Sentindo saudades do lar distante no meio da pandemia


'Você deve encontrar um jeito de ficar confortável onde quer que se encontre'

Por Janet Manley
Atualização:

Depois de meses de isolamento, agora compreendemos um pouco melhor como seria viver na lua. Colocamos a máscara para sair pela porta da frente, flutuamos em amplos círculos em volta dos vizinhos mascarados, enquanto os que não podem sair de suas casas espiam pela janela um mundo em órbita. Em algum momento, durante a pandemia do coronavírus, todo mundo na Terra experimentou extremos de distância em geral reservados aos que se encontram na zona da morte ou no espaço exterior.

Separados, nos nossos quartos, saudade dos lugares onde não podemos ir. “Nosso lar será acaso o lugar onde nascemos, onde, como dizemos no Haiti, nosso cordão umbilical está enterrado? Ou o nosso lar é o lugar onde morremos, onde estamos enterrados?” escreve Edwige Danticat na introdução da antologia The Penguin Book of Migration Literature.

Wenkai Mao 
continua após a publicidade

Cada cultura tem um termo diferente para ‘saudade’ (o polonês “tasknota” exprime um forte anseio ou forma de nostalgia; em galês, “hiraeth” significa “anseio por um lar ao qual não podemos regressar, que não mais existe, ou talvez nunca tenha existido”), no entanto, raramente tratamos deste sentimento em sentido prático. O momento atual ampliou esta experiência para incluir os que estão longe de um lar, e contudo próximos.

Conrad Anker, um alpinista que passou partes da sua vida escalando o Himalaia e a Antártida, está em sua casa em Montana, mas disse que sente saudade da casa da sua infância, não muito longe de Yosemite, onde seu irmão e irmã ainda vivem. Depois de anos de expediçoes, ele entende como são as alternâncias da vida no lar e longe dele. Para muitos aventureiros, “fazer parte de uma expedição, que é o que mais desejam, equivale a estar em casa”, afirmou.

“E quando estão em casa, desejam estar de novo longe, nos lugares mais desafiadores”. Com o fechamento das fronteiras este ano, e os que se encontravam no exterior correram para ser repatriados, eu mesma participei de uma espécie de dança das cadeiras, e voltei de avião com meu marido e filhos para a nossa casa, na Austrália. Ali, passamos duas semanas em quarentena em um hotel, obedecemdo à ordem do governo, acima da minha casa, no 31º andar.

continua após a publicidade

“Estamos indo para a Austrália”, disse minha filha de 5 anos a uma pessoa da família falando no FaceTime, e eu tive de mostrar Harbour Bridge, em Sydney, do terraço, e explicar que na realidade, já estávamos lá. Pouco depois de sairmos da quarentena, a fronteira de Queensland foi fechada, bloqueando minha irmã em outro estado.

A meta-condição do distanciamento social tem sido uma espécie de exílio, e para 13% dos americanos adultos nascidos em outro país, é particularmente aguda. Sinta-se confortável onde você está (mesmo que o lugar seja apertado) Anker apareceu no documentário Meru, filmado durante a escalada do monte, com seus colegas Jimmy Chin e Renan Ozturk, quando desceram a rota Shark’s Fin, pelo flanco do pico no Himalaia, uma expedição que foi desviada por uma tempestade de gelo obrigando-os a esperar durante dias pendurados em uma barraca ‘portaledge’.

A experiência dos escaladores assemelha-se estranhamente à de muitas pessoas fechadas em suas casas por causa da pandemia: ficar em casa, ou perto dela, é uma questão de segurança pública. No Monte Everest, ou na Antártida, “se você cometer um erro,” disse Anker, “terá de arcar com as consequências”.

continua após a publicidade

Portanto, você deve encontrar um jeito de ficar confortável onde quer que se encontre. No interior de uma barraca, prosseguiu, você pode dizer a si mesmo: “Muito bem, estou neste casulo de náilon. O mundo está lá fora, e mesmo que o vento esteja sacudindo tudo, eu me sinto bem. Tenho meu saco de dormir, meu fogão funcionando, tenho água, e vou comer algo. E depois vou acordar amanhã e vou fazer a mesma coisa tudo de novo.”

“De certo modo, neste momento estamos nas nossas pequenas barracas”, acrescentou, “e toda a sociedade está assim”. Atingir o objetivo mais amplo – chegar ao cume, poder ver a família – exige paciência e sacrifício a curto prazo. Sue Bell tem a mãe de 102 anos com problema de surdez, em uma clínica assistida onde ela mora, em um lockdown parcial, em Sydney. Cada visita tem de ser marcada com sedmanas de antecedência e deve ser na biblioteca, todo mundo com máscara.

O contato físico não é permitido. As máscaras dificultam a comunicação, por isso Sue Bell leva consigo uma prancheta e papel. “Quando ela quer saber por que tudo isto está acontecendo, eu explico apenas: É o vírus, mas você está em um lugar seguro”.

continua após a publicidade

Reformule o significado de perda

G. Vásquez, que pediu para preservar o anonimato por ser um imigante ilegal, deixou a Guatemala aos 29 anos. Chegou aos EUA depois de uma viagem por terra de um mês de duração – viagem que levaria apenas cinco horas de avião para uma pessoa em condições de atravessar a fronteira internacinal sem problemas.

