Reboot de 'Kung Fu' corrige erros da série original dos anos 1970


Nova filmagem da famosa série de artes marciais se afasta da original por ter um elenco predominantemente asiático-americano

Por Max Gao

Quase 50 anos depois que David Carradine ficou famoso interpretando um enigmático monge Shaolin meio chinês no Velho Oeste, Kung Fu voltou às telas em uma regravação na rede de televisão CW. Desta vez, porém, a versão com mudança de gênero, que estreou no dia sete de abril, está tentando consertar alguns dos erros da série original.

Em 1971, não muito antes de estrelar os filmes de alta octanagem que o tornaram internacionalmente famoso, Bruce Lee comprou um projeto de oito páginas para um novo programa de televisão chamado The Warrior (O guerreiro), sobre um lutador de artes marciais chinês que viaja pelo Velho Oeste. Segundo Lee, os executivos de estúdio da Warner Bros. decidiram recusar a proposta porque pensavam que o público americano não assistiria a um programa cujo protagonista era um asiático. Um ano depois, a Warner Bros. estreou um programa semelhante na ABC chamado Kung Fu, com Carradine, ator branco sem nenhum conhecimento prévio de artes marciais, no papel principal.

A atriz Olivia Liang, que estrela a heroína do reboot da série 'Kung Fu'. Foto: Lindsay Siu/The New York Times
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O criador do programa original, Ed Spielman, disse que sua ideia foi baseada em dez anos de pesquisa pessoal, que incluiu estudos da língua chinesa no Brooklyn College; a viúva de Lee, Linda Lee Cadwell, argumentou que Kung Fu é uma versão reformada de The Warrior. (Shannon Lee, filha do ator, anos depois fez uma parceria com o diretor Justin Lin para produzir Warrior, que estreou na rede de televisão a cabo Cinemax, em 2019.)

Kung Fu durou três temporadas, de 1972 a 1975 e permaneceu um elemento fixo na distribuição, apresentando a uma vasta audiência ocidental o poder transcultural das artes marciais.

Christina M. Kim, escritora e produtora de televisão mais conhecida por seu trabalho em Lost e Blindspot, concordou quando a Warner Bros. lhe pediu que encabeçasse uma regravação. Em seguida, ela criou um programa que se afasta de maneira dramática do original, começando pela protagonista. "Eu realmente queria uma protagonista asiática forte e arrasadora", revelou ela em uma entrevista por vídeo.

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A adaptação moderna segue Nicky Shen (Olivia Liang), jovem sino-americana que abandona a faculdade e viaja para um monastério na China, onde passa por um treinamento intensivo de artes marciais. Mas quando volta para San Francisco e encontra uma cidade dominada pelo crime e pela corrupção e vê que seus pais, Jin (Tzi Ma) e Mei-Li (Kheng Hua Tan), estão à mercê de um poderoso grupo de crime organizado chinês, Nicky usa suas habilidades marciais para proteger sua cidade natal – tudo isso enquanto se reconecta com a família e amigos distantes, e procura pelo assassino implacável que matou sua mentora Shaolin (Vanessa Kai).

Em produção desde 2019, Kung Fu chega em meio a um aumento alarmante do racismo contra os asiáticos, centrando-se no povo asiático-americano que é vitimado e luta contra um peso extra, não planejado e indesejável. "Certamente, nosso programa não é a solução, mas espero que sejamos parte da solução. Ter um programa como o nosso no ar nos torna parte da narrativa", comentou Kim durante um evento para a imprensa.

Quando começou a escrever o piloto no fim de 2019, Kim queria destacar a dinâmica única que existe em uma família sino-americana intergeracional. Ela sabia que precisava de dois ingredientes principais: uma atriz charmosa e atlética que pudesse lidar com as demandas emocionais e físicas do papel principal, e um reverenciado ator asiático-americano para dar credibilidade e seriedade como o patriarca.

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Ela testou mais de 150 jovens atrizes antes de encontrar Liang, mais conhecida como Alyssa Chang em Legacies, spin-off de The Vampire Diaries. Mas, para interpretar o pai, Kim tinha um nome em mente desde o início: Tzi Ma.

Com uma carreira de quatro décadas e mais de 140 participações em cinema, teatro e televisão, Ma desenvolveu a reputação de ser o "pai asiático favorito de Hollywood". Embora não tenha filhos, Ma, agora com 58 anos, interpretou a figura paterna de vários talentos de Hollywood – incluindo Awkwafina em A Despedida, Sandra Oh em Meditation Park e, mais recentemente, Liu Yifei na adaptação em live-action de Mulan, da Disney.

Depois que um amigo em comum o apresentou a Christina M. Kim em um encontro do Ano Novo Lunar organizado pelo ator Daniel Dae Kim, Ma ficou interessado ao saber que uma mulher mestiça estaria à frente de um remake de Kung Fu, série a que ele assistiu quando foi ao ar pela primeira vez. "Nunca trabalhei com showrunner mulher, muito menos com uma mestiça que se parecesse comigo. Eu disse: 'Estou pronto, vamos nessa. Se você me quiser, estarei lá'", contou Ma.

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"Foi ótimo poder contar com Tzi Ma na série. Ele é tão respeitado na comunidade que abriu muitas portas para o elenco", afirmou Christina M. Kim.

No início da seleção do elenco, Kim e sua equipe de produção – que incluía os produtores executivos Martin Gero, Greg Berlanti e Sarah Schechter – testaram atores de todo o mundo para interpretar Nicky. Ninguém se sentia confiante até ver Liang, que quase perdeu o teste por conta do cronograma das filmagens de Legacies. "Foi realmente um sopro de ar fresco ver um e-mail com o título: 'Kung Fu. Nicky Shen. Papel principal. Mulher sino-americana.' Pensei: 'Uau, o que está acontecendo? Papel principal?'", relembrou Liang.

A parte favorita de Liang no processo de escolha do elenco veio no último dia, ao ver a sala cheia de atores asiáticos preparados para uma audição para os executivos da rede, "algo que não acontece muito", segundo ela. "Todos pensamos: 'Se não for eu, felizmente será um de nós.' Foi realmente incrível fazer parte daquela energia e daquela camaradagem."

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Liang nunca havia praticado artes marciais anteriormente. Mas Kim, que supervisiona Kung Fu com Robert Berens, o outro showrunner, observou que a combinação de carisma e capacidade atlética da atriz era "perfeita para a personagem": "Eu precisava encontrar alguém que fosse bastante compatível, mas que também fosse mental e fisicamente capaz de derrubar os bandidos toda semana. Olivia é simplesmente charmosa, pé no chão, engraçada e meio bobinha. Também tem experiência em dança, por isso aprendeu o kung fu muito depressa."

Embora Fresh Off the Boat tenha sido uma rara comédia de situação, ou sitcom, com foco em uma família asiática, e séries protagonizadas por asiáticos como Eu Nunca... e Wu Assassins estejam disponíveis em plataformas de streaming, nunca houve um drama transmitido com um elenco predominantemente asiático-americano. Kung Fu se tornará parte dos avanços leves, mas constantes, que Hollywood tem visto recentemente na representação asiática nas telas. "Falamos disso o tempo todo – da natureza histórica do que estamos fazendo. E também tentamos não pensar muito na pressão que isso traz. Só queremos deixar nossa comunidade orgulhosa", disse Liang.

O elenco também está bem ciente da importância dessa série multigeracional em um momento de crescentes ataques a pessoas de ascendência asiática, aparentemente estimulados pela pandemia. Embora tenham o cuidado de não enquadrar um drama de televisão como algum tipo de solução para a violência racista, eles notam que a relativa falta de atores asiáticos no entretenimento convencional gerou uma espécie de invisibilidade cultural.

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"Representação não é só nos vermos na tela, mas principalmente sermos vistos por outros grupos de pessoas que não são asiáticas. A falta de representação contribuiu cem por cento para as coisas horríveis que estão acontecendo agora com os asiáticos porque não fazemos parte da narrativa de muitas pessoas, que não nos veem na sua comunidade nem na televisão e se esquecem de que fazemos parte do mundo", analisou Liang.

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Quase 50 anos depois que David Carradine ficou famoso interpretando um enigmático monge Shaolin meio chinês no Velho Oeste, Kung Fu voltou às telas em uma regravação na rede de televisão CW. Desta vez, porém, a versão com mudança de gênero, que estreou no dia sete de abril, está tentando consertar alguns dos erros da série original.

Em 1971, não muito antes de estrelar os filmes de alta octanagem que o tornaram internacionalmente famoso, Bruce Lee comprou um projeto de oito páginas para um novo programa de televisão chamado The Warrior (O guerreiro), sobre um lutador de artes marciais chinês que viaja pelo Velho Oeste. Segundo Lee, os executivos de estúdio da Warner Bros. decidiram recusar a proposta porque pensavam que o público americano não assistiria a um programa cujo protagonista era um asiático. Um ano depois, a Warner Bros. estreou um programa semelhante na ABC chamado Kung Fu, com Carradine, ator branco sem nenhum conhecimento prévio de artes marciais, no papel principal.

A atriz Olivia Liang, que estrela a heroína do reboot da série 'Kung Fu'. Foto: Lindsay Siu/The New York Times

O criador do programa original, Ed Spielman, disse que sua ideia foi baseada em dez anos de pesquisa pessoal, que incluiu estudos da língua chinesa no Brooklyn College; a viúva de Lee, Linda Lee Cadwell, argumentou que Kung Fu é uma versão reformada de The Warrior. (Shannon Lee, filha do ator, anos depois fez uma parceria com o diretor Justin Lin para produzir Warrior, que estreou na rede de televisão a cabo Cinemax, em 2019.)

Kung Fu durou três temporadas, de 1972 a 1975 e permaneceu um elemento fixo na distribuição, apresentando a uma vasta audiência ocidental o poder transcultural das artes marciais.

Christina M. Kim, escritora e produtora de televisão mais conhecida por seu trabalho em Lost e Blindspot, concordou quando a Warner Bros. lhe pediu que encabeçasse uma regravação. Em seguida, ela criou um programa que se afasta de maneira dramática do original, começando pela protagonista. "Eu realmente queria uma protagonista asiática forte e arrasadora", revelou ela em uma entrevista por vídeo.

A adaptação moderna segue Nicky Shen (Olivia Liang), jovem sino-americana que abandona a faculdade e viaja para um monastério na China, onde passa por um treinamento intensivo de artes marciais. Mas quando volta para San Francisco e encontra uma cidade dominada pelo crime e pela corrupção e vê que seus pais, Jin (Tzi Ma) e Mei-Li (Kheng Hua Tan), estão à mercê de um poderoso grupo de crime organizado chinês, Nicky usa suas habilidades marciais para proteger sua cidade natal – tudo isso enquanto se reconecta com a família e amigos distantes, e procura pelo assassino implacável que matou sua mentora Shaolin (Vanessa Kai).

Em produção desde 2019, Kung Fu chega em meio a um aumento alarmante do racismo contra os asiáticos, centrando-se no povo asiático-americano que é vitimado e luta contra um peso extra, não planejado e indesejável. "Certamente, nosso programa não é a solução, mas espero que sejamos parte da solução. Ter um programa como o nosso no ar nos torna parte da narrativa", comentou Kim durante um evento para a imprensa.

Quando começou a escrever o piloto no fim de 2019, Kim queria destacar a dinâmica única que existe em uma família sino-americana intergeracional. Ela sabia que precisava de dois ingredientes principais: uma atriz charmosa e atlética que pudesse lidar com as demandas emocionais e físicas do papel principal, e um reverenciado ator asiático-americano para dar credibilidade e seriedade como o patriarca.

Ela testou mais de 150 jovens atrizes antes de encontrar Liang, mais conhecida como Alyssa Chang em Legacies, spin-off de The Vampire Diaries. Mas, para interpretar o pai, Kim tinha um nome em mente desde o início: Tzi Ma.

Com uma carreira de quatro décadas e mais de 140 participações em cinema, teatro e televisão, Ma desenvolveu a reputação de ser o "pai asiático favorito de Hollywood". Embora não tenha filhos, Ma, agora com 58 anos, interpretou a figura paterna de vários talentos de Hollywood – incluindo Awkwafina em A Despedida, Sandra Oh em Meditation Park e, mais recentemente, Liu Yifei na adaptação em live-action de Mulan, da Disney.

Depois que um amigo em comum o apresentou a Christina M. Kim em um encontro do Ano Novo Lunar organizado pelo ator Daniel Dae Kim, Ma ficou interessado ao saber que uma mulher mestiça estaria à frente de um remake de Kung Fu, série a que ele assistiu quando foi ao ar pela primeira vez. "Nunca trabalhei com showrunner mulher, muito menos com uma mestiça que se parecesse comigo. Eu disse: 'Estou pronto, vamos nessa. Se você me quiser, estarei lá'", contou Ma.

"Foi ótimo poder contar com Tzi Ma na série. Ele é tão respeitado na comunidade que abriu muitas portas para o elenco", afirmou Christina M. Kim.

No início da seleção do elenco, Kim e sua equipe de produção – que incluía os produtores executivos Martin Gero, Greg Berlanti e Sarah Schechter – testaram atores de todo o mundo para interpretar Nicky. Ninguém se sentia confiante até ver Liang, que quase perdeu o teste por conta do cronograma das filmagens de Legacies. "Foi realmente um sopro de ar fresco ver um e-mail com o título: 'Kung Fu. Nicky Shen. Papel principal. Mulher sino-americana.' Pensei: 'Uau, o que está acontecendo? Papel principal?'", relembrou Liang.

A parte favorita de Liang no processo de escolha do elenco veio no último dia, ao ver a sala cheia de atores asiáticos preparados para uma audição para os executivos da rede, "algo que não acontece muito", segundo ela. "Todos pensamos: 'Se não for eu, felizmente será um de nós.' Foi realmente incrível fazer parte daquela energia e daquela camaradagem."

Liang nunca havia praticado artes marciais anteriormente. Mas Kim, que supervisiona Kung Fu com Robert Berens, o outro showrunner, observou que a combinação de carisma e capacidade atlética da atriz era "perfeita para a personagem": "Eu precisava encontrar alguém que fosse bastante compatível, mas que também fosse mental e fisicamente capaz de derrubar os bandidos toda semana. Olivia é simplesmente charmosa, pé no chão, engraçada e meio bobinha. Também tem experiência em dança, por isso aprendeu o kung fu muito depressa."

Embora Fresh Off the Boat tenha sido uma rara comédia de situação, ou sitcom, com foco em uma família asiática, e séries protagonizadas por asiáticos como Eu Nunca... e Wu Assassins estejam disponíveis em plataformas de streaming, nunca houve um drama transmitido com um elenco predominantemente asiático-americano. Kung Fu se tornará parte dos avanços leves, mas constantes, que Hollywood tem visto recentemente na representação asiática nas telas. "Falamos disso o tempo todo – da natureza histórica do que estamos fazendo. E também tentamos não pensar muito na pressão que isso traz. Só queremos deixar nossa comunidade orgulhosa", disse Liang.

O elenco também está bem ciente da importância dessa série multigeracional em um momento de crescentes ataques a pessoas de ascendência asiática, aparentemente estimulados pela pandemia. Embora tenham o cuidado de não enquadrar um drama de televisão como algum tipo de solução para a violência racista, eles notam que a relativa falta de atores asiáticos no entretenimento convencional gerou uma espécie de invisibilidade cultural.

"Representação não é só nos vermos na tela, mas principalmente sermos vistos por outros grupos de pessoas que não são asiáticas. A falta de representação contribuiu cem por cento para as coisas horríveis que estão acontecendo agora com os asiáticos porque não fazemos parte da narrativa de muitas pessoas, que não nos veem na sua comunidade nem na televisão e se esquecem de que fazemos parte do mundo", analisou Liang.

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Quase 50 anos depois que David Carradine ficou famoso interpretando um enigmático monge Shaolin meio chinês no Velho Oeste, Kung Fu voltou às telas em uma regravação na rede de televisão CW. Desta vez, porém, a versão com mudança de gênero, que estreou no dia sete de abril, está tentando consertar alguns dos erros da série original.

Em 1971, não muito antes de estrelar os filmes de alta octanagem que o tornaram internacionalmente famoso, Bruce Lee comprou um projeto de oito páginas para um novo programa de televisão chamado The Warrior (O guerreiro), sobre um lutador de artes marciais chinês que viaja pelo Velho Oeste. Segundo Lee, os executivos de estúdio da Warner Bros. decidiram recusar a proposta porque pensavam que o público americano não assistiria a um programa cujo protagonista era um asiático. Um ano depois, a Warner Bros. estreou um programa semelhante na ABC chamado Kung Fu, com Carradine, ator branco sem nenhum conhecimento prévio de artes marciais, no papel principal.

A atriz Olivia Liang, que estrela a heroína do reboot da série 'Kung Fu'. Foto: Lindsay Siu/The New York Times

O criador do programa original, Ed Spielman, disse que sua ideia foi baseada em dez anos de pesquisa pessoal, que incluiu estudos da língua chinesa no Brooklyn College; a viúva de Lee, Linda Lee Cadwell, argumentou que Kung Fu é uma versão reformada de The Warrior. (Shannon Lee, filha do ator, anos depois fez uma parceria com o diretor Justin Lin para produzir Warrior, que estreou na rede de televisão a cabo Cinemax, em 2019.)

Kung Fu durou três temporadas, de 1972 a 1975 e permaneceu um elemento fixo na distribuição, apresentando a uma vasta audiência ocidental o poder transcultural das artes marciais.

Christina M. Kim, escritora e produtora de televisão mais conhecida por seu trabalho em Lost e Blindspot, concordou quando a Warner Bros. lhe pediu que encabeçasse uma regravação. Em seguida, ela criou um programa que se afasta de maneira dramática do original, começando pela protagonista. "Eu realmente queria uma protagonista asiática forte e arrasadora", revelou ela em uma entrevista por vídeo.

A adaptação moderna segue Nicky Shen (Olivia Liang), jovem sino-americana que abandona a faculdade e viaja para um monastério na China, onde passa por um treinamento intensivo de artes marciais. Mas quando volta para San Francisco e encontra uma cidade dominada pelo crime e pela corrupção e vê que seus pais, Jin (Tzi Ma) e Mei-Li (Kheng Hua Tan), estão à mercê de um poderoso grupo de crime organizado chinês, Nicky usa suas habilidades marciais para proteger sua cidade natal – tudo isso enquanto se reconecta com a família e amigos distantes, e procura pelo assassino implacável que matou sua mentora Shaolin (Vanessa Kai).

Em produção desde 2019, Kung Fu chega em meio a um aumento alarmante do racismo contra os asiáticos, centrando-se no povo asiático-americano que é vitimado e luta contra um peso extra, não planejado e indesejável. "Certamente, nosso programa não é a solução, mas espero que sejamos parte da solução. Ter um programa como o nosso no ar nos torna parte da narrativa", comentou Kim durante um evento para a imprensa.

Quando começou a escrever o piloto no fim de 2019, Kim queria destacar a dinâmica única que existe em uma família sino-americana intergeracional. Ela sabia que precisava de dois ingredientes principais: uma atriz charmosa e atlética que pudesse lidar com as demandas emocionais e físicas do papel principal, e um reverenciado ator asiático-americano para dar credibilidade e seriedade como o patriarca.

Ela testou mais de 150 jovens atrizes antes de encontrar Liang, mais conhecida como Alyssa Chang em Legacies, spin-off de The Vampire Diaries. Mas, para interpretar o pai, Kim tinha um nome em mente desde o início: Tzi Ma.

