Rosalía se reserva o direito de transformar: ‘Quero ouvir algo que nunca ouvi antes’


A cantora pop espanhola, conhecida por sua reinvenção do flamenco, juntou novos sons do mundo latino e muito mais em seu último álbum, ‘Motomami’

Por Joe Coscarelli

THE NEW YORK TIMES LIFE/STYLE - LOS ANGELES - Rosalía, um fenômeno experimental do pop espanhol com uma reputação de reinvenção em hipervelocidade, geralmente se vê resolvendo problemas musicais intrincados criados por ela mesma. Como, por exemplo, ela poderia misturar reggaeton com jazz? Ou flamenco com o programa de áudio Auto-Tune?

Como ela poderia usar a bateria digital programada por Tayhana, uma produtora argentina na Cidade do México, em uma canção sentimental destinada a se assemelhar a “Wuthering Heights” de Kate Bush? Ou deformar uma balada cubana tradicional conhecida como um bolero usando um sample obscuro de Soulja Boy?

A verdade é que Rosalía quer tudo ser erudita e vanguardista, sexy, boba e absurda Foto: CARLOS JARAMILLO
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“É quase uma piada, certo?” Rosalía falou recentemente de suas propostas outrora abstratas, durante uma tarde no estúdio em North Hollywood, onde gravou grande parte de seu novo álbum, “Motomami”, que consegue incluir todos os itens acima.

cop

Mas Rosalía, 29 anos, não é do tipo que abraça a criatividade sem limites, confiante de que algo novo se revelará. Em vez disso, ela tende a trabalhar a partir de devaneios concretos, imaginando em detalhes um produto acabado que combina o máximo possível de suas referências artísticas, enquanto ainda se sente fiel a si mesma e original o suficiente para transcender a mera homenagem.

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“Eu amo todos os estilos”, ela disse, em uma generalização que também parecia um eufemismo. “Para mim, está tudo no mesmo nível.” Ou dito de outra forma: “O contexto é tudo” – influências fundamentais reanimadas por um ponto de vista pessoal. “Eu só quero ouvir algo que nunca ouvi antes. Essa é a intenção sempre.”

Mesmo quando Rosalía não está literalmente usando um sample – ou um sample de um sample, como em sua nova música “Candy”, construída sobre a implantação cortada de uma faixa de Ray J por Burial – ela ainda está sampleando. “Faz uma eternidade que nós, como humanos, quando criamos, sampleamos”, ela disse. “Das ideias vem outra ideia. Quando vejo que Francis Bacon faz uma pintura baseada em uma pintura de Velázquez, acho que é samplear.

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“Desde que você faça isso com respeito – e com amor – acho que sempre faz sentido”, acrescentou.

Essa amplitude de ambição criativa fez de Rosalía uma das mais assistidas, cultuadas, escrutinadas, copiadas jovens artistas do mundo, apesar de nunca ter tido um hit Top 40 nos Estados Unidos. Ela tem bilhões de reproduções no YouTube e no Spotify, incluindo as de colaborações com The Weeknd, Travis Scott e Billie Eilish. Ela saiu com as Kardashian-Jenners, fez participações especiais em um filme de Pedro Almodóvar e no vídeo “WAP” de Cardi B e foi capa de revistas de moda em todos os continentes.

No período que antecedeu “Motomami”, Rosalía apareceu com Jimmy Fallon – ensinando-o a falar o R em seu nome – e também no Saturday Night Live, onde ela se apresentou sozinha e inteiramente em espanhol.

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“Finalmente, seu impacto na cultura é muito maior do que o acumulado de suas transmissões”, disse Rebeca León, empresária de Rosalía. “Eu vejo todas as garotas imitando-a de uma forma tão literal. Não apenas meninas no mundo latino – em todos os lugares.”

O álbum anterior da cantora, “El Mal Querer”, chegou totalmente pronto em 2018, apresentando Rosalía como uma vanguardista confiante atualizando a música flamenca que ela estudou na adolescência na Catalunha para uma era digital globalizada. (“Los Ángeles”, sua estreia em 2017, foi uma coleção de flamenco mais tradicional, embora tenha terminado com um cover de “I See a Darkness” de Bonnie “Prince” Billy).

