WASHINGTON - A Rússia está ampliando continuamente sua influência militar na África com a venda de armas, acordos de segurança e programas de treinamento envolvendo países instáveis ou líderes autocráticos. Outras medidas recentes de Moscou incluem o discreto envio de mercenários e assessores políticos para numerosos países. Centenas de combatentes russos chegaram à Líbia nos meses mais recentes como parte de uma campanha do Kremlin para intervir em nome do líder miliciano Khalifa Hifter e definir os rumos da guerra civil no país.
Funcionários do governo americano se dizem alarmados com a crescente influência da Rússia, bem como a da China. O secretário de defesa dos EUA, Mark T. Esper, avalia a possibilidade de retirar centenas de americanos da África Ocidental para responder melhor a ameaças da Rússia e da China perto dessas fronteiras. A opinião é criticada por congressistas para quem a redução do contingente na África serviria apenas para fortalecer os rivais dos EUA.
Funcionários russos avaliam a instalação de uma base no porto de Berbera, na costa de Somaliland, um estado autoproclamado dentro da Somália no Golfo de Aden, de acordo com funcionários americanos. China e Estados Unidos têm bases militares no Djibuti, compartilhando o mesmo litoral.
Aviões militares russos pousaram em Moçambique em meados do ano passado e, de acordo com funcionários americanos, foram mobilizados cerca de 160 agentes a serviço de um prestador russo de serviços militares particulares, que devem ajudar as forças locais no combate a insurgentes. O Kremlin negou manter atividades militares ligadas à Rússia em Moçambique.
A contra-almirante Heidi Berg, diretora de espionagem do comando americano para a África (Africom), disse que “o envolvimento militar russo e o uso de prestadores privados de serviços militares em Moçambique têm como objetivo ampliar a influência russa no sul da África e possibilitar o acesso dos russos aos recursos naturais do país, incluindo gás natural, carvão e petróleo".
A presença militar russa em Moçambique segue um crescente padrão de influência russa exercida no âmbito da segurança em todo o continente. Na República Centro-Africana, onde um russo foi nomeado assessor de segurança nacional, o governo vende direitos de mineração para comprar armas de Moscou. Mali, Níger, Chade, Burkina Faso e Mauritânia procuraram Moscou em 2018 solicitando ajuda no combate ao Estado islâmico e à Al Qaeda.
A Rússia praticamente se retirou do continente após o fim da União Soviética. Mas, nos três anos mais recentes, Moscou retomou as relações com antigos clientes da era soviética, como Moçambique e Angola, estabelecendo também novos elos com outros países. Mas, de acordo com os funcionários americanos, há poucos indícios de que Moscou estaria ajudando os países africanos a combater ameaças.
“Além de vender armas em benefício próprio, China e Rússia pouco fazem para responder a grupos extremistas que tentam roubar o futuro dos africanos", disse aos repórteres o general de brigada Gregory Hadfield, vice-diretor de espionagem do Africom. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL