Seca transforma Califórnia, com grandes consequências para a produção de alimentos


Essa é uma das terras agrícolas mais ricas dos EUA. Mas o que seria sem água?

Por Somini Sengupta

ORDBEND, Califórnia – Entre a abundância agrícola dos Estados Unidos, a água se tornou o produto mais precioso de todos.

Isto explica porquê, na seca histórica que está queimando grande parte do Oeste americano, um cultivador de arroz de alta qualidade para sushi concluiu que faz mais sentido, em termos econômicos, vender a água que ele usaria para cultivar arroz do que realmente cultivar arroz. Ou a razão para um produtor de melões deixar um terço dos seus campos em pousio. Ou ainda para um grande proprietário de terras mais ao sul pensar em plantar painéis solares em seus campos em vez das sedentas amêndoas que, durante anos, deram um lucro constante.

Uma fazenda no condado de San Joaquin, Califórnia. Foto: Mike Kai Chen/The New York Times
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“A gente quer sentar aqui e dizer: ‘Queremos monetizar a água?’ Não, não queremos’”, disse Seth Fiack, um produtor de arroz, de Ordbend, às margens do Rio Sacramento. Este ano, ele praticamente não semeou arroz e, ao contrário, vendeu a sua água que ele não usa a fazendeiros desesperados mais ao sul. “Não é o que preferimos fazer, mas o que precisamos fazer, devemos fazer”.

Estes são alguns dos sinais de uma ampla transformação que ocorre em toda a região da Central Valley, na Califórnia, o cinturão agrícola mais lucrativo do país, que luta contra uma seca excepcional e com as consequências de anos de bombeamento excessivo da água dos seus aquíferos. Em todo o estado, os níveis dos reservatórios estão caindo e as redes elétricas estão ameaçadas, caso as represas hidrelétricas não recebam água suficiente para produzir energia.

A mudança climática aumenta a escassez. As altas temperaturas ressecam o solo, o que por sua vez pode agravar as ondas de calor. Recentemente, as temperaturas em algumas regiões da Califórnia e do noroeste do Pacífico registraram recordes assustadores.

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Segundo se projeta, em 2040, o Vale de San Joaquín deverá perder pelo menos 216,5 mil hectares de produção agrícola. Ou seja, mais de um décimo da área cultivada.

E se a seca persistir e não for possível encontrar água suficiente, aproximadamente o dobro de terra terá de se destinar ao pousio, com consequências catastróficas para a oferta de alimentos nos EUA. O setor agrícola da Califórnia, avaliado em US$ 50 bilhões, fornece dois terços das frutas e nozes do país e mais de um terço dos legumes dos EUA – os tomates, pistaches, uvas e morangos que lotam as prateleiras dos supermercados de costa a costa.

Vislumbres deste futuro agora são evidentes. Vastos trechos de terra estão em pousio porque não há água. Novos cálculos estão sendo feitos a respeito do tipo de culturas que vale a pena plantar, quanto e onde. Milhões de dólares estão sendo gastos para reabastecer os aquíferos que há tanto tempo vêm sendo esvaziados.

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“Toda vez que temos uma seca podemos ver o que acontecerá com uma frequência cada vez maior no nosso clima futuro”, disse Morgan Levy, professor especialista em ciência e política da água na Universidade da Califórnia, em San Diego.

Fritz Durst, um agricultor de arroz, bombeia água subterrânea no Vale Central perto de Woodland. Foto: Mike Kai Chen/The New York Times

Para os produtores de arroz, a decisão é difícil

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A fértil região do Central Valley na Califórnia começa ao norte, onde a água começa. Em tempos normais, as chuvas no inverno e o derretimento do gelo na primavera provocam as cheias no Rio Sacramento, alimentando um dos mais importantes cinturões do arroz. Em um ano normal, os fazendeiros às margens do Rio Sacramento produzem mais ou menos 202 mil hectares de arroz glutinoso de grão médio, vital para o sushi. Cerca de 40% deste total é exportado para a Ásia.

Mas estes não são tempos normais. Há menos acúmulo de neve e, este ano, muito menos água nos reservatórios e rios que irrigam os campos, proporcionam amplos lugares para a pesca e o fornecimento de água potável a 39 milhões de californianos.