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Mas a unção generalizada de Rosalía como um ícone pop mundial, à la Beyoncé ou Rihanna – além da explosão comercial mundial de música em espanhol – significava que “Motomami” estava sendo dissecado antes mesmo de existir. Uma coluna publicada este ano no El País incluiu preocupações de que ela “parecia uma ‘Miley Cyrus’”, indo de alusões líricas de Federico Garcia Lorca a rimas simplistas e sujas e compartilhamento excessivo nas mídias sociais.

A verdade é que Rosalía quer tudo: ser erudita e vanguardista, sexy, boba e absurda. Em uma conversa intensa em espanhol, mas cheia de risadas, ela faz referências ao “el inconsciente coletivo” de Carl Jung – o inconsciente coletivo – e sua obsessão pelo TikTok; nas letras, ela jura fidelidade a Niña Pastori, José Mercé e Willie Colón, mas também a Tego Calderón, Lil’ Kim e MIA.

Em “Saoko”, um tributo aos pioneiros do reggaeton Daddy Yankee e Wisin que abre “Motomami”, a cantora é direta sobre seus objetivos e mudanças de forma: “Yo me transformo”, ela rosna – eu transformo. “Eu me contradigo”, ela acrescenta em espanhol. “Eu sou tudo.”

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Enquanto Rosalía lançava um álbum de singles únicos nos quatro anos desde “El Mal Querer”, ela traçava intrincadamente “Motomami” como um corpo completo de trabalho com uma paleta distinta: sem guitarras (dominantes como eram em sua música anterior ), bateria “super agressiva” e muitas teclas, mas harmonias vocais mínimas. Ironia e humor foram novas adições ao seu arsenal temático, o sexo e a arrogância apareceram.

“Quase frenética”, ela disse sobre sua visão – uma montanha-russa que mergulha nos altos e baixos do amor, fama e família, especialmente durante o isolamento da pandemia. “É exatamente assim que sinto o tempo todo, estando nesse contexto, fazendo esse trabalho.”

E é trabalho. Como cantora principal, compositora, produtora, performer e diretora de arte de seu projeto, Rosalía é ao mesmo tempo uma ampla colaboradora e uma autora que supervisiona cada detalhe deliberado.

“Eu não me importo o quão pequena sua contribuição foi para a música; Vou colocar nos créditos. É assim que estou confiante como musicista”, ela disse. “Mas eu sei que é prejudicial colocar luz em mim como produtora. Porque no momento em que as pessoas veem homens e mulheres em uma lista, elas assumem – você sabe como é.

“Eu vi o que acontece com Björk. Já vi outras mulheres que passaram por isso. Mas o tempo que gasto – 16 horas por dia durante meses – é uma loucura.” Ela zombou da audácia de duvidar das “forças criativas femininas”.

“Como? Isso? Ainda? Acontece?”

Mas sua crença nos frutos desse trabalho – seu conhecimento de que não existe uma máquina oportunista – significa que ela aceitará corajosamente quaisquer críticas e elogios que possam vir por estar no comando e tentar permanecer na vanguarda. “Gostaria que fosse mais fácil para mim, que eu chegasse ao estúdio, cantasse um pouco e fosse embora”, disse Rosalía. “Mas o tempo dirá.”

Ela zombou de novo, soando cada vez mais segura de si mesma. “O tempo vai dizer.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES LIFE/STYLE - LOS ANGELES - Rosalía, um fenômeno experimental do pop espanhol com uma reputação de reinvenção em hipervelocidade, geralmente se vê resolvendo problemas musicais intrincados criados por ela mesma. Como, por exemplo, ela poderia misturar reggaeton com jazz? Ou flamenco com o programa de áudio Auto-Tune?

Como ela poderia usar a bateria digital programada por Tayhana, uma produtora argentina na Cidade do México, em uma canção sentimental destinada a se assemelhar a “Wuthering Heights” de Kate Bush? Ou deformar uma balada cubana tradicional conhecida como um bolero usando um sample obscuro de Soulja Boy?