Com uma carreira de quatro décadas e mais de 140 participações em cinema, teatro e televisão, Ma desenvolveu a reputação de ser o "pai asiático favorito de Hollywood". Embora não tenha filhos, Ma, agora com 58 anos, interpretou a figura paterna de vários talentos de Hollywood – incluindo Awkwafina em A Despedida, Sandra Oh em Meditation Park e, mais recentemente, Liu Yifei na adaptação em live-action de Mulan, da Disney.

Depois que um amigo em comum o apresentou a Christina M. Kim em um encontro do Ano Novo Lunar organizado pelo ator Daniel Dae Kim, Ma ficou interessado ao saber que uma mulher mestiça estaria à frente de um remake de Kung Fu, série a que ele assistiu quando foi ao ar pela primeira vez. "Nunca trabalhei com showrunner mulher, muito menos com uma mestiça que se parecesse comigo. Eu disse: 'Estou pronto, vamos nessa. Se você me quiser, estarei lá'", contou Ma.

"Foi ótimo poder contar com Tzi Ma na série. Ele é tão respeitado na comunidade que abriu muitas portas para o elenco", afirmou Christina M. Kim.

No início da seleção do elenco, Kim e sua equipe de produção – que incluía os produtores executivos Martin Gero, Greg Berlanti e Sarah Schechter – testaram atores de todo o mundo para interpretar Nicky. Ninguém se sentia confiante até ver Liang, que quase perdeu o teste por conta do cronograma das filmagens de Legacies. "Foi realmente um sopro de ar fresco ver um e-mail com o título: 'Kung Fu. Nicky Shen. Papel principal. Mulher sino-americana.' Pensei: 'Uau, o que está acontecendo? Papel principal?'", relembrou Liang.

A parte favorita de Liang no processo de escolha do elenco veio no último dia, ao ver a sala cheia de atores asiáticos preparados para uma audição para os executivos da rede, "algo que não acontece muito", segundo ela. "Todos pensamos: 'Se não for eu, felizmente será um de nós.' Foi realmente incrível fazer parte daquela energia e daquela camaradagem."

Liang nunca havia praticado artes marciais anteriormente. Mas Kim, que supervisiona Kung Fu com Robert Berens, o outro showrunner, observou que a combinação de carisma e capacidade atlética da atriz era "perfeita para a personagem": "Eu precisava encontrar alguém que fosse bastante compatível, mas que também fosse mental e fisicamente capaz de derrubar os bandidos toda semana. Olivia é simplesmente charmosa, pé no chão, engraçada e meio bobinha. Também tem experiência em dança, por isso aprendeu o kung fu muito depressa."

Embora Fresh Off the Boat tenha sido uma rara comédia de situação, ou sitcom, com foco em uma família asiática, e séries protagonizadas por asiáticos como Eu Nunca... e Wu Assassins estejam disponíveis em plataformas de streaming, nunca houve um drama transmitido com um elenco predominantemente asiático-americano. Kung Fu se tornará parte dos avanços leves, mas constantes, que Hollywood tem visto recentemente na representação asiática nas telas. "Falamos disso o tempo todo – da natureza histórica do que estamos fazendo. E também tentamos não pensar muito na pressão que isso traz. Só queremos deixar nossa comunidade orgulhosa", disse Liang.

O elenco também está bem ciente da importância dessa série multigeracional em um momento de crescentes ataques a pessoas de ascendência asiática, aparentemente estimulados pela pandemia. Embora tenham o cuidado de não enquadrar um drama de televisão como algum tipo de solução para a violência racista, eles notam que a relativa falta de atores asiáticos no entretenimento convencional gerou uma espécie de invisibilidade cultural.

"Representação não é só nos vermos na tela, mas principalmente sermos vistos por outros grupos de pessoas que não são asiáticas. A falta de representação contribuiu cem por cento para as coisas horríveis que estão acontecendo agora com os asiáticos porque não fazemos parte da narrativa de muitas pessoas, que não nos veem na sua comunidade nem na televisão e se esquecem de que fazemos parte do mundo", analisou Liang.

