Uma exposição sobre o câncer mostra a esperança no futuro com relação à doença


Mostra é um dos primeiros grandes esforços institucionais para contar a história completa da doença e de seu tratamento

Por Alex Marshall

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Com tanta gente afetada pelo câncer - apenas nos Estados Unidos, cerca de 40 por cento receberão um diagnóstico dessa doença durante a vida -, seria compreensível que ele fosse um assunto comum de exposições em museus.

Apesar das estatísticas, as principais exposições sobre o assunto são poucas. Mas, no Museu da Ciência, em Londres, Cancer Revolution: Science, Innovation and Hope (Revolução do câncer: ciência, inovação e esperança), que vai até janeiro, é um dos primeiros grandes esforços institucionais para contar a história completa da doença e de seu tratamento.

Na Inglaterra, uma exposição mostra a história do câncer na ciência mirando num futuro com mais esperança. Foto: Tom Jamieson/The New York Times
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A exposição inclui objetos ligados às primeiras cirurgias - que eram efetuadas sem anestesia - e mostra como a inteligência artificial e a realidade virtual estão agora ajudando os médicos a detectar e tratar o mal.

Katie Dabin, curadora de medicina do Museu de Ciências, disse que uma exposição sobre o câncer poderia facilmente ter sido fria e clínica - “É difícil que seja uma atração para um dia em família”, reconheceu. Para evitar isso, tentou incluir objetos que despertassem o interesse pelo tema, bem como fazer com que os visitantes se sintam confortáveis em discutir seus medos e esperanças em relação à doença.

Dabin conhece muito bem esses medos - sua mãe foi diagnosticada com câncer de mama quando a exposição estava sendo montada. Com a mãe se recuperando - “Bate na madeira, ela está se curando”, comentou ela -, foi possível experimentar a esperança crescente que o progresso da ciência médica é capaz de oferecer.

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Em uma conversa de uma hora, Dabin falou sobre algumas das exposições da série, que apresentam curiosidades como um tumor encontrado em uma árvore e máquinas envolvidas em tecnologia de ponta, como a edição de genes. Aqui estão trechos da conversa, editados para conteúdo e clareza.

Um osso de dinossauro com câncer e um tumor na árvore

Existe a percepção de que o câncer é uma doença moderna e quase exclusivamente humana, e isso leva muita gente a se culpar quando é diagnosticada: “Que foi que fiz?” Mas o câncer afeta toda a vida multicelular. É uma doença de células e, infelizmente, quando as células se dividem, às vezes algo dá errado.

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Há uma tíbia de um Centrosaurus apertus, dinossauro herbívoro que viveu cerca de 76 milhões de anos atrás em Alberta, no Canadá. Os pesquisadores da Universidade McMaster e do Museu Real de Ontário submeteram o osso a quase o mesmo processo pelo qual passa um osso humano para receber um diagnóstico de câncer hoje - até mesmo tomografias computadorizadas -, para provar que os dinossauros também eram afetados pelo mal.

As plantas também podem ter câncer, como o tumor de árvores conhecido como galha da coroa. Como as plantas têm paredes celulares mais rígidas, as células cancerígenas não se espalham da mesma forma que em humanos e animais.

Molde da mandíbula de Robert Penman do século XIX

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Os médicos sempre souberam da existência do câncer - o nome deriva da antiga palavra grega para caranguejo -, mas, nos tempos antigos, sabiam que não havia muito que fazer para ajudar. A doença sempre voltava. Mas as coisas foram melhorando com nossa compreensão de anatomia e mais técnicas médicas.

Temos um molde do rosto de Robert Penman, que tinha 16 anos quando começou a notar que sua mandíbula continuava crescendo. Em 1828, quando Penman tinha 24 anos, um cirurgião escocês chamado James Syme fez uma cirurgia notável para remover o tumor, anos antes que a anestesia fosse amplamente usada, e Penman deve ter sentido uma dor excruciante, mas ficou sentado em uma cadeira durante toda a operação, que durou 24 minutos. Recuperou-se completamente.

Um molde da cabeça de Robert Penman; em 1828, antes que o anestésico fosse amplamente utilizado, um cirurgião escocês realizou uma operação de 24 minutos para remover o tumor.  Foto: Lauren Fleishman/The New York Times
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Impressão de tumores em 3D

O molde da mandíbula de Penman provavelmente foi feito para documentar o caso, mas a impressão 3D é usada hoje para ajudar a planejar cirurgias complexas, como a de um tumor no abdômen de uma menina de seis anos chamada Leah Bennett. Este estava envolvendo sua coluna e seus principais vasos sanguíneos, e várias equipes cirúrgicas achavam que a remoção seria muito arriscada. Mas cirurgiões do Hospital Alder Hey, perto de Liverpool, trabalharam com uma empresa de digitalização 3D para produzir um modelo e planejar a cirurgia. Removeram cerca de 90 por cento do tumor e Leah acabou voltando para a escola.

Radioterapia na década de 1950

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A cirurgia ainda é a principal maneira de remover tumores, mas, depois que o raio X foi descoberto em 1895, a radioterapia logo começou a ser usada também. Depois que os cientistas perceberam que o raio X danificava a pele saudável, os médicos pensaram: “Se pode danificar células saudáveis, pode danificar células cancerosas também.” O problema com o raio X era que ele não penetrava profundamente no corpo, de modo que o rádio era frequentemente usado.

Tecnologia atual: o modelo de um dispositivo de acelerador linear (Linac)

A forma mais comum de radioterapia hoje em dia é o uso do acelerador linear de partículas. Os cientistas o desenvolveram na década de 1950 e é essencialmente uma máquina de raio X peso-pesado. Temos uma versão de brinquedo que os médicos dão às crianças para que elas entendam o processo e o achem menos assustador.

Máscara de gás da Primeira Guerra Mundial

A outra forma importante de tratamento do câncer é a quimioterapia, que tem uma origem surpreendente. Na Primeira Guerra Mundial, quando o gás mostarda foi usado como arma química, os médicos observaram que os soldados que haviam sido afetados exibiam uma contagem muito baixa de glóbulos brancos. Então, começaram a testá-lo e pensaram: “Bom, se está matando glóbulos brancos, talvez possa ajudar nos cânceres do sangue, em que os glóbulos brancos se dividem rapidamente.”

Dois pesquisadores nos Estados Unidos, Louis Goodman e Alfred Gilman, testaram seu uso como terapia para linfomas avançados, e isso abriu o campo para a pesquisa de outros produtos químicos.

Peruca inspiradora

Quando o paciente passa por tratamento, obviamente há muita preocupação com o que ele vai sentir, como sua identidade vai mudar, como sua família vai reagir. Mas muitas famílias realmente unem forças para colaborar no tratamento. Há uma peruca que pertence a Sarah Herd, outra paciente que ajudou nossa exposição, e sua filha a decorou para torná-la menos estranha e assustadora.

Citoesponja - avanço moderno

Há muitas áreas excitantes na pesquisa sobre o câncer. Uma das mais impactantes diz respeito à detecção precoce de tumores, já que isso pode ajudar a salvar vidas. Uma citoesponja foi desenvolvida para ajudar a detectar câncer de esôfago - normalmente de difícil detecção, porque muitas vezes se confunde com a azia. A citoesponja é uma pílula que você engole e que, quando se dissolve, se abre em uma pequena esponja que é então puxada pela garganta e coleta todas as células ao longo do esôfago. Estas podem então ser enviadas para análise com o uso de novos processos. O teste pode ser feito em um consultório médico para que o paciente não precise ir a um hospital para tomar anestesia e ter uma câmera enfiada na garganta.

Tratamento promissor: terapia celular

Outra área recente são as terapias celulares personalizadas. Uma máquina de aférese é usada para coletar os glóbulos brancos de um paciente, que são então enviados para um laboratório para ser geneticamente modificados, com a adição de um receptor que os ajuda a detectar e matar células cancerígenas.