A verdade é que Rosalía quer tudo ser erudita e vanguardista, sexy, boba e absurda Foto: CARLOS JARAMILLO

“É quase uma piada, certo?” Rosalía falou recentemente de suas propostas outrora abstratas, durante uma tarde no estúdio em North Hollywood, onde gravou grande parte de seu novo álbum, “Motomami”, que consegue incluir todos os itens acima.

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Mas Rosalía, 29 anos, não é do tipo que abraça a criatividade sem limites, confiante de que algo novo se revelará. Em vez disso, ela tende a trabalhar a partir de devaneios concretos, imaginando em detalhes um produto acabado que combina o máximo possível de suas referências artísticas, enquanto ainda se sente fiel a si mesma e original o suficiente para transcender a mera homenagem.

“Eu amo todos os estilos”, ela disse, em uma generalização que também parecia um eufemismo. “Para mim, está tudo no mesmo nível.” Ou dito de outra forma: “O contexto é tudo” – influências fundamentais reanimadas por um ponto de vista pessoal. “Eu só quero ouvir algo que nunca ouvi antes. Essa é a intenção sempre.”

Mesmo quando Rosalía não está literalmente usando um sample – ou um sample de um sample, como em sua nova música “Candy”, construída sobre a implantação cortada de uma faixa de Ray J por Burial – ela ainda está sampleando. “Faz uma eternidade que nós, como humanos, quando criamos, sampleamos”, ela disse. “Das ideias vem outra ideia. Quando vejo que Francis Bacon faz uma pintura baseada em uma pintura de Velázquez, acho que é samplear.

“Desde que você faça isso com respeito – e com amor – acho que sempre faz sentido”, acrescentou.

Essa amplitude de ambição criativa fez de Rosalía uma das mais assistidas, cultuadas, escrutinadas, copiadas jovens artistas do mundo, apesar de nunca ter tido um hit Top 40 nos Estados Unidos. Ela tem bilhões de reproduções no YouTube e no Spotify, incluindo as de colaborações com The Weeknd, Travis Scott e Billie Eilish. Ela saiu com as Kardashian-Jenners, fez participações especiais em um filme de Pedro Almodóvar e no vídeo “WAP” de Cardi B e foi capa de revistas de moda em todos os continentes.

No período que antecedeu “Motomami”, Rosalía apareceu com Jimmy Fallon – ensinando-o a falar o R em seu nome – e também no Saturday Night Live, onde ela se apresentou sozinha e inteiramente em espanhol.

“Finalmente, seu impacto na cultura é muito maior do que o acumulado de suas transmissões”, disse Rebeca León, empresária de Rosalía. “Eu vejo todas as garotas imitando-a de uma forma tão literal. Não apenas meninas no mundo latino – em todos os lugares.”

O álbum anterior da cantora, “El Mal Querer”, chegou totalmente pronto em 2018, apresentando Rosalía como uma vanguardista confiante atualizando a música flamenca que ela estudou na adolescência na Catalunha para uma era digital globalizada. (“Los Ángeles”, sua estreia em 2017, foi uma coleção de flamenco mais tradicional, embora tenha terminado com um cover de “I See a Darkness” de Bonnie “Prince” Billy).

Mas a unção generalizada de Rosalía como um ícone pop mundial, à la Beyoncé ou Rihanna – além da explosão comercial mundial de música em espanhol – significava que “Motomami” estava sendo dissecado antes mesmo de existir. Uma coluna publicada este ano no El País incluiu preocupações de que ela “parecia uma ‘Miley Cyrus’”, indo de alusões líricas de Federico Garcia Lorca a rimas simplistas e sujas e compartilhamento excessivo nas mídias sociais.

A verdade é que Rosalía quer tudo: ser erudita e vanguardista, sexy, boba e absurda. Em uma conversa intensa em espanhol, mas cheia de risadas, ela faz referências ao “el inconsciente coletivo” de Carl Jung – o inconsciente coletivo – e sua obsessão pelo TikTok; nas letras, ela jura fidelidade a Niña Pastori, José Mercé e Willie Colón, mas também a Tego Calderón, Lil’ Kim e MIA.

