Sem cancelamento: Diretor de balé que jogou fezes em jornalista voltará a apresentar suas peças


Marco Goecke perdeu seu cargo na principal companhia de ópera de Hanover após incidente; pessoas que trabalharam com ele se surpreenderam, outros críticos confirmam comportamento exagerado

Por Alex Marshall
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Na noite de sábado, na principal companhia de ópera de Hanover, o renomado coreógrafo alemão Marco Goecke esfregou fezes de seu velho cachorro Dachshund, chamado Gustav, no rosto de uma crítica de dança.

Alguns dias depois, Goecke, 50, perdeu seu emprego como diretor de balé no local. Na quinta-feira, 16, em uma coletiva de imprensa em Hanover, Laura Berman, diretora artística da companhia de ópera, anunciou que Goecke estava deixando o cargo “por acordo mútuo”.

Pode-se esperar que essa decisão estabeleça um limite no caso bizarro, que ganhou as manchetes internacionais e chocou o mundo da dança.

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Mas a carreira de Goecke está longe de terminar. Em entrevista por telefone, Berman disse que o Hanover State Ballet continuaria a apresentar seu trabalho; em 24 de fevereiro, seu espetáculo Hello Earth (Olá Terra) fará parte de um projeto triplo. As obras de Goecke são “incomparáveis”, disse Berman, e sua arte deve ser vista separadamente do incidente injustificável.

“Não acredito na cultura do cancelamento”, ela acrescentou.

Marco Goecke foi desligado da Ópera de Hanover após atacar jornalista com fezes de cachorro. Foto: Regina Brocke via The New York Times
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E Goecke manterá sua posição no Nederlands Dans Theatre, uma aclamada companhia holandesa, da qual é coreógrafo associado. Em comunicado publicado online, a companhia disse que o comportamento de Goecke era “contrário aos nossos valores”, mas que ele havia se desculpado.

A companhia irá apresentar In the Dutch Mountains (Nas montanhas holandesas) de Goecke na Holanda nas próximas semanas.

Wiebke Hüster, a crítica atacada por Goecke, disse em uma entrevista nesta semana que ficou tão chocada quando aquilo aconteceu que começou a gritar. Assim que se recompôs, ela disse, relatou o incidente à polícia.

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Berman, que foi alertada logo após o incidente, disse que o acontecimento deixou os espectadores “com medo de que ele pudesse fazer outra coisa”.

Em entrevista por telefone na quinta-feira, Goecke - que foi acusado de agressão - disse que “pediu profundas desculpas” pelo incidente. O que ele fez com Hüster, que escreve para o Frankfurter Allgemeine Zeitung, foi “uma coisa realmente terrível”, acrescentou.

A cobertura jornalística do incidente, no entanto, concentrou-se apenas nas fezes de cachorro, ele disse, enquanto ele queria começar um debate sobre o que deveria ser permitido na crítica de arte. Os críticos de jornais, ele disse, não deveriam escrever de “forma pessoal e odiosa”, especialmente quando os teatros e as casas de ópera ainda tentavam atrair o público de volta após paralisações e interrupções causadas pela pandemia.

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“Ainda não estou livre dessa raiva”, disse Goecke. Hüster havia escrito apenas dois artigos positivos sobre seu trabalho durante sua carreira, ele disse, e ele sentiu que muitas de suas críticas eram tentativas de prejudicá-lo.

“Se eu fosse uma mulher e o crítico um homem, isso seria visto de forma diferente”, ele disse.

Por mais de uma década, Goecke tem sido uma estrela na Europa. Manuel Brug, crítico do jornal alemão Die Welt, disse em uma entrevista que ele fazia os dançarinos parecerem “pássaros voadores” e o chamou de o coreógrafo mais importante da Alemanha.