Como não funciona para todos - destina-se a um grupo muito específico de pacientes e é cansativo -, eu não gostaria de dizer que é a solução. Também é um processo caro, muito difícil e demorado. Mas estamos tentando chegar a uma ideia que não seja o uso de drogas para matar células cancerígenas; é muito melhor equipar o próprio corpo para reconhecer e combater a doença.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Com tanta gente afetada pelo câncer - apenas nos Estados Unidos, cerca de 40 por cento receberão um diagnóstico dessa doença durante a vida -, seria compreensível que ele fosse um assunto comum de exposições em museus.

Apesar das estatísticas, as principais exposições sobre o assunto são poucas. Mas, no Museu da Ciência, em Londres, Cancer Revolution: Science, Innovation and Hope (Revolução do câncer: ciência, inovação e esperança), que vai até janeiro, é um dos primeiros grandes esforços institucionais para contar a história completa da doença e de seu tratamento.

Na Inglaterra, uma exposição mostra a história do câncer na ciência mirando num futuro com mais esperança. Foto: Tom Jamieson/The New York Times

A exposição inclui objetos ligados às primeiras cirurgias - que eram efetuadas sem anestesia - e mostra como a inteligência artificial e a realidade virtual estão agora ajudando os médicos a detectar e tratar o mal.

Katie Dabin, curadora de medicina do Museu de Ciências, disse que uma exposição sobre o câncer poderia facilmente ter sido fria e clínica - “É difícil que seja uma atração para um dia em família”, reconheceu. Para evitar isso, tentou incluir objetos que despertassem o interesse pelo tema, bem como fazer com que os visitantes se sintam confortáveis em discutir seus medos e esperanças em relação à doença.

Dabin conhece muito bem esses medos - sua mãe foi diagnosticada com câncer de mama quando a exposição estava sendo montada. Com a mãe se recuperando - “Bate na madeira, ela está se curando”, comentou ela -, foi possível experimentar a esperança crescente que o progresso da ciência médica é capaz de oferecer.

Em uma conversa de uma hora, Dabin falou sobre algumas das exposições da série, que apresentam curiosidades como um tumor encontrado em uma árvore e máquinas envolvidas em tecnologia de ponta, como a edição de genes. Aqui estão trechos da conversa, editados para conteúdo e clareza.

Um osso de dinossauro com câncer e um tumor na árvore

Existe a percepção de que o câncer é uma doença moderna e quase exclusivamente humana, e isso leva muita gente a se culpar quando é diagnosticada: “Que foi que fiz?” Mas o câncer afeta toda a vida multicelular. É uma doença de células e, infelizmente, quando as células se dividem, às vezes algo dá errado.

Há uma tíbia de um Centrosaurus apertus, dinossauro herbívoro que viveu cerca de 76 milhões de anos atrás em Alberta, no Canadá. Os pesquisadores da Universidade McMaster e do Museu Real de Ontário submeteram o osso a quase o mesmo processo pelo qual passa um osso humano para receber um diagnóstico de câncer hoje - até mesmo tomografias computadorizadas -, para provar que os dinossauros também eram afetados pelo mal.

As plantas também podem ter câncer, como o tumor de árvores conhecido como galha da coroa. Como as plantas têm paredes celulares mais rígidas, as células cancerígenas não se espalham da mesma forma que em humanos e animais.

Molde da mandíbula de Robert Penman do século XIX

Os médicos sempre souberam da existência do câncer - o nome deriva da antiga palavra grega para caranguejo -, mas, nos tempos antigos, sabiam que não havia muito que fazer para ajudar. A doença sempre voltava. Mas as coisas foram melhorando com nossa compreensão de anatomia e mais técnicas médicas.

Temos um molde do rosto de Robert Penman, que tinha 16 anos quando começou a notar que sua mandíbula continuava crescendo. Em 1828, quando Penman tinha 24 anos, um cirurgião escocês chamado James Syme fez uma cirurgia notável para remover o tumor, anos antes que a anestesia fosse amplamente usada, e Penman deve ter sentido uma dor excruciante, mas ficou sentado em uma cadeira durante toda a operação, que durou 24 minutos. Recuperou-se completamente.

Um molde da cabeça de Robert Penman; em 1828, antes que o anestésico fosse amplamente utilizado, um cirurgião escocês realizou uma operação de 24 minutos para remover o tumor.  Foto: Lauren Fleishman/The New York Times

Impressão de tumores em 3D

O molde da mandíbula de Penman provavelmente foi feito para documentar o caso, mas a impressão 3D é usada hoje para ajudar a planejar cirurgias complexas, como a de um tumor no abdômen de uma menina de seis anos chamada Leah Bennett. Este estava envolvendo sua coluna e seus principais vasos sanguíneos, e várias equipes cirúrgicas achavam que a remoção seria muito arriscada. Mas cirurgiões do Hospital Alder Hey, perto de Liverpool, trabalharam com uma empresa de digitalização 3D para produzir um modelo e planejar a cirurgia. Removeram cerca de 90 por cento do tumor e Leah acabou voltando para a escola.

Radioterapia na década de 1950

A cirurgia ainda é a principal maneira de remover tumores, mas, depois que o raio X foi descoberto em 1895, a radioterapia logo começou a ser usada também. Depois que os cientistas perceberam que o raio X danificava a pele saudável, os médicos pensaram: “Se pode danificar células saudáveis, pode danificar células cancerosas também.” O problema com o raio X era que ele não penetrava profundamente no corpo, de modo que o rádio era frequentemente usado.

Tecnologia atual: o modelo de um dispositivo de acelerador linear (Linac)

A forma mais comum de radioterapia hoje em dia é o uso do acelerador linear de partículas. Os cientistas o desenvolveram na década de 1950 e é essencialmente uma máquina de raio X peso-pesado. Temos uma versão de brinquedo que os médicos dão às crianças para que elas entendam o processo e o achem menos assustador.

Máscara de gás da Primeira Guerra Mundial

A outra forma importante de tratamento do câncer é a quimioterapia, que tem uma origem surpreendente. Na Primeira Guerra Mundial, quando o gás mostarda foi usado como arma química, os médicos observaram que os soldados que haviam sido afetados exibiam uma contagem muito baixa de glóbulos brancos. Então, começaram a testá-lo e pensaram: “Bom, se está matando glóbulos brancos, talvez possa ajudar nos cânceres do sangue, em que os glóbulos brancos se dividem rapidamente.”

Dois pesquisadores nos Estados Unidos, Louis Goodman e Alfred Gilman, testaram seu uso como terapia para linfomas avançados, e isso abriu o campo para a pesquisa de outros produtos químicos.

Peruca inspiradora

Quando o paciente passa por tratamento, obviamente há muita preocupação com o que ele vai sentir, como sua identidade vai mudar, como sua família vai reagir. Mas muitas famílias realmente unem forças para colaborar no tratamento. Há uma peruca que pertence a Sarah Herd, outra paciente que ajudou nossa exposição, e sua filha a decorou para torná-la menos estranha e assustadora.

Citoesponja - avanço moderno

Há muitas áreas excitantes na pesquisa sobre o câncer. Uma das mais impactantes diz respeito à detecção precoce de tumores, já que isso pode ajudar a salvar vidas. Uma citoesponja foi desenvolvida para ajudar a detectar câncer de esôfago - normalmente de difícil detecção, porque muitas vezes se confunde com a azia. A citoesponja é uma pílula que você engole e que, quando se dissolve, se abre em uma pequena esponja que é então puxada pela garganta e coleta todas as células ao longo do esôfago. Estas podem então ser enviadas para análise com o uso de novos processos. O teste pode ser feito em um consultório médico para que o paciente não precise ir a um hospital para tomar anestesia e ter uma câmera enfiada na garganta.

Tratamento promissor: terapia celular

Outra área recente são as terapias celulares personalizadas. Uma máquina de aférese é usada para coletar os glóbulos brancos de um paciente, que são então enviados para um laboratório para ser geneticamente modificados, com a adição de um receptor que os ajuda a detectar e matar células cancerígenas.