Em “Saoko”, um tributo aos pioneiros do reggaeton Daddy Yankee e Wisin que abre “Motomami”, a cantora é direta sobre seus objetivos e mudanças de forma: “Yo me transformo”, ela rosna – eu transformo. “Eu me contradigo”, ela acrescenta em espanhol. “Eu sou tudo.”

Enquanto Rosalía lançava um álbum de singles únicos nos quatro anos desde “El Mal Querer”, ela traçava intrincadamente “Motomami” como um corpo completo de trabalho com uma paleta distinta: sem guitarras (dominantes como eram em sua música anterior ), bateria “super agressiva” e muitas teclas, mas harmonias vocais mínimas. Ironia e humor foram novas adições ao seu arsenal temático, o sexo e a arrogância apareceram.

“Quase frenética”, ela disse sobre sua visão – uma montanha-russa que mergulha nos altos e baixos do amor, fama e família, especialmente durante o isolamento da pandemia. “É exatamente assim que sinto o tempo todo, estando nesse contexto, fazendo esse trabalho.”

E é trabalho. Como cantora principal, compositora, produtora, performer e diretora de arte de seu projeto, Rosalía é ao mesmo tempo uma ampla colaboradora e uma autora que supervisiona cada detalhe deliberado.

“Eu não me importo o quão pequena sua contribuição foi para a música; Vou colocar nos créditos. É assim que estou confiante como musicista”, ela disse. “Mas eu sei que é prejudicial colocar luz em mim como produtora. Porque no momento em que as pessoas veem homens e mulheres em uma lista, elas assumem – você sabe como é.

“Eu vi o que acontece com Björk. Já vi outras mulheres que passaram por isso. Mas o tempo que gasto – 16 horas por dia durante meses – é uma loucura.” Ela zombou da audácia de duvidar das “forças criativas femininas”.

“Como? Isso? Ainda? Acontece?”

Mas sua crença nos frutos desse trabalho – seu conhecimento de que não existe uma máquina oportunista – significa que ela aceitará corajosamente quaisquer críticas e elogios que possam vir por estar no comando e tentar permanecer na vanguarda. “Gostaria que fosse mais fácil para mim, que eu chegasse ao estúdio, cantasse um pouco e fosse embora”, disse Rosalía. “Mas o tempo dirá.”

Ela zombou de novo, soando cada vez mais segura de si mesma. “O tempo vai dizer.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES LIFE/STYLE - LOS ANGELES - Rosalía, um fenômeno experimental do pop espanhol com uma reputação de reinvenção em hipervelocidade, geralmente se vê resolvendo problemas musicais intrincados criados por ela mesma. Como, por exemplo, ela poderia misturar reggaeton com jazz? Ou flamenco com o programa de áudio Auto-Tune?

Como ela poderia usar a bateria digital programada por Tayhana, uma produtora argentina na Cidade do México, em uma canção sentimental destinada a se assemelhar a “Wuthering Heights” de Kate Bush? Ou deformar uma balada cubana tradicional conhecida como um bolero usando um sample obscuro de Soulja Boy?

A verdade é que Rosalía quer tudo ser erudita e vanguardista, sexy, boba e absurda Foto: CARLOS JARAMILLO

“É quase uma piada, certo?” Rosalía falou recentemente de suas propostas outrora abstratas, durante uma tarde no estúdio em North Hollywood, onde gravou grande parte de seu novo álbum, “Motomami”, que consegue incluir todos os itens acima.

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Mas Rosalía, 29 anos, não é do tipo que abraça a criatividade sem limites, confiante de que algo novo se revelará. Em vez disso, ela tende a trabalhar a partir de devaneios concretos, imaginando em detalhes um produto acabado que combina o máximo possível de suas referências artísticas, enquanto ainda se sente fiel a si mesma e original o suficiente para transcender a mera homenagem.

“Eu amo todos os estilos”, ela disse, em uma generalização que também parecia um eufemismo. “Para mim, está tudo no mesmo nível.” Ou dito de outra forma: “O contexto é tudo” – influências fundamentais reanimadas por um ponto de vista pessoal. “Eu só quero ouvir algo que nunca ouvi antes. Essa é a intenção sempre.”

