Qual é o nível de machismo em Hollywood? Atriz Geena Davis ajuda a fazer essa conta


Quando se trata de quantificar o preconceito no entretenimento popular, a vencedora do Oscar está em uma jornada própria

Por Chris Colin

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Geena Davis e sua família voltavam de um jantar em sua pequena cidade de Massachusetts quando o motorista do carro, o tio-avô dela, Jack, de 99 anos, começou a entrar na faixa da contramão. Davis tinha cerca de oito anos e estava sentada entre seus pais no banco de trás. Talvez por excesso de educação da família ou porque fosse assim na época, ninguém comentou o que estava acontecendo, mesmo quando outro carro apareceu ao longe, acelerando na direção contrária. Por fim, momentos antes do impacto, a avó de Davis sugeriu gentilmente no banco do passageiro: “Um pouco para a direita, Jack.” Escaparam por poucos centímetros.

Davis, de 67 anos, contou essa história em seu livro de memórias de 2022, Dying of Politeness, um apanhado dos valores genialmente estúpidos que ela absorveu quando criança - e que muitas outras meninas também absorvem: Evite. Aceite para se dar bem. Está tudo certo.

Quando se trata de quantificar o sexismo em Hollywood, a vencedora do Oscar está em uma liga própria. "Todos diziam: 'Não, não, não - costumava ser assim, mas já foi consertado'", disse ela. Comecei a me perguntar: "E se eu tiver os dados para provar que estou certa sobre isso?" Foto: Magdalena Wosinska/The New York Times
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É claro que a atriz duas vezes vencedora do Oscar abandonou essa maleabilidade há muito tempo. De Thelma e Louise e Uma Equipe Muito Especial ao drama deste ano, País das Fadas, a docilidade no banco de trás simplesmente não era uma opção. Na verdade, o autocontrole era o que importava para ela. (Ou uma das coisas importantes. Poucos perfis deixam de mencionar sua filiação à Mensa, sua fluência em sueco ou sua habilidade no arco e flecha de nível olímpico.) Mas o cultivo de sua audácia foi apenas a primeira fase.

No ano que vem, a criação do Instituto Geena Davis de Gênero na Mídia vai completar duas décadas. Quando sua filha era pequena, Davis não pôde deixar de notar que as personagens masculinas superavam em muito as femininas na TV e nos filmes infantis. “Eu sabia que tudo estava completamente desequilibrado no mundo”, disse ela recentemente. Mas esse era o reino do faz de conta; por que não deveria ser 50/50?

Não eram só os números. Era mais o modo como as mulheres eram representadas, suas aspirações, a sexualização das meninas: em toda a programação infantil, Davis viu uma imagem distorcida da realidade sendo transmitida para mentes impressionáveis. Muito antes que “diversidade, equidade e inclusão” entrassem no léxico, ela começou a mencionar esse desequilíbrio de gênero em todas as reuniões de que participava. “Todo mundo dizia: ‘Não, não, não, costumava ser assim, mas essa questão foi resolvida.’ Comecei a pensar: e se eu obtivesse os dados para provar que estou certa?”

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Em meio às causas alardeadas por Hollywood, Davis assumiu a missão de coletar dados silenciosamente. Qual é exatamente a gravidade desse desequilíbrio? De que outras formas isso ocorre? Além do gênero, quem mais está sendo marginalizado? Então, com patrocinadores que vão do Google ao Hulu, a equipe de pesquisadores de Davis começou a produzir números.

Disparidades

Davis não foi a primeira pessoa a destacar disparidades no entretenimento popular. Mas, por meio de sua reputação e de seus recursos - e usando a tecnologia para abordar o problema -, ela concretizou uma verdade nebulosa e ofereceu aos culpados um caminho discreto para a redenção. (Embora o instituto tenha se concentrado inicialmente em dados de gênero, suas análises agora se estendem a raça/etnia, LGBTQIA+, deficiência, idade superior 50 anos e tipo de corpo. Triste descoberta aleatória: as personagens com excesso de peso têm mais do que o dobro de probabilidade de ser violentas.)

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Mesmo que o resultado fosse esperado, as conclusões do instituto são impressionantes: nos 101 filmes de maior bilheteria entre 1990 e 2005, apenas 28 por cento das personagens com falas eram mulheres. Mesmo em cenas de multidão - mesmo em cenas de multidão em filmes de animação -, as personagens masculinas superam amplamente as femininas. Nos 56 filmes de maior bilheteria de 2018, as mulheres retratadas em posições de liderança tinham quatro vezes mais chances do que os homens de aparecer nuas. (O corpo de 15 por cento delas foi filmado em câmera lenta.) Enquanto um século atrás as mulheres tinham sido totalmente centrais para a nascente indústria cinematográfica, agora estavam em segundo plano.

“Quando ela começou a coletar os dados, foi incrível. Não era mais uma sensação vaga. Não dava para alegar que era só um discurso feminista. Era tipo: ‘Olha esses números’”, disse Hillary Hallett, professora de estudos americanos na Universidade Columbia e autora de Go West, Young Women! The Rise of Early Hollywood.

