Era noite, e andávamos com cuidado através de uma floresta úmida à beira da praia. Acima de nós, árvores de 45 metros de altura se erguiam, seu dossel apagando as estrelas. Podíamos ouvir o som dos morcegos e das ondas batendo. O cheiro de folhas molhadas cortava o ar salgado.
Nosso guia, Nariman Vazifdar, de Mumbai, na Índia, é um amante dos répteis e estuda a natureza em algumas das ilhas mais remotas da Ásia, as Andaman. Por um caminho lamacento, ele guiava a mim e a outras duas pessoas que haviam se inscrito para essa caminhada noturna. A escuridão era tão intensa que, quando desligávamos nossas lanternas e ficávamos ali, ouvindo os sons da selva, não conseguíamos ver as mãos diante do rosto.
Vazifdar voltou a acender sua luz e apontou para uns caranguejos alaranjados que se moviam pelos troncos das gigantes árvores mahua e para lagartos escondidos entre os pândanos. Cada qual virou o facho de sua lanterna para seguir a dele, fazendo buracos na escuridão. De repente, Vazifdar pulou sobre algo que deslizava pelos arbustos: “Olha isso, cara!” Enrolada em seu punho, havia uma cobra oleosa de quase um metro de comprimento. “Solta, solta!”, gritou a mulher atrás de mim. “Não se preocupe. É uma cobra-lobo de Andaman, não é venenosa”, informou Vazifdar.
As Andaman são um lugar especial: remoto, bonito, selvagem, misterioso. Ficam no Sudeste Asiático e pertencem à Índia; não é fácil chegar aqui, mas vale a pena. Uma viagem a estas ilhas oferece natureza intocada, cultura indiana, um vislumbre de comunidades fascinantes e algumas das praias mais espetaculares do mundo.
As Ilhas Andaman e Nicobar, o nome completo deste território, são várias centenas de ilhas cobertas de vegetação no Oceano Índico, cerca de 1.600 quilômetros a leste do continente indiano. Sob o domínio britânico, o território foi usado como colônia penal. Na última década, o turismo disparou, e as ilhas estão se tornando conhecidas como meca do mergulho e local de descanso.
As acomodações nas principais ilhas variam de hotéis de luxo e eco resorts a barracas de praia feitas de vime. Se você explorar as ilhas externas, e há cerca de 30 delas abertas aos turistas, poderá ver alguns membros dos jarawa, uma das culturas mais intocadas do mundo. Os jarawa vivem nas profundezas da floresta e, embora suas comunidades sejam estritamente protegidas - a lei indiana proíbe até mesmo fotografá-los -, uma vez vi um grupo caçando enquanto eu percorria uma estrada na selva. Carregava arcos e flechas e javalis recém-abatidos pendurados nas costas.
Mas as ilhas estão mudando rapidamente. Um aeroporto internacional muito maior está sendo construído em Port Blair, a capital administrativa, e novos hotéis, restaurantes e lojas de mergulho surgem por todo lado. A visita está prestes a ficar muito mais fácil, e até mesmo o caranguejo-eremita está pagando o preço. Em uma manhã ensolarada, enquanto eu caminhava pela praia com Vazifdar, ele apontou para um grande caranguejo-eremita afundando na areia, sem concha. “Olha esse coitado. Está nu. Os turistas levaram tantas conchas para casa que eles acabaram ficando sem nenhuma.”
Uma parada em Port Blair
Minha viagem mais recente às ilhas começou neste outono setentrional. Voei para Port Blair, na Ilha Andaman do Sul. Atualmente, você pode acessar as Andaman apenas a partir da Índia. As autoridades indianas esperam que, uma vez concluída a expansão do aeroporto no ano que vem, os voos cheguem da Indonésia e de Singapura.
Como a maior cidade das ilhas, com algumas centenas de milhares de pessoas, Port Blair é agradável e bagunçada. Sua principal atração turística é a Prisão Celular, construção centenária (agora um museu) na qual os colonizadores britânicos torturavam os indianos que defendiam a independência da Índia antes que esta se concretizasse em 1947.
Muita coisa ruim se desenrolou nessas belas ilhas, que sofreram ondas de doenças e conflitos no fim do século XIX e foram ocupadas pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Outro lugar para apreciar essa história é o peculiar Museu Kalapani, também em Port Blair. “Kala pani” significa Água Negra - foi com esse nome que as ilhas se tornaram conhecidas na Índia durante muitos anos, porque quem vinha para cá nunca mais voltava.