Mesmo quando Rosalía não está literalmente usando um sample – ou um sample de um sample, como em sua nova música “Candy”, construída sobre a implantação cortada de uma faixa de Ray J por Burial – ela ainda está sampleando. “Faz uma eternidade que nós, como humanos, quando criamos, sampleamos”, ela disse. “Das ideias vem outra ideia. Quando vejo que Francis Bacon faz uma pintura baseada em uma pintura de Velázquez, acho que é samplear.

“Desde que você faça isso com respeito – e com amor – acho que sempre faz sentido”, acrescentou.

Essa amplitude de ambição criativa fez de Rosalía uma das mais assistidas, cultuadas, escrutinadas, copiadas jovens artistas do mundo, apesar de nunca ter tido um hit Top 40 nos Estados Unidos. Ela tem bilhões de reproduções no YouTube e no Spotify, incluindo as de colaborações com The Weeknd, Travis Scott e Billie Eilish. Ela saiu com as Kardashian-Jenners, fez participações especiais em um filme de Pedro Almodóvar e no vídeo “WAP” de Cardi B e foi capa de revistas de moda em todos os continentes.

No período que antecedeu “Motomami”, Rosalía apareceu com Jimmy Fallon – ensinando-o a falar o R em seu nome – e também no Saturday Night Live, onde ela se apresentou sozinha e inteiramente em espanhol.

“Finalmente, seu impacto na cultura é muito maior do que o acumulado de suas transmissões”, disse Rebeca León, empresária de Rosalía. “Eu vejo todas as garotas imitando-a de uma forma tão literal. Não apenas meninas no mundo latino – em todos os lugares.”

O álbum anterior da cantora, “El Mal Querer”, chegou totalmente pronto em 2018, apresentando Rosalía como uma vanguardista confiante atualizando a música flamenca que ela estudou na adolescência na Catalunha para uma era digital globalizada. (“Los Ángeles”, sua estreia em 2017, foi uma coleção de flamenco mais tradicional, embora tenha terminado com um cover de “I See a Darkness” de Bonnie “Prince” Billy).

Mas a unção generalizada de Rosalía como um ícone pop mundial, à la Beyoncé ou Rihanna – além da explosão comercial mundial de música em espanhol – significava que “Motomami” estava sendo dissecado antes mesmo de existir. Uma coluna publicada este ano no El País incluiu preocupações de que ela “parecia uma ‘Miley Cyrus’”, indo de alusões líricas de Federico Garcia Lorca a rimas simplistas e sujas e compartilhamento excessivo nas mídias sociais.

A verdade é que Rosalía quer tudo: ser erudita e vanguardista, sexy, boba e absurda. Em uma conversa intensa em espanhol, mas cheia de risadas, ela faz referências ao “el inconsciente coletivo” de Carl Jung – o inconsciente coletivo – e sua obsessão pelo TikTok; nas letras, ela jura fidelidade a Niña Pastori, José Mercé e Willie Colón, mas também a Tego Calderón, Lil’ Kim e MIA.

Em “Saoko”, um tributo aos pioneiros do reggaeton Daddy Yankee e Wisin que abre “Motomami”, a cantora é direta sobre seus objetivos e mudanças de forma: “Yo me transformo”, ela rosna – eu transformo. “Eu me contradigo”, ela acrescenta em espanhol. “Eu sou tudo.”

Enquanto Rosalía lançava um álbum de singles únicos nos quatro anos desde “El Mal Querer”, ela traçava intrincadamente “Motomami” como um corpo completo de trabalho com uma paleta distinta: sem guitarras (dominantes como eram em sua música anterior ), bateria “super agressiva” e muitas teclas, mas harmonias vocais mínimas. Ironia e humor foram novas adições ao seu arsenal temático, o sexo e a arrogância apareceram.

“Quase frenética”, ela disse sobre sua visão – uma montanha-russa que mergulha nos altos e baixos do amor, fama e família, especialmente durante o isolamento da pandemia. “É exatamente assim que sinto o tempo todo, estando nesse contexto, fazendo esse trabalho.”

E é trabalho. Como cantora principal, compositora, produtora, performer e diretora de arte de seu projeto, Rosalía é ao mesmo tempo uma ampla colaboradora e uma autora que supervisiona cada detalhe deliberado.