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Mas quatro críticos de fora da Alemanha disseram em entrevistas que receberam comunicações bizarras dele após críticas negativas a seus trabalhos. Juan Michael Porter II disse em uma entrevista por telefone que em 2016, quando estava começando como crítico, escreveu um texto para o HuffPost no qual dizia que uma das peças de Goecke “se estendia por 12 minutos a mais do que o necessário para um efeito sempre decrescente antes de finalmente terminar.”

Logo depois, Porter disse que recebeu um e-mail de Goecke, “essencialmente perguntando: ‘Quem é você para criticar os maiores coreógrafos do mundo?’” Quando Porter não respondeu, Goecke enviou um segundo e-mail, chamando-o de covarde por não ter respondido.

Goecke negou ter enviado e-mails para qualquer crítico. Ele disse que não usava e-mail e nunca se chamaria de um grande coreógrafo. “Fica parecendo que eu tenho um problema”, acrescentou, “mas não é o caso”. Ele gosta de críticas construtivas, disse.

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Ele insistiu que acreditava na liberdade de expressão onde “ninguém se machuca”.

Berman, da Hanover State Opera, disse que nos três anos de Goecke na companhia não houve problemas com seu comportamento. “Nunca imaginei que ele faria algo remotamente parecido com isso”, ela disse. “Na vida cotidiana normal, ele é extremamente honrado, respeitoso e empático.”

Nas semanas anteriores ao incidente, Goecke disse que estava se preparando para a estreia de seu espetáculo In the Dutch Mountains na Holanda. Ele se sentiu pressionado a criar uma obra-prima, ele disse. Ele também teve problemas pessoais. Sua mãe estava doente, ele disse, e seu cachorro, de 14 anos e meio, estava chegando ao fim de sua vida.

“Eu ficava sempre pensando: ‘Vou ter que carregá-lo de volta para a Alemanha em um saco plástico?’’, disse Goecke.

A crítica de Hüster sobre In the Dutch Mountains, na qual ela escreveu que os espectadores sentiriam que estavam “enlouquecendo” ou “sendo mortos pelo tédio”, parecia outro ataque pessoal, ele disse. Quando ele a viu naquela noite na Hanover State Opera, ele disse, ficou chocado e não conseguiu entender sua presença.

A dupla teve uma discussão tensa, na qual ele se lembra de ter dito: “O que você está escrevendo sobre mim, não gostaria de ouvir sobre você?” Quando ela não respondeu positivamente, ele esfregou as fezes em seu rosto.

Não está claro se outras companhias de dança continuarão trabalhando com Goecke. Berman disse que as diferentes reações da Hanover State Opera e do Nederlands Dans Theatre talvez sejam explicadas pelo fato de o mundo da dança ainda estar em choque com o incidente.

“Ninguém quer ver uma pessoa que é capaz de criar um trabalho de dança incrível parar”, disse Berman. “Mas, ao mesmo tempo, ninguém consegue entender o que ele fez”, acrescentou.

Goecke disse que estava exausto depois dos últimos dias e queria seguir em frente. Mas, acrescentou, “já recebeu tantos aplausos” durante sua carreira: “Se agora acabou, acabou”.

Para Hüster, pelo menos, esse momento chegou. “Nunca mais irei a nenhum espetáculo de Goecke”, ela disse por e-mail. “Ele não é tão relevante.” / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

eza

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Na noite de sábado, na principal companhia de ópera de Hanover, o renomado coreógrafo alemão Marco Goecke esfregou fezes de seu velho cachorro Dachshund, chamado Gustav, no rosto de uma crítica de dança.

Alguns dias depois, Goecke, 50, perdeu seu emprego como diretor de balé no local. Na quinta-feira, 16, em uma coletiva de imprensa em Hanover, Laura Berman, diretora artística da companhia de ópera, anunciou que Goecke estava deixando o cargo “por acordo mútuo”.

Pode-se esperar que essa decisão estabeleça um limite no caso bizarro, que ganhou as manchetes internacionais e chocou o mundo da dança.