Hoje, Port Blair é mais descontraída do que muitas cidades indianas do mesmo tamanho, e a tarde que passei lá estava quente e ensolarada. Eu estava louco para mergulhar. Há uma praia na cidade, Corbyn’s Cove, mas, quando cheguei lá, o salva-vidas balançou a cabeça e disse: “Fechada.” “Por quê?”, perguntei. “Crocodilos.” “Sério? Quando foi a última vez que você viu um?” “Há cerca de seis meses. Mas ainda não o pegamos.”
Liguei para meu amigo Roni Antony, colega jornalista que mora em Port Blair, e decidimos ir a outra praia, Wandoor, a cerca de 45 minutos de distância. Chegamos lá às 16h15, com o sol prestes a se pôr. Como a Índia tem cerca de 3.200 quilômetros de largura em um único fuso horário, e essas ilhas ficam no extremo leste do país, o sol nasce e se põe extremamente cedo aqui. Corri para a água. A poucos metros da costa, eu me vi boiando sobre um magnífico jardim de corais. Uma garoupa de 60 centímetros de comprimento passou nadando; peixes de recife de cores vivas entravam e saíam da anêmona-do-mar; um cardume de peixinhos prateados veio rapidamente em minha direção e depois se separou. A temperatura da água era de 32ºC. Eu poderia ter ficado horas ali.
A praia perfeita
Port Blair tem mais a oferecer do que eu esperava. Mas o verdadeiro atrativo das Andaman é a Ilha Havelock. Batizada em homenagem ao general britânico que ajudou a acabar com a primeira rebelião nacionalista da Índia em 1857, foi oficialmente renomeada Swaraj Dweep há alguns anos, embora pouca gente use esse nome.
Independentemente de como é chamada, a ilha se tornou um ímã de mergulhadores e um local muito procurado para as luas de mel indianas. Suas praias são excelentes. Várias balsas por dia fazem o trajeto de 90 minutos entre Port Blair e Havelock, e quando cheguei era, de novo, fim de tarde. Um motorista estava nos esperando no píer e cruzamos a ilha, passando por quiosques com telhado de estanho que vendiam curry e incenso perfumado.
Depois de avistar uma placa que dizia “Barefoot at Havelock”, tomamos uma estrada esburacada. O Barefoot abriu há quase 20 anos, quando quase não havia turismo, e mantém uma sensação de luxo rústico. Tem 31 tendas, chalés e villas em uma floresta tropical. Assim que chegamos, o gerente do resort, Hari Kalappa, educadamente nos pediu que tirássemos os sapatos. “Vivemos literalmente descalços”, explicou.
Eu estava desesperado para chegar à praia. Hari indicou um caminho através das árvores. Corri por ele, impressionado com o tamanho e a beleza das grandes mahuas ao meu redor, com troncos de três metros de largura. Mas, quando a floresta se abriu e cheguei à beira d’água, fiquei paralisado. Eu estava em uma praia perfeita, quilômetros de areia branca em qualquer direção, ondas suaves e límpidas formando piscinas de espuma branca.
Já viajei às Maldivas, às Seychelles, ao Caribe, à Tailândia, a Bali, ao Pacífico Sul e a praias ao longo da costa da África. Mas essa, chamada Radha Nagar, em homenagem a uma deusa hindu, era mais bonita do que qualquer outra. Mergulhei. Algumas braçadas depois, eu já estava com água acima da cabeça, mas ainda clara até o fundo - a praia perfeita para nadar, nem muito rasa nem muito funda.
Talvez a melhor vista não fosse da praia, mas para a praia. Da água, olhei de volta para a selva. Parecia pré-histórica. Toda aquela mata - as imponentes mahuas, os coqueiros, os pândanos e tantas outras árvores e plantas - se misturava em uma parede verde que se erguia próxima à beira da água e capturava os últimos raios do sol que se punha. O tronco das árvores brilhava quase em um tom alaranjado.
Nos dias seguintes, explorei as trilhas e as praias de Havelock, todas excelentes, embora nenhuma tão deslumbrante quanto Radha Nagar.
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