Hoje, ele mora com esposa e filhos no estado de Nova York e trabalha em uma fazenda de gado leiteiro. Ele disse que Nova York é a sua casa, embora não se sinta “plenamente adaptado” para viver nos Estados Unidos, e tenha muita saudade dos pais e da família em geral. Enquanto as leis da imigração não mudam, ele não pode visitá-los ou permitir que seus filhos vejam os avós pessoalmente. Ele se preocupa com as consequências para os filhos. “É triste, mas ao mesmo tempo estou feliz”, ele disse por meio de um intérprete.

continua após a publicidade

“Eles crescerão aqui; na minha terra não teriam as oportunidades que têm aqui, por isso graças a Deus eu posso dar esta oportunidade a eles”. Vásquez enfatiza a possibilidade de permitir que sua família viva e trabalhe em algum lugar onde ele possa ganhar e economizar dinheiro. A vida é difícil na Guatemala, explicou, e aqui muitos dos seus colegas na fazenda vivem cantando e assobiando – embora o trabalho muitas vezes não traga nenhum benefício.

“Eles nunca se queixam”, afirma. Christina Koch, astronauta da Nasa, disse que a sua primeira missão espacial, de março de 2019 a fevereiro de 2020, foi prolongada enquanto ela se encontrava na Estação Espacial Internacional, estabelecendo o recorde de maior permanência em uma viagem espacial para uma mulher, 328 dias.

Em geral, ela conseguiu abrandar a saudade de sua casa na Terra, particularmente trabalhando o sentimento da saudade. “Você precisa ficar longe de sua casa para compreender o valor de seu lar”, ela disse. Concentrar-me no que ganharia por estar tão longe “ajudou-me a continuar ligada ao lugar que foi obrigada a deixar a fim de participar destas missões de exploração”.

continua após a publicidade

Em vez de se pensar nas coisas de que sente falta, ela se concentrou “em algo que eu tinha naquele momento e que talvez nunca mais tenha, e so dedicar-se a isto contituamente”. Só é fácil conseguir isto no espaço, afirmou, porque olhando para baixo, para a Terra, “sei que lá embaixo tudo está parado. Sempre esperando por mim. Nada irá a parte alguma”.

Mantenha-se ocupado para superar o “terceiro trimeste”

Os que se encontram em missões prolongadas referem-se ao “efeito do terceiro trimestre” como certo declínio do desempenho e do moral, a partir da metade da expedição. Christina percebeu isto em uma missão à Antártida, onde os integrantes tiveram de “permanecer o inverno todo” – ou seja, oito meses fechada em uma base, esperando a chegada do verão.

“Lembro que depois da metade do inverno eu pensava: “Oba, quatro meses já se passaram. Nem acredito”, contou. “E depois: São quatro meses mais.” Christina encara o “novo mundo” inaugurado pela pandemia como um novo planeta a ser explorado. “Nossa tarefa consiste em imaginar: O que fazem as pessoas para se entreter neste novo planeta? Aonde elas vão? Com o que elas mantêm suas mentes ocupadas? Como interagem entre si?” Não importa quais sejam os seus hobbies, importa que você se ocupe com alguma coisa.

Olhe fotos de lugares e de pessoas

Muitos de nós talvez tenham tomado decisões apressadas mudando-se recentemente, mas com os aviões obrigados a permanecer no solo e o imperativo de garantir a segurança das pessoas, o nosso sentido de distância mudou. Tudo é mais difícil de conseguir; no entanto, estamos muito mais conectados do que no passado, disse Anker. “Imagine há 100 anos, em 1911, quando Amundsen” – Roald Amundsen, o explorador – “chegou ao Polo Sul.

Ninguém sabia onde eles estavam”, ele disse. Hoje, "com a tecnologia dos satélites, não há um lugar no planeta que não tenha sido mapeado em imagens. Você pode procurar no Google Earth e olhar praticamente o mundo todo e descobrir, você pode olhar, sempre há uma foto”. Anker costumava carregar um pequeno álbum de família nas expedições, antes que o planeta fosse envolvido em sinais de celulares. Agora, ele só leva o celular.

Os filhos de Vásquez estão sempre em contato por vídeo com os avós na Guatemala, e quanto a Christina, cartas escritas à mão pareciam algo especial no espaço. “A ideia era que o meu amor estivesse segurando este objeto, e depois pegasse um foguete para ir ao espaço e agora eu estivessse segurando a mesma coisa. Foi a maneira de nos sentirmos conectados”, ela disse.

Veja o seu lugar na comunidade como um todo

Este ano foi um experimento em isolamento social, mas todos os entrevistados para este artigo falaram de que maneira eles perceberam a si mesmos como parte de um coletivo maior. Para Anker, o lar pode ser a estrutura física onde vivemos, mas é também “onde você cria seus filhos e onde você convida as pessoas para jantar”.

Ele disse que uma das coisas de que ele e sua esposa sentem mais falta são os jantares de domingo com os amgos. Vásquez quer que as pessoas compreendam de onde vem a sua comida, e pensem nas mãos que trabalham na cadeia de suprimentos em um momento em que os trabalhadores do campo são especialmente vulneráveis ao coronavírus. Ele está orgulhoso do trabalho que faz provendo comida para os outros, e conversou com carinho sobre o trabalho duro e essencial dos camponeses.