Davis alterna entre a reserva e a piada fora da tela - uma entrevistada pensativa, mas que ri muito. (A certa altura, pronunciou a palavra “atuação” de forma tão teatral que achou que poderia ser difícil incluí-la neste artigo.) Em uma tarde recente em Los Angeles, fez uma pausa na ilustração do livro infantil que havia escrito, The Girl Who Was Too Big for the Page. “Cresci muito ciente de ser a criança mais alta - não só a menina mais alta - da minha classe. Eu tinha esse desejo de infância de ocupar menos espaço no mundo.”

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Com o tempo, começou a ignorar sua altura - 1,83 m - e a ver as mensagens insidiosas que reforçavam essa insegurança. “Hollywood cria nossa narrativa cultural - seus preconceitos se espalham pelo resto do mundo”, afirmou em Isso Muda Tudo, documentário que produziu em 2018 sobre a desigualdade de gênero na indústria cinematográfica. O documentário leva o nome do bordão incessante que continuou ouvindo depois do sucesso de Thelma e Louise e, mais tarde, de Uma Equipe Muito Especial. Finalmente, o poder e a lucratividade dos filmes centrados em mulheres foram provados - isso muda tudo! E depois, ano após ano, nada.

Foi aqui que Davis estabeleceu sua missão - o debate em torno do motivo pelo qual certas injustiças persistem e a melhor maneira de combatê-las. Se movimentos como o #MeToo e o Times Up visam atos deliberados de monstruosidade, o dela seria o universo mais indefinido do preconceito inconsciente. Você escalou um homem para fazer o papel de médico sem pensar? Contratou aquele diretor branco hétero porque ele tem a mesma formação que você teve? Pensou que estava diversificando seu filme, mas acabou reforçando velhos estereótipos? (A latina fogosa, por exemplo?)

Se um carro cheio de educados membros da família Davis pode despertar para o perigo iminente, talvez os cineastas possam acabar vendo o mal que estão perpetuando. “Nem todas as pessoas estão necessariamente tentando ferrar mulheres ou negros. Mas as escolhas que fazem têm, sem dúvida, essa consequência, independentemente do que acreditam ser sua intenção. Não é uma coisa de que as pessoas estejam necessariamente conscientes. E não há provas - isso só pode ser revelado em conjunto. O que mostra o valor do trabalho de Geena”, afirmou Franklin Leonard, produtor de cinema e televisão e fundador da Black List, plataforma popular de roteiros que não foram produzidos.

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As mulheres representaram apenas 18 por cento dos diretores que trabalharam nos 250 melhores filmes de 2022, aumento de apenas um por cento em relação a 2021, de acordo com o Centro de Estudo da Mulher na Televisão e no Cinema; a porcentagem das principais personagens femininas asiáticas e asiático-americanas caiu de dez por cento em 2021 para menos de sete por cento em 2022. Um relatório da McKinsey de 2021 mostrou que 92 por cento dos executivos de cinema eram brancos - ambiente menos diversificado do que o gabinete de Donald Trump na época, como observou Leonard, da Black List, acrescentando: “Acho que a indústria é mais resistente à mudança do que as pessoas imaginam. Portanto, sou incrivelmente grato a qualquer um - e especialmente a alguém com o histórico de Geena - que faça o trabalho sem glamour de tentar mudar o quadro, mesmo que seja com planilhas do Excel.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Geena Davis e sua família voltavam de um jantar em sua pequena cidade de Massachusetts quando o motorista do carro, o tio-avô dela, Jack, de 99 anos, começou a entrar na faixa da contramão. Davis tinha cerca de oito anos e estava sentada entre seus pais no banco de trás. Talvez por excesso de educação da família ou porque fosse assim na época, ninguém comentou o que estava acontecendo, mesmo quando outro carro apareceu ao longe, acelerando na direção contrária. Por fim, momentos antes do impacto, a avó de Davis sugeriu gentilmente no banco do passageiro: “Um pouco para a direita, Jack.” Escaparam por poucos centímetros.

Davis, de 67 anos, contou essa história em seu livro de memórias de 2022, Dying of Politeness, um apanhado dos valores genialmente estúpidos que ela absorveu quando criança - e que muitas outras meninas também absorvem: Evite. Aceite para se dar bem. Está tudo certo.

Quando se trata de quantificar o sexismo em Hollywood, a vencedora do Oscar está em uma liga própria. "Todos diziam: 'Não, não, não - costumava ser assim, mas já foi consertado'", disse ela. Comecei a me perguntar: "E se eu tiver os dados para provar que estou certa sobre isso?" Foto: Magdalena Wosinska/The New York Times

É claro que a atriz duas vezes vencedora do Oscar abandonou essa maleabilidade há muito tempo. De Thelma e Louise e Uma Equipe Muito Especial ao drama deste ano, País das Fadas, a docilidade no banco de trás simplesmente não era uma opção. Na verdade, o autocontrole era o que importava para ela. (Ou uma das coisas importantes. Poucos perfis deixam de mencionar sua filiação à Mensa, sua fluência em sueco ou sua habilidade no arco e flecha de nível olímpico.) Mas o cultivo de sua audácia foi apenas a primeira fase.

