Após viralizar com rap, menino palestino se encontra no meio da política de Gaza


Mensagem da música, em que defende o "amor entre nós e Israel", gerou grande debate político

Por Adam Rasgon e Lyad Abuheweila
Atualização:

JERUSALÉM — Quando o garoto de 11 anos morador da cidade de Gaza postou um vídeo cantando um rap de um dos seus artistas prediletos, nunca imaginou que isto o deixaria famoso ou lhe traria problemas. O vídeo de de Abdel Rahman al Shantti cantando um rap na frente da sua escola num inglês fluente e com uma atitude hip-hop perfeita teve mais de um milhão de visualizações e foi elogiado por rappers famosos de todo o mundo. O problema surgiu quando foi indagado sobre a mensagem da música.

“Gostaria de propagar o amor entre nós e Israel”, disse ele numa entrevista para uma agência de notícias russa. “Não existe nenhuma razão para lutas e guerras. Precisamos melhorar cada vez mais esta relação”.

Abdel-Rahman Al-Shantti, o rapper de 11anos de Gaza. Foto: REUTERS/Mohammed Salem
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O comentário foi ferozmente criticado em Gaza, onde o grupo militante Hamas, no governo da Faixa de Gaza, defende a luta contra Israel para retomar o que considera ser a terra palestina, e não fazer a paz com os israelenses. Nas redes sociais, muitos palestinos atacaram o jovem rapper, e o seu pai, que acusam de não explicar adequadamente ao filho o que é a causa palestina.

Quando um garoto “não estuda a história do seu país natal, é muito fácil incutir essas ideias na sua cabeça”, comentou Saad Yaghi, de 23 anos, morador de Gaza, no Facebook. A agência de notícias russa, Russia Today, removeu o vídeo a pedido do pai de Abdel, Saleh al-Shantti, que também postou seu próprio vídeo refutando que seu filho não quis dizer paz amor com Israel especificamente, mas paz com o mundo.

“O menino tem 11 anos de idade e se expressou mal. Ele estava muito cansado. Isto pode acontecer”, disse Saleh. Apelos para uma coexistência pacífica com Israel são proibidos em muitos círculos em Gaza e vistos como um ato de normalização – ou seja, tratar Israel como um Estado normal com o qual se pode manter relações normais. 

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Alguns atos de normalização, incluindo atividades ou manter comunicação com israelenses são considerados crime em Gaza, embora nenhuma autoridade tenha sugerido que os comentários do menino Abdel Rahman passaram do limite. Em abril, as autoridades de Gaza prenderam diversos ativistas palestinos que defendem a paz com Israel por manterem uma conversa com vídeo com israelenses. O principal organizador da chamada de vídeo, Rami Aman, ainda está preso, esperando o promotor militar do Hamas decidir se vai indiciá-lo ou não.

Fã de Eminem

Abdel Rahman, que cursa o sétimo ano em uma escola das Nações Unidas na cidade de Gaza, disse que aprendeu inglês ouvindo música online. Ele curte rap desde os nove anos de idade, gravou covers e algumas vezes suas próprias músicas em colaboração com artistas do exterior.

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Ele gosta da NBA e de skate, disse numa entrevista no Zoom, a partir da sua casa, com o pai ao lado. O artista que mais admira é Eminem e seu sonho é se tornar um rapper profissional e fazer uma turnê nos Estados Unidos. O vídeo que viralizou foi gravado por seu pai e postado e repostado em inúmeras plataformas de redes sociais. Uma rádio saudita postou o vídeo no Twitter e registrou quase meio milhão de visualizações.

Abdel Rahman disse que sua música tem por finalidade mostrar o sofrimento dos palestinos em Gaza, cuja economia foi devastada por um bloqueio por Israel Egito, que segundo as autoridades israelenses é para impedir que o Hamas importe armas ou material para produzi-las. Mas ele também deseja compartilhar uma mensagem de paz e igualdade. 

