Terapia comportamental dialética é usada para tratar adolescentes suicidas e que se automutilam


Estudos indicam que a terapia comportamental dialética oferece benefícios maiores que a terapia mais generalizada. Mas o tratamento é intensivo e caro

Por Matt Richtel

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os pais que procuram terapia para adolescentes que se automutilam ou têm ansiedade, depressão ou pensamentos suicidas enfrentam um imponente emaranhado de opções de tratamento e siglas: terapia cognitivo-comportamental (TCC), treinamento de gerenciamento de pais (PMT), avaliação colaborativa e gerenciamento de suicídio (CAMS), terapia de aceitação e compromisso (ACT) e outros.

Cada abordagem pode beneficiar um subconjunto específico de pessoas. Mas para adolescentes em risco agudo de automutilação e suicídio, especialistas em saúde e pesquisadores apontam cada vez mais a terapia comportamental dialética, ou DBT (sigla em inglês para dialectical behavior therapy), como um tratamento eficaz.

“No momento, é provavelmente a melhor ferramenta que temos”, disse Michele Berk, psiquiatra infantil e de adolescentes da Universidade de Stanford.

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Em um estudo de 2018 no Journal of the American Medical Association, Berk e seus colegas descobriram que a DBT levou a quedas mais acentuadas nas tentativas de suicídio e automutilação entre adolescentes do que uma terapia mais generalizada. Um estudo de 2014 realizado por pesquisadores na Noruega encontrou um efeito semelhante, observando que a terapia também tem uma taxa de evasão relativamente baixa e concluiu que “é realmente possível que os adolescentes sejam engajados, retidos e tratados” usando a DBT. A terapia também é identificada como um tratamento chave baseado em evidências pela Academia Americana de Pediatria. No entanto, disse Berk, a DBT “não está disponível o suficiente”.

Como funciona a DBT

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A terapia comportamental dialética é um subconjunto da terapia comportamental cognitiva, que visa reformular os pensamentos e o comportamento de uma pessoa. A DBT concentra-se inicialmente no comportamento e na emoção bruta, ajudando o indivíduo a superar os momentos de crise e a entender o que motivou o comportamento em primeiro lugar.

A DBT é intensiva. A versão mais completa do programa, que pode levar de seis meses a um ano para ser concluída, tem quatro componentes: terapia individual para o adolescente; terapia de grupo; treinamento para adolescentes e seus pais para ensinar regulação emocional; e acesso por telefone a um terapeuta para ajudar durante uma crise.

O passo inicial é ensinar o paciente a reconhecer os sentimentos no corpo quando surgem impulsos perigosos, como “um nó na garganta, pulso acelerado, ombros tensos”, disse Jill Rathus, psicóloga que atua em Long Island, Nova York. Na década de 1990, Rathus fez parte de uma equipe que adaptou a versão adulta da DBT para adolescentes e suas famílias.

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Os pacientes então aprendem a colocar esses sentimentos em palavras. É vital, disse Rathus, “colocar palavras” em uma experiência física e emocional; isso envolve partes do cérebro, como o córtex pré-frontal, que ajudam a regular as emoções. Nos jovens, essas regiões do cérebro não estão totalmente desenvolvidas e podem facilmente ficar sobrecarregadas.

O próximo passo é aprender a diminuir o estado de excitação com técnicas específicas, muitas vezes simples: jogar água fria no rosto, fazer exercícios breves, mas intensos, colocar uma bolsa de gelo nos olhos - para “alterar a química do corpo”, na linguagem da DBT.

"Não há medicação para comportamento suicida", disse Michele Berk, psicóloga da Universidade de Stanford. “O paciente precisa aprender outras habilidades comportamentais que a medicação não ensina.” Foto: Anastasiia Sapon/The New York Times
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Não sem um custo

Terapeutas treinados em terapia comportamental dialética podem ser caros e difíceis de encontrar, e muitas vezes estão com a agenda cheia.

Os preços variam de acordo com o estado e o provedor, mas os médicos disseram que não é incomum que uma única hora de aconselhamento individual custe de US$ 150 a US$ 200 ou mais, com a terapia em grupo custando cerca de metade desse valor. Ao longo de seis meses, o tratamento pode custar até US$ 10.000 para alguém pagando do próprio bolso. Mas a despesa do próprio bolso também pode variar muito dependendo do tipo de plano de saúde usado e se o tratamento é ou não coberto pelo Medicaid, o plano de saúde público dos Estados Unidos.