No ano que vem, a criação do Instituto Geena Davis de Gênero na Mídia vai completar duas décadas. Quando sua filha era pequena, Davis não pôde deixar de notar que as personagens masculinas superavam em muito as femininas na TV e nos filmes infantis. “Eu sabia que tudo estava completamente desequilibrado no mundo”, disse ela recentemente. Mas esse era o reino do faz de conta; por que não deveria ser 50/50?

Não eram só os números. Era mais o modo como as mulheres eram representadas, suas aspirações, a sexualização das meninas: em toda a programação infantil, Davis viu uma imagem distorcida da realidade sendo transmitida para mentes impressionáveis. Muito antes que “diversidade, equidade e inclusão” entrassem no léxico, ela começou a mencionar esse desequilíbrio de gênero em todas as reuniões de que participava. “Todo mundo dizia: ‘Não, não, não, costumava ser assim, mas essa questão foi resolvida.’ Comecei a pensar: e se eu obtivesse os dados para provar que estou certa?”

Em meio às causas alardeadas por Hollywood, Davis assumiu a missão de coletar dados silenciosamente. Qual é exatamente a gravidade desse desequilíbrio? De que outras formas isso ocorre? Além do gênero, quem mais está sendo marginalizado? Então, com patrocinadores que vão do Google ao Hulu, a equipe de pesquisadores de Davis começou a produzir números.

Disparidades

Davis não foi a primeira pessoa a destacar disparidades no entretenimento popular. Mas, por meio de sua reputação e de seus recursos - e usando a tecnologia para abordar o problema -, ela concretizou uma verdade nebulosa e ofereceu aos culpados um caminho discreto para a redenção. (Embora o instituto tenha se concentrado inicialmente em dados de gênero, suas análises agora se estendem a raça/etnia, LGBTQIA+, deficiência, idade superior 50 anos e tipo de corpo. Triste descoberta aleatória: as personagens com excesso de peso têm mais do que o dobro de probabilidade de ser violentas.)

Mesmo que o resultado fosse esperado, as conclusões do instituto são impressionantes: nos 101 filmes de maior bilheteria entre 1990 e 2005, apenas 28 por cento das personagens com falas eram mulheres. Mesmo em cenas de multidão - mesmo em cenas de multidão em filmes de animação -, as personagens masculinas superam amplamente as femininas. Nos 56 filmes de maior bilheteria de 2018, as mulheres retratadas em posições de liderança tinham quatro vezes mais chances do que os homens de aparecer nuas. (O corpo de 15 por cento delas foi filmado em câmera lenta.) Enquanto um século atrás as mulheres tinham sido totalmente centrais para a nascente indústria cinematográfica, agora estavam em segundo plano.

“Quando ela começou a coletar os dados, foi incrível. Não era mais uma sensação vaga. Não dava para alegar que era só um discurso feminista. Era tipo: ‘Olha esses números’”, disse Hillary Hallett, professora de estudos americanos na Universidade Columbia e autora de Go West, Young Women! The Rise of Early Hollywood.

Davis alterna entre a reserva e a piada fora da tela - uma entrevistada pensativa, mas que ri muito. (A certa altura, pronunciou a palavra “atuação” de forma tão teatral que achou que poderia ser difícil incluí-la neste artigo.) Em uma tarde recente em Los Angeles, fez uma pausa na ilustração do livro infantil que havia escrito, The Girl Who Was Too Big for the Page. “Cresci muito ciente de ser a criança mais alta - não só a menina mais alta - da minha classe. Eu tinha esse desejo de infância de ocupar menos espaço no mundo.”

Com o tempo, começou a ignorar sua altura - 1,83 m - e a ver as mensagens insidiosas que reforçavam essa insegurança. “Hollywood cria nossa narrativa cultural - seus preconceitos se espalham pelo resto do mundo”, afirmou em Isso Muda Tudo, documentário que produziu em 2018 sobre a desigualdade de gênero na indústria cinematográfica. O documentário leva o nome do bordão incessante que continuou ouvindo depois do sucesso de Thelma e Louise e, mais tarde, de Uma Equipe Muito Especial. Finalmente, o poder e a lucratividade dos filmes centrados em mulheres foram provados - isso muda tudo! E depois, ano após ano, nada.

Foi aqui que Davis estabeleceu sua missão - o debate em torno do motivo pelo qual certas injustiças persistem e a melhor maneira de combatê-las. Se movimentos como o #MeToo e o Times Up visam atos deliberados de monstruosidade, o dela seria o universo mais indefinido do preconceito inconsciente. Você escalou um homem para fazer o papel de médico sem pensar? Contratou aquele diretor branco hétero porque ele tem a mesma formação que você teve? Pensou que estava diversificando seu filme, mas acabou reforçando velhos estereótipos? (A latina fogosa, por exemplo?)

Se um carro cheio de educados membros da família Davis pode despertar para o perigo iminente, talvez os cineastas possam acabar vendo o mal que estão perpetuando. “Nem todas as pessoas estão necessariamente tentando ferrar mulheres ou negros. Mas as escolhas que fazem têm, sem dúvida, essa consequência, independentemente do que acreditam ser sua intenção. Não é uma coisa de que as pessoas estejam necessariamente conscientes. E não há provas - isso só pode ser revelado em conjunto. O que mostra o valor do trabalho de Geena”, afirmou Franklin Leonard, produtor de cinema e televisão e fundador da Black List, plataforma popular de roteiros que não foram produzidos.