Christina fez parte da primeira caminhada de uma mulher no espaço e constatou, como outros astronautas antes dela, que isto reforçou a sua confiança na humanidade. Em trajes espaciais, enquanto esperava e olhava através do andaime, observou: “Você pode ver seus amigos lá longe concentrados no trabalho ou olhando para você. Você vê todos contra o pano de fundo da Terra, no vasto espaço negro e se dá conta da magnitude do que conseguimos realizar todos juntos”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Depois de meses de isolamento, agora compreendemos um pouco melhor como seria viver na lua. Colocamos a máscara para sair pela porta da frente, flutuamos em amplos círculos em volta dos vizinhos mascarados, enquanto os que não podem sair de suas casas espiam pela janela um mundo em órbita. Em algum momento, durante a pandemia do coronavírus, todo mundo na Terra experimentou extremos de distância em geral reservados aos que se encontram na zona da morte ou no espaço exterior.

Separados, nos nossos quartos, saudade dos lugares onde não podemos ir. “Nosso lar será acaso o lugar onde nascemos, onde, como dizemos no Haiti, nosso cordão umbilical está enterrado? Ou o nosso lar é o lugar onde morremos, onde estamos enterrados?” escreve Edwige Danticat na introdução da antologia The Penguin Book of Migration Literature.

Wenkai Mao 

Cada cultura tem um termo diferente para ‘saudade’ (o polonês “tasknota” exprime um forte anseio ou forma de nostalgia; em galês, “hiraeth” significa “anseio por um lar ao qual não podemos regressar, que não mais existe, ou talvez nunca tenha existido”), no entanto, raramente tratamos deste sentimento em sentido prático. O momento atual ampliou esta experiência para incluir os que estão longe de um lar, e contudo próximos.

Conrad Anker, um alpinista que passou partes da sua vida escalando o Himalaia e a Antártida, está em sua casa em Montana, mas disse que sente saudade da casa da sua infância, não muito longe de Yosemite, onde seu irmão e irmã ainda vivem. Depois de anos de expediçoes, ele entende como são as alternâncias da vida no lar e longe dele. Para muitos aventureiros, “fazer parte de uma expedição, que é o que mais desejam, equivale a estar em casa”, afirmou.

“E quando estão em casa, desejam estar de novo longe, nos lugares mais desafiadores”. Com o fechamento das fronteiras este ano, e os que se encontravam no exterior correram para ser repatriados, eu mesma participei de uma espécie de dança das cadeiras, e voltei de avião com meu marido e filhos para a nossa casa, na Austrália. Ali, passamos duas semanas em quarentena em um hotel, obedecemdo à ordem do governo, acima da minha casa, no 31º andar.

“Estamos indo para a Austrália”, disse minha filha de 5 anos a uma pessoa da família falando no FaceTime, e eu tive de mostrar Harbour Bridge, em Sydney, do terraço, e explicar que na realidade, já estávamos lá. Pouco depois de sairmos da quarentena, a fronteira de Queensland foi fechada, bloqueando minha irmã em outro estado.

A meta-condição do distanciamento social tem sido uma espécie de exílio, e para 13% dos americanos adultos nascidos em outro país, é particularmente aguda. Sinta-se confortável onde você está (mesmo que o lugar seja apertado) Anker apareceu no documentário Meru, filmado durante a escalada do monte, com seus colegas Jimmy Chin e Renan Ozturk, quando desceram a rota Shark’s Fin, pelo flanco do pico no Himalaia, uma expedição que foi desviada por uma tempestade de gelo obrigando-os a esperar durante dias pendurados em uma barraca ‘portaledge’.

A experiência dos escaladores assemelha-se estranhamente à de muitas pessoas fechadas em suas casas por causa da pandemia: ficar em casa, ou perto dela, é uma questão de segurança pública. No Monte Everest, ou na Antártida, “se você cometer um erro,” disse Anker, “terá de arcar com as consequências”.

Portanto, você deve encontrar um jeito de ficar confortável onde quer que se encontre. No interior de uma barraca, prosseguiu, você pode dizer a si mesmo: “Muito bem, estou neste casulo de náilon. O mundo está lá fora, e mesmo que o vento esteja sacudindo tudo, eu me sinto bem. Tenho meu saco de dormir, meu fogão funcionando, tenho água, e vou comer algo. E depois vou acordar amanhã e vou fazer a mesma coisa tudo de novo.”

“De certo modo, neste momento estamos nas nossas pequenas barracas”, acrescentou, “e toda a sociedade está assim”. Atingir o objetivo mais amplo – chegar ao cume, poder ver a família – exige paciência e sacrifício a curto prazo. Sue Bell tem a mãe de 102 anos com problema de surdez, em uma clínica assistida onde ela mora, em um lockdown parcial, em Sydney. Cada visita tem de ser marcada com sedmanas de antecedência e deve ser na biblioteca, todo mundo com máscara.

O contato físico não é permitido. As máscaras dificultam a comunicação, por isso Sue Bell leva consigo uma prancheta e papel. “Quando ela quer saber por que tudo isto está acontecendo, eu explico apenas: É o vírus, mas você está em um lugar seguro”.

Reformule o significado de perda

G. Vásquez, que pediu para preservar o anonimato por ser um imigante ilegal, deixou a Guatemala aos 29 anos. Chegou aos EUA depois de uma viagem por terra de um mês de duração – viagem que levaria apenas cinco horas de avião para uma pessoa em condições de atravessar a fronteira internacinal sem problemas.