Mas a carreira de Goecke está longe de terminar. Em entrevista por telefone, Berman disse que o Hanover State Ballet continuaria a apresentar seu trabalho; em 24 de fevereiro, seu espetáculo Hello Earth (Olá Terra) fará parte de um projeto triplo. As obras de Goecke são “incomparáveis”, disse Berman, e sua arte deve ser vista separadamente do incidente injustificável.

“Não acredito na cultura do cancelamento”, ela acrescentou.

Marco Goecke foi desligado da Ópera de Hanover após atacar jornalista com fezes de cachorro. Foto: Regina Brocke via The New York Times

E Goecke manterá sua posição no Nederlands Dans Theatre, uma aclamada companhia holandesa, da qual é coreógrafo associado. Em comunicado publicado online, a companhia disse que o comportamento de Goecke era “contrário aos nossos valores”, mas que ele havia se desculpado.

A companhia irá apresentar In the Dutch Mountains (Nas montanhas holandesas) de Goecke na Holanda nas próximas semanas.

Wiebke Hüster, a crítica atacada por Goecke, disse em uma entrevista nesta semana que ficou tão chocada quando aquilo aconteceu que começou a gritar. Assim que se recompôs, ela disse, relatou o incidente à polícia.

Berman, que foi alertada logo após o incidente, disse que o acontecimento deixou os espectadores “com medo de que ele pudesse fazer outra coisa”.

Em entrevista por telefone na quinta-feira, Goecke - que foi acusado de agressão - disse que “pediu profundas desculpas” pelo incidente. O que ele fez com Hüster, que escreve para o Frankfurter Allgemeine Zeitung, foi “uma coisa realmente terrível”, acrescentou.

A cobertura jornalística do incidente, no entanto, concentrou-se apenas nas fezes de cachorro, ele disse, enquanto ele queria começar um debate sobre o que deveria ser permitido na crítica de arte. Os críticos de jornais, ele disse, não deveriam escrever de “forma pessoal e odiosa”, especialmente quando os teatros e as casas de ópera ainda tentavam atrair o público de volta após paralisações e interrupções causadas pela pandemia.

“Ainda não estou livre dessa raiva”, disse Goecke. Hüster havia escrito apenas dois artigos positivos sobre seu trabalho durante sua carreira, ele disse, e ele sentiu que muitas de suas críticas eram tentativas de prejudicá-lo.

“Se eu fosse uma mulher e o crítico um homem, isso seria visto de forma diferente”, ele disse.

Por mais de uma década, Goecke tem sido uma estrela na Europa. Manuel Brug, crítico do jornal alemão Die Welt, disse em uma entrevista que ele fazia os dançarinos parecerem “pássaros voadores” e o chamou de o coreógrafo mais importante da Alemanha.

Mas quatro críticos de fora da Alemanha disseram em entrevistas que receberam comunicações bizarras dele após críticas negativas a seus trabalhos. Juan Michael Porter II disse em uma entrevista por telefone que em 2016, quando estava começando como crítico, escreveu um texto para o HuffPost no qual dizia que uma das peças de Goecke “se estendia por 12 minutos a mais do que o necessário para um efeito sempre decrescente antes de finalmente terminar.”

Logo depois, Porter disse que recebeu um e-mail de Goecke, “essencialmente perguntando: ‘Quem é você para criticar os maiores coreógrafos do mundo?’” Quando Porter não respondeu, Goecke enviou um segundo e-mail, chamando-o de covarde por não ter respondido.

Goecke negou ter enviado e-mails para qualquer crítico. Ele disse que não usava e-mail e nunca se chamaria de um grande coreógrafo. “Fica parecendo que eu tenho um problema”, acrescentou, “mas não é o caso”. Ele gosta de críticas construtivas, disse.

Ele insistiu que acreditava na liberdade de expressão onde “ninguém se machuca”.