As mulheres representaram apenas 18 por cento dos diretores que trabalharam nos 250 melhores filmes de 2022, aumento de apenas um por cento em relação a 2021, de acordo com o Centro de Estudo da Mulher na Televisão e no Cinema; a porcentagem das principais personagens femininas asiáticas e asiático-americanas caiu de dez por cento em 2021 para menos de sete por cento em 2022. Um relatório da McKinsey de 2021 mostrou que 92 por cento dos executivos de cinema eram brancos - ambiente menos diversificado do que o gabinete de Donald Trump na época, como observou Leonard, da Black List, acrescentando: “Acho que a indústria é mais resistente à mudança do que as pessoas imaginam. Portanto, sou incrivelmente grato a qualquer um - e especialmente a alguém com o histórico de Geena - que faça o trabalho sem glamour de tentar mudar o quadro, mesmo que seja com planilhas do Excel.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Geena Davis e sua família voltavam de um jantar em sua pequena cidade de Massachusetts quando o motorista do carro, o tio-avô dela, Jack, de 99 anos, começou a entrar na faixa da contramão. Davis tinha cerca de oito anos e estava sentada entre seus pais no banco de trás. Talvez por excesso de educação da família ou porque fosse assim na época, ninguém comentou o que estava acontecendo, mesmo quando outro carro apareceu ao longe, acelerando na direção contrária. Por fim, momentos antes do impacto, a avó de Davis sugeriu gentilmente no banco do passageiro: “Um pouco para a direita, Jack.” Escaparam por poucos centímetros.

Davis, de 67 anos, contou essa história em seu livro de memórias de 2022, Dying of Politeness, um apanhado dos valores genialmente estúpidos que ela absorveu quando criança - e que muitas outras meninas também absorvem: Evite. Aceite para se dar bem. Está tudo certo.

Quando se trata de quantificar o sexismo em Hollywood, a vencedora do Oscar está em uma liga própria. "Todos diziam: 'Não, não, não - costumava ser assim, mas já foi consertado'", disse ela. Comecei a me perguntar: "E se eu tiver os dados para provar que estou certa sobre isso?" Foto: Magdalena Wosinska/The New York Times

É claro que a atriz duas vezes vencedora do Oscar abandonou essa maleabilidade há muito tempo. De Thelma e Louise e Uma Equipe Muito Especial ao drama deste ano, País das Fadas, a docilidade no banco de trás simplesmente não era uma opção. Na verdade, o autocontrole era o que importava para ela. (Ou uma das coisas importantes. Poucos perfis deixam de mencionar sua filiação à Mensa, sua fluência em sueco ou sua habilidade no arco e flecha de nível olímpico.) Mas o cultivo de sua audácia foi apenas a primeira fase.

No ano que vem, a criação do Instituto Geena Davis de Gênero na Mídia vai completar duas décadas. Quando sua filha era pequena, Davis não pôde deixar de notar que as personagens masculinas superavam em muito as femininas na TV e nos filmes infantis. “Eu sabia que tudo estava completamente desequilibrado no mundo”, disse ela recentemente. Mas esse era o reino do faz de conta; por que não deveria ser 50/50?

Não eram só os números. Era mais o modo como as mulheres eram representadas, suas aspirações, a sexualização das meninas: em toda a programação infantil, Davis viu uma imagem distorcida da realidade sendo transmitida para mentes impressionáveis. Muito antes que “diversidade, equidade e inclusão” entrassem no léxico, ela começou a mencionar esse desequilíbrio de gênero em todas as reuniões de que participava. “Todo mundo dizia: ‘Não, não, não, costumava ser assim, mas essa questão foi resolvida.’ Comecei a pensar: e se eu obtivesse os dados para provar que estou certa?”

Em meio às causas alardeadas por Hollywood, Davis assumiu a missão de coletar dados silenciosamente. Qual é exatamente a gravidade desse desequilíbrio? De que outras formas isso ocorre? Além do gênero, quem mais está sendo marginalizado? Então, com patrocinadores que vão do Google ao Hulu, a equipe de pesquisadores de Davis começou a produzir números.

Disparidades

Davis não foi a primeira pessoa a destacar disparidades no entretenimento popular. Mas, por meio de sua reputação e de seus recursos - e usando a tecnologia para abordar o problema -, ela concretizou uma verdade nebulosa e ofereceu aos culpados um caminho discreto para a redenção. (Embora o instituto tenha se concentrado inicialmente em dados de gênero, suas análises agora se estendem a raça/etnia, LGBTQIA+, deficiência, idade superior 50 anos e tipo de corpo. Triste descoberta aleatória: as personagens com excesso de peso têm mais do que o dobro de probabilidade de ser violentas.)

