - uma espécie de recompensa fisiológica por não desistir.

O barato da persistência funciona assim: quando nos movemos em um ritmo fácil a moderado - o que McGonigal descreveu como um nível de intensidade para “sentir-se bem” - por pelo menos 20 minutos, muitas vezes experimentamos uma enxurrada de bioquímicos chamados endocanabinóides que há muito tempo foram identificados como “o barato do corredor”.

Curiosamente, alguns pesquisadores descobriram que não experimentamos esse efeito psicológico se corrermos com esforço máximo. Correr em um ritmo gerenciável é o que geralmente leva a essa sensação de que tudo está certo no mundo. “Não há uma medida objetiva de desempenho que você deva alcançar, nenhum ritmo ou distância que você precise alcançar, que determine se você experimenta uma euforia induzida pelo exercício”, escreveu McGonigal em seu livro The Joy of Movement: How Exercise Helps Us Find Us Find Happiness, Hope, Connection, and Courage. (A Alegria do Movimento: Como o exercício nos ajuda a encontrar a felicidade, esperança, conexão e coragem) A recompensa vem simplesmente de manter o curso.

Many runners are driven by a desire to cross the finish line as fast as possible, but in a sport that rewards speed, sometimes itÕs healthier to be the tortoise than to be the hare. (Chris Gash/The New York Times) Ñ FOR EDITORIAL USE ONLY WITH NYT STORY SLUGGED SCI FINISHING LAST BY DANIELLE FRIEDMAN FOR JUNE 13, 2022. ALL OTHER USE PROHIBITED Ñ Foto: CHRIS GASH

A vista do caminho de volta

A cultura fitness nem sempre facilita a persistência dos corredores da retaguarda. A corrida só se tornou uma atividade de lazer para as massas na década de 1970 e geralmente incentivava a velocidade. “Historicamente, correr não era para ser um hobby”, disse Martinus Evans, treinador de atividades e criador do Slow AF Run Club, uma comunidade global de mais de 8.000 corredores que abraçam seu próprio ritmo. “Acho que essa ideia ainda está lá.”

Embora a comunidade de corridas de rua tenha gradualmente recebido os corredores lentos, ainda enfrentamos preconceitos e obstáculos. Temos histórias de maratonas que anunciam um limite de tempo de sete horas, mas começam a desmontar as estruturas depois de seis horas, ou corridas que ficam sem medalhas de finalização. “É muito frustrante quando você termina e eles já retiraram a linha de chegada”, disse Ruth Gursky, advogada do bairro de Queens, em Nova York, que já correu seis maratonas.

Corredores lentos que têm corpos maiores enfrentam desafios adicionais, já que nossa cultura há muito tempo equipara físicos ágeis a estilos de vida virtuosos. “As pessoas vão dizer: ‘Você está fora de forma. Você só precisa se esforçar mais’”, disse Kendra Dolton, maratonista do bairro do Brooklyn, em Nova York, que apoia a inclusão de corpos maiores na corrida. “Você está lá e está tentando, mas as pessoas ainda estão julgando que você é muito lento, ou que você não se parece com o que eles acham que você deveria ser.”

Vários estudos sugerem que, quando as pessoas se sentem julgadas por seu peso, elas são menos propensas a se exercitar. Também sabemos que o estigma social pode causar estresse, o que pode desencadear uma cascata de hormônios do estresse - basicamente o oposto do “barato do corredor”.

Os benefícios de correr em um ritmo ‘agradável’

Eu costumo correr cerca de uma milha a cada de 13 minutos e meio. Em corridas longas, geralmente corro muito mais devagar. Também corro usando o método Galloway, que incorpora estrategicamente pausas para caminhada. Fundado pelo maratonista olímpico Jeff Galloway no início da década de 1970, o método corrida-caminhada-corrida demonstrou em alguns estudos diminuir a fadiga e as dores musculares relatadas. Para mim, transformou a corrida em uma alegria.