“Você deve tratar os outros como deseja ser tratado. Gostaria que ´houvesse um fim da violência e da discriminação de lugares diferentes e raças diferentes”. Os rappers palestinos afirmam que ele tem um enorme potencial. “Ele assimilou a fluidez, o carisma e a história”, disse o rapper Tamer Nafar, cidadão palestino de Israel. “Com o treinamento certo, em um ou dois anos ele pode chegar ao nível internacional”.

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Waheeb Nasan, rapper americano-palestino que compôs a letra do rap do vídeo gravado, elogiou o garoto por sua vigorosa capacidade inspiradora”. “Vejo que ele deseja propagar uma causa bastante positiva. Vejo nele muita promessa, energia e uma esperança inocente”, afirmou. 

É mais do que irônico que o rap que trouxe problemas para o menino é um hino aos palestinos que morreram por sua causa e tem um tema palestino fortemente nacionalista. Nasan incluiu esse rap no seu remix de See You Again, uma música de sucesso de Wiz Khalifa.

“Em primeiro lugar está o nosso país. Deixe-me falar como ele vai”, começa o vídeo de Abdel Rahman. Muitos usuários de redes sociais aceitaram o argumento do pai de Abdel de que seu filho cometeu um engano.  Outros, sem assumir uma posição, afirmaram não ser apropriado fazer do menino alvo de críticas. E alguns questionaram porque é inaceitável querer viver em paz com Israel.

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“Qual é o problema de buscar a paz com os vizinhos?”, perguntou Maha Buhisi, 26 anos, ativista político de Deir al Balah, escrevendo no Facebook. “As palavras do menino são bonitas. Paz não significa desistir da Palestina”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

JERUSALÉM — Quando o garoto de 11 anos morador da cidade de Gaza postou um vídeo cantando um rap de um dos seus artistas prediletos, nunca imaginou que isto o deixaria famoso ou lhe traria problemas. O vídeo de de Abdel Rahman al Shantti cantando um rap na frente da sua escola num inglês fluente e com uma atitude hip-hop perfeita teve mais de um milhão de visualizações e foi elogiado por rappers famosos de todo o mundo. O problema surgiu quando foi indagado sobre a mensagem da música.

“Gostaria de propagar o amor entre nós e Israel”, disse ele numa entrevista para uma agência de notícias russa. “Não existe nenhuma razão para lutas e guerras. Precisamos melhorar cada vez mais esta relação”.

Abdel-Rahman Al-Shantti, o rapper de 11anos de Gaza. Foto: REUTERS/Mohammed Salem

O comentário foi ferozmente criticado em Gaza, onde o grupo militante Hamas, no governo da Faixa de Gaza, defende a luta contra Israel para retomar o que considera ser a terra palestina, e não fazer a paz com os israelenses. Nas redes sociais, muitos palestinos atacaram o jovem rapper, e o seu pai, que acusam de não explicar adequadamente ao filho o que é a causa palestina.

Quando um garoto “não estuda a história do seu país natal, é muito fácil incutir essas ideias na sua cabeça”, comentou Saad Yaghi, de 23 anos, morador de Gaza, no Facebook. A agência de notícias russa, Russia Today, removeu o vídeo a pedido do pai de Abdel, Saleh al-Shantti, que também postou seu próprio vídeo refutando que seu filho não quis dizer paz amor com Israel especificamente, mas paz com o mundo.

“O menino tem 11 anos de idade e se expressou mal. Ele estava muito cansado. Isto pode acontecer”, disse Saleh. Apelos para uma coexistência pacífica com Israel são proibidos em muitos círculos em Gaza e vistos como um ato de normalização – ou seja, tratar Israel como um Estado normal com o qual se pode manter relações normais. 

Alguns atos de normalização, incluindo atividades ou manter comunicação com israelenses são considerados crime em Gaza, embora nenhuma autoridade tenha sugerido que os comentários do menino Abdel Rahman passaram do limite. Em abril, as autoridades de Gaza prenderam diversos ativistas palestinos que defendem a paz com Israel por manterem uma conversa com vídeo com israelenses. O principal organizador da chamada de vídeo, Rami Aman, ainda está preso, esperando o promotor militar do Hamas decidir se vai indiciá-lo ou não.