Mesmo que o resultado fosse esperado, as conclusões do instituto são impressionantes: nos 101 filmes de maior bilheteria entre 1990 e 2005, apenas 28 por cento das personagens com falas eram mulheres. Mesmo em cenas de multidão - mesmo em cenas de multidão em filmes de animação -, as personagens masculinas superam amplamente as femininas. Nos 56 filmes de maior bilheteria de 2018, as mulheres retratadas em posições de liderança tinham quatro vezes mais chances do que os homens de aparecer nuas. (O corpo de 15 por cento delas foi filmado em câmera lenta.) Enquanto um século atrás as mulheres tinham sido totalmente centrais para a nascente indústria cinematográfica, agora estavam em segundo plano.

“Quando ela começou a coletar os dados, foi incrível. Não era mais uma sensação vaga. Não dava para alegar que era só um discurso feminista. Era tipo: ‘Olha esses números’”, disse Hillary Hallett, professora de estudos americanos na Universidade Columbia e autora de Go West, Young Women! The Rise of Early Hollywood.

Davis alterna entre a reserva e a piada fora da tela - uma entrevistada pensativa, mas que ri muito. (A certa altura, pronunciou a palavra “atuação” de forma tão teatral que achou que poderia ser difícil incluí-la neste artigo.) Em uma tarde recente em Los Angeles, fez uma pausa na ilustração do livro infantil que havia escrito, The Girl Who Was Too Big for the Page. “Cresci muito ciente de ser a criança mais alta - não só a menina mais alta - da minha classe. Eu tinha esse desejo de infância de ocupar menos espaço no mundo.”

Com o tempo, começou a ignorar sua altura - 1,83 m - e a ver as mensagens insidiosas que reforçavam essa insegurança. “Hollywood cria nossa narrativa cultural - seus preconceitos se espalham pelo resto do mundo”, afirmou em Isso Muda Tudo, documentário que produziu em 2018 sobre a desigualdade de gênero na indústria cinematográfica. O documentário leva o nome do bordão incessante que continuou ouvindo depois do sucesso de Thelma e Louise e, mais tarde, de Uma Equipe Muito Especial. Finalmente, o poder e a lucratividade dos filmes centrados em mulheres foram provados - isso muda tudo! E depois, ano após ano, nada.

Foi aqui que Davis estabeleceu sua missão - o debate em torno do motivo pelo qual certas injustiças persistem e a melhor maneira de combatê-las. Se movimentos como o #MeToo e o Times Up visam atos deliberados de monstruosidade, o dela seria o universo mais indefinido do preconceito inconsciente. Você escalou um homem para fazer o papel de médico sem pensar? Contratou aquele diretor branco hétero porque ele tem a mesma formação que você teve? Pensou que estava diversificando seu filme, mas acabou reforçando velhos estereótipos? (A latina fogosa, por exemplo?)

Se um carro cheio de educados membros da família Davis pode despertar para o perigo iminente, talvez os cineastas possam acabar vendo o mal que estão perpetuando. “Nem todas as pessoas estão necessariamente tentando ferrar mulheres ou negros. Mas as escolhas que fazem têm, sem dúvida, essa consequência, independentemente do que acreditam ser sua intenção. Não é uma coisa de que as pessoas estejam necessariamente conscientes. E não há provas - isso só pode ser revelado em conjunto. O que mostra o valor do trabalho de Geena”, afirmou Franklin Leonard, produtor de cinema e televisão e fundador da Black List, plataforma popular de roteiros que não foram produzidos.

As mulheres representaram apenas 18 por cento dos diretores que trabalharam nos 250 melhores filmes de 2022, aumento de apenas um por cento em relação a 2021, de acordo com o Centro de Estudo da Mulher na Televisão e no Cinema; a porcentagem das principais personagens femininas asiáticas e asiático-americanas caiu de dez por cento em 2021 para menos de sete por cento em 2022. Um relatório da McKinsey de 2021 mostrou que 92 por cento dos executivos de cinema eram brancos - ambiente menos diversificado do que o gabinete de Donald Trump na época, como observou Leonard, da Black List, acrescentando: “Acho que a indústria é mais resistente à mudança do que as pessoas imaginam. Portanto, sou incrivelmente grato a qualquer um - e especialmente a alguém com o histórico de Geena - que faça o trabalho sem glamour de tentar mudar o quadro, mesmo que seja com planilhas do Excel.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Geena Davis e sua família voltavam de um jantar em sua pequena cidade de Massachusetts quando o motorista do carro, o tio-avô dela, Jack, de 99 anos, começou a entrar na faixa da contramão. Davis tinha cerca de oito anos e estava sentada entre seus pais no banco de trás. Talvez por excesso de educação da família ou porque fosse assim na época, ninguém comentou o que estava acontecendo, mesmo quando outro carro apareceu ao longe, acelerando na direção contrária. Por fim, momentos antes do impacto, a avó de Davis sugeriu gentilmente no banco do passageiro: “Um pouco para a direita, Jack.” Escaparam por poucos centímetros.

Davis, de 67 anos, contou essa história em seu livro de memórias de 2022, Dying of Politeness, um apanhado dos valores genialmente estúpidos que ela absorveu quando criança - e que muitas outras meninas também absorvem: Evite. Aceite para se dar bem. Está tudo certo.

