THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Sem dúvida, Selena Gomez e Taylor Swift são mulheres notáveis. Inteligentes e capazes, elas tiveram sucesso por meio de seu talento inato, trabalho árduo e contínuo, ambição e visão. Ambas são o tipo de mega estrela pop que inspira convulsões de adulação e lágrimas. Multidões surgem e se dispersam em sua presença. Elas foram agraciadas com um brilho que parece quase exclusivo das celebridades, com uma pele tão incandescente que nem precisa de filtro.
Mas elas não são perfeitas. Nem, o que é mais importante, fingem ser. Um documentário recente da Apple TV+, Selena Gomez: Minha Mente e Eu, oferece um retrato impiedoso de Gomez, agora com 30 anos, e suas experiências com transtorno bipolar, lúpus, ansiedade e psicose. Em seu último álbum, Midnights, Swift, 32, canta sobre sua depressão trabalhando durante a noite, sobre suas crises. “Sou eu, oi, sou o problema, sou eu / Sou eu, oi, todo mundo concorda, todo mundo concorda”, diz a música Anti-Hero. “Às vezes eu sinto que todo mundo é sexy / E eu sou um monstro.”
Essa combinação de perfeição externa e vulnerabilidade emocional parece uma característica específica do estrelato pop feminino contemporâneo. Em uma tela, vemos glamour impecável, performances habilmente coreografadas e com roupas incríveis e exibições surpreendentes de luxo. Na outra tela, admissões de ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, ataques de pânico e insônia.
O que significa o fato de muitas das estrelas pop femininas de hoje, não apenas Gomez e Swift, mas também Adele, Lady Gaga e Ariana Grande, expressarem abertamente suas lutas contra ansiedade, depressão e ataques de pânico? Megan Thee Stallion escreveu uma música chamada Anxiety (Ansiedade) e criou um site dedicado à saúde mental. Até mesmo Rihanna, modelo de confiança, admitiu ter um ataque ocasional de ansiedade. Muitas estrelas admitem em postagens e entrevistas que o escrutínio voraz do público - os seguidores, as repercussões, a indignação fabricada, as críticas, os haters - as atinge.
Alguns podem criticar as celebridades por compartilhar demais seus problemas, mas o impulso certamente está de acordo com um aumento notável nos problemas de saúde mental - e uma maior conscientização e abertura sobre esses desafios. Isso não é exclusivo da música pop ou das mulheres; em esportes competitivos, atletas como Simone Biles e Naomi Osaka - e entre os homens, o nadador olímpico Michael Phelps e Kevin Love, da NBA - foram igualmente sinceros sobre as pressões em torno de seu desempenho.
Para Gomez, os efeitos foram brutais. A fragilidade exibida no documentário de Alek Keshishian é às vezes difícil de assistir, apesar - ou talvez por causa - do tremendo apelo da jovem mulher em seu centro. Com humildade e autodepreciação, Gomez descreve a dor física e emocional que pode dominá-la. “Eu ouço uma voz que vem na minha cabeça dizendo que falhei em algo. Isso foi péssimo; isso foi péssimo,” Gomez diz a sua equipe depois de um ensaio no palco. “A pressão é esmagadora porque quero fazer o melhor que posso, e não consigo.”
Imagine esse mesmo escrutínio implacável - se não nas mesmas proporções - e insegurança sem os benefícios da fama, sucesso, riqueza e beleza para compensar o fardo. No livro recente Behind Their Screens: What Teens Are Facing (And Adults are Missing) [Por trás das telas: o que os adolescentes estão enfrentando (e os adultos estão perdendo)], Emily Weinstein e Carrie James documentam o que chamam de “comparação de areia movediça”. Elas citam garotas dizendo coisas como: “Nas redes sociais, todo mundo parece estar muito melhor e mais adiantado do que eu, o que é estressante e me faz sentir atrasada, indesejada e estúpida”. E: “Eu percorro meu Instagram e vejo modelos com corpos perfeitos e me sinto péssima comigo mesma”. Para os adolescentes que são suscetíveis à insegurança (e é de se perguntar quais não são), Weinstein e James escrevem, “entrar nas redes sociais pode ativar a ‘espiral negra’”.
“Alguém fez um comentário e ele me envolveu, e então, por dois dias, me senti mal comigo mesma.” Isso soa como qualquer mulher jovem falando sobre as redes sociais, mas, neste caso, é Selena Gomez em uma entrevista recente à Rolling Stone, evidentemente se referindo a um comentário da esposa do ex-namorado Justin Bieber. Uma postagem online aleatória semelhante pode ter o mesmo efeito em qualquer pessoa - apenas sem o ex-namorado famoso. A escala pode ser menor, mas ainda é o mundo inteiro para o adolescente médio. Weinstein e James apontam que nas redes sociais, “a hostilidade também é praticada na frente de - até mesmo para - um público”. “Quando você vai para casa, não consegue se desligar do drama ou do bullying”, disse alguém de 12 anos a Weinstein e James.
Um capítulo de outro livro recente, Girls on the Brink: Helping Our Daughters Thrive in an Era of High Anxiety, Depression, and Social Media (Garotas no limite: ajudando nossas filhas a prosperar em uma era de alta ansiedade, depressão e redes sociais), de Donna Jackson Nakazawa, pergunta: “Esta é uma era tóxica para meninas?” e oferece uma resposta imediata: “Sim, e é pior do que você pensava”.
Vale a pena notar que em 1991, Keshishian dirigiu o documentário Na Cama com Madonna sobre outra estrela pop muito diferente, Madonna. Sob a manchete “Ninguém nunca a chamou de tímida”, o crítico do The New York Times observou a “bravata inesgotável” do tema. Naquela época, cantoras pop como Madonna, Cyndi Lauper e Janet Jackson tendiam a projetar resistência sobre vulnerabilidade, uma posição de não se importar com o que as outras pessoas pensam versus se importar demais. Talvez elas tenham sentido a necessidade de projetar uma força conquistada apenas recentemente. A imagem resultante pode ser inspiradora, embora assustadora e irreal à sua maneira.
Pode ser que cada geração tenha um grupo de estrelas pop sintonizadas com suas próprias aspirações e inseguranças. As mulheres jovens podem se relacionar melhor com as estrelas pop de hoje - para o bem e para o mal. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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