A crise atual apresenta aos produtores de arroz do Sacramento Valley, que fica na parte norte de Central Valley, uma escolha complicada: deveriam plantar arroz com a água que têm, ou pouparem o trabalho e o estresse e vender a sua água?

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Fiack, produtor de arroz de segunda geração, optou por vender quase toda a água.

O seu único campo com cerca de 12 mil hectares bebe uma quantidade enorme da água que sai de uma grande torneira. A água que ele teria usado para cultivar arroz, ele alocou para venda a produtores de colheitas a centenas de quilômetros ao sul, onde a água é ainda mais escassa.

O ganho financeiro é comparável ao que teria ganho plantando arroz – sem as dores de cabeça. Faz sentido “em termos econômicos“, observou Fiack.

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Kim Gallagher, uma agricultora de arroz, em um campo de girassóis, que exige muito menos água do que o arroz, no Vale do Sacramento. Foto: Mike Kai Chen/The New York Times

O arroz é muito menos lucrativo do que, digamos, as amêndoas e as nozes, e por isso os campos de Fiack estão circundados por nogueiras e ele se dedica também à produção de nozes. Mas os produtores de arroz têm vantagens peculiares. Ocorre que as suas terras estão em produção há tanto tempo que eles têm prioridade quanto à água que sai do Rio Sacramento, antes de ser canalizada para o sul por meio de canais e túneis.

Além disso, ao contrário dos donos de árvores frutíferas e nogueiras, cujos investimentos acabariam em poucas semanas sem água, os produtores de arroz podem deixar um campo em pousio por um ano, até dois. Na era da mudança climática, quando a água é escassa, esta flexibilidade é um bem. As transferências da água do arroz têm sido uma parte importante na estratégia para combater a seca

Kim Gallagher, produtora de arroz de terceira geração, deixou em pousio apenas 15% dos seus campos. Ela teme os efeitos para quem vive da agricultura do arroz, sem falar nas aves que vêm para passar o inverno nos campos inundados. “Estes são os cálculos que cada produtor precisa fazer, o que eles podem deixar em pousio e o que não podem”, ela disse. “Cada um tem uma cifra diferente”.

Fritz Durst, produtor de arroz da quarta geração de sua família, teme que os compradores de arroz da Califórnia passem a considerar a sua região um fornecedor não confiável.

Ele também reduz os seus riscos, está cultivando arroz em cerca de 60% dos seus cerca de 213 mil hectares, o que lhe permite vendera água do Rio Sacramento que ele usaria no restante.

Mas, na sua opinião, há um risco a longo prazo, ele acredita, em vender água demais, com excessiva frequência. “Há pessoas aqui que também estão preocupadas com a possibilidade de estarmos criando um precedente perigoso”, ele disse. “Se começarmos a permitir que a nossa água vá para o sul do Delta, aquela gente vai dizer: ‘Bom, vocês não precisam dessa água. Agora ela é nossa’ ”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

ORDBEND, Califórnia – Entre a abundância agrícola dos Estados Unidos, a água se tornou o produto mais precioso de todos.

Isto explica porquê, na seca histórica que está queimando grande parte do Oeste americano, um cultivador de arroz de alta qualidade para sushi concluiu que faz mais sentido, em termos econômicos, vender a água que ele usaria para cultivar arroz do que realmente cultivar arroz. Ou a razão para um produtor de melões deixar um terço dos seus campos em pousio. Ou ainda para um grande proprietário de terras mais ao sul pensar em plantar painéis solares em seus campos em vez das sedentas amêndoas que, durante anos, deram um lucro constante.

Uma fazenda no condado de San Joaquin, Califórnia. Foto: Mike Kai Chen/The New York Times

“A gente quer sentar aqui e dizer: ‘Queremos monetizar a água?’ Não, não queremos’”, disse Seth Fiack, um produtor de arroz, de Ordbend, às margens do Rio Sacramento. Este ano, ele praticamente não semeou arroz e, ao contrário, vendeu a sua água que ele não usa a fazendeiros desesperados mais ao sul. “Não é o que preferimos fazer, mas o que precisamos fazer, devemos fazer”.

Estes são alguns dos sinais de uma ampla transformação que ocorre em toda a região da Central Valley, na Califórnia, o cinturão agrícola mais lucrativo do país, que luta contra uma seca excepcional e com as consequências de anos de bombeamento excessivo da água dos seus aquíferos. Em todo o estado, os níveis dos reservatórios estão caindo e as redes elétricas estão ameaçadas, caso as represas hidrelétricas não recebam água suficiente para produzir energia.

A mudança climática aumenta a escassez. As altas temperaturas ressecam o solo, o que por sua vez pode agravar as ondas de calor. Recentemente, as temperaturas em algumas regiões da Califórnia e do noroeste do Pacífico registraram recordes assustadores.

Segundo se projeta, em 2040, o Vale de San Joaquín deverá perder pelo menos 216,5 mil hectares de produção agrícola. Ou seja, mais de um décimo da área cultivada.

E se a seca persistir e não for possível encontrar água suficiente, aproximadamente o dobro de terra terá de se destinar ao pousio, com consequências catastróficas para a oferta de alimentos nos EUA. O setor agrícola da Califórnia, avaliado em US$ 50 bilhões, fornece dois terços das frutas e nozes do país e mais de um terço dos legumes dos EUA – os tomates, pistaches, uvas e morangos que lotam as prateleiras dos supermercados de costa a costa.

Vislumbres deste futuro agora são evidentes. Vastos trechos de terra estão em pousio porque não há água. Novos cálculos estão sendo feitos a respeito do tipo de culturas que vale a pena plantar, quanto e onde. Milhões de dólares estão sendo gastos para reabastecer os aquíferos que há tanto tempo vêm sendo esvaziados.

“Toda vez que temos uma seca podemos ver o que acontecerá com uma frequência cada vez maior no nosso clima futuro”, disse Morgan Levy, professor especialista em ciência e política da água na Universidade da Califórnia, em San Diego.

Fritz Durst, um agricultor de arroz, bombeia água subterrânea no Vale Central perto de Woodland. Foto: Mike Kai Chen/The New York Times

Para os produtores de arroz, a decisão é difícil

A fértil região do Central Valley na Califórnia começa ao norte, onde a água começa. Em tempos normais, as chuvas no inverno e o derretimento do gelo na primavera provocam as cheias no Rio Sacramento, alimentando um dos mais importantes cinturões do arroz. Em um ano normal, os fazendeiros às margens do Rio Sacramento produzem mais ou menos 202 mil hectares de arroz glutinoso de grão médio, vital para o sushi. Cerca de 40% deste total é exportado para a Ásia.

Mas estes não são tempos normais. Há menos acúmulo de neve e, este ano, muito menos água nos reservatórios e rios que irrigam os campos, proporcionam amplos lugares para a pesca e o fornecimento de água potável a 39 milhões de californianos.

A crise atual apresenta aos produtores de arroz do Sacramento Valley, que fica na parte norte de Central Valley, uma escolha complicada: deveriam plantar arroz com a água que têm, ou pouparem o trabalho e o estresse e vender a sua água?

Fiack, produtor de arroz de segunda geração, optou por vender quase toda a água.

O seu único campo com cerca de 12 mil hectares bebe uma quantidade enorme da água que sai de uma grande torneira. A água que ele teria usado para cultivar arroz, ele alocou para venda a produtores de colheitas a centenas de quilômetros ao sul, onde a água é ainda mais escassa.

O ganho financeiro é comparável ao que teria ganho plantando arroz – sem as dores de cabeça. Faz sentido “em termos econômicos“, observou Fiack.

Kim Gallagher, uma agricultora de arroz, em um campo de girassóis, que exige muito menos água do que o arroz, no Vale do Sacramento. Foto: Mike Kai Chen/The New York Times

O arroz é muito menos lucrativo do que, digamos, as amêndoas e as nozes, e por isso os campos de Fiack estão circundados por nogueiras e ele se dedica também à produção de nozes. Mas os produtores de arroz têm vantagens peculiares. Ocorre que as suas terras estão em produção há tanto tempo que eles têm prioridade quanto à água que sai do Rio Sacramento, antes de ser canalizada para o sul por meio de canais e túneis.

Além disso, ao contrário dos donos de árvores frutíferas e nogueiras, cujos investimentos acabariam em poucas semanas sem água, os produtores de arroz podem deixar um campo em pousio por um ano, até dois. Na era da mudança climática, quando a água é escassa, esta flexibilidade é um bem. As transferências da água do arroz têm sido uma parte importante na estratégia para combater a seca

Kim Gallagher, produtora de arroz de terceira geração, deixou em pousio apenas 15% dos seus campos. Ela teme os efeitos para quem vive da agricultura do arroz, sem falar nas aves que vêm para passar o inverno nos campos inundados. “Estes são os cálculos que cada produtor precisa fazer, o que eles podem deixar em pousio e o que não podem”, ela disse. “Cada um tem uma cifra diferente”.

Fritz Durst, produtor de arroz da quarta geração de sua família, teme que os compradores de arroz da Califórnia passem a considerar a sua região um fornecedor não confiável.

Ele também reduz os seus riscos, está cultivando arroz em cerca de 60% dos seus cerca de 213 mil hectares, o que lhe permite vendera água do Rio Sacramento que ele usaria no restante.

Mas, na sua opinião, há um risco a longo prazo, ele acredita, em vender água demais, com excessiva frequência. “Há pessoas aqui que também estão preocupadas com a possibilidade de estarmos criando um precedente perigoso”, ele disse. “Se começarmos a permitir que a nossa água vá para o sul do Delta, aquela gente vai dizer: ‘Bom, vocês não precisam dessa água. Agora ela é nossa’ ”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

ORDBEND, Califórnia – Entre a abundância agrícola dos Estados Unidos, a água se tornou o produto mais precioso de todos.

Isto explica porquê, na seca histórica que está queimando grande parte do Oeste americano, um cultivador de arroz de alta qualidade para sushi concluiu que faz mais sentido, em termos econômicos, vender a água que ele usaria para cultivar arroz do que realmente cultivar arroz. Ou a razão para um produtor de melões deixar um terço dos seus campos em pousio. Ou ainda para um grande proprietário de terras mais ao sul pensar em plantar painéis solares em seus campos em vez das sedentas amêndoas que, durante anos, deram um lucro constante.

Uma fazenda no condado de San Joaquin, Califórnia. Foto: Mike Kai Chen/The New York Times

“A gente quer sentar aqui e dizer: ‘Queremos monetizar a água?’ Não, não queremos’”, disse Seth Fiack, um produtor de arroz, de Ordbend, às margens do Rio Sacramento. Este ano, ele praticamente não semeou arroz e, ao contrário, vendeu a sua água que ele não usa a fazendeiros desesperados mais ao sul. “Não é o que preferimos fazer, mas o que precisamos fazer, devemos fazer”.

Estes são alguns dos sinais de uma ampla transformação que ocorre em toda a região da Central Valley, na Califórnia, o cinturão agrícola mais lucrativo do país, que luta contra uma seca excepcional e com as consequências de anos de bombeamento excessivo da água dos seus aquíferos. Em todo o estado, os níveis dos reservatórios estão caindo e as redes elétricas estão ameaçadas, caso as represas hidrelétricas não recebam água suficiente para produzir energia.

A mudança climática aumenta a escassez. As altas temperaturas ressecam o solo, o que por sua vez pode agravar as ondas de calor. Recentemente, as temperaturas em algumas regiões da Califórnia e do noroeste do Pacífico registraram recordes assustadores.

Segundo se projeta, em 2040, o Vale de San Joaquín deverá perder pelo menos 216,5 mil hectares de produção agrícola. Ou seja, mais de um décimo da área cultivada.

E se a seca persistir e não for possível encontrar água suficiente, aproximadamente o dobro de terra terá de se destinar ao pousio, com consequências catastróficas para a oferta de alimentos nos EUA. O setor agrícola da Califórnia, avaliado em US$ 50 bilhões, fornece dois terços das frutas e nozes do país e mais de um terço dos legumes dos EUA – os tomates, pistaches, uvas e morangos que lotam as prateleiras dos supermercados de costa a costa.

Vislumbres deste futuro agora são evidentes. Vastos trechos de terra estão em pousio porque não há água. Novos cálculos estão sendo feitos a respeito do tipo de culturas que vale a pena plantar, quanto e onde. Milhões de dólares estão sendo gastos para reabastecer os aquíferos que há tanto tempo vêm sendo esvaziados.