Quando se trata de quantificar o sexismo em Hollywood, a vencedora do Oscar está em uma liga própria. "Todos diziam: 'Não, não, não - costumava ser assim, mas já foi consertado'", disse ela. Comecei a me perguntar: "E se eu tiver os dados para provar que estou certa sobre isso?" Foto: Magdalena Wosinska/The New York Times

É claro que a atriz duas vezes vencedora do Oscar abandonou essa maleabilidade há muito tempo. De Thelma e Louise e Uma Equipe Muito Especial ao drama deste ano, País das Fadas, a docilidade no banco de trás simplesmente não era uma opção. Na verdade, o autocontrole era o que importava para ela. (Ou uma das coisas importantes. Poucos perfis deixam de mencionar sua filiação à Mensa, sua fluência em sueco ou sua habilidade no arco e flecha de nível olímpico.) Mas o cultivo de sua audácia foi apenas a primeira fase.

No ano que vem, a criação do Instituto Geena Davis de Gênero na Mídia vai completar duas décadas. Quando sua filha era pequena, Davis não pôde deixar de notar que as personagens masculinas superavam em muito as femininas na TV e nos filmes infantis. “Eu sabia que tudo estava completamente desequilibrado no mundo”, disse ela recentemente. Mas esse era o reino do faz de conta; por que não deveria ser 50/50?

Não eram só os números. Era mais o modo como as mulheres eram representadas, suas aspirações, a sexualização das meninas: em toda a programação infantil, Davis viu uma imagem distorcida da realidade sendo transmitida para mentes impressionáveis. Muito antes que “diversidade, equidade e inclusão” entrassem no léxico, ela começou a mencionar esse desequilíbrio de gênero em todas as reuniões de que participava. “Todo mundo dizia: ‘Não, não, não, costumava ser assim, mas essa questão foi resolvida.’ Comecei a pensar: e se eu obtivesse os dados para provar que estou certa?”

Em meio às causas alardeadas por Hollywood, Davis assumiu a missão de coletar dados silenciosamente. Qual é exatamente a gravidade desse desequilíbrio? De que outras formas isso ocorre? Além do gênero, quem mais está sendo marginalizado? Então, com patrocinadores que vão do Google ao Hulu, a equipe de pesquisadores de Davis começou a produzir números.

Disparidades

Davis não foi a primeira pessoa a destacar disparidades no entretenimento popular. Mas, por meio de sua reputação e de seus recursos - e usando a tecnologia para abordar o problema -, ela concretizou uma verdade nebulosa e ofereceu aos culpados um caminho discreto para a redenção. (Embora o instituto tenha se concentrado inicialmente em dados de gênero, suas análises agora se estendem a raça/etnia, LGBTQIA+, deficiência, idade superior 50 anos e tipo de corpo. Triste descoberta aleatória: as personagens com excesso de peso têm mais do que o dobro de probabilidade de ser violentas.)

Mesmo que o resultado fosse esperado, as conclusões do instituto são impressionantes: nos 101 filmes de maior bilheteria entre 1990 e 2005, apenas 28 por cento das personagens com falas eram mulheres. Mesmo em cenas de multidão - mesmo em cenas de multidão em filmes de animação -, as personagens masculinas superam amplamente as femininas. Nos 56 filmes de maior bilheteria de 2018, as mulheres retratadas em posições de liderança tinham quatro vezes mais chances do que os homens de aparecer nuas. (O corpo de 15 por cento delas foi filmado em câmera lenta.) Enquanto um século atrás as mulheres tinham sido totalmente centrais para a nascente indústria cinematográfica, agora estavam em segundo plano.

“Quando ela começou a coletar os dados, foi incrível. Não era mais uma sensação vaga. Não dava para alegar que era só um discurso feminista. Era tipo: ‘Olha esses números’”, disse Hillary Hallett, professora de estudos americanos na Universidade Columbia e autora de Go West, Young Women! The Rise of Early Hollywood.

Davis alterna entre a reserva e a piada fora da tela - uma entrevistada pensativa, mas que ri muito. (A certa altura, pronunciou a palavra “atuação” de forma tão teatral que achou que poderia ser difícil incluí-la neste artigo.) Em uma tarde recente em Los Angeles, fez uma pausa na ilustração do livro infantil que havia escrito, The Girl Who Was Too Big for the Page. “Cresci muito ciente de ser a criança mais alta - não só a menina mais alta - da minha classe. Eu tinha esse desejo de infância de ocupar menos espaço no mundo.”

Com o tempo, começou a ignorar sua altura - 1,83 m - e a ver as mensagens insidiosas que reforçavam essa insegurança. “Hollywood cria nossa narrativa cultural - seus preconceitos se espalham pelo resto do mundo”, afirmou em Isso Muda Tudo, documentário que produziu em 2018 sobre a desigualdade de gênero na indústria cinematográfica. O documentário leva o nome do bordão incessante que continuou ouvindo depois do sucesso de Thelma e Louise e, mais tarde, de Uma Equipe Muito Especial. Finalmente, o poder e a lucratividade dos filmes centrados em mulheres foram provados - isso muda tudo! E depois, ano após ano, nada.