Berman, da Hanover State Opera, disse que nos três anos de Goecke na companhia não houve problemas com seu comportamento. “Nunca imaginei que ele faria algo remotamente parecido com isso”, ela disse. “Na vida cotidiana normal, ele é extremamente honrado, respeitoso e empático.”

Nas semanas anteriores ao incidente, Goecke disse que estava se preparando para a estreia de seu espetáculo In the Dutch Mountains na Holanda. Ele se sentiu pressionado a criar uma obra-prima, ele disse. Ele também teve problemas pessoais. Sua mãe estava doente, ele disse, e seu cachorro, de 14 anos e meio, estava chegando ao fim de sua vida.

“Eu ficava sempre pensando: ‘Vou ter que carregá-lo de volta para a Alemanha em um saco plástico?’’, disse Goecke.

A crítica de Hüster sobre In the Dutch Mountains, na qual ela escreveu que os espectadores sentiriam que estavam “enlouquecendo” ou “sendo mortos pelo tédio”, parecia outro ataque pessoal, ele disse. Quando ele a viu naquela noite na Hanover State Opera, ele disse, ficou chocado e não conseguiu entender sua presença.

A dupla teve uma discussão tensa, na qual ele se lembra de ter dito: “O que você está escrevendo sobre mim, não gostaria de ouvir sobre você?” Quando ela não respondeu positivamente, ele esfregou as fezes em seu rosto.

Não está claro se outras companhias de dança continuarão trabalhando com Goecke. Berman disse que as diferentes reações da Hanover State Opera e do Nederlands Dans Theatre talvez sejam explicadas pelo fato de o mundo da dança ainda estar em choque com o incidente.

“Ninguém quer ver uma pessoa que é capaz de criar um trabalho de dança incrível parar”, disse Berman. “Mas, ao mesmo tempo, ninguém consegue entender o que ele fez”, acrescentou.

Goecke disse que estava exausto depois dos últimos dias e queria seguir em frente. Mas, acrescentou, “já recebeu tantos aplausos” durante sua carreira: “Se agora acabou, acabou”.

Para Hüster, pelo menos, esse momento chegou. “Nunca mais irei a nenhum espetáculo de Goecke”, ela disse por e-mail. “Ele não é tão relevante.” / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

eza

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Na noite de sábado, na principal companhia de ópera de Hanover, o renomado coreógrafo alemão Marco Goecke esfregou fezes de seu velho cachorro Dachshund, chamado Gustav, no rosto de uma crítica de dança.

Alguns dias depois, Goecke, 50, perdeu seu emprego como diretor de balé no local. Na quinta-feira, 16, em uma coletiva de imprensa em Hanover, Laura Berman, diretora artística da companhia de ópera, anunciou que Goecke estava deixando o cargo “por acordo mútuo”.

Pode-se esperar que essa decisão estabeleça um limite no caso bizarro, que ganhou as manchetes internacionais e chocou o mundo da dança.

Mas a carreira de Goecke está longe de terminar. Em entrevista por telefone, Berman disse que o Hanover State Ballet continuaria a apresentar seu trabalho; em 24 de fevereiro, seu espetáculo Hello Earth (Olá Terra) fará parte de um projeto triplo. As obras de Goecke são “incomparáveis”, disse Berman, e sua arte deve ser vista separadamente do incidente injustificável.

“Não acredito na cultura do cancelamento”, ela acrescentou.

Marco Goecke foi desligado da Ópera de Hanover após atacar jornalista com fezes de cachorro. Foto: Regina Brocke via The New York Times

E Goecke manterá sua posição no Nederlands Dans Theatre, uma aclamada companhia holandesa, da qual é coreógrafo associado. Em comunicado publicado online, a companhia disse que o comportamento de Goecke era “contrário aos nossos valores”, mas que ele havia se desculpado.

A companhia irá apresentar In the Dutch Mountains (Nas montanhas holandesas) de Goecke na Holanda nas próximas semanas.