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Apenas dois estados - Minnesota e Missouri - fornecem amplo apoio à DBT, de acordo com Anthony DuBose, chefe de treinamento da Behavioral Tech, uma organização que treina terapeutas de DBT. Ele citou outra razão para a relativa escassez de aconselhamento DBT: alguns terapeutas temem que a terapia seja muito intensiva e possa ultrapassar seu tempo disponível. “Precisamos convencer os profissionais de saúde mental de que eles podem fazer isso”, ele disse.

Várias versões

Existem versões reduzidas da DBT e elas também podem funcionar para adolescentes que sofrem de automutilação e tendências suicidas, disseram especialistas. Mas, esses especialistas alertaram, muitas dessas variações emergentes não foram estudadas com o mesmo rigor que o tratamento mais completo.

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Adolescentes que tiveram algum treinamento de DBT ou TCC parecem mais bem preparados para lidar com angústia e sentimentos suicidas, de acordo com a Dra. Stephanie Kennebeck, médica pediátrica de emergência do Hospital Infantil de Cincinnati, que pesquisou abordagens terapêuticas para impulsos suicidas.

Jill Rathus, psicóloga em Great Neck, NY “O erro que os pais cometem, mesmo pais bem-intencionados e amorosos, é minimizar os sentimentos”, disse ela. Foto: Gabby Jones/The New York Times

Kennebeck disse que testemunhou o valor do treinamento em primeira mão nos casos em que os adolescentes chegaram ao pronto-socorro tomados por suas emoções intensas. Adolescentes que não fizeram terapia e não tiveram orientação para utilizar esse recurso muitas vezes precisavam ser mantidos na sala de emergência por mais tempo, até que pudessem ser colocados em um programa de tratamento, disse Kennebeck. Ela acrescentou que se sentia mais confortável em mandar uma criança para casa se ela tivesse alguma noção de como lidar com situações emocionais difíceis.

“Os pacientes que já fizeram alguma TCC ou DBT têm a capacidade de nomear sua emoção e me dizer como ela pode se traduzir no que eles farão a seguir”, disse Kennebeck. “Isso é inestimável.”

Existem muitos modelos terapêuticos que ajudam a abordar diferentes questões emocionais, incluindo ansiedade, depressão e trauma. Quando o risco comportamental agudo, como automutilação e suicídio, é uma preocupação, a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio recomenda várias opções além da DBT, incluindo avaliação colaborativa e gerenciamento de suicídio (CAMS), que demonstrou em estudos ser eficaz na redução de pensamentos suicidas e terapia cognitivo-comportamental para prevenção do suicídio (TCC-PS), que tem se mostrado eficaz em estudos na prevenção de novas tentativas de suicídio em adultos com pelo menos uma tentativa anterior.

Terapia para os pais também

Na DBT, o adolescente não é o único a aprender. Os pais são orientados para validar os sentimentos de seus filhos adolescentes, por mais irracionais que esses sentimentos possam parecer.

“O erro que os pais cometem, mesmo pais bem-intencionados e amorosos, é minimizar os sentimentos”, disse Rathus. Dizer a um adolescente que está perturbado para “simplesmente dar um passeio, ou se concentrar nos trabalhos escolares, é como dizer a ele para escalar o Everest”.

Ela disse que o adolescente não consegue ouvir as palavras e rapidamente “aprende a não confiar” em sentimentos ou emoções fortes. Os pais têm aulas em grupo nas quais são orientados a entender o que os adolescentes estão passando e aprendem maneiras específicas de lidar com aquele sofrimento.

Valerie, uma executiva do Vale do Silício, descreveu a experiência de sua família com a DBT. (Ela pediu que seu sobrenome não fosse usado para proteger sua privacidade.) No meio de 2021, a filha de 12 anos de Valerie ficou cada vez mais perturbada; outrora uma estudante séria, ela começou a ter problemas na escola, teve colapsos aparentemente incontroláveis e ficou obcecada com sua aparência e peso.

A menina começou a DBT, e Valerie seguiu as instruções para os pais, que lhe ensinaram maneiras mais eficazes de lidar com a filha, ela disse - por exemplo, primeiro validando os sentimentos dolorosos da menina em vez de propor imediatamente uma solução.

Se a filha tem medo de lidar com uma matéria ou professor difícil na escola, Valerie tenta reformular o medo: “Vou dizer: ‘OK, você vai ter essa experiência ruim. Então, antes, durma bem, coma coisas gostosas, marque um encontro com um amigo depois, leve um ursinho felpudo para a aula.’”

Valerie acrescentou: “É como encher seu tanque de gasolina antes de fazer uma longa viagem”. Ela disse que começou a adotar os conceitos em sua própria vida enquanto examinava “pensamentos de preocupação”, como: “Vou ficar sozinha depois de vender meu negócio?”

Ela disse que sua filha estava melhorando. “Isso a ajudou a parar de se sentir desesperada ou presa nas coisas”, disse Valerie. “Ela está menos catastrófica” e “não está mais entrando em buracos de onde não consegue sair”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os pais que procuram terapia para adolescentes que se automutilam ou têm ansiedade, depressão ou pensamentos suicidas enfrentam um imponente emaranhado de opções de tratamento e siglas: terapia cognitivo-comportamental (TCC), treinamento de gerenciamento de pais (PMT), avaliação colaborativa e gerenciamento de suicídio (CAMS), terapia de aceitação e compromisso (ACT) e outros.

Cada abordagem pode beneficiar um subconjunto específico de pessoas. Mas para adolescentes em risco agudo de automutilação e suicídio, especialistas em saúde e pesquisadores apontam cada vez mais a terapia comportamental dialética, ou DBT (sigla em inglês para dialectical behavior therapy), como um tratamento eficaz.

“No momento, é provavelmente a melhor ferramenta que temos”, disse Michele Berk, psiquiatra infantil e de adolescentes da Universidade de Stanford.

Em um estudo de 2018 no Journal of the American Medical Association, Berk e seus colegas descobriram que a DBT levou a quedas mais acentuadas nas tentativas de suicídio e automutilação entre adolescentes do que uma terapia mais generalizada. Um estudo de 2014 realizado por pesquisadores na Noruega encontrou um efeito semelhante, observando que a terapia também tem uma taxa de evasão relativamente baixa e concluiu que “é realmente possível que os adolescentes sejam engajados, retidos e tratados” usando a DBT. A terapia também é identificada como um tratamento chave baseado em evidências pela Academia Americana de Pediatria. No entanto, disse Berk, a DBT “não está disponível o suficiente”.

Como funciona a DBT

A terapia comportamental dialética é um subconjunto da terapia comportamental cognitiva, que visa reformular os pensamentos e o comportamento de uma pessoa. A DBT concentra-se inicialmente no comportamento e na emoção bruta, ajudando o indivíduo a superar os momentos de crise e a entender o que motivou o comportamento em primeiro lugar.

A DBT é intensiva. A versão mais completa do programa, que pode levar de seis meses a um ano para ser concluída, tem quatro componentes: terapia individual para o adolescente; terapia de grupo; treinamento para adolescentes e seus pais para ensinar regulação emocional; e acesso por telefone a um terapeuta para ajudar durante uma crise.

O passo inicial é ensinar o paciente a reconhecer os sentimentos no corpo quando surgem impulsos perigosos, como “um nó na garganta, pulso acelerado, ombros tensos”, disse Jill Rathus, psicóloga que atua em Long Island, Nova York. Na década de 1990, Rathus fez parte de uma equipe que adaptou a versão adulta da DBT para adolescentes e suas famílias.

Os pacientes então aprendem a colocar esses sentimentos em palavras. É vital, disse Rathus, “colocar palavras” em uma experiência física e emocional; isso envolve partes do cérebro, como o córtex pré-frontal, que ajudam a regular as emoções. Nos jovens, essas regiões do cérebro não estão totalmente desenvolvidas e podem facilmente ficar sobrecarregadas.

O próximo passo é aprender a diminuir o estado de excitação com técnicas específicas, muitas vezes simples: jogar água fria no rosto, fazer exercícios breves, mas intensos, colocar uma bolsa de gelo nos olhos - para “alterar a química do corpo”, na linguagem da DBT.

"Não há medicação para comportamento suicida", disse Michele Berk, psicóloga da Universidade de Stanford. “O paciente precisa aprender outras habilidades comportamentais que a medicação não ensina.” Foto: Anastasiia Sapon/The New York Times

Não sem um custo

Terapeutas treinados em terapia comportamental dialética podem ser caros e difíceis de encontrar, e muitas vezes estão com a agenda cheia.

Os preços variam de acordo com o estado e o provedor, mas os médicos disseram que não é incomum que uma única hora de aconselhamento individual custe de US$ 150 a US$ 200 ou mais, com a terapia em grupo custando cerca de metade desse valor. Ao longo de seis meses, o tratamento pode custar até US$ 10.000 para alguém pagando do próprio bolso. Mas a despesa do próprio bolso também pode variar muito dependendo do tipo de plano de saúde usado e se o tratamento é ou não coberto pelo Medicaid, o plano de saúde público dos Estados Unidos.

Apenas dois estados - Minnesota e Missouri - fornecem amplo apoio à DBT, de acordo com Anthony DuBose, chefe de treinamento da Behavioral Tech, uma organização que treina terapeutas de DBT. Ele citou outra razão para a relativa escassez de aconselhamento DBT: alguns terapeutas temem que a terapia seja muito intensiva e possa ultrapassar seu tempo disponível. “Precisamos convencer os profissionais de saúde mental de que eles podem fazer isso”, ele disse.

Várias versões

Existem versões reduzidas da DBT e elas também podem funcionar para adolescentes que sofrem de automutilação e tendências suicidas, disseram especialistas. Mas, esses especialistas alertaram, muitas dessas variações emergentes não foram estudadas com o mesmo rigor que o tratamento mais completo.

Adolescentes que tiveram algum treinamento de DBT ou TCC parecem mais bem preparados para lidar com angústia e sentimentos suicidas, de acordo com a Dra. Stephanie Kennebeck, médica pediátrica de emergência do Hospital Infantil de Cincinnati, que pesquisou abordagens terapêuticas para impulsos suicidas.

Jill Rathus, psicóloga em Great Neck, NY “O erro que os pais cometem, mesmo pais bem-intencionados e amorosos, é minimizar os sentimentos”, disse ela. Foto: Gabby Jones/The New York Times

Kennebeck disse que testemunhou o valor do treinamento em primeira mão nos casos em que os adolescentes chegaram ao pronto-socorro tomados por suas emoções intensas. Adolescentes que não fizeram terapia e não tiveram orientação para utilizar esse recurso muitas vezes precisavam ser mantidos na sala de emergência por mais tempo, até que pudessem ser colocados em um programa de tratamento, disse Kennebeck. Ela acrescentou que se sentia mais confortável em mandar uma criança para casa se ela tivesse alguma noção de como lidar com situações emocionais difíceis.

“Os pacientes que já fizeram alguma TCC ou DBT têm a capacidade de nomear sua emoção e me dizer como ela pode se traduzir no que eles farão a seguir”, disse Kennebeck. “Isso é inestimável.”

Existem muitos modelos terapêuticos que ajudam a abordar diferentes questões emocionais, incluindo ansiedade, depressão e trauma. Quando o risco comportamental agudo, como automutilação e suicídio, é uma preocupação, a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio recomenda várias opções além da DBT, incluindo avaliação colaborativa e gerenciamento de suicídio (CAMS), que demonstrou em estudos ser eficaz na redução de pensamentos suicidas e terapia cognitivo-comportamental para prevenção do suicídio (TCC-PS), que tem se mostrado eficaz em estudos na prevenção de novas tentativas de suicídio em adultos com pelo menos uma tentativa anterior.

Terapia para os pais também

Na DBT, o adolescente não é o único a aprender. Os pais são orientados para validar os sentimentos de seus filhos adolescentes, por mais irracionais que esses sentimentos possam parecer.

“O erro que os pais cometem, mesmo pais bem-intencionados e amorosos, é minimizar os sentimentos”, disse Rathus. Dizer a um adolescente que está perturbado para “simplesmente dar um passeio, ou se concentrar nos trabalhos escolares, é como dizer a ele para escalar o Everest”.

Ela disse que o adolescente não consegue ouvir as palavras e rapidamente “aprende a não confiar” em sentimentos ou emoções fortes. Os pais têm aulas em grupo nas quais são orientados a entender o que os adolescentes estão passando e aprendem maneiras específicas de lidar com aquele sofrimento.

Valerie, uma executiva do Vale do Silício, descreveu a experiência de sua família com a DBT. (Ela pediu que seu sobrenome não fosse usado para proteger sua privacidade.) No meio de 2021, a filha de 12 anos de Valerie ficou cada vez mais perturbada; outrora uma estudante séria, ela começou a ter problemas na escola, teve colapsos aparentemente incontroláveis e ficou obcecada com sua aparência e peso.

A menina começou a DBT, e Valerie seguiu as instruções para os pais, que lhe ensinaram maneiras mais eficazes de lidar com a filha, ela disse - por exemplo, primeiro validando os sentimentos dolorosos da menina em vez de propor imediatamente uma solução.

Se a filha tem medo de lidar com uma matéria ou professor difícil na escola, Valerie tenta reformular o medo: “Vou dizer: ‘OK, você vai ter essa experiência ruim. Então, antes, durma bem, coma coisas gostosas, marque um encontro com um amigo depois, leve um ursinho felpudo para a aula.’”

Valerie acrescentou: “É como encher seu tanque de gasolina antes de fazer uma longa viagem”. Ela disse que começou a adotar os conceitos em sua própria vida enquanto examinava “pensamentos de preocupação”, como: “Vou ficar sozinha depois de vender meu negócio?”

Ela disse que sua filha estava melhorando. “Isso a ajudou a parar de se sentir desesperada ou presa nas coisas”, disse Valerie. “Ela está menos catastrófica” e “não está mais entrando em buracos de onde não consegue sair”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os pais que procuram terapia para adolescentes que se automutilam ou têm ansiedade, depressão ou pensamentos suicidas enfrentam um imponente emaranhado de opções de tratamento e siglas: terapia cognitivo-comportamental (TCC), treinamento de gerenciamento de pais (PMT), avaliação colaborativa e gerenciamento de suicídio (CAMS), terapia de aceitação e compromisso (ACT) e outros.

Cada abordagem pode beneficiar um subconjunto específico de pessoas. Mas para adolescentes em risco agudo de automutilação e suicídio, especialistas em saúde e pesquisadores apontam cada vez mais a terapia comportamental dialética, ou DBT (sigla em inglês para dialectical behavior therapy), como um tratamento eficaz.

“No momento, é provavelmente a melhor ferramenta que temos”, disse Michele Berk, psiquiatra infantil e de adolescentes da Universidade de Stanford.

Em um estudo de 2018 no Journal of the American Medical Association, Berk e seus colegas descobriram que a DBT levou a quedas mais acentuadas nas tentativas de suicídio e automutilação entre adolescentes do que uma terapia mais generalizada. Um estudo de 2014 realizado por pesquisadores na Noruega encontrou um efeito semelhante, observando que a terapia também tem uma taxa de evasão relativamente baixa e concluiu que “é realmente possível que os adolescentes sejam engajados, retidos e tratados” usando a DBT. A terapia também é identificada como um tratamento chave baseado em evidências pela Academia Americana de Pediatria. No entanto, disse Berk, a DBT “não está disponível o suficiente”.

Como funciona a DBT

A terapia comportamental dialética é um subconjunto da terapia comportamental cognitiva, que visa reformular os pensamentos e o comportamento de uma pessoa. A DBT concentra-se inicialmente no comportamento e na emoção bruta, ajudando o indivíduo a superar os momentos de crise e a entender o que motivou o comportamento em primeiro lugar.

A DBT é intensiva. A versão mais completa do programa, que pode levar de seis meses a um ano para ser concluída, tem quatro componentes: terapia individual para o adolescente; terapia de grupo; treinamento para adolescentes e seus pais para ensinar regulação emocional; e acesso por telefone a um terapeuta para ajudar durante uma crise.

O passo inicial é ensinar o paciente a reconhecer os sentimentos no corpo quando surgem impulsos perigosos, como “um nó na garganta, pulso acelerado, ombros tensos”, disse Jill Rathus, psicóloga que atua em Long Island, Nova York. Na década de 1990, Rathus fez parte de uma equipe que adaptou a versão adulta da DBT para adolescentes e suas famílias.

Os pacientes então aprendem a colocar esses sentimentos em palavras. É vital, disse Rathus, “colocar palavras” em uma experiência física e emocional; isso envolve partes do cérebro, como o córtex pré-frontal, que ajudam a regular as emoções. Nos jovens, essas regiões do cérebro não estão totalmente desenvolvidas e podem facilmente ficar sobrecarregadas.

O próximo passo é aprender a diminuir o estado de excitação com técnicas específicas, muitas vezes simples: jogar água fria no rosto, fazer exercícios breves, mas intensos, colocar uma bolsa de gelo nos olhos - para “alterar a química do corpo”, na linguagem da DBT.

"Não há medicação para comportamento suicida", disse Michele Berk, psicóloga da Universidade de Stanford. “O paciente precisa aprender outras habilidades comportamentais que a medicação não ensina.” Foto: Anastasiia Sapon/The New York Times

Não sem um custo

Terapeutas treinados em terapia comportamental dialética podem ser caros e difíceis de encontrar, e muitas vezes estão com a agenda cheia.

Os preços variam de acordo com o estado e o provedor, mas os médicos disseram que não é incomum que uma única hora de aconselhamento individual custe de US$ 150 a US$ 200 ou mais, com a terapia em grupo custando cerca de metade desse valor. Ao longo de seis meses, o tratamento pode custar até US$ 10.000 para alguém pagando do próprio bolso. Mas a despesa do próprio bolso também pode variar muito dependendo do tipo de plano de saúde usado e se o tratamento é ou não coberto pelo Medicaid, o plano de saúde público dos Estados Unidos.

Apenas dois estados - Minnesota e Missouri - fornecem amplo apoio à DBT, de acordo com Anthony DuBose, chefe de treinamento da Behavioral Tech, uma organização que treina terapeutas de DBT. Ele citou outra razão para a relativa escassez de aconselhamento DBT: alguns terapeutas temem que a terapia seja muito intensiva e possa ultrapassar seu tempo disponível. “Precisamos convencer os profissionais de saúde mental de que eles podem fazer isso”, ele disse.

Várias versões

Existem versões reduzidas da DBT e elas também podem funcionar para adolescentes que sofrem de automutilação e tendências suicidas, disseram especialistas. Mas, esses especialistas alertaram, muitas dessas variações emergentes não foram estudadas com o mesmo rigor que o tratamento mais completo.

Adolescentes que tiveram algum treinamento de DBT ou TCC parecem mais bem preparados para lidar com angústia e sentimentos suicidas, de acordo com a Dra. Stephanie Kennebeck, médica pediátrica de emergência do Hospital Infantil de Cincinnati, que pesquisou abordagens terapêuticas para impulsos suicidas.

Jill Rathus, psicóloga em Great Neck, NY “O erro que os pais cometem, mesmo pais bem-intencionados e amorosos, é minimizar os sentimentos”, disse ela. Foto: Gabby Jones/The New York Times

Kennebeck disse que testemunhou o valor do treinamento em primeira mão nos casos em que os adolescentes chegaram ao pronto-socorro tomados por suas emoções intensas. Adolescentes que não fizeram terapia e não tiveram orientação para utilizar esse recurso muitas vezes precisavam ser mantidos na sala de emergência por mais tempo, até que pudessem ser colocados em um programa de tratamento, disse Kennebeck. Ela acrescentou que se sentia mais confortável em mandar uma criança para casa se ela tivesse alguma noção de como lidar com situações emocionais difíceis.

“Os pacientes que já fizeram alguma TCC ou DBT têm a capacidade de nomear sua emoção e me dizer como ela pode se traduzir no que eles farão a seguir”, disse Kennebeck. “Isso é inestimável.”

Existem muitos modelos terapêuticos que ajudam a abordar diferentes questões emocionais, incluindo ansiedade, depressão e trauma. Quando o risco comportamental agudo, como automutilação e suicídio, é uma preocupação, a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio recomenda várias opções além da DBT, incluindo avaliação colaborativa e gerenciamento de suicídio (CAMS), que demonstrou em estudos ser eficaz na redução de pensamentos suicidas e terapia cognitivo-comportamental para prevenção do suicídio (TCC-PS), que tem se mostrado eficaz em estudos na prevenção de novas tentativas de suicídio em adultos com pelo menos uma tentativa anterior.

Terapia para os pais também

Na DBT, o adolescente não é o único a aprender. Os pais são orientados para validar os sentimentos de seus filhos adolescentes, por mais irracionais que esses sentimentos possam parecer.

“O erro que os pais cometem, mesmo pais bem-intencionados e amorosos, é minimizar os sentimentos”, disse Rathus. Dizer a um adolescente que está perturbado para “simplesmente dar um passeio, ou se concentrar nos trabalhos escolares, é como dizer a ele para escalar o Everest”.

Ela disse que o adolescente não consegue ouvir as palavras e rapidamente “aprende a não confiar” em sentimentos ou emoções fortes. Os pais têm aulas em grupo nas quais são orientados a entender o que os adolescentes estão passando e aprendem maneiras específicas de lidar com aquele sofrimento.

Valerie, uma executiva do Vale do Silício, descreveu a experiência de sua família com a DBT. (Ela pediu que seu sobrenome não fosse usado para proteger sua privacidade.) No meio de 2021, a filha de 12 anos de Valerie ficou cada vez mais perturbada; outrora uma estudante séria, ela começou a ter problemas na escola, teve colapsos aparentemente incontroláveis e ficou obcecada com sua aparência e peso.

A menina começou a DBT, e Valerie seguiu as instruções para os pais, que lhe ensinaram maneiras mais eficazes de lidar com a filha, ela disse - por exemplo, primeiro validando os sentimentos dolorosos da menina em vez de propor imediatamente uma solução.

Se a filha tem medo de lidar com uma matéria ou professor difícil na escola, Valerie tenta reformular o medo: “Vou dizer: ‘OK, você vai ter essa experiência ruim. Então, antes, durma bem, coma coisas gostosas, marque um encontro com um amigo depois, leve um ursinho felpudo para a aula.’”

Valerie acrescentou: “É como encher seu tanque de gasolina antes de fazer uma longa viagem”. Ela disse que começou a adotar os conceitos em sua própria vida enquanto examinava “pensamentos de preocupação”, como: “Vou ficar sozinha depois de vender meu negócio?”

Ela disse que sua filha estava melhorando. “Isso a ajudou a parar de se sentir desesperada ou presa nas coisas”, disse Valerie. “Ela está menos catastrófica” e “não está mais entrando em buracos de onde não consegue sair”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Os pais que procuram terapia para adolescentes que se automutilam ou têm ansiedade, depressão ou pensamentos suicidas enfrentam um imponente emaranhado de opções de tratamento e siglas: terapia cognitivo-comportamental (TCC), treinamento de gerenciamento de pais (PMT), avaliação colaborativa e gerenciamento de suicídio (CAMS), terapia de aceitação e compromisso (ACT) e outros.

Cada abordagem pode beneficiar um subconjunto específico de pessoas. Mas para adolescentes em risco agudo de automutilação e suicídio, especialistas em saúde e pesquisadores apontam cada vez mais a terapia comportamental dialética, ou DBT (sigla em inglês para dialectical behavior therapy), como um tratamento eficaz.

“No momento, é provavelmente a melhor ferramenta que temos”, disse Michele Berk, psiquiatra infantil e de adolescentes da Universidade de Stanford.

Em um estudo de 2018 no Journal of the American Medical Association, Berk e seus colegas descobriram que a DBT levou a quedas mais acentuadas nas tentativas de suicídio e automutilação entre adolescentes do que uma terapia mais generalizada. Um estudo de 2014 realizado por pesquisadores na Noruega encontrou um efeito semelhante, observando que a terapia também tem uma taxa de evasão relativamente baixa e concluiu que “é realmente possível que os adolescentes sejam engajados, retidos e tratados” usando a DBT. A terapia também é identificada como um tratamento chave baseado em evidências pela Academia Americana de Pediatria. No entanto, disse Berk, a DBT “não está disponível o suficiente”.

Como funciona a DBT

A terapia comportamental dialética é um subconjunto da terapia comportamental cognitiva, que visa reformular os pensamentos e o comportamento de uma pessoa. A DBT concentra-se inicialmente no comportamento e na emoção bruta, ajudando o indivíduo a superar os momentos de crise e a entender o que motivou o comportamento em primeiro lugar.

A DBT é intensiva. A versão mais completa do programa, que pode levar de seis meses a um ano para ser concluída, tem quatro componentes: terapia individual para o adolescente; terapia de grupo; treinamento para adolescentes e seus pais para ensinar regulação emocional; e acesso por telefone a um terapeuta para ajudar durante uma crise.

O passo inicial é ensinar o paciente a reconhecer os sentimentos no corpo quando surgem impulsos perigosos, como “um nó na garganta, pulso acelerado, ombros tensos”, disse Jill Rathus, psicóloga que atua em Long Island, Nova York. Na década de 1990, Rathus fez parte de uma equipe que adaptou a versão adulta da DBT para adolescentes e suas famílias.

Os pacientes então aprendem a colocar esses sentimentos em palavras. É vital, disse Rathus, “colocar palavras” em uma experiência física e emocional; isso envolve partes do cérebro, como o córtex pré-frontal, que ajudam a regular as emoções. Nos jovens, essas regiões do cérebro não estão totalmente desenvolvidas e podem facilmente ficar sobrecarregadas.

O próximo passo é aprender a diminuir o estado de excitação com técnicas específicas, muitas vezes simples: jogar água fria no rosto, fazer exercícios breves, mas intensos, colocar uma bolsa de gelo nos olhos - para “alterar a química do corpo”, na linguagem da DBT.

"Não há medicação para comportamento suicida", disse Michele Berk, psicóloga da Universidade de Stanford. “O paciente precisa aprender outras habilidades comportamentais que a medicação não ensina.” Foto: Anastasiia Sapon/The New York Times

Não sem um custo

Terapeutas treinados em terapia comportamental dialética podem ser caros e difíceis de encontrar, e muitas vezes estão com a agenda cheia.

Os preços variam de acordo com o estado e o provedor, mas os médicos disseram que não é incomum que uma única hora de aconselhamento individual custe de US$ 150 a US$ 200 ou mais, com a terapia em grupo custando cerca de metade desse valor. Ao longo de seis meses, o tratamento pode custar até US$ 10.000 para alguém pagando do próprio bolso. Mas a despesa do próprio bolso também pode variar muito dependendo do tipo de plano de saúde usado e se o tratamento é ou não coberto pelo Medicaid, o plano de saúde público dos Estados Unidos.

Apenas dois estados - Minnesota e Missouri - fornecem amplo apoio à DBT, de acordo com Anthony DuBose, chefe de treinamento da Behavioral Tech, uma organização que treina terapeutas de DBT. Ele citou outra razão para a relativa escassez de aconselhamento DBT: alguns terapeutas temem que a terapia seja muito intensiva e possa ultrapassar seu tempo disponível. “Precisamos convencer os profissionais de saúde mental de que eles podem fazer isso”, ele disse.

Várias versões

Existem versões reduzidas da DBT e elas também podem funcionar para adolescentes que sofrem de automutilação e tendências suicidas, disseram especialistas. Mas, esses especialistas alertaram, muitas dessas variações emergentes não foram estudadas com o mesmo rigor que o tratamento mais completo.

Adolescentes que tiveram algum treinamento de DBT ou TCC parecem mais bem preparados para lidar com angústia e sentimentos suicidas, de acordo com a Dra. Stephanie Kennebeck, médica pediátrica de emergência do Hospital Infantil de Cincinnati, que pesquisou abordagens terapêuticas para impulsos suicidas.

Jill Rathus, psicóloga em Great Neck, NY “O erro que os pais cometem, mesmo pais bem-intencionados e amorosos, é minimizar os sentimentos”, disse ela. Foto: Gabby Jones/The New York Times

Kennebeck disse que testemunhou o valor do treinamento em primeira mão nos casos em que os adolescentes chegaram ao pronto-socorro tomados por suas emoções intensas. Adolescentes que não fizeram terapia e não tiveram orientação para utilizar esse recurso muitas vezes precisavam ser mantidos na sala de emergência por mais tempo, até que pudessem ser colocados em um programa de tratamento, disse Kennebeck. Ela acrescentou que se sentia mais confortável em mandar uma criança para casa se ela tivesse alguma noção de como lidar com situações emocionais difíceis.

“Os pacientes que já fizeram alguma TCC ou DBT têm a capacidade de nomear sua emoção e me dizer como ela pode se traduzir no que eles farão a seguir”, disse Kennebeck. “Isso é inestimável.”

Existem muitos modelos terapêuticos que ajudam a abordar diferentes questões emocionais, incluindo ansiedade, depressão e trauma. Quando o risco comportamental agudo, como automutilação e suicídio, é uma preocupação, a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio recomenda várias opções além da DBT, incluindo avaliação colaborativa e gerenciamento de suicídio (CAMS), que demonstrou em estudos ser eficaz na redução de pensamentos suicidas e terapia cognitivo-comportamental para prevenção do suicídio (TCC-PS), que tem se mostrado eficaz em estudos na prevenção de novas tentativas de suicídio em adultos com pelo menos uma tentativa anterior.

Terapia para os pais também

Na DBT, o adolescente não é o único a aprender. Os pais são orientados para validar os sentimentos de seus filhos adolescentes, por mais irracionais que esses sentimentos possam parecer.

“O erro que os pais cometem, mesmo pais bem-intencionados e amorosos, é minimizar os sentimentos”, disse Rathus. Dizer a um adolescente que está perturbado para “simplesmente dar um passeio, ou se concentrar nos trabalhos escolares, é como dizer a ele para escalar o Everest”.

Ela disse que o adolescente não consegue ouvir as palavras e rapidamente “aprende a não confiar” em sentimentos ou emoções fortes. Os pais têm aulas em grupo nas quais são orientados a entender o que os adolescentes estão passando e aprendem maneiras específicas de lidar com aquele sofrimento.

Valerie, uma executiva do Vale do Silício, descreveu a experiência de sua família com a DBT. (Ela pediu que seu sobrenome não fosse usado para proteger sua privacidade.) No meio de 2021, a filha de 12 anos de Valerie ficou cada vez mais perturbada; outrora uma estudante séria, ela começou a ter problemas na escola, teve colapsos aparentemente incontroláveis e ficou obcecada com sua aparência e peso.

A menina começou a DBT, e Valerie seguiu as instruções para os pais, que lhe ensinaram maneiras mais eficazes de lidar com a filha, ela disse - por exemplo, primeiro validando os sentimentos dolorosos da menina em vez de propor imediatamente uma solução.

Se a filha tem medo de lidar com uma matéria ou professor difícil na escola, Valerie tenta reformular o medo: “Vou dizer: ‘OK, você vai ter essa experiência ruim. Então, antes, durma bem, coma coisas gostosas, marque um encontro com um amigo depois, leve um ursinho felpudo para a aula.’”

Valerie acrescentou: “É como encher seu tanque de gasolina antes de fazer uma longa viagem”. Ela disse que começou a adotar os conceitos em sua própria vida enquanto examinava “pensamentos de preocupação”, como: “Vou ficar sozinha depois de vender meu negócio?”

Ela disse que sua filha estava melhorando. “Isso a ajudou a parar de se sentir desesperada ou presa nas coisas”, disse Valerie. “Ela está menos catastrófica” e “não está mais entrando em buracos de onde não consegue sair”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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