Foi aqui que Davis estabeleceu sua missão - o debate em torno do motivo pelo qual certas injustiças persistem e a melhor maneira de combatê-las. Se movimentos como o #MeToo e o Times Up visam atos deliberados de monstruosidade, o dela seria o universo mais indefinido do preconceito inconsciente. Você escalou um homem para fazer o papel de médico sem pensar? Contratou aquele diretor branco hétero porque ele tem a mesma formação que você teve? Pensou que estava diversificando seu filme, mas acabou reforçando velhos estereótipos? (A latina fogosa, por exemplo?)

Se um carro cheio de educados membros da família Davis pode despertar para o perigo iminente, talvez os cineastas possam acabar vendo o mal que estão perpetuando. “Nem todas as pessoas estão necessariamente tentando ferrar mulheres ou negros. Mas as escolhas que fazem têm, sem dúvida, essa consequência, independentemente do que acreditam ser sua intenção. Não é uma coisa de que as pessoas estejam necessariamente conscientes. E não há provas - isso só pode ser revelado em conjunto. O que mostra o valor do trabalho de Geena”, afirmou Franklin Leonard, produtor de cinema e televisão e fundador da Black List, plataforma popular de roteiros que não foram produzidos.

As mulheres representaram apenas 18 por cento dos diretores que trabalharam nos 250 melhores filmes de 2022, aumento de apenas um por cento em relação a 2021, de acordo com o Centro de Estudo da Mulher na Televisão e no Cinema; a porcentagem das principais personagens femininas asiáticas e asiático-americanas caiu de dez por cento em 2021 para menos de sete por cento em 2022. Um relatório da McKinsey de 2021 mostrou que 92 por cento dos executivos de cinema eram brancos - ambiente menos diversificado do que o gabinete de Donald Trump na época, como observou Leonard, da Black List, acrescentando: “Acho que a indústria é mais resistente à mudança do que as pessoas imaginam. Portanto, sou incrivelmente grato a qualquer um - e especialmente a alguém com o histórico de Geena - que faça o trabalho sem glamour de tentar mudar o quadro, mesmo que seja com planilhas do Excel.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Geena Davis e sua família voltavam de um jantar em sua pequena cidade de Massachusetts quando o motorista do carro, o tio-avô dela, Jack, de 99 anos, começou a entrar na faixa da contramão. Davis tinha cerca de oito anos e estava sentada entre seus pais no banco de trás. Talvez por excesso de educação da família ou porque fosse assim na época, ninguém comentou o que estava acontecendo, mesmo quando outro carro apareceu ao longe, acelerando na direção contrária. Por fim, momentos antes do impacto, a avó de Davis sugeriu gentilmente no banco do passageiro: “Um pouco para a direita, Jack.” Escaparam por poucos centímetros.

Davis, de 67 anos, contou essa história em seu livro de memórias de 2022, Dying of Politeness, um apanhado dos valores genialmente estúpidos que ela absorveu quando criança - e que muitas outras meninas também absorvem: Evite. Aceite para se dar bem. Está tudo certo.

Quando se trata de quantificar o sexismo em Hollywood, a vencedora do Oscar está em uma liga própria. "Todos diziam: 'Não, não, não - costumava ser assim, mas já foi consertado'", disse ela. Comecei a me perguntar: "E se eu tiver os dados para provar que estou certa sobre isso?" Foto: Magdalena Wosinska/The New York Times

É claro que a atriz duas vezes vencedora do Oscar abandonou essa maleabilidade há muito tempo. De Thelma e Louise e Uma Equipe Muito Especial ao drama deste ano, País das Fadas, a docilidade no banco de trás simplesmente não era uma opção. Na verdade, o autocontrole era o que importava para ela. (Ou uma das coisas importantes. Poucos perfis deixam de mencionar sua filiação à Mensa, sua fluência em sueco ou sua habilidade no arco e flecha de nível olímpico.) Mas o cultivo de sua audácia foi apenas a primeira fase.

No ano que vem, a criação do Instituto Geena Davis de Gênero na Mídia vai completar duas décadas. Quando sua filha era pequena, Davis não pôde deixar de notar que as personagens masculinas superavam em muito as femininas na TV e nos filmes infantis. “Eu sabia que tudo estava completamente desequilibrado no mundo”, disse ela recentemente. Mas esse era o reino do faz de conta; por que não deveria ser 50/50?

Não eram só os números. Era mais o modo como as mulheres eram representadas, suas aspirações, a sexualização das meninas: em toda a programação infantil, Davis viu uma imagem distorcida da realidade sendo transmitida para mentes impressionáveis. Muito antes que “diversidade, equidade e inclusão” entrassem no léxico, ela começou a mencionar esse desequilíbrio de gênero em todas as reuniões de que participava. “Todo mundo dizia: ‘Não, não, não, costumava ser assim, mas essa questão foi resolvida.’ Comecei a pensar: e se eu obtivesse os dados para provar que estou certa?”

Em meio às causas alardeadas por Hollywood, Davis assumiu a missão de coletar dados silenciosamente. Qual é exatamente a gravidade desse desequilíbrio? De que outras formas isso ocorre? Além do gênero, quem mais está sendo marginalizado? Então, com patrocinadores que vão do Google ao Hulu, a equipe de pesquisadores de Davis começou a produzir números.