Wiebke Hüster, a crítica atacada por Goecke, disse em uma entrevista nesta semana que ficou tão chocada quando aquilo aconteceu que começou a gritar. Assim que se recompôs, ela disse, relatou o incidente à polícia.

Berman, que foi alertada logo após o incidente, disse que o acontecimento deixou os espectadores “com medo de que ele pudesse fazer outra coisa”.

Em entrevista por telefone na quinta-feira, Goecke - que foi acusado de agressão - disse que “pediu profundas desculpas” pelo incidente. O que ele fez com Hüster, que escreve para o Frankfurter Allgemeine Zeitung, foi “uma coisa realmente terrível”, acrescentou.

A cobertura jornalística do incidente, no entanto, concentrou-se apenas nas fezes de cachorro, ele disse, enquanto ele queria começar um debate sobre o que deveria ser permitido na crítica de arte. Os críticos de jornais, ele disse, não deveriam escrever de “forma pessoal e odiosa”, especialmente quando os teatros e as casas de ópera ainda tentavam atrair o público de volta após paralisações e interrupções causadas pela pandemia.

“Ainda não estou livre dessa raiva”, disse Goecke. Hüster havia escrito apenas dois artigos positivos sobre seu trabalho durante sua carreira, ele disse, e ele sentiu que muitas de suas críticas eram tentativas de prejudicá-lo.

“Se eu fosse uma mulher e o crítico um homem, isso seria visto de forma diferente”, ele disse.

Por mais de uma década, Goecke tem sido uma estrela na Europa. Manuel Brug, crítico do jornal alemão Die Welt, disse em uma entrevista que ele fazia os dançarinos parecerem “pássaros voadores” e o chamou de o coreógrafo mais importante da Alemanha.

Mas quatro críticos de fora da Alemanha disseram em entrevistas que receberam comunicações bizarras dele após críticas negativas a seus trabalhos. Juan Michael Porter II disse em uma entrevista por telefone que em 2016, quando estava começando como crítico, escreveu um texto para o HuffPost no qual dizia que uma das peças de Goecke “se estendia por 12 minutos a mais do que o necessário para um efeito sempre decrescente antes de finalmente terminar.”

Logo depois, Porter disse que recebeu um e-mail de Goecke, “essencialmente perguntando: ‘Quem é você para criticar os maiores coreógrafos do mundo?’” Quando Porter não respondeu, Goecke enviou um segundo e-mail, chamando-o de covarde por não ter respondido.

Goecke negou ter enviado e-mails para qualquer crítico. Ele disse que não usava e-mail e nunca se chamaria de um grande coreógrafo. “Fica parecendo que eu tenho um problema”, acrescentou, “mas não é o caso”. Ele gosta de críticas construtivas, disse.

Ele insistiu que acreditava na liberdade de expressão onde “ninguém se machuca”.

Berman, da Hanover State Opera, disse que nos três anos de Goecke na companhia não houve problemas com seu comportamento. “Nunca imaginei que ele faria algo remotamente parecido com isso”, ela disse. “Na vida cotidiana normal, ele é extremamente honrado, respeitoso e empático.”

Nas semanas anteriores ao incidente, Goecke disse que estava se preparando para a estreia de seu espetáculo In the Dutch Mountains na Holanda. Ele se sentiu pressionado a criar uma obra-prima, ele disse. Ele também teve problemas pessoais. Sua mãe estava doente, ele disse, e seu cachorro, de 14 anos e meio, estava chegando ao fim de sua vida.

“Eu ficava sempre pensando: ‘Vou ter que carregá-lo de volta para a Alemanha em um saco plástico?’’, disse Goecke.

A crítica de Hüster sobre In the Dutch Mountains, na qual ela escreveu que os espectadores sentiriam que estavam “enlouquecendo” ou “sendo mortos pelo tédio”, parecia outro ataque pessoal, ele disse. Quando ele a viu naquela noite na Hanover State Opera, ele disse, ficou chocado e não conseguiu entender sua presença.