Ao longo dos anos, aprendi que, assim como a aceitação do corpo, a aceitação do ritmo pode vir de mudar nosso foco de métricas externas e julgamentos dos outros para como realmente nos sentimos em nossa própria pele. Como Evans, do Slow AF Run Club, colocou: “A aceitação do ritmo é a aceitação do corpo, e a aceitação do corpo é a aceitação do ritmo”. Quando nos comparamos com os outros, disse o Dr. Justin Ross, psicólogo clínico de Denver especializado em saúde mental e desempenho de atletas, estamos nos dispondo a sofrer. Em vez disso, “os verdadeiros benefícios psicológicos vêm de aproveitar o que seu corpo pode fazer”, ele disse.

Além disso, no entanto, também aprendi que correr na retaguarda pode cultivar uma coragem mental e física que é valiosa por si só. “Uma maratona de sete horas exigirá muita força mental”, disse Ross. Talvez ainda mais, acrescentou, do que uma de três horas.

Há também benefícios físicos em correr em um ritmo que não parece punitivo, disse Claire Bartholic, treinadora de Asheville, Carolina do Norte, que ajudou centenas de pessoas a desenvolver uma prática de corrida.

“A coisa mais difícil que faço como treinadora é ensinar as pessoas a correr mais devagar”, ela disse, porque parece “contraintuitivo”. Correr com intensidade pode construir músculos, mas correr em um ritmo tranquilo - que é único para cada corredor, ela observou - faz um trabalho melhor no condicionamento de nosso coração e pulmões e aumenta nossa resistência. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Muitos corredores são movidos pelo desejo de cruzar a linha de chegada o mais rápido possível. Sou movida pelo desejo de atravessá-la antes que os organizadores da corrida vão embora.

Eu quase não consegui. Durante os últimos quilômetros da Maratona de Nova York de 2016, tive o que parecia ser minha própria escolta policial, enquanto trabalhadores da cidade desmontavam a pista atrás de mim. Amigos que prometeram me animar abandonaram seus postos para irem jantar. A corrida foi o ponto alto da minha vida, mas estaria mentindo se dissesse que fiquei emocionada por cruzar a linha de chegada quase por último.

Como muitas pessoas que optam por correr maratonas, sou uma batalhadora - quero conseguir, otimizar e impressionar. Mas em uma cultura que celebra velocidade e poder, há pouca glória em ser um retardatário.

E, no entanto, depois de centenas de quilômetros de treinamento e dezenas de corridas de rua, estou aprendendo a conciliar meu ritmo de tartaruga com meu desejo de me considerar uma atleta. Isso foi melhor resumido pelo que a psicóloga de saúde da Universidade de Stanford, Kelly McGonigal, chamou de “o barato da persistência” - uma espécie de recompensa fisiológica por não desistir.

O barato da persistência funciona assim: quando nos movemos em um ritmo fácil a moderado - o que McGonigal descreveu como um nível de intensidade para “sentir-se bem” - por pelo menos 20 minutos, muitas vezes experimentamos uma enxurrada de bioquímicos chamados endocanabinóides que há muito tempo foram identificados como “o barato do corredor”.

Curiosamente, alguns pesquisadores descobriram que não experimentamos esse efeito psicológico se corrermos com esforço máximo. Correr em um ritmo gerenciável é o que geralmente leva a essa sensação de que tudo está certo no mundo. “Não há uma medida objetiva de desempenho que você deva alcançar, nenhum ritmo ou distância que você precise alcançar, que determine se você experimenta uma euforia induzida pelo exercício”, escreveu McGonigal em seu livro The Joy of Movement: How Exercise Helps Us Find Us Find Happiness, Hope, Connection, and Courage. (A Alegria do Movimento: Como o exercício nos ajuda a encontrar a felicidade, esperança, conexão e coragem) A recompensa vem simplesmente de manter o curso.

Many runners are driven by a desire to cross the finish line as fast as possible, but in a sport that rewards speed, sometimes itÕs healthier to be the tortoise than to be the hare. (Chris Gash/The New York Times) Ñ FOR EDITORIAL USE ONLY WITH NYT STORY SLUGGED SCI FINISHING LAST BY DANIELLE FRIEDMAN FOR JUNE 13, 2022. ALL OTHER USE PROHIBITED Ñ Foto: CHRIS GASH

A vista do caminho de volta

A cultura fitness nem sempre facilita a persistência dos corredores da retaguarda. A corrida só se tornou uma atividade de lazer para as massas na década de 1970 e geralmente incentivava a velocidade. “Historicamente, correr não era para ser um hobby”, disse Martinus Evans, treinador de atividades e criador do Slow AF Run Club, uma comunidade global de mais de 8.000 corredores que abraçam seu próprio ritmo. “Acho que essa ideia ainda está lá.”