Como não funciona para todos - destina-se a um grupo muito específico de pacientes e é cansativo -, eu não gostaria de dizer que é a solução. Também é um processo caro, muito difícil e demorado. Mas estamos tentando chegar a uma ideia que não seja o uso de drogas para matar células cancerígenas; é muito melhor equipar o próprio corpo para reconhecer e combater a doença.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Com tanta gente afetada pelo câncer - apenas nos Estados Unidos, cerca de 40 por cento receberão um diagnóstico dessa doença durante a vida -, seria compreensível que ele fosse um assunto comum de exposições em museus.

Apesar das estatísticas, as principais exposições sobre o assunto são poucas. Mas, no Museu da Ciência, em Londres, Cancer Revolution: Science, Innovation and Hope (Revolução do câncer: ciência, inovação e esperança), que vai até janeiro, é um dos primeiros grandes esforços institucionais para contar a história completa da doença e de seu tratamento.

Na Inglaterra, uma exposição mostra a história do câncer na ciência mirando num futuro com mais esperança. Foto: Tom Jamieson/The New York Times

A exposição inclui objetos ligados às primeiras cirurgias - que eram efetuadas sem anestesia - e mostra como a inteligência artificial e a realidade virtual estão agora ajudando os médicos a detectar e tratar o mal.

Katie Dabin, curadora de medicina do Museu de Ciências, disse que uma exposição sobre o câncer poderia facilmente ter sido fria e clínica - “É difícil que seja uma atração para um dia em família”, reconheceu. Para evitar isso, tentou incluir objetos que despertassem o interesse pelo tema, bem como fazer com que os visitantes se sintam confortáveis em discutir seus medos e esperanças em relação à doença.

Dabin conhece muito bem esses medos - sua mãe foi diagnosticada com câncer de mama quando a exposição estava sendo montada. Com a mãe se recuperando - “Bate na madeira, ela está se curando”, comentou ela -, foi possível experimentar a esperança crescente que o progresso da ciência médica é capaz de oferecer.

Em uma conversa de uma hora, Dabin falou sobre algumas das exposições da série, que apresentam curiosidades como um tumor encontrado em uma árvore e máquinas envolvidas em tecnologia de ponta, como a edição de genes. Aqui estão trechos da conversa, editados para conteúdo e clareza.

Um osso de dinossauro com câncer e um tumor na árvore

Existe a percepção de que o câncer é uma doença moderna e quase exclusivamente humana, e isso leva muita gente a se culpar quando é diagnosticada: “Que foi que fiz?” Mas o câncer afeta toda a vida multicelular. É uma doença de células e, infelizmente, quando as células se dividem, às vezes algo dá errado.

Há uma tíbia de um Centrosaurus apertus, dinossauro herbívoro que viveu cerca de 76 milhões de anos atrás em Alberta, no Canadá. Os pesquisadores da Universidade McMaster e do Museu Real de Ontário submeteram o osso a quase o mesmo processo pelo qual passa um osso humano para receber um diagnóstico de câncer hoje - até mesmo tomografias computadorizadas -, para provar que os dinossauros também eram afetados pelo mal.

As plantas também podem ter câncer, como o tumor de árvores conhecido como galha da coroa. Como as plantas têm paredes celulares mais rígidas, as células cancerígenas não se espalham da mesma forma que em humanos e animais.

Molde da mandíbula de Robert Penman do século XIX

Os médicos sempre souberam da existência do câncer - o nome deriva da antiga palavra grega para caranguejo -, mas, nos tempos antigos, sabiam que não havia muito que fazer para ajudar. A doença sempre voltava. Mas as coisas foram melhorando com nossa compreensão de anatomia e mais técnicas médicas.

Temos um molde do rosto de Robert Penman, que tinha 16 anos quando começou a notar que sua mandíbula continuava crescendo. Em 1828, quando Penman tinha 24 anos, um cirurgião escocês chamado James Syme fez uma cirurgia notável para remover o tumor, anos antes que a anestesia fosse amplamente usada, e Penman deve ter sentido uma dor excruciante, mas ficou sentado em uma cadeira durante toda a operação, que durou 24 minutos. Recuperou-se completamente.