A dupla teve uma discussão tensa, na qual ele se lembra de ter dito: “O que você está escrevendo sobre mim, não gostaria de ouvir sobre você?” Quando ela não respondeu positivamente, ele esfregou as fezes em seu rosto.

Não está claro se outras companhias de dança continuarão trabalhando com Goecke. Berman disse que as diferentes reações da Hanover State Opera e do Nederlands Dans Theatre talvez sejam explicadas pelo fato de o mundo da dança ainda estar em choque com o incidente.

“Ninguém quer ver uma pessoa que é capaz de criar um trabalho de dança incrível parar”, disse Berman. “Mas, ao mesmo tempo, ninguém consegue entender o que ele fez”, acrescentou.

Goecke disse que estava exausto depois dos últimos dias e queria seguir em frente. Mas, acrescentou, “já recebeu tantos aplausos” durante sua carreira: “Se agora acabou, acabou”.

Para Hüster, pelo menos, esse momento chegou. “Nunca mais irei a nenhum espetáculo de Goecke”, ela disse por e-mail. “Ele não é tão relevante.” / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

eza

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Na noite de sábado, na principal companhia de ópera de Hanover, o renomado coreógrafo alemão Marco Goecke esfregou fezes de seu velho cachorro Dachshund, chamado Gustav, no rosto de uma crítica de dança.

Alguns dias depois, Goecke, 50, perdeu seu emprego como diretor de balé no local. Na quinta-feira, 16, em uma coletiva de imprensa em Hanover, Laura Berman, diretora artística da companhia de ópera, anunciou que Goecke estava deixando o cargo “por acordo mútuo”.

Pode-se esperar que essa decisão estabeleça um limite no caso bizarro, que ganhou as manchetes internacionais e chocou o mundo da dança.

Mas a carreira de Goecke está longe de terminar. Em entrevista por telefone, Berman disse que o Hanover State Ballet continuaria a apresentar seu trabalho; em 24 de fevereiro, seu espetáculo Hello Earth (Olá Terra) fará parte de um projeto triplo. As obras de Goecke são “incomparáveis”, disse Berman, e sua arte deve ser vista separadamente do incidente injustificável.

“Não acredito na cultura do cancelamento”, ela acrescentou.

Marco Goecke foi desligado da Ópera de Hanover após atacar jornalista com fezes de cachorro. Foto: Regina Brocke via The New York Times

E Goecke manterá sua posição no Nederlands Dans Theatre, uma aclamada companhia holandesa, da qual é coreógrafo associado. Em comunicado publicado online, a companhia disse que o comportamento de Goecke era “contrário aos nossos valores”, mas que ele havia se desculpado.

A companhia irá apresentar In the Dutch Mountains (Nas montanhas holandesas) de Goecke na Holanda nas próximas semanas.

Wiebke Hüster, a crítica atacada por Goecke, disse em uma entrevista nesta semana que ficou tão chocada quando aquilo aconteceu que começou a gritar. Assim que se recompôs, ela disse, relatou o incidente à polícia.

Berman, que foi alertada logo após o incidente, disse que o acontecimento deixou os espectadores “com medo de que ele pudesse fazer outra coisa”.

Em entrevista por telefone na quinta-feira, Goecke - que foi acusado de agressão - disse que “pediu profundas desculpas” pelo incidente. O que ele fez com Hüster, que escreve para o Frankfurter Allgemeine Zeitung, foi “uma coisa realmente terrível”, acrescentou.

A cobertura jornalística do incidente, no entanto, concentrou-se apenas nas fezes de cachorro, ele disse, enquanto ele queria começar um debate sobre o que deveria ser permitido na crítica de arte. Os críticos de jornais, ele disse, não deveriam escrever de “forma pessoal e odiosa”, especialmente quando os teatros e as casas de ópera ainda tentavam atrair o público de volta após paralisações e interrupções causadas pela pandemia.