Hoje, ele mora com esposa e filhos no estado de Nova York e trabalha em uma fazenda de gado leiteiro. Ele disse que Nova York é a sua casa, embora não se sinta “plenamente adaptado” para viver nos Estados Unidos, e tenha muita saudade dos pais e da família em geral. Enquanto as leis da imigração não mudam, ele não pode visitá-los ou permitir que seus filhos vejam os avós pessoalmente. Ele se preocupa com as consequências para os filhos. “É triste, mas ao mesmo tempo estou feliz”, ele disse por meio de um intérprete.

“Eles crescerão aqui; na minha terra não teriam as oportunidades que têm aqui, por isso graças a Deus eu posso dar esta oportunidade a eles”. Vásquez enfatiza a possibilidade de permitir que sua família viva e trabalhe em algum lugar onde ele possa ganhar e economizar dinheiro. A vida é difícil na Guatemala, explicou, e aqui muitos dos seus colegas na fazenda vivem cantando e assobiando – embora o trabalho muitas vezes não traga nenhum benefício.

“Eles nunca se queixam”, afirma. Christina Koch, astronauta da Nasa, disse que a sua primeira missão espacial, de março de 2019 a fevereiro de 2020, foi prolongada enquanto ela se encontrava na Estação Espacial Internacional, estabelecendo o recorde de maior permanência em uma viagem espacial para uma mulher, 328 dias.

Em geral, ela conseguiu abrandar a saudade de sua casa na Terra, particularmente trabalhando o sentimento da saudade. “Você precisa ficar longe de sua casa para compreender o valor de seu lar”, ela disse. Concentrar-me no que ganharia por estar tão longe “ajudou-me a continuar ligada ao lugar que foi obrigada a deixar a fim de participar destas missões de exploração”.

Em vez de se pensar nas coisas de que sente falta, ela se concentrou “em algo que eu tinha naquele momento e que talvez nunca mais tenha, e so dedicar-se a isto contituamente”. Só é fácil conseguir isto no espaço, afirmou, porque olhando para baixo, para a Terra, “sei que lá embaixo tudo está parado. Sempre esperando por mim. Nada irá a parte alguma”.

Mantenha-se ocupado para superar o “terceiro trimeste”

Os que se encontram em missões prolongadas referem-se ao “efeito do terceiro trimestre” como certo declínio do desempenho e do moral, a partir da metade da expedição. Christina percebeu isto em uma missão à Antártida, onde os integrantes tiveram de “permanecer o inverno todo” – ou seja, oito meses fechada em uma base, esperando a chegada do verão.

“Lembro que depois da metade do inverno eu pensava: “Oba, quatro meses já se passaram. Nem acredito”, contou. “E depois: São quatro meses mais.” Christina encara o “novo mundo” inaugurado pela pandemia como um novo planeta a ser explorado. “Nossa tarefa consiste em imaginar: O que fazem as pessoas para se entreter neste novo planeta? Aonde elas vão? Com o que elas mantêm suas mentes ocupadas? Como interagem entre si?” Não importa quais sejam os seus hobbies, importa que você se ocupe com alguma coisa.

Olhe fotos de lugares e de pessoas

Muitos de nós talvez tenham tomado decisões apressadas mudando-se recentemente, mas com os aviões obrigados a permanecer no solo e o imperativo de garantir a segurança das pessoas, o nosso sentido de distância mudou. Tudo é mais difícil de conseguir; no entanto, estamos muito mais conectados do que no passado, disse Anker. “Imagine há 100 anos, em 1911, quando Amundsen” – Roald Amundsen, o explorador – “chegou ao Polo Sul.

Ninguém sabia onde eles estavam”, ele disse. Hoje, "com a tecnologia dos satélites, não há um lugar no planeta que não tenha sido mapeado em imagens. Você pode procurar no Google Earth e olhar praticamente o mundo todo e descobrir, você pode olhar, sempre há uma foto”. Anker costumava carregar um pequeno álbum de família nas expedições, antes que o planeta fosse envolvido em sinais de celulares. Agora, ele só leva o celular.

Os filhos de Vásquez estão sempre em contato por vídeo com os avós na Guatemala, e quanto a Christina, cartas escritas à mão pareciam algo especial no espaço. “A ideia era que o meu amor estivesse segurando este objeto, e depois pegasse um foguete para ir ao espaço e agora eu estivessse segurando a mesma coisa. Foi a maneira de nos sentirmos conectados”, ela disse.

Veja o seu lugar na comunidade como um todo

Este ano foi um experimento em isolamento social, mas todos os entrevistados para este artigo falaram de que maneira eles perceberam a si mesmos como parte de um coletivo maior. Para Anker, o lar pode ser a estrutura física onde vivemos, mas é também “onde você cria seus filhos e onde você convida as pessoas para jantar”.

Ele disse que uma das coisas de que ele e sua esposa sentem mais falta são os jantares de domingo com os amgos. Vásquez quer que as pessoas compreendam de onde vem a sua comida, e pensem nas mãos que trabalham na cadeia de suprimentos em um momento em que os trabalhadores do campo são especialmente vulneráveis ao coronavírus. Ele está orgulhoso do trabalho que faz provendo comida para os outros, e conversou com carinho sobre o trabalho duro e essencial dos camponeses.