“Eu não me importo o quão pequena sua contribuição foi para a música; Vou colocar nos créditos. É assim que estou confiante como musicista”, ela disse. “Mas eu sei que é prejudicial colocar luz em mim como produtora. Porque no momento em que as pessoas veem homens e mulheres em uma lista, elas assumem – você sabe como é.

“Eu vi o que acontece com Björk. Já vi outras mulheres que passaram por isso. Mas o tempo que gasto – 16 horas por dia durante meses – é uma loucura.” Ela zombou da audácia de duvidar das “forças criativas femininas”.

“Como? Isso? Ainda? Acontece?”

Mas sua crença nos frutos desse trabalho – seu conhecimento de que não existe uma máquina oportunista – significa que ela aceitará corajosamente quaisquer críticas e elogios que possam vir por estar no comando e tentar permanecer na vanguarda. “Gostaria que fosse mais fácil para mim, que eu chegasse ao estúdio, cantasse um pouco e fosse embora”, disse Rosalía. “Mas o tempo dirá.”

Ela zombou de novo, soando cada vez mais segura de si mesma. “O tempo vai dizer.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES LIFE/STYLE - LOS ANGELES - Rosalía, um fenômeno experimental do pop espanhol com uma reputação de reinvenção em hipervelocidade, geralmente se vê resolvendo problemas musicais intrincados criados por ela mesma. Como, por exemplo, ela poderia misturar reggaeton com jazz? Ou flamenco com o programa de áudio Auto-Tune?

Como ela poderia usar a bateria digital programada por Tayhana, uma produtora argentina na Cidade do México, em uma canção sentimental destinada a se assemelhar a “Wuthering Heights” de Kate Bush? Ou deformar uma balada cubana tradicional conhecida como um bolero usando um sample obscuro de Soulja Boy?

A verdade é que Rosalía quer tudo ser erudita e vanguardista, sexy, boba e absurda Foto: CARLOS JARAMILLO

“É quase uma piada, certo?” Rosalía falou recentemente de suas propostas outrora abstratas, durante uma tarde no estúdio em North Hollywood, onde gravou grande parte de seu novo álbum, “Motomami”, que consegue incluir todos os itens acima.

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Mas Rosalía, 29 anos, não é do tipo que abraça a criatividade sem limites, confiante de que algo novo se revelará. Em vez disso, ela tende a trabalhar a partir de devaneios concretos, imaginando em detalhes um produto acabado que combina o máximo possível de suas referências artísticas, enquanto ainda se sente fiel a si mesma e original o suficiente para transcender a mera homenagem.

“Eu amo todos os estilos”, ela disse, em uma generalização que também parecia um eufemismo. “Para mim, está tudo no mesmo nível.” Ou dito de outra forma: “O contexto é tudo” – influências fundamentais reanimadas por um ponto de vista pessoal. “Eu só quero ouvir algo que nunca ouvi antes. Essa é a intenção sempre.”

Mesmo quando Rosalía não está literalmente usando um sample – ou um sample de um sample, como em sua nova música “Candy”, construída sobre a implantação cortada de uma faixa de Ray J por Burial – ela ainda está sampleando. “Faz uma eternidade que nós, como humanos, quando criamos, sampleamos”, ela disse. “Das ideias vem outra ideia. Quando vejo que Francis Bacon faz uma pintura baseada em uma pintura de Velázquez, acho que é samplear.

“Desde que você faça isso com respeito – e com amor – acho que sempre faz sentido”, acrescentou.

Essa amplitude de ambição criativa fez de Rosalía uma das mais assistidas, cultuadas, escrutinadas, copiadas jovens artistas do mundo, apesar de nunca ter tido um hit Top 40 nos Estados Unidos. Ela tem bilhões de reproduções no YouTube e no Spotify, incluindo as de colaborações com The Weeknd, Travis Scott e Billie Eilish. Ela saiu com as Kardashian-Jenners, fez participações especiais em um filme de Pedro Almodóvar e no vídeo “WAP” de Cardi B e foi capa de revistas de moda em todos os continentes.