“Ainda não estou livre dessa raiva”, disse Goecke. Hüster havia escrito apenas dois artigos positivos sobre seu trabalho durante sua carreira, ele disse, e ele sentiu que muitas de suas críticas eram tentativas de prejudicá-lo.

“Se eu fosse uma mulher e o crítico um homem, isso seria visto de forma diferente”, ele disse.

Por mais de uma década, Goecke tem sido uma estrela na Europa. Manuel Brug, crítico do jornal alemão Die Welt, disse em uma entrevista que ele fazia os dançarinos parecerem “pássaros voadores” e o chamou de o coreógrafo mais importante da Alemanha.

Mas quatro críticos de fora da Alemanha disseram em entrevistas que receberam comunicações bizarras dele após críticas negativas a seus trabalhos. Juan Michael Porter II disse em uma entrevista por telefone que em 2016, quando estava começando como crítico, escreveu um texto para o HuffPost no qual dizia que uma das peças de Goecke “se estendia por 12 minutos a mais do que o necessário para um efeito sempre decrescente antes de finalmente terminar.”

Logo depois, Porter disse que recebeu um e-mail de Goecke, “essencialmente perguntando: ‘Quem é você para criticar os maiores coreógrafos do mundo?’” Quando Porter não respondeu, Goecke enviou um segundo e-mail, chamando-o de covarde por não ter respondido.

Goecke negou ter enviado e-mails para qualquer crítico. Ele disse que não usava e-mail e nunca se chamaria de um grande coreógrafo. “Fica parecendo que eu tenho um problema”, acrescentou, “mas não é o caso”. Ele gosta de críticas construtivas, disse.

Ele insistiu que acreditava na liberdade de expressão onde “ninguém se machuca”.

Berman, da Hanover State Opera, disse que nos três anos de Goecke na companhia não houve problemas com seu comportamento. “Nunca imaginei que ele faria algo remotamente parecido com isso”, ela disse. “Na vida cotidiana normal, ele é extremamente honrado, respeitoso e empático.”

Nas semanas anteriores ao incidente, Goecke disse que estava se preparando para a estreia de seu espetáculo In the Dutch Mountains na Holanda. Ele se sentiu pressionado a criar uma obra-prima, ele disse. Ele também teve problemas pessoais. Sua mãe estava doente, ele disse, e seu cachorro, de 14 anos e meio, estava chegando ao fim de sua vida.

“Eu ficava sempre pensando: ‘Vou ter que carregá-lo de volta para a Alemanha em um saco plástico?’’, disse Goecke.

A crítica de Hüster sobre In the Dutch Mountains, na qual ela escreveu que os espectadores sentiriam que estavam “enlouquecendo” ou “sendo mortos pelo tédio”, parecia outro ataque pessoal, ele disse. Quando ele a viu naquela noite na Hanover State Opera, ele disse, ficou chocado e não conseguiu entender sua presença.

A dupla teve uma discussão tensa, na qual ele se lembra de ter dito: “O que você está escrevendo sobre mim, não gostaria de ouvir sobre você?” Quando ela não respondeu positivamente, ele esfregou as fezes em seu rosto.

Não está claro se outras companhias de dança continuarão trabalhando com Goecke. Berman disse que as diferentes reações da Hanover State Opera e do Nederlands Dans Theatre talvez sejam explicadas pelo fato de o mundo da dança ainda estar em choque com o incidente.

“Ninguém quer ver uma pessoa que é capaz de criar um trabalho de dança incrível parar”, disse Berman. “Mas, ao mesmo tempo, ninguém consegue entender o que ele fez”, acrescentou.

Goecke disse que estava exausto depois dos últimos dias e queria seguir em frente. Mas, acrescentou, “já recebeu tantos aplausos” durante sua carreira: “Se agora acabou, acabou”.

Para Hüster, pelo menos, esse momento chegou. “Nunca mais irei a nenhum espetáculo de Goecke”, ela disse por e-mail. “Ele não é tão relevante.” / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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