Velhos ou reformados, fuscas são como parte da família nesta cidade


Em um bairro da Cidade do México, os ‘vochos’, como são chamados, são amados, respeitados e uma marca do local

Por Zolan Kanno-Youngs
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE – Enferrujados e sem o banco do passageiro, estacionados e enfileirados nas esquinas, Fuscas servem como táxis não oficiais no bairro Cuautepec, na capital do México. O símbolo curvilíneo da era hippie dos anos 1960 é admirado – e até mesmo decorado e batizado – pelos moradores, que sentem que o carro representa sua resiliência e sua ética de trabalho.

As curvas distintas do Fusca são tão familiares aos entusiastas quanto o rosto de um amigo querido. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Esses veículos podem ser vistos na Cidade do México inteira, mas são abundantes nas ruas movimentadas de Cuautepec, onde sobem colinas íngremes, passando por moradores que relaxam no telhado e por cães de guarda nas varandas.

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Uma das muitas oficinas mecânicas do bairro geralmente fica só a algumas quadras de distância. O cheiro da fumaça do escapamento enche as ruas enquanto Fuscas amarelos, verdes, vermelhos e roxos passam uns pelos outros nos cruzamentos.

“Não é um carro como outro qualquer”, afirmou Yolanda Ocampo, de 45 anos, enquanto admirava seu exemplar de 1982 estacionado em frente à farmácia onde trabalha. O pedal do freio pode ser duro, mas ser dono de um Fusca significa que “você tem um veículo resistente”. “Amamos demais os Vochos”, acrescentou.

Uma olhada através de uma janela, porta ou beco em Cuautepec muitas vezes revela um Fusca. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times
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Há teorias conflitantes para “Vocho”, o apelido carinhoso que foi dado ao carro no México. Alguns dizem que é derivado da palavra em espanhol para besouro, “bicho”, combinada às duas primeiras letras de Volkswagen. Outros dizem que é uma versão abreviada do nome da montadora.

Embora a fabricação do Fusca clássico alemão tenha sido oficialmente interrompida em 2003, ele é motivo de orgulho para o México faz muito tempo, sobretudo em Cuautepec. Originalmente projetado para Adolf Hitler na década de 1930, a Volkswagen vendeu centenas de milhares de Fuscas na década de 1960, quando o carro se tornou um emblema da contracultura antissistema.

Por fim, a Volkswagen interrompeu as importações para os Estados Unidos quando não conseguiu acompanhar os padrões de teste de colisão e de emissões de gases de escape. A empresa começou a transferir a produção para outros países. Em 1964, abriu uma fábrica em Puebla, no México, onde produziu o clássico até 2003, e continuou a construir os modelos mais modernos, os New Beetles, até 2019, quando a Volkswagen encerrou completamente o reinado do besouro.

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O Fusca uniu gerações de famílias neste bairro, muitas vezes transmitido de pai para filho. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Em Cuautepec, a maioria ainda são os modelos clássicos. “Os bons são os antigos”, disse Eduardo Jiménez León, cujo filho lhe deu de presente um Fusca que já fora usado como táxi.

Para moradores como Jiménez León, de 73 anos, a popularidade do Vocho é uma questão de praticidade: o motor fica na parte de trás e não na frente, o que facilita subir as colinas íngremes de Cuautepec. Os carros marcados com tinta verde e branca ainda são usados como táxis não oficiais no bairro. Muitos visitantes que vão de teleférico até o topo das colinas ao norte da cidade optam por descer em um Vocho, para ter uma experiência de transporte mais retrô.

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Uriel Mondragón, mecânico local, afirmou que 40 por cento de seus clientes têm um Fusca: “Dizem que ele se movimenta só com o cheiro da gasolina. Não é como um carro novo. Ele não fica sem gasolina.”

“Não é um carro padrão como qualquer outro”, disse Yolanda Ocampo. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Para outros, ser dono de um carro desses tem mais a ver com o que ele representa. Em Cuautepec, o modelo tem unido gerações de famílias e muitas vezes é passado de pai para filho. “Nosso amado Vocho se tornou parte do folclore mexicano por causa da personalidade única, da qualidade e da confiabilidade. É uma honra sermos da última fábrica em que esse modelo icônico foi montado”, declarou Álea M. Lozada, porta-voz da Volkswagen no México, em um comunicado.