Embora a comunidade de corridas de rua tenha gradualmente recebido os corredores lentos, ainda enfrentamos preconceitos e obstáculos. Temos histórias de maratonas que anunciam um limite de tempo de sete horas, mas começam a desmontar as estruturas depois de seis horas, ou corridas que ficam sem medalhas de finalização. “É muito frustrante quando você termina e eles já retiraram a linha de chegada”, disse Ruth Gursky, advogada do bairro de Queens, em Nova York, que já correu seis maratonas.

Corredores lentos que têm corpos maiores enfrentam desafios adicionais, já que nossa cultura há muito tempo equipara físicos ágeis a estilos de vida virtuosos. “As pessoas vão dizer: ‘Você está fora de forma. Você só precisa se esforçar mais’”, disse Kendra Dolton, maratonista do bairro do Brooklyn, em Nova York, que apoia a inclusão de corpos maiores na corrida. “Você está lá e está tentando, mas as pessoas ainda estão julgando que você é muito lento, ou que você não se parece com o que eles acham que você deveria ser.”

Vários estudos sugerem que, quando as pessoas se sentem julgadas por seu peso, elas são menos propensas a se exercitar. Também sabemos que o estigma social pode causar estresse, o que pode desencadear uma cascata de hormônios do estresse - basicamente o oposto do “barato do corredor”.

Os benefícios de correr em um ritmo ‘agradável’

Eu costumo correr cerca de uma milha a cada de 13 minutos e meio. Em corridas longas, geralmente corro muito mais devagar. Também corro usando o método Galloway, que incorpora estrategicamente pausas para caminhada. Fundado pelo maratonista olímpico Jeff Galloway no início da década de 1970, o método corrida-caminhada-corrida demonstrou em alguns estudos diminuir a fadiga e as dores musculares relatadas. Para mim, transformou a corrida em uma alegria.

Ao longo dos anos, aprendi que, assim como a aceitação do corpo, a aceitação do ritmo pode vir de mudar nosso foco de métricas externas e julgamentos dos outros para como realmente nos sentimos em nossa própria pele. Como Evans, do Slow AF Run Club, colocou: “A aceitação do ritmo é a aceitação do corpo, e a aceitação do corpo é a aceitação do ritmo”. Quando nos comparamos com os outros, disse o Dr. Justin Ross, psicólogo clínico de Denver especializado em saúde mental e desempenho de atletas, estamos nos dispondo a sofrer. Em vez disso, “os verdadeiros benefícios psicológicos vêm de aproveitar o que seu corpo pode fazer”, ele disse.

Além disso, no entanto, também aprendi que correr na retaguarda pode cultivar uma coragem mental e física que é valiosa por si só. “Uma maratona de sete horas exigirá muita força mental”, disse Ross. Talvez ainda mais, acrescentou, do que uma de três horas.

Há também benefícios físicos em correr em um ritmo que não parece punitivo, disse Claire Bartholic, treinadora de Asheville, Carolina do Norte, que ajudou centenas de pessoas a desenvolver uma prática de corrida.

“A coisa mais difícil que faço como treinadora é ensinar as pessoas a correr mais devagar”, ela disse, porque parece “contraintuitivo”. Correr com intensidade pode construir músculos, mas correr em um ritmo tranquilo - que é único para cada corredor, ela observou - faz um trabalho melhor no condicionamento de nosso coração e pulmões e aumenta nossa resistência. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Muitos corredores são movidos pelo desejo de cruzar a linha de chegada o mais rápido possível. Sou movida pelo desejo de atravessá-la antes que os organizadores da corrida vão embora.

Eu quase não consegui. Durante os últimos quilômetros da Maratona de Nova York de 2016, tive o que parecia ser minha própria escolta policial, enquanto trabalhadores da cidade desmontavam a pista atrás de mim. Amigos que prometeram me animar abandonaram seus postos para irem jantar. A corrida foi o ponto alto da minha vida, mas estaria mentindo se dissesse que fiquei emocionada por cruzar a linha de chegada quase por último.