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Quase 50 anos depois que David Carradine ficou famoso interpretando um enigmático monge Shaolin meio chinês no Velho Oeste, Kung Fu voltou às telas em uma regravação na rede de televisão CW. Desta vez, porém, a versão com mudança de gênero, que estreou no dia sete de abril, está tentando consertar alguns dos erros da série original.

Em 1971, não muito antes de estrelar os filmes de alta octanagem que o tornaram internacionalmente famoso, Bruce Lee comprou um projeto de oito páginas para um novo programa de televisão chamado The Warrior (O guerreiro), sobre um lutador de artes marciais chinês que viaja pelo Velho Oeste. Segundo Lee, os executivos de estúdio da Warner Bros. decidiram recusar a proposta porque pensavam que o público americano não assistiria a um programa cujo protagonista era um asiático. Um ano depois, a Warner Bros. estreou um programa semelhante na ABC chamado Kung Fu, com Carradine, ator branco sem nenhum conhecimento prévio de artes marciais, no papel principal.

A atriz Olivia Liang, que estrela a heroína do reboot da série 'Kung Fu'. Foto: Lindsay Siu/The New York Times

O criador do programa original, Ed Spielman, disse que sua ideia foi baseada em dez anos de pesquisa pessoal, que incluiu estudos da língua chinesa no Brooklyn College; a viúva de Lee, Linda Lee Cadwell, argumentou que Kung Fu é uma versão reformada de The Warrior. (Shannon Lee, filha do ator, anos depois fez uma parceria com o diretor Justin Lin para produzir Warrior, que estreou na rede de televisão a cabo Cinemax, em 2019.)

Kung Fu durou três temporadas, de 1972 a 1975 e permaneceu um elemento fixo na distribuição, apresentando a uma vasta audiência ocidental o poder transcultural das artes marciais.

Christina M. Kim, escritora e produtora de televisão mais conhecida por seu trabalho em Lost e Blindspot, concordou quando a Warner Bros. lhe pediu que encabeçasse uma regravação. Em seguida, ela criou um programa que se afasta de maneira dramática do original, começando pela protagonista. "Eu realmente queria uma protagonista asiática forte e arrasadora", revelou ela em uma entrevista por vídeo.

A adaptação moderna segue Nicky Shen (Olivia Liang), jovem sino-americana que abandona a faculdade e viaja para um monastério na China, onde passa por um treinamento intensivo de artes marciais. Mas quando volta para San Francisco e encontra uma cidade dominada pelo crime e pela corrupção e vê que seus pais, Jin (Tzi Ma) e Mei-Li (Kheng Hua Tan), estão à mercê de um poderoso grupo de crime organizado chinês, Nicky usa suas habilidades marciais para proteger sua cidade natal – tudo isso enquanto se reconecta com a família e amigos distantes, e procura pelo assassino implacável que matou sua mentora Shaolin (Vanessa Kai).

Em produção desde 2019, Kung Fu chega em meio a um aumento alarmante do racismo contra os asiáticos, centrando-se no povo asiático-americano que é vitimado e luta contra um peso extra, não planejado e indesejável. "Certamente, nosso programa não é a solução, mas espero que sejamos parte da solução. Ter um programa como o nosso no ar nos torna parte da narrativa", comentou Kim durante um evento para a imprensa.

Quando começou a escrever o piloto no fim de 2019, Kim queria destacar a dinâmica única que existe em uma família sino-americana intergeracional. Ela sabia que precisava de dois ingredientes principais: uma atriz charmosa e atlética que pudesse lidar com as demandas emocionais e físicas do papel principal, e um reverenciado ator asiático-americano para dar credibilidade e seriedade como o patriarca.

Ela testou mais de 150 jovens atrizes antes de encontrar Liang, mais conhecida como Alyssa Chang em Legacies, spin-off de The Vampire Diaries. Mas, para interpretar o pai, Kim tinha um nome em mente desde o início: Tzi Ma.