“Toda vez que temos uma seca podemos ver o que acontecerá com uma frequência cada vez maior no nosso clima futuro”, disse Morgan Levy, professor especialista em ciência e política da água na Universidade da Califórnia, em San Diego.

Fritz Durst, um agricultor de arroz, bombeia água subterrânea no Vale Central perto de Woodland. Foto: Mike Kai Chen/The New York Times

Para os produtores de arroz, a decisão é difícil

A fértil região do Central Valley na Califórnia começa ao norte, onde a água começa. Em tempos normais, as chuvas no inverno e o derretimento do gelo na primavera provocam as cheias no Rio Sacramento, alimentando um dos mais importantes cinturões do arroz. Em um ano normal, os fazendeiros às margens do Rio Sacramento produzem mais ou menos 202 mil hectares de arroz glutinoso de grão médio, vital para o sushi. Cerca de 40% deste total é exportado para a Ásia.

Mas estes não são tempos normais. Há menos acúmulo de neve e, este ano, muito menos água nos reservatórios e rios que irrigam os campos, proporcionam amplos lugares para a pesca e o fornecimento de água potável a 39 milhões de californianos.

A crise atual apresenta aos produtores de arroz do Sacramento Valley, que fica na parte norte de Central Valley, uma escolha complicada: deveriam plantar arroz com a água que têm, ou pouparem o trabalho e o estresse e vender a sua água?

Fiack, produtor de arroz de segunda geração, optou por vender quase toda a água.

O seu único campo com cerca de 12 mil hectares bebe uma quantidade enorme da água que sai de uma grande torneira. A água que ele teria usado para cultivar arroz, ele alocou para venda a produtores de colheitas a centenas de quilômetros ao sul, onde a água é ainda mais escassa.

O ganho financeiro é comparável ao que teria ganho plantando arroz – sem as dores de cabeça. Faz sentido “em termos econômicos“, observou Fiack.

Kim Gallagher, uma agricultora de arroz, em um campo de girassóis, que exige muito menos água do que o arroz, no Vale do Sacramento. Foto: Mike Kai Chen/The New York Times

O arroz é muito menos lucrativo do que, digamos, as amêndoas e as nozes, e por isso os campos de Fiack estão circundados por nogueiras e ele se dedica também à produção de nozes. Mas os produtores de arroz têm vantagens peculiares. Ocorre que as suas terras estão em produção há tanto tempo que eles têm prioridade quanto à água que sai do Rio Sacramento, antes de ser canalizada para o sul por meio de canais e túneis.

Além disso, ao contrário dos donos de árvores frutíferas e nogueiras, cujos investimentos acabariam em poucas semanas sem água, os produtores de arroz podem deixar um campo em pousio por um ano, até dois. Na era da mudança climática, quando a água é escassa, esta flexibilidade é um bem. As transferências da água do arroz têm sido uma parte importante na estratégia para combater a seca

Kim Gallagher, produtora de arroz de terceira geração, deixou em pousio apenas 15% dos seus campos. Ela teme os efeitos para quem vive da agricultura do arroz, sem falar nas aves que vêm para passar o inverno nos campos inundados. “Estes são os cálculos que cada produtor precisa fazer, o que eles podem deixar em pousio e o que não podem”, ela disse. “Cada um tem uma cifra diferente”.

Fritz Durst, produtor de arroz da quarta geração de sua família, teme que os compradores de arroz da Califórnia passem a considerar a sua região um fornecedor não confiável.

Ele também reduz os seus riscos, está cultivando arroz em cerca de 60% dos seus cerca de 213 mil hectares, o que lhe permite vendera água do Rio Sacramento que ele usaria no restante.

Mas, na sua opinião, há um risco a longo prazo, ele acredita, em vender água demais, com excessiva frequência. “Há pessoas aqui que também estão preocupadas com a possibilidade de estarmos criando um precedente perigoso”, ele disse. “Se começarmos a permitir que a nossa água vá para o sul do Delta, aquela gente vai dizer: ‘Bom, vocês não precisam dessa água. Agora ela é nossa’ ”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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