CARACAS, VENEZUELA - Quando o presidente Donald J. Trump impôs sanções ao petróleo da Venezuela com o objetivo de derrubar o presidente Nicolás Maduro, as exportações despencaram e as operações bancárias foram congeladas. Mas a estatal petrolífera venezuelana, principal alvo das sanções por ser a fonte de recursos de Maduro, encontrou outra maneira para sobreviver graças à ajuda da Rússia.
Entretanto, muitos venezuelanos temem que as sanções, impostas no início de fevereiro, levem o país de cerca de 30 milhões de habitantes para uma crise humanitária ainda mais grave.
"Não tenho certeza de que os EUA tenham um Plano B se este não funcionar para derrubarem Maduro", afirmou Francisco Rodríguez, economista venezuelano da corretora Torino Capital. "Temo que se elas forem implementadas em sua forma atual, teremos fome".
As exportações de petróleo da Venezuela para os Estados Unidos, que constituem a principal fonte de dinheiro do governo, despencaram 40%. Os clientes suspenderam contatos, os bancos suspenderam as contas venezuelanas e uma dezena de petroleiros venezuelanos permanece aguardando no Mar do Caribe.
"Não podemos cobrar, não podemos receber dinheiro. Nossas finanças estão paralisadas", lamentou Reinaldo Quintero, presidente da Câmara Venezuelana do Petróleo, grupo setorial que representa as 500 maiores companhias petrolíferas do país. "Os danos colaterais serão enormes".
Mas uma ajuda crucial veio do maior investidor no petróleo venezuelano, a estatal russa Rosneft. A companhia anunciou em uma recente apresentação que, apesar das sanções, aumentará ainda este ano sua produção na Venezuela.
A economia da Venezuela encolheu 50% desde 2013, ano em que Maduro chegou ao poder, levando milhões de pessoas a fugir do país ou a pular refeições para sobreviver. Este ano, as sanções poderão cortar dois terços das exportações de petróleo venezuelano, para US$ 14 bilhões, e com uma redução de 26% da economia, disse Rodríguez.
Trump afirmou que as sanções petrolíferas visam punir Maduro por violações dos direitos humanos e obrigá-lo a ceder o poder a Juan Guaidó, líder da oposição que os Estados Unidos e muitos outros países reconheceram como legítimo presidente venezuelano.
As sanções proíbem empresas e indivíduos dos Estados Unidos de negociar com a petrolífera estatal Petróleos de Venezuela, PDVSA, que fornece cerca de 90% das moedas fortes do país. As sanções excluem essencialmente o petróleo venezuelano do mercado americano.
Maduro acusa os EUA de patrocinarem uma tentativa de golpe de Estado e prometeu permanecer no poder. Antes das sanções, seu país importava diariamente dos EUA cerca de 120 mil barris de petróleo e produtos refinados. Os venezuelanos misturavam o petróleo americano mais leve com seu petróleo bruto mais denso para que fluísse pelos dutos até os portos.
Representantes da PDVSA afirmaram a parceiros que o país garantiu o fornecimento de gasolina até o final de março, evitando uma crise energética iminente. Um porta-voz da Rosneft não quis comentar eventuais acordos com a petroleira. E especialistas da área de energia afirmaram que a Venezuela poderá ficar com parte da receita petrolífera se baixar o preço e encontrar outros clientes na Ásia.
Muitos venezuelanos temem que embora a redução da receita ainda possa permitir que Maduro se mantenha no poder, a escassez de alimentos e medicamentos cresça e as poucas empresas privadas remanescentes fechem as portas.
"Se estas sanções não forçarem o fim do drama atual, causarão muito sofrimento para o povo", disse José Bodas, líder sindical petroleiro contrário ao governo. "Os ricos continuarão enriquecendo ainda mais, enquanto os trabalhadores arcarão com o ônus destas medidas".
A oposição planejava fazer entrar no país a ajuda humanitária patrocinada pelos EUA - como kits de medicamentos e alimentos suficientes para 5 mil venezuelanos por dez dias - através da fronteira com a Colômbia. Mas o governo Maduro impediu sua chegada no dia 8 de fevereiro ao bloquear a ponte pela qual a caravana deveria passar.
Forçando o fechamento, os líderes da oposição esperavam denunciar a postura Maduro e das forças armadas, cujo apoio é vital par ele permanecer no poder. Mas Maduro declarou que a ajuda não é necessária.
"Eles querem pintar uma caricatura do país com uma crise humanitária, uma ditadura, e os EUA abrem suas mãos para ajudar um povo necessitado", afirmou referindo-se à oposição. "A realidade é que isso não vai ajudar, é uma mensagem de humilhação para um povo".
Mas nas farmácias de Caracas, capital da Venezuela, os pacientes à procura dos escassos medicamentos disseram temer que novas sanções precipitem a situação crítica do sistema de saúde.
"Se a coisa piorar esta semana por causa das medidas que visam pressionar o governo, vou enlouquecer", afirmou recentemente Juliana López, proprietária de uma pequena farmácia nos arredores da capital, que não tem como atender os clientes. "Na realidade, mal estamos sobrevivendo. Nossa situação só pioraria se fôssemos atingido por um meteorito". / Nicholas Casey, Isayen Herrera e Ana Vanessa Herrero contribuíram para a reportagem.