Um molde da cabeça de Robert Penman; em 1828, antes que o anestésico fosse amplamente utilizado, um cirurgião escocês realizou uma operação de 24 minutos para remover o tumor.  Foto: Lauren Fleishman/The New York Times

Impressão de tumores em 3D

O molde da mandíbula de Penman provavelmente foi feito para documentar o caso, mas a impressão 3D é usada hoje para ajudar a planejar cirurgias complexas, como a de um tumor no abdômen de uma menina de seis anos chamada Leah Bennett. Este estava envolvendo sua coluna e seus principais vasos sanguíneos, e várias equipes cirúrgicas achavam que a remoção seria muito arriscada. Mas cirurgiões do Hospital Alder Hey, perto de Liverpool, trabalharam com uma empresa de digitalização 3D para produzir um modelo e planejar a cirurgia. Removeram cerca de 90 por cento do tumor e Leah acabou voltando para a escola.

Radioterapia na década de 1950

A cirurgia ainda é a principal maneira de remover tumores, mas, depois que o raio X foi descoberto em 1895, a radioterapia logo começou a ser usada também. Depois que os cientistas perceberam que o raio X danificava a pele saudável, os médicos pensaram: “Se pode danificar células saudáveis, pode danificar células cancerosas também.” O problema com o raio X era que ele não penetrava profundamente no corpo, de modo que o rádio era frequentemente usado.

Tecnologia atual: o modelo de um dispositivo de acelerador linear (Linac)

A forma mais comum de radioterapia hoje em dia é o uso do acelerador linear de partículas. Os cientistas o desenvolveram na década de 1950 e é essencialmente uma máquina de raio X peso-pesado. Temos uma versão de brinquedo que os médicos dão às crianças para que elas entendam o processo e o achem menos assustador.

Máscara de gás da Primeira Guerra Mundial

A outra forma importante de tratamento do câncer é a quimioterapia, que tem uma origem surpreendente. Na Primeira Guerra Mundial, quando o gás mostarda foi usado como arma química, os médicos observaram que os soldados que haviam sido afetados exibiam uma contagem muito baixa de glóbulos brancos. Então, começaram a testá-lo e pensaram: “Bom, se está matando glóbulos brancos, talvez possa ajudar nos cânceres do sangue, em que os glóbulos brancos se dividem rapidamente.”

Dois pesquisadores nos Estados Unidos, Louis Goodman e Alfred Gilman, testaram seu uso como terapia para linfomas avançados, e isso abriu o campo para a pesquisa de outros produtos químicos.

Peruca inspiradora

Quando o paciente passa por tratamento, obviamente há muita preocupação com o que ele vai sentir, como sua identidade vai mudar, como sua família vai reagir. Mas muitas famílias realmente unem forças para colaborar no tratamento. Há uma peruca que pertence a Sarah Herd, outra paciente que ajudou nossa exposição, e sua filha a decorou para torná-la menos estranha e assustadora.

Citoesponja - avanço moderno

Há muitas áreas excitantes na pesquisa sobre o câncer. Uma das mais impactantes diz respeito à detecção precoce de tumores, já que isso pode ajudar a salvar vidas. Uma citoesponja foi desenvolvida para ajudar a detectar câncer de esôfago - normalmente de difícil detecção, porque muitas vezes se confunde com a azia. A citoesponja é uma pílula que você engole e que, quando se dissolve, se abre em uma pequena esponja que é então puxada pela garganta e coleta todas as células ao longo do esôfago. Estas podem então ser enviadas para análise com o uso de novos processos. O teste pode ser feito em um consultório médico para que o paciente não precise ir a um hospital para tomar anestesia e ter uma câmera enfiada na garganta.

Tratamento promissor: terapia celular

Outra área recente são as terapias celulares personalizadas. Uma máquina de aférese é usada para coletar os glóbulos brancos de um paciente, que são então enviados para um laboratório para ser geneticamente modificados, com a adição de um receptor que os ajuda a detectar e matar células cancerígenas.

Como não funciona para todos - destina-se a um grupo muito específico de pacientes e é cansativo -, eu não gostaria de dizer que é a solução. Também é um processo caro, muito difícil e demorado. Mas estamos tentando chegar a uma ideia que não seja o uso de drogas para matar células cancerígenas; é muito melhor equipar o próprio corpo para reconhecer e combater a doença.

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