Fã de Eminem

Abdel Rahman, que cursa o sétimo ano em uma escola das Nações Unidas na cidade de Gaza, disse que aprendeu inglês ouvindo música online. Ele curte rap desde os nove anos de idade, gravou covers e algumas vezes suas próprias músicas em colaboração com artistas do exterior.

Ele gosta da NBA e de skate, disse numa entrevista no Zoom, a partir da sua casa, com o pai ao lado. O artista que mais admira é Eminem e seu sonho é se tornar um rapper profissional e fazer uma turnê nos Estados Unidos. O vídeo que viralizou foi gravado por seu pai e postado e repostado em inúmeras plataformas de redes sociais. Uma rádio saudita postou o vídeo no Twitter e registrou quase meio milhão de visualizações.

Abdel Rahman disse que sua música tem por finalidade mostrar o sofrimento dos palestinos em Gaza, cuja economia foi devastada por um bloqueio por Israel Egito, que segundo as autoridades israelenses é para impedir que o Hamas importe armas ou material para produzi-las. Mas ele também deseja compartilhar uma mensagem de paz e igualdade. 

“Você deve tratar os outros como deseja ser tratado. Gostaria que ´houvesse um fim da violência e da discriminação de lugares diferentes e raças diferentes”. Os rappers palestinos afirmam que ele tem um enorme potencial. “Ele assimilou a fluidez, o carisma e a história”, disse o rapper Tamer Nafar, cidadão palestino de Israel. “Com o treinamento certo, em um ou dois anos ele pode chegar ao nível internacional”.

Waheeb Nasan, rapper americano-palestino que compôs a letra do rap do vídeo gravado, elogiou o garoto por sua vigorosa capacidade inspiradora”. “Vejo que ele deseja propagar uma causa bastante positiva. Vejo nele muita promessa, energia e uma esperança inocente”, afirmou. 

É mais do que irônico que o rap que trouxe problemas para o menino é um hino aos palestinos que morreram por sua causa e tem um tema palestino fortemente nacionalista. Nasan incluiu esse rap no seu remix de See You Again, uma música de sucesso de Wiz Khalifa.

“Em primeiro lugar está o nosso país. Deixe-me falar como ele vai”, começa o vídeo de Abdel Rahman. Muitos usuários de redes sociais aceitaram o argumento do pai de Abdel de que seu filho cometeu um engano.  Outros, sem assumir uma posição, afirmaram não ser apropriado fazer do menino alvo de críticas. E alguns questionaram porque é inaceitável querer viver em paz com Israel.

“Qual é o problema de buscar a paz com os vizinhos?”, perguntou Maha Buhisi, 26 anos, ativista político de Deir al Balah, escrevendo no Facebook. “As palavras do menino são bonitas. Paz não significa desistir da Palestina”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

JERUSALÉM — Quando o garoto de 11 anos morador da cidade de Gaza postou um vídeo cantando um rap de um dos seus artistas prediletos, nunca imaginou que isto o deixaria famoso ou lhe traria problemas. O vídeo de de Abdel Rahman al Shantti cantando um rap na frente da sua escola num inglês fluente e com uma atitude hip-hop perfeita teve mais de um milhão de visualizações e foi elogiado por rappers famosos de todo o mundo. O problema surgiu quando foi indagado sobre a mensagem da música.

“Gostaria de propagar o amor entre nós e Israel”, disse ele numa entrevista para uma agência de notícias russa. “Não existe nenhuma razão para lutas e guerras. Precisamos melhorar cada vez mais esta relação”.

Abdel-Rahman Al-Shantti, o rapper de 11anos de Gaza. Foto: REUTERS/Mohammed Salem

O comentário foi ferozmente criticado em Gaza, onde o grupo militante Hamas, no governo da Faixa de Gaza, defende a luta contra Israel para retomar o que considera ser a terra palestina, e não fazer a paz com os israelenses. Nas redes sociais, muitos palestinos atacaram o jovem rapper, e o seu pai, que acusam de não explicar adequadamente ao filho o que é a causa palestina.