Como muitas pessoas que optam por correr maratonas, sou uma batalhadora - quero conseguir, otimizar e impressionar. Mas em uma cultura que celebra velocidade e poder, há pouca glória em ser um retardatário.

E, no entanto, depois de centenas de quilômetros de treinamento e dezenas de corridas de rua, estou aprendendo a conciliar meu ritmo de tartaruga com meu desejo de me considerar uma atleta. Isso foi melhor resumido pelo que a psicóloga de saúde da Universidade de Stanford, Kelly McGonigal, chamou de “o barato da persistência” - uma espécie de recompensa fisiológica por não desistir.

O barato da persistência funciona assim: quando nos movemos em um ritmo fácil a moderado - o que McGonigal descreveu como um nível de intensidade para “sentir-se bem” - por pelo menos 20 minutos, muitas vezes experimentamos uma enxurrada de bioquímicos chamados endocanabinóides que há muito tempo foram identificados como “o barato do corredor”.

Curiosamente, alguns pesquisadores descobriram que não experimentamos esse efeito psicológico se corrermos com esforço máximo. Correr em um ritmo gerenciável é o que geralmente leva a essa sensação de que tudo está certo no mundo. “Não há uma medida objetiva de desempenho que você deva alcançar, nenhum ritmo ou distância que você precise alcançar, que determine se você experimenta uma euforia induzida pelo exercício”, escreveu McGonigal em seu livro The Joy of Movement: How Exercise Helps Us Find Us Find Happiness, Hope, Connection, and Courage. (A Alegria do Movimento: Como o exercício nos ajuda a encontrar a felicidade, esperança, conexão e coragem) A recompensa vem simplesmente de manter o curso.

Many runners are driven by a desire to cross the finish line as fast as possible, but in a sport that rewards speed, sometimes itÕs healthier to be the tortoise than to be the hare. (Chris Gash/The New York Times) Ñ FOR EDITORIAL USE ONLY WITH NYT STORY SLUGGED SCI FINISHING LAST BY DANIELLE FRIEDMAN FOR JUNE 13, 2022. ALL OTHER USE PROHIBITED Ñ Foto: CHRIS GASH

A vista do caminho de volta

A cultura fitness nem sempre facilita a persistência dos corredores da retaguarda. A corrida só se tornou uma atividade de lazer para as massas na década de 1970 e geralmente incentivava a velocidade. “Historicamente, correr não era para ser um hobby”, disse Martinus Evans, treinador de atividades e criador do Slow AF Run Club, uma comunidade global de mais de 8.000 corredores que abraçam seu próprio ritmo. “Acho que essa ideia ainda está lá.”

Embora a comunidade de corridas de rua tenha gradualmente recebido os corredores lentos, ainda enfrentamos preconceitos e obstáculos. Temos histórias de maratonas que anunciam um limite de tempo de sete horas, mas começam a desmontar as estruturas depois de seis horas, ou corridas que ficam sem medalhas de finalização. “É muito frustrante quando você termina e eles já retiraram a linha de chegada”, disse Ruth Gursky, advogada do bairro de Queens, em Nova York, que já correu seis maratonas.

Corredores lentos que têm corpos maiores enfrentam desafios adicionais, já que nossa cultura há muito tempo equipara físicos ágeis a estilos de vida virtuosos. “As pessoas vão dizer: ‘Você está fora de forma. Você só precisa se esforçar mais’”, disse Kendra Dolton, maratonista do bairro do Brooklyn, em Nova York, que apoia a inclusão de corpos maiores na corrida. “Você está lá e está tentando, mas as pessoas ainda estão julgando que você é muito lento, ou que você não se parece com o que eles acham que você deveria ser.”

Vários estudos sugerem que, quando as pessoas se sentem julgadas por seu peso, elas são menos propensas a se exercitar. Também sabemos que o estigma social pode causar estresse, o que pode desencadear uma cascata de hormônios do estresse - basicamente o oposto do “barato do corredor”.