No período que antecedeu “Motomami”, Rosalía apareceu com Jimmy Fallon – ensinando-o a falar o R em seu nome – e também no Saturday Night Live, onde ela se apresentou sozinha e inteiramente em espanhol.

“Finalmente, seu impacto na cultura é muito maior do que o acumulado de suas transmissões”, disse Rebeca León, empresária de Rosalía. “Eu vejo todas as garotas imitando-a de uma forma tão literal. Não apenas meninas no mundo latino – em todos os lugares.”

O álbum anterior da cantora, “El Mal Querer”, chegou totalmente pronto em 2018, apresentando Rosalía como uma vanguardista confiante atualizando a música flamenca que ela estudou na adolescência na Catalunha para uma era digital globalizada. (“Los Ángeles”, sua estreia em 2017, foi uma coleção de flamenco mais tradicional, embora tenha terminado com um cover de “I See a Darkness” de Bonnie “Prince” Billy).

Mas a unção generalizada de Rosalía como um ícone pop mundial, à la Beyoncé ou Rihanna – além da explosão comercial mundial de música em espanhol – significava que “Motomami” estava sendo dissecado antes mesmo de existir. Uma coluna publicada este ano no El País incluiu preocupações de que ela “parecia uma ‘Miley Cyrus’”, indo de alusões líricas de Federico Garcia Lorca a rimas simplistas e sujas e compartilhamento excessivo nas mídias sociais.

A verdade é que Rosalía quer tudo: ser erudita e vanguardista, sexy, boba e absurda. Em uma conversa intensa em espanhol, mas cheia de risadas, ela faz referências ao “el inconsciente coletivo” de Carl Jung – o inconsciente coletivo – e sua obsessão pelo TikTok; nas letras, ela jura fidelidade a Niña Pastori, José Mercé e Willie Colón, mas também a Tego Calderón, Lil’ Kim e MIA.

Em “Saoko”, um tributo aos pioneiros do reggaeton Daddy Yankee e Wisin que abre “Motomami”, a cantora é direta sobre seus objetivos e mudanças de forma: “Yo me transformo”, ela rosna – eu transformo. “Eu me contradigo”, ela acrescenta em espanhol. “Eu sou tudo.”

Enquanto Rosalía lançava um álbum de singles únicos nos quatro anos desde “El Mal Querer”, ela traçava intrincadamente “Motomami” como um corpo completo de trabalho com uma paleta distinta: sem guitarras (dominantes como eram em sua música anterior ), bateria “super agressiva” e muitas teclas, mas harmonias vocais mínimas. Ironia e humor foram novas adições ao seu arsenal temático, o sexo e a arrogância apareceram.

“Quase frenética”, ela disse sobre sua visão – uma montanha-russa que mergulha nos altos e baixos do amor, fama e família, especialmente durante o isolamento da pandemia. “É exatamente assim que sinto o tempo todo, estando nesse contexto, fazendo esse trabalho.”

E é trabalho. Como cantora principal, compositora, produtora, performer e diretora de arte de seu projeto, Rosalía é ao mesmo tempo uma ampla colaboradora e uma autora que supervisiona cada detalhe deliberado.

“Eu não me importo o quão pequena sua contribuição foi para a música; Vou colocar nos créditos. É assim que estou confiante como musicista”, ela disse. “Mas eu sei que é prejudicial colocar luz em mim como produtora. Porque no momento em que as pessoas veem homens e mulheres em uma lista, elas assumem – você sabe como é.

“Eu vi o que acontece com Björk. Já vi outras mulheres que passaram por isso. Mas o tempo que gasto – 16 horas por dia durante meses – é uma loucura.” Ela zombou da audácia de duvidar das “forças criativas femininas”.

“Como? Isso? Ainda? Acontece?”

Mas sua crença nos frutos desse trabalho – seu conhecimento de que não existe uma máquina oportunista – significa que ela aceitará corajosamente quaisquer críticas e elogios que possam vir por estar no comando e tentar permanecer na vanguarda. “Gostaria que fosse mais fácil para mim, que eu chegasse ao estúdio, cantasse um pouco e fosse embora”, disse Rosalía. “Mas o tempo dirá.”

Ela zombou de novo, soando cada vez mais segura de si mesma. “O tempo vai dizer.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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