Disparidades

Davis não foi a primeira pessoa a destacar disparidades no entretenimento popular. Mas, por meio de sua reputação e de seus recursos - e usando a tecnologia para abordar o problema -, ela concretizou uma verdade nebulosa e ofereceu aos culpados um caminho discreto para a redenção. (Embora o instituto tenha se concentrado inicialmente em dados de gênero, suas análises agora se estendem a raça/etnia, LGBTQIA+, deficiência, idade superior 50 anos e tipo de corpo. Triste descoberta aleatória: as personagens com excesso de peso têm mais do que o dobro de probabilidade de ser violentas.)

Mesmo que o resultado fosse esperado, as conclusões do instituto são impressionantes: nos 101 filmes de maior bilheteria entre 1990 e 2005, apenas 28 por cento das personagens com falas eram mulheres. Mesmo em cenas de multidão - mesmo em cenas de multidão em filmes de animação -, as personagens masculinas superam amplamente as femininas. Nos 56 filmes de maior bilheteria de 2018, as mulheres retratadas em posições de liderança tinham quatro vezes mais chances do que os homens de aparecer nuas. (O corpo de 15 por cento delas foi filmado em câmera lenta.) Enquanto um século atrás as mulheres tinham sido totalmente centrais para a nascente indústria cinematográfica, agora estavam em segundo plano.

“Quando ela começou a coletar os dados, foi incrível. Não era mais uma sensação vaga. Não dava para alegar que era só um discurso feminista. Era tipo: ‘Olha esses números’”, disse Hillary Hallett, professora de estudos americanos na Universidade Columbia e autora de Go West, Young Women! The Rise of Early Hollywood.

Davis alterna entre a reserva e a piada fora da tela - uma entrevistada pensativa, mas que ri muito. (A certa altura, pronunciou a palavra “atuação” de forma tão teatral que achou que poderia ser difícil incluí-la neste artigo.) Em uma tarde recente em Los Angeles, fez uma pausa na ilustração do livro infantil que havia escrito, The Girl Who Was Too Big for the Page. “Cresci muito ciente de ser a criança mais alta - não só a menina mais alta - da minha classe. Eu tinha esse desejo de infância de ocupar menos espaço no mundo.”

Com o tempo, começou a ignorar sua altura - 1,83 m - e a ver as mensagens insidiosas que reforçavam essa insegurança. “Hollywood cria nossa narrativa cultural - seus preconceitos se espalham pelo resto do mundo”, afirmou em Isso Muda Tudo, documentário que produziu em 2018 sobre a desigualdade de gênero na indústria cinematográfica. O documentário leva o nome do bordão incessante que continuou ouvindo depois do sucesso de Thelma e Louise e, mais tarde, de Uma Equipe Muito Especial. Finalmente, o poder e a lucratividade dos filmes centrados em mulheres foram provados - isso muda tudo! E depois, ano após ano, nada.

Foi aqui que Davis estabeleceu sua missão - o debate em torno do motivo pelo qual certas injustiças persistem e a melhor maneira de combatê-las. Se movimentos como o #MeToo e o Times Up visam atos deliberados de monstruosidade, o dela seria o universo mais indefinido do preconceito inconsciente. Você escalou um homem para fazer o papel de médico sem pensar? Contratou aquele diretor branco hétero porque ele tem a mesma formação que você teve? Pensou que estava diversificando seu filme, mas acabou reforçando velhos estereótipos? (A latina fogosa, por exemplo?)

Se um carro cheio de educados membros da família Davis pode despertar para o perigo iminente, talvez os cineastas possam acabar vendo o mal que estão perpetuando. “Nem todas as pessoas estão necessariamente tentando ferrar mulheres ou negros. Mas as escolhas que fazem têm, sem dúvida, essa consequência, independentemente do que acreditam ser sua intenção. Não é uma coisa de que as pessoas estejam necessariamente conscientes. E não há provas - isso só pode ser revelado em conjunto. O que mostra o valor do trabalho de Geena”, afirmou Franklin Leonard, produtor de cinema e televisão e fundador da Black List, plataforma popular de roteiros que não foram produzidos.

As mulheres representaram apenas 18 por cento dos diretores que trabalharam nos 250 melhores filmes de 2022, aumento de apenas um por cento em relação a 2021, de acordo com o Centro de Estudo da Mulher na Televisão e no Cinema; a porcentagem das principais personagens femininas asiáticas e asiático-americanas caiu de dez por cento em 2021 para menos de sete por cento em 2022. Um relatório da McKinsey de 2021 mostrou que 92 por cento dos executivos de cinema eram brancos - ambiente menos diversificado do que o gabinete de Donald Trump na época, como observou Leonard, da Black List, acrescentando: “Acho que a indústria é mais resistente à mudança do que as pessoas imaginam. Portanto, sou incrivelmente grato a qualquer um - e especialmente a alguém com o histórico de Geena - que faça o trabalho sem glamour de tentar mudar o quadro, mesmo que seja com planilhas do Excel.”

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