Os benefícios de correr em um ritmo ‘agradável’

Eu costumo correr cerca de uma milha a cada de 13 minutos e meio. Em corridas longas, geralmente corro muito mais devagar. Também corro usando o método Galloway, que incorpora estrategicamente pausas para caminhada. Fundado pelo maratonista olímpico Jeff Galloway no início da década de 1970, o método corrida-caminhada-corrida demonstrou em alguns estudos diminuir a fadiga e as dores musculares relatadas. Para mim, transformou a corrida em uma alegria.

Ao longo dos anos, aprendi que, assim como a aceitação do corpo, a aceitação do ritmo pode vir de mudar nosso foco de métricas externas e julgamentos dos outros para como realmente nos sentimos em nossa própria pele. Como Evans, do Slow AF Run Club, colocou: “A aceitação do ritmo é a aceitação do corpo, e a aceitação do corpo é a aceitação do ritmo”. Quando nos comparamos com os outros, disse o Dr. Justin Ross, psicólogo clínico de Denver especializado em saúde mental e desempenho de atletas, estamos nos dispondo a sofrer. Em vez disso, “os verdadeiros benefícios psicológicos vêm de aproveitar o que seu corpo pode fazer”, ele disse.

Além disso, no entanto, também aprendi que correr na retaguarda pode cultivar uma coragem mental e física que é valiosa por si só. “Uma maratona de sete horas exigirá muita força mental”, disse Ross. Talvez ainda mais, acrescentou, do que uma de três horas.

Há também benefícios físicos em correr em um ritmo que não parece punitivo, disse Claire Bartholic, treinadora de Asheville, Carolina do Norte, que ajudou centenas de pessoas a desenvolver uma prática de corrida.

“A coisa mais difícil que faço como treinadora é ensinar as pessoas a correr mais devagar”, ela disse, porque parece “contraintuitivo”. Correr com intensidade pode construir músculos, mas correr em um ritmo tranquilo - que é único para cada corredor, ela observou - faz um trabalho melhor no condicionamento de nosso coração e pulmões e aumenta nossa resistência. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Muitos corredores são movidos pelo desejo de cruzar a linha de chegada o mais rápido possível. Sou movida pelo desejo de atravessá-la antes que os organizadores da corrida vão embora.

Eu quase não consegui. Durante os últimos quilômetros da Maratona de Nova York de 2016, tive o que parecia ser minha própria escolta policial, enquanto trabalhadores da cidade desmontavam a pista atrás de mim. Amigos que prometeram me animar abandonaram seus postos para irem jantar. A corrida foi o ponto alto da minha vida, mas estaria mentindo se dissesse que fiquei emocionada por cruzar a linha de chegada quase por último.

Como muitas pessoas que optam por correr maratonas, sou uma batalhadora - quero conseguir, otimizar e impressionar. Mas em uma cultura que celebra velocidade e poder, há pouca glória em ser um retardatário.

E, no entanto, depois de centenas de quilômetros de treinamento e dezenas de corridas de rua, estou aprendendo a conciliar meu ritmo de tartaruga com meu desejo de me considerar uma atleta. Isso foi melhor resumido pelo que a psicóloga de saúde da Universidade de Stanford, Kelly McGonigal, chamou de “o barato da persistência” - uma espécie de recompensa fisiológica por não desistir.

O barato da persistência funciona assim: quando nos movemos em um ritmo fácil a moderado - o que McGonigal descreveu como um nível de intensidade para “sentir-se bem” - por pelo menos 20 minutos, muitas vezes experimentamos uma enxurrada de bioquímicos chamados endocanabinóides que há muito tempo foram identificados como “o barato do corredor”.

Curiosamente, alguns pesquisadores descobriram que não experimentamos esse efeito psicológico se corrermos com esforço máximo. Correr em um ritmo gerenciável é o que geralmente leva a essa sensação de que tudo está certo no mundo. “Não há uma medida objetiva de desempenho que você deva alcançar, nenhum ritmo ou distância que você precise alcançar, que determine se você experimenta uma euforia induzida pelo exercício”, escreveu McGonigal em seu livro The Joy of Movement: How Exercise Helps Us Find Us Find Happiness, Hope, Connection, and Courage. (A Alegria do Movimento: Como o exercício nos ajuda a encontrar a felicidade, esperança, conexão e coragem) A recompensa vem simplesmente de manter o curso.