Christina fez parte da primeira caminhada de uma mulher no espaço e constatou, como outros astronautas antes dela, que isto reforçou a sua confiança na humanidade. Em trajes espaciais, enquanto esperava e olhava através do andaime, observou: “Você pode ver seus amigos lá longe concentrados no trabalho ou olhando para você. Você vê todos contra o pano de fundo da Terra, no vasto espaço negro e se dá conta da magnitude do que conseguimos realizar todos juntos”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Depois de meses de isolamento, agora compreendemos um pouco melhor como seria viver na lua. Colocamos a máscara para sair pela porta da frente, flutuamos em amplos círculos em volta dos vizinhos mascarados, enquanto os que não podem sair de suas casas espiam pela janela um mundo em órbita. Em algum momento, durante a pandemia do coronavírus, todo mundo na Terra experimentou extremos de distância em geral reservados aos que se encontram na zona da morte ou no espaço exterior.

Separados, nos nossos quartos, saudade dos lugares onde não podemos ir. “Nosso lar será acaso o lugar onde nascemos, onde, como dizemos no Haiti, nosso cordão umbilical está enterrado? Ou o nosso lar é o lugar onde morremos, onde estamos enterrados?” escreve Edwige Danticat na introdução da antologia The Penguin Book of Migration Literature.

Wenkai Mao 

Cada cultura tem um termo diferente para ‘saudade’ (o polonês “tasknota” exprime um forte anseio ou forma de nostalgia; em galês, “hiraeth” significa “anseio por um lar ao qual não podemos regressar, que não mais existe, ou talvez nunca tenha existido”), no entanto, raramente tratamos deste sentimento em sentido prático. O momento atual ampliou esta experiência para incluir os que estão longe de um lar, e contudo próximos.

Conrad Anker, um alpinista que passou partes da sua vida escalando o Himalaia e a Antártida, está em sua casa em Montana, mas disse que sente saudade da casa da sua infância, não muito longe de Yosemite, onde seu irmão e irmã ainda vivem. Depois de anos de expediçoes, ele entende como são as alternâncias da vida no lar e longe dele. Para muitos aventureiros, “fazer parte de uma expedição, que é o que mais desejam, equivale a estar em casa”, afirmou.

“E quando estão em casa, desejam estar de novo longe, nos lugares mais desafiadores”. Com o fechamento das fronteiras este ano, e os que se encontravam no exterior correram para ser repatriados, eu mesma participei de uma espécie de dança das cadeiras, e voltei de avião com meu marido e filhos para a nossa casa, na Austrália. Ali, passamos duas semanas em quarentena em um hotel, obedecemdo à ordem do governo, acima da minha casa, no 31º andar.

“Estamos indo para a Austrália”, disse minha filha de 5 anos a uma pessoa da família falando no FaceTime, e eu tive de mostrar Harbour Bridge, em Sydney, do terraço, e explicar que na realidade, já estávamos lá. Pouco depois de sairmos da quarentena, a fronteira de Queensland foi fechada, bloqueando minha irmã em outro estado.

A meta-condição do distanciamento social tem sido uma espécie de exílio, e para 13% dos americanos adultos nascidos em outro país, é particularmente aguda. Sinta-se confortável onde você está (mesmo que o lugar seja apertado) Anker apareceu no documentário Meru, filmado durante a escalada do monte, com seus colegas Jimmy Chin e Renan Ozturk, quando desceram a rota Shark’s Fin, pelo flanco do pico no Himalaia, uma expedição que foi desviada por uma tempestade de gelo obrigando-os a esperar durante dias pendurados em uma barraca ‘portaledge’.

A experiência dos escaladores assemelha-se estranhamente à de muitas pessoas fechadas em suas casas por causa da pandemia: ficar em casa, ou perto dela, é uma questão de segurança pública. No Monte Everest, ou na Antártida, “se você cometer um erro,” disse Anker, “terá de arcar com as consequências”.

Portanto, você deve encontrar um jeito de ficar confortável onde quer que se encontre. No interior de uma barraca, prosseguiu, você pode dizer a si mesmo: “Muito bem, estou neste casulo de náilon. O mundo está lá fora, e mesmo que o vento esteja sacudindo tudo, eu me sinto bem. Tenho meu saco de dormir, meu fogão funcionando, tenho água, e vou comer algo. E depois vou acordar amanhã e vou fazer a mesma coisa tudo de novo.”

“De certo modo, neste momento estamos nas nossas pequenas barracas”, acrescentou, “e toda a sociedade está assim”. Atingir o objetivo mais amplo – chegar ao cume, poder ver a família – exige paciência e sacrifício a curto prazo. Sue Bell tem a mãe de 102 anos com problema de surdez, em uma clínica assistida onde ela mora, em um lockdown parcial, em Sydney. Cada visita tem de ser marcada com sedmanas de antecedência e deve ser na biblioteca, todo mundo com máscara.

O contato físico não é permitido. As máscaras dificultam a comunicação, por isso Sue Bell leva consigo uma prancheta e papel. “Quando ela quer saber por que tudo isto está acontecendo, eu explico apenas: É o vírus, mas você está em um lugar seguro”.

Reformule o significado de perda

G. Vásquez, que pediu para preservar o anonimato por ser um imigante ilegal, deixou a Guatemala aos 29 anos. Chegou aos EUA depois de uma viagem por terra de um mês de duração – viagem que levaria apenas cinco horas de avião para uma pessoa em condições de atravessar a fronteira internacinal sem problemas.