Quando um garoto “não estuda a história do seu país natal, é muito fácil incutir essas ideias na sua cabeça”, comentou Saad Yaghi, de 23 anos, morador de Gaza, no Facebook. A agência de notícias russa, Russia Today, removeu o vídeo a pedido do pai de Abdel, Saleh al-Shantti, que também postou seu próprio vídeo refutando que seu filho não quis dizer paz amor com Israel especificamente, mas paz com o mundo.

“O menino tem 11 anos de idade e se expressou mal. Ele estava muito cansado. Isto pode acontecer”, disse Saleh. Apelos para uma coexistência pacífica com Israel são proibidos em muitos círculos em Gaza e vistos como um ato de normalização – ou seja, tratar Israel como um Estado normal com o qual se pode manter relações normais. 

Alguns atos de normalização, incluindo atividades ou manter comunicação com israelenses são considerados crime em Gaza, embora nenhuma autoridade tenha sugerido que os comentários do menino Abdel Rahman passaram do limite. Em abril, as autoridades de Gaza prenderam diversos ativistas palestinos que defendem a paz com Israel por manterem uma conversa com vídeo com israelenses. O principal organizador da chamada de vídeo, Rami Aman, ainda está preso, esperando o promotor militar do Hamas decidir se vai indiciá-lo ou não.

Fã de Eminem

Abdel Rahman, que cursa o sétimo ano em uma escola das Nações Unidas na cidade de Gaza, disse que aprendeu inglês ouvindo música online. Ele curte rap desde os nove anos de idade, gravou covers e algumas vezes suas próprias músicas em colaboração com artistas do exterior.

Ele gosta da NBA e de skate, disse numa entrevista no Zoom, a partir da sua casa, com o pai ao lado. O artista que mais admira é Eminem e seu sonho é se tornar um rapper profissional e fazer uma turnê nos Estados Unidos. O vídeo que viralizou foi gravado por seu pai e postado e repostado em inúmeras plataformas de redes sociais. Uma rádio saudita postou o vídeo no Twitter e registrou quase meio milhão de visualizações.

Abdel Rahman disse que sua música tem por finalidade mostrar o sofrimento dos palestinos em Gaza, cuja economia foi devastada por um bloqueio por Israel Egito, que segundo as autoridades israelenses é para impedir que o Hamas importe armas ou material para produzi-las. Mas ele também deseja compartilhar uma mensagem de paz e igualdade. 

“Você deve tratar os outros como deseja ser tratado. Gostaria que ´houvesse um fim da violência e da discriminação de lugares diferentes e raças diferentes”. Os rappers palestinos afirmam que ele tem um enorme potencial. “Ele assimilou a fluidez, o carisma e a história”, disse o rapper Tamer Nafar, cidadão palestino de Israel. “Com o treinamento certo, em um ou dois anos ele pode chegar ao nível internacional”.

Waheeb Nasan, rapper americano-palestino que compôs a letra do rap do vídeo gravado, elogiou o garoto por sua vigorosa capacidade inspiradora”. “Vejo que ele deseja propagar uma causa bastante positiva. Vejo nele muita promessa, energia e uma esperança inocente”, afirmou. 

É mais do que irônico que o rap que trouxe problemas para o menino é um hino aos palestinos que morreram por sua causa e tem um tema palestino fortemente nacionalista. Nasan incluiu esse rap no seu remix de See You Again, uma música de sucesso de Wiz Khalifa.

“Em primeiro lugar está o nosso país. Deixe-me falar como ele vai”, começa o vídeo de Abdel Rahman. Muitos usuários de redes sociais aceitaram o argumento do pai de Abdel de que seu filho cometeu um engano.  Outros, sem assumir uma posição, afirmaram não ser apropriado fazer do menino alvo de críticas. E alguns questionaram porque é inaceitável querer viver em paz com Israel.

“Qual é o problema de buscar a paz com os vizinhos?”, perguntou Maha Buhisi, 26 anos, ativista político de Deir al Balah, escrevendo no Facebook. “As palavras do menino são bonitas. Paz não significa desistir da Palestina”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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