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Cada Fusca no bairro tem nome e personalidade próprios; o dono escreve o apelido no topo do para-brisa ou na lateral. Em visita recente a Cuautepec, um Fusca se chamava Ashley. Já Miranda andava a alguns quarteirões de distância, e outro tinha “New York” pintado com spray na lateral.

Desenhos e decorações personalizados também são cobiçados na comunidade Vocho. Um taxista dirigia um com notas falsas de US$ 100 mil coladas em um lado; outro tinha um boneco do Scooby-Doo instalado no porta-malas; estrelas adornavam o para-brisa de um terceiro.

Um salão de automóveis na Cidade do México apresentando Fuscas. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times
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Ocampo disse que gosta mais de dirigir seu Fusca do que seu novo supercompacto Seat Ibiza. Para ela, ter um Vocho é uma maneira de resistir aos estereótipos de gênero que predominavam em sua casa quando era criança. Ela sempre ouvia os homens em Cuautepec questionando se as mulheres conseguiam dirigir o Fusca. “Eu me lembro de que perguntavam: ‘Como é possível uma mulher dirigir um Volkswagen com volante pesado?’ Mas agora, se você tem um, eles não ficam surpresos, né? A verdade é que tenho orgulho de dirigir um Fusca.”

Mas, como o modelo já não é produzido, pode ser difícil encontrar as peças certas na hora de consertá-lo. Por isso, os carros muitas vezes possuem peças incompatíveis. Um carro pode ter o capô verde, a porta do passageiro azul e um porta-malas amarelo – sinais de consertos anteriores e de um esforço para combiná-los com as casas vibrantes do bairro.

Um Fusca modificado para servir de motorhome em um salão de automóveis na Cidade do México. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Amor sem fronteiras

A “Fuscamania” não se limita ao bairro de “Vocholândia”. Berenzain Amaya, tatuador do Octattoo Studio em outra parte da Cidade do México, diz que já tatuou o carro em pelo menos dez fãs do modelo. “É difícil explicar. Se você é de outro país e vê esse carro alemão por aqui, acha um pouco esquisito, mas para mim o México é um lugar esquisito. Tem muita coisa aqui que você não costuma ver em outros países. Faz parte da nossa cultura.”

Os carros fazem parte da família de Mario Gambo, de 45 anos, há décadas. Com seu irmão, Alejandro, ele administra uma oficina mecânica na Cidade do México, a Grillos Racing, que atende principalmente proprietários de Fusca. Mas os irmãos também equipam os veículos com um motor mais potente e pintura nova e brilhante para provas de arrancada na cidade. É uma tradição familiar que começou com seus pais, que, na casa dos 60 anos, ainda participam das corridas.

As cores vibrantes das casas de Cuautepec muitas vezes se refletem nas cores dos besouros que patrulham as ruas de lá. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

A família possui 15 Fuscas, no total. O próprio Gamboa tem sete. Em uma tarde recente, os irmãos disseram que estavam se preparando para exibir seus melhores exemplares em um salão de automóveis.

Gamboa tem uma conexão com o Fusca desde a infância. “Todo mundo no México aprende a dirigir em um Volkswagen. Toda família tem um. Se você não tem, talvez seu tio, seu primo ou sua avó tenham.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE – Enferrujados e sem o banco do passageiro, estacionados e enfileirados nas esquinas, Fuscas servem como táxis não oficiais no bairro Cuautepec, na capital do México. O símbolo curvilíneo da era hippie dos anos 1960 é admirado – e até mesmo decorado e batizado – pelos moradores, que sentem que o carro representa sua resiliência e sua ética de trabalho.

As curvas distintas do Fusca são tão familiares aos entusiastas quanto o rosto de um amigo querido. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Esses veículos podem ser vistos na Cidade do México inteira, mas são abundantes nas ruas movimentadas de Cuautepec, onde sobem colinas íngremes, passando por moradores que relaxam no telhado e por cães de guarda nas varandas.

Uma das muitas oficinas mecânicas do bairro geralmente fica só a algumas quadras de distância. O cheiro da fumaça do escapamento enche as ruas enquanto Fuscas amarelos, verdes, vermelhos e roxos passam uns pelos outros nos cruzamentos.

“Não é um carro como outro qualquer”, afirmou Yolanda Ocampo, de 45 anos, enquanto admirava seu exemplar de 1982 estacionado