Hoje, ele mora com esposa e filhos no estado de Nova York e trabalha em uma fazenda de gado leiteiro. Ele disse que Nova York é a sua casa, embora não se sinta “plenamente adaptado” para viver nos Estados Unidos, e tenha muita saudade dos pais e da família em geral. Enquanto as leis da imigração não mudam, ele não pode visitá-los ou permitir que seus filhos vejam os avós pessoalmente. Ele se preocupa com as consequências para os filhos. “É triste, mas ao mesmo tempo estou feliz”, ele disse por meio de um intérprete.

“Eles crescerão aqui; na minha terra não teriam as oportunidades que têm aqui, por isso graças a Deus eu posso dar esta oportunidade a eles”. Vásquez enfatiza a possibilidade de permitir que sua família viva e trabalhe em algum lugar onde ele possa ganhar e economizar dinheiro. A vida é difícil na Guatemala, explicou, e aqui muitos dos seus colegas na fazenda vivem cantando e assobiando – embora o trabalho muitas vezes não traga nenhum benefício.

“Eles nunca se queixam”, afirma. Christina Koch, astronauta da Nasa, disse que a sua primeira missão espacial, de março de 2019 a fevereiro de 2020, foi prolongada enquanto ela se encontrava na Estação Espacial Internacional, estabelecendo o recorde de maior permanência em uma viagem espacial para uma mulher, 328 dias.

Em geral, ela conseguiu abrandar a saudade de sua casa na Terra, particularmente trabalhando o sentimento da saudade. “Você precisa ficar longe de sua casa para compreender o valor de seu lar”, ela disse. Concentrar-me no que ganharia por estar tão longe “ajudou-me a continuar ligada ao lugar que foi obrigada a deixar a fim de participar destas missões de exploração”.

Em vez de se pensar nas coisas de que sente falta, ela se concentrou “em algo que eu tinha naquele momento e que talvez nunca mais tenha, e so dedicar-se a isto contituamente”. Só é fácil conseguir isto no espaço, afirmou, porque olhando para baixo, para a Terra, “sei que lá embaixo tudo está parado. Sempre esperando por mim. Nada irá a parte alguma”.

Mantenha-se ocupado para superar o “terceiro trimeste”

Os que se encontram em missões prolongadas referem-se ao “efeito do terceiro trimestre” como certo declínio do desempenho e do moral, a partir da metade da expedição. Christina percebeu isto em uma missão à Antártida, onde os integrantes tiveram de “permanecer o inverno todo” – ou seja, oito meses fechada em uma base, esperando a chegada do verão.

“Lembro que depois da metade do inverno eu pensava: “Oba, quatro meses já se passaram. Nem acredito”, contou. “E depois: São quatro meses mais.” Christina encara o “novo mundo” inaugurado pela pandemia como um novo planeta a ser explorado. “Nossa tarefa consiste em imaginar: O que fazem as pessoas para se entreter neste novo planeta? Aonde elas vão? Com o que elas mantêm suas mentes ocupadas? Como interagem entre si?” Não importa quais sejam os seus hobbies, importa que você se ocupe com alguma coisa.

Olhe fotos de lugares e de pessoas

Muitos de nós talvez tenham tomado decisões apressadas mudando-se recentemente, mas com os aviões obrigados a permanecer no solo e o imperativo de garantir a segurança das pessoas, o nosso sentido de distância mudou. Tudo é mais difícil de conseguir; no entanto, estamos muito mais conectados do que no passado, disse Anker. “Imagine há 100 anos, em 1911, quando Amundsen” – Roald Amundsen, o explorador – “chegou ao Polo Sul.

Ninguém sabia onde eles estavam”, ele disse. Hoje, "com a tecnologia dos satélites, não há um lugar no planeta que não tenha sido mapeado em imagens. Você pode procurar no Google Earth e olhar praticamente o mundo todo e descobrir, você pode olhar, sempre há uma foto”. Anker costumava carregar um pequeno álbum de família nas expedições, antes que o planeta fosse envolvido em sinais de celulares. Agora, ele só leva o celular.

Os filhos de Vásquez estão sempre em contato por vídeo com os avós na Guatemala, e quanto a Christina, cartas escritas à mão pareciam algo especial no espaço. “A ideia era que o meu amor estivesse segurando este objeto, e depois pegasse um foguete para ir ao espaço e agora eu estivessse segurando a mesma coisa. Foi a maneira de nos sentirmos conectados”, ela disse.

Veja o seu lugar na comunidade como um todo

Este ano foi um experimento em isolamento social, mas todos os entrevistados para este artigo falaram de que maneira eles perceberam a si mesmos como parte de um coletivo maior. Para Anker, o lar pode ser a estrutura física onde vivemos, mas é também “onde você cria seus filhos e onde você convida as pessoas para jantar”.

Ele disse que uma das coisas de que ele e sua esposa sentem mais falta são os jantares de domingo com os amgos. Vásquez quer que as pessoas compreendam de onde vem a sua comida, e pensem nas mãos que trabalham na cadeia de suprimentos em um momento em que os trabalhadores do campo são especialmente vulneráveis ao coronavírus. Ele está orgulhoso do trabalho que faz provendo comida para os outros, e conversou com carinho sobre o trabalho duro e essencial dos camponeses.