Many runners are driven by a desire to cross the finish line as fast as possible, but in a sport that rewards speed, sometimes itÕs healthier to be the tortoise than to be the hare. (Chris Gash/The New York Times) Ñ FOR EDITORIAL USE ONLY WITH NYT STORY SLUGGED SCI FINISHING LAST BY DANIELLE FRIEDMAN FOR JUNE 13, 2022. ALL OTHER USE PROHIBITED Ñ Foto: CHRIS GASH

A vista do caminho de volta

A cultura fitness nem sempre facilita a persistência dos corredores da retaguarda. A corrida só se tornou uma atividade de lazer para as massas na década de 1970 e geralmente incentivava a velocidade. “Historicamente, correr não era para ser um hobby”, disse Martinus Evans, treinador de atividades e criador do Slow AF Run Club, uma comunidade global de mais de 8.000 corredores que abraçam seu próprio ritmo. “Acho que essa ideia ainda está lá.”

Embora a comunidade de corridas de rua tenha gradualmente recebido os corredores lentos, ainda enfrentamos preconceitos e obstáculos. Temos histórias de maratonas que anunciam um limite de tempo de sete horas, mas começam a desmontar as estruturas depois de seis horas, ou corridas que ficam sem medalhas de finalização. “É muito frustrante quando você termina e eles já retiraram a linha de chegada”, disse Ruth Gursky, advogada do bairro de Queens, em Nova York, que já correu seis maratonas.

Corredores lentos que têm corpos maiores enfrentam desafios adicionais, já que nossa cultura há muito tempo equipara físicos ágeis a estilos de vida virtuosos. “As pessoas vão dizer: ‘Você está fora de forma. Você só precisa se esforçar mais’”, disse Kendra Dolton, maratonista do bairro do Brooklyn, em Nova York, que apoia a inclusão de corpos maiores na corrida. “Você está lá e está tentando, mas as pessoas ainda estão julgando que você é muito lento, ou que você não se parece com o que eles acham que você deveria ser.”

Vários estudos sugerem que, quando as pessoas se sentem julgadas por seu peso, elas são menos propensas a se exercitar. Também sabemos que o estigma social pode causar estresse, o que pode desencadear uma cascata de hormônios do estresse - basicamente o oposto do “barato do corredor”.

Os benefícios de correr em um ritmo ‘agradável’

Eu costumo correr cerca de uma milha a cada de 13 minutos e meio. Em corridas longas, geralmente corro muito mais devagar. Também corro usando o método Galloway, que incorpora estrategicamente pausas para caminhada. Fundado pelo maratonista olímpico Jeff Galloway no início da década de 1970, o método corrida-caminhada-corrida demonstrou em alguns estudos diminuir a fadiga e as dores musculares relatadas. Para mim, transformou a corrida em uma alegria.

Ao longo dos anos, aprendi que, assim como a aceitação do corpo, a aceitação do ritmo pode vir de mudar nosso foco de métricas externas e julgamentos dos outros para como realmente nos sentimos em nossa própria pele. Como Evans, do Slow AF Run Club, colocou: “A aceitação do ritmo é a aceitação do corpo, e a aceitação do corpo é a aceitação do ritmo”. Quando nos comparamos com os outros, disse o Dr. Justin Ross, psicólogo clínico de Denver especializado em saúde mental e desempenho de atletas, estamos nos dispondo a sofrer. Em vez disso, “os verdadeiros benefícios psicológicos vêm de aproveitar o que seu corpo pode fazer”, ele disse.

Além disso, no entanto, também aprendi que correr na retaguarda pode cultivar uma coragem mental e física que é valiosa por si só. “Uma maratona de sete horas exigirá muita força mental”, disse Ross. Talvez ainda mais, acrescentou, do que uma de três horas.

Há também benefícios físicos em correr em um ritmo que não parece punitivo, disse Claire Bartholic, treinadora de Asheville, Carolina do Norte, que ajudou centenas de pessoas a desenvolver uma prática de corrida.

“A coisa mais difícil que faço como treinadora é ensinar as pessoas a correr mais devagar”, ela disse, porque parece “contraintuitivo”. Correr com intensidade pode construir músculos, mas correr em um ritmo tranquilo - que é único para cada corredor, ela observou - faz um trabalho melhor no condicionamento de nosso coração e pulmões e aumenta nossa resistência. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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