Com uma carreira de quatro décadas e mais de 140 participações em cinema, teatro e televisão, Ma desenvolveu a reputação de ser o "pai asiático favorito de Hollywood". Embora não tenha filhos, Ma, agora com 58 anos, interpretou a figura paterna de vários talentos de Hollywood – incluindo Awkwafina em A Despedida, Sandra Oh em Meditation Park e, mais recentemente, Liu Yifei na adaptação em live-action de Mulan, da Disney.

Depois que um amigo em comum o apresentou a Christina M. Kim em um encontro do Ano Novo Lunar organizado pelo ator Daniel Dae Kim, Ma ficou interessado ao saber que uma mulher mestiça estaria à frente de um remake de Kung Fu, série a que ele assistiu quando foi ao ar pela primeira vez. "Nunca trabalhei com showrunner mulher, muito menos com uma mestiça que se parecesse comigo. Eu disse: 'Estou pronto, vamos nessa. Se você me quiser, estarei lá'", contou Ma.

"Foi ótimo poder contar com Tzi Ma na série. Ele é tão respeitado na comunidade que abriu muitas portas para o elenco", afirmou Christina M. Kim.

No início da seleção do elenco, Kim e sua equipe de produção – que incluía os produtores executivos Martin Gero, Greg Berlanti e Sarah Schechter – testaram atores de todo o mundo para interpretar Nicky. Ninguém se sentia confiante até ver Liang, que quase perdeu o teste por conta do cronograma das filmagens de Legacies. "Foi realmente um sopro de ar fresco ver um e-mail com o título: 'Kung Fu. Nicky Shen. Papel principal. Mulher sino-americana.' Pensei: 'Uau, o que está acontecendo? Papel principal?'", relembrou Liang.

A parte favorita de Liang no processo de escolha do elenco veio no último dia, ao ver a sala cheia de atores asiáticos preparados para uma audição para os executivos da rede, "algo que não acontece muito", segundo ela. "Todos pensamos: 'Se não for eu, felizmente será um de nós.' Foi realmente incrível fazer parte daquela energia e daquela camaradagem."

Liang nunca havia praticado artes marciais anteriormente. Mas Kim, que supervisiona Kung Fu com Robert Berens, o outro showrunner, observou que a combinação de carisma e capacidade atlética da atriz era "perfeita para a personagem": "Eu precisava encontrar alguém que fosse bastante compatível, mas que também fosse mental e fisicamente capaz de derrubar os bandidos toda semana. Olivia é simplesmente charmosa, pé no chão, engraçada e meio bobinha. Também tem experiência em dança, por isso aprendeu o kung fu muito depressa."

Embora Fresh Off the Boat tenha sido uma rara comédia de situação, ou sitcom, com foco em uma família asiática, e séries protagonizadas por asiáticos como Eu Nunca... e Wu Assassins estejam disponíveis em plataformas de streaming, nunca houve um drama transmitido com um elenco predominantemente asiático-americano. Kung Fu se tornará parte dos avanços leves, mas constantes, que Hollywood tem visto recentemente na representação asiática nas telas. "Falamos disso o tempo todo – da natureza histórica do que estamos fazendo. E também tentamos não pensar muito na pressão que isso traz. Só queremos deixar nossa comunidade orgulhosa", disse Liang.

O elenco também está bem ciente da importância dessa série multigeracional em um momento de crescentes ataques a pessoas de ascendência asiática, aparentemente estimulados pela pandemia. Embora tenham o cuidado de não enquadrar um drama de televisão como algum tipo de solução para a violência racista, eles notam que a relativa falta de atores asiáticos no entretenimento convencional gerou uma espécie de invisibilidade cultural.

"Representação não é só nos vermos na tela, mas principalmente sermos vistos por outros grupos de pessoas que não são asiáticas. A falta de representação contribuiu cem por cento para as coisas horríveis que estão acontecendo agora com os asiáticos porque não fazemos parte da narrativa de muitas pessoas, que não nos veem na sua comunidade nem na televisão e se esquecem de que fazemos parte do mundo", analisou Liang.

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