Christina fez parte da primeira caminhada de uma mulher no espaço e constatou, como outros astronautas antes dela, que isto reforçou a sua confiança na humanidade. Em trajes espaciais, enquanto esperava e olhava através do andaime, observou: “Você pode ver seus amigos lá longe concentrados no trabalho ou olhando para você. Você vê todos contra o pano de fundo da Terra, no vasto espaço negro e se dá conta da magnitude do que conseguimos realizar todos juntos”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Depois de meses de isolamento, agora compreendemos um pouco melhor como seria viver na lua. Colocamos a máscara para sair pela porta da frente, flutuamos em amplos círculos em volta dos vizinhos mascarados, enquanto os que não podem sair de suas casas espiam pela janela um mundo em órbita. Em algum momento, durante a pandemia do coronavírus, todo mundo na Terra experimentou extremos de distância em geral reservados aos que se encontram na zona da morte ou no espaço exterior.

Separados, nos nossos quartos, saudade dos lugares onde não podemos ir. “Nosso lar será acaso o lugar onde nascemos, onde, como dizemos no Haiti, nosso cordão umbilical está enterrado? Ou o nosso lar é o lugar onde morremos, onde estamos enterrados?” escreve Edwige Danticat na introdução da antologia The Penguin Book of Migration Literature.

Wenkai Mao 

Cada cultura tem um termo diferente para ‘saudade’ (o polonês “tasknota” exprime um forte anseio ou forma de nostalgia; em galês, “hiraeth” significa “anseio por um lar ao qual não podemos regressar, que não mais existe, ou talvez nunca tenha existido”), no entanto, raramente tratamos deste sentimento em sentido prático. O momento atual ampliou esta experiência para incluir os que estão longe de um lar, e contudo próximos.

Conrad Anker, um alpinista que passou partes da sua vida escalando o Himalaia e a Antártida, está em sua casa em Montana, mas disse que sente saudade da casa da sua infância, não muito longe de Yosemite, onde seu irmão e irmã ainda vivem. Depois de anos de expediçoes, ele entende como são as alternâncias da vida no lar e longe dele. Para muitos aventureiros, “fazer parte de uma expedição, que é o que mais desejam, equivale a estar em casa”, afirmou.

“E quando estão em casa, desejam estar de novo longe, nos lugares mais desafiadores”. Com o fechamento das fronteiras este ano, e os que se encontravam no exterior correram para ser repatriados, eu mesma participei de uma espécie de dança das cadeiras, e voltei de avião com meu marido e filhos para a nossa casa, na Austrália. Ali, passamos duas semanas em quarentena em um hotel, obedecemdo à ordem do governo, acima da minha casa, no 31º andar.

“Estamos indo para a Austrália”, disse minha filha de 5 anos a uma pessoa da família falando no FaceTime, e eu tive de mostrar Harbour Bridge, em Sydney, do terraço, e explicar que na realidade, já estávamos lá. Pouco depois de sairmos da quarentena, a fronteira de Queensland foi fechada, bloqueando minha irmã em outro estado.

A meta-condição do distanciamento social tem sido uma espécie de exílio, e para 13% dos americanos adultos nascidos em outro país, é particularmente aguda. Sinta-se confortável onde você está (mesmo que o lugar seja apertado) Anker apareceu no documentário Meru, filmado durante a escalada do monte, com seus colegas Jimmy Chin e Renan Ozturk, quando desceram a rota Shark’s Fin, pelo flanco do pico no Himalaia, uma expedição que foi desviada por uma tempestade de gelo obrigando-os a esperar durante dias pendurados em uma barraca ‘portaledge’.

A experiência dos escaladores assemelha-se estranhamente à de muitas pessoas fechadas em suas casas por causa da pandemia: ficar em casa, ou perto dela, é uma questão de segurança pública. No Monte Everest, ou na Antártida, “se você cometer um erro,” disse Anker, “terá de arcar com as consequências”.

Portanto, você deve encontrar um jeito de ficar confortável onde quer que se encontre. No interior de uma barraca, prosseguiu, você pode dizer a si mesmo: “Muito bem, estou neste casulo de náilon. O mundo está lá fora, e mesmo que o vento esteja sacudindo tudo, eu me sinto bem. Tenho meu saco de dormir, meu fogão funcionando, tenho água, e vou comer algo. E depois vou acordar amanhã e vou fazer a mesma coisa tudo de novo.”

“De certo modo, neste momento estamos nas nossas pequenas barracas”, acrescentou, “e toda a sociedade está assim”. Atingir o objetivo mais amplo – chegar ao cume, poder ver a família – exige paciência e sacrifício a curto prazo. Sue Bell tem a mãe de 102 anos com problema de surdez, em uma clínica assistida onde ela mora, em um lockdown parcial, em Sydney. Cada visita tem de ser marcada com sedmanas de antecedência e deve ser na biblioteca, todo mundo com máscara.

O contato físico não é permitido. As máscaras dificultam a comunicação, por isso Sue Bell leva consigo uma prancheta e papel. “Quando ela quer saber por que tudo isto está acontecendo, eu explico apenas: É o vírus, mas você está em um lugar seguro”.

Reformule o significado de perda

G. Vásquez, que pediu para preservar o anonimato por ser um imigante ilegal, deixou a Guatemala aos 29 anos. Chegou aos EUA depois de uma viagem por terra de um mês de duração – viagem que levaria apenas cinco horas de avião para uma pessoa em condições de atravessar a fronteira internacinal sem problemas.

Hoje, ele mora com esposa e filhos no estado de Nova York e trabalha em uma fazenda de gado leiteiro. Ele disse que Nova York é a sua casa, embora não se sinta “plenamente adaptado” para viver nos Estados Unidos, e tenha muita saudade dos pais e da família em geral. Enquanto as leis da imigração não mudam, ele não pode visitá-los ou permitir que seus filhos vejam os avós pessoalmente. Ele se preocupa com as consequências para os filhos. “É triste, mas ao mesmo tempo estou feliz”, ele disse por meio de um intérprete.

“Eles crescerão aqui; na minha terra não teriam as oportunidades que têm aqui, por isso graças a Deus eu posso dar esta oportunidade a eles”. Vásquez enfatiza a possibilidade de permitir que sua família viva e trabalhe em algum lugar onde ele possa ganhar e economizar dinheiro. A vida é difícil na Guatemala, explicou, e aqui muitos dos seus colegas na fazenda vivem cantando e assobiando – embora o trabalho muitas vezes não traga nenhum benefício.

“Eles nunca se queixam”, afirma. Christina Koch, astronauta da Nasa, disse que a sua primeira missão espacial, de março de 2019 a fevereiro de 2020, foi prolongada enquanto ela se encontrava na Estação Espacial Internacional, estabelecendo o recorde de maior permanência em uma viagem espacial para uma mulher, 328 dias.

Em geral, ela conseguiu abrandar a saudade de sua casa na Terra, particularmente trabalhando o sentimento da saudade. “Você precisa ficar longe de sua casa para compreender o valor de seu lar”, ela disse. Concentrar-me no que ganharia por estar tão longe “ajudou-me a continuar ligada ao lugar que foi obrigada a deixar a fim de participar destas missões de exploração”.

Em vez de se pensar nas coisas de que sente falta, ela se concentrou “em algo que eu tinha naquele momento e que talvez nunca mais tenha, e so dedicar-se a isto contituamente”. Só é fácil conseguir isto no espaço, afirmou, porque olhando para baixo, para a Terra, “sei que lá embaixo tudo está parado. Sempre esperando por mim. Nada irá a parte alguma”.

Mantenha-se ocupado para superar o “terceiro trimeste”

Os que se encontram em missões prolongadas referem-se ao “efeito do terceiro trimestre” como certo declínio do desempenho e do moral, a partir da metade da expedição. Christina percebeu isto em uma missão à Antártida, onde os integrantes tiveram de “permanecer o inverno todo” – ou seja, oito meses fechada em uma base, esperando a chegada do verão.

“Lembro que depois da metade do inverno eu pensava: “Oba, quatro meses já se passaram. Nem acredito”, contou. “E depois: São quatro meses mais.” Christina encara o “novo mundo” inaugurado pela pandemia como um novo planeta a ser explorado. “Nossa tarefa consiste em imaginar: O que fazem as pessoas para se entreter neste novo planeta? Aonde elas vão? Com o que elas mantêm suas mentes ocupadas? Como interagem entre si?” Não importa quais sejam os seus hobbies, importa que você se ocupe com alguma coisa.

Olhe fotos de lugares e de pessoas

Muitos de nós talvez tenham tomado decisões apressadas mudando-se recentemente, mas com os aviões obrigados a permanecer no solo e o imperativo de garantir a segurança das pessoas, o nosso sentido de distância mudou. Tudo é mais difícil de conseguir; no entanto, estamos muito mais conectados do que no passado, disse Anker. “Imagine há 100 anos, em 1911, quando Amundsen” – Roald Amundsen, o explorador – “chegou ao Polo Sul.

Ninguém sabia onde eles estavam”, ele disse. Hoje, "com a tecnologia dos satélites, não há um lugar no planeta que não tenha sido mapeado em imagens. Você pode procurar no Google Earth e olhar praticamente o mundo todo e descobrir, você pode olhar, sempre há uma foto”. Anker costumava carregar um pequeno álbum de família nas expedições, antes que o planeta fosse envolvido em sinais de celulares. Agora, ele só leva o celular.

Os filhos de Vásquez estão sempre em contato por vídeo com os avós na Guatemala, e quanto a Christina, cartas escritas à mão pareciam algo especial no espaço. “A ideia era que o meu amor estivesse segurando este objeto, e depois pegasse um foguete para ir ao espaço e agora eu estivessse segurando a mesma coisa. Foi a maneira de nos sentirmos conectados”, ela disse.

Veja o seu lugar na comunidade como um todo

Este ano foi um experimento em isolamento social, mas todos os entrevistados para este artigo falaram de que maneira eles perceberam a si mesmos como parte de um coletivo maior. Para Anker, o lar pode ser a estrutura física onde vivemos, mas é também “onde você cria seus filhos e onde você convida as pessoas para jantar”.

Ele disse que uma das coisas de que ele e sua esposa sentem mais falta são os jantares de domingo com os amgos. Vásquez quer que as pessoas compreendam de onde vem a sua comida, e pensem nas mãos que trabalham na cadeia de suprimentos em um momento em que os trabalhadores do campo são especialmente vulneráveis ao coronavírus. Ele está orgulhoso do trabalho que faz provendo comida para os outros, e conversou com carinho sobre o trabalho duro e essencial dos camponeses.

Christina fez parte da primeira caminhada de uma mulher no espaço e constatou, como outros astronautas antes dela, que isto reforçou a sua confiança na humanidade. Em trajes espaciais, enquanto esperava e olhava através do andaime, observou: “Você pode ver seus amigos lá longe concentrados no trabalho ou olhando para você. Você vê todos contra o pano de fundo da Terra, no vasto espaço negro e se dá conta da magnitude do que conseguimos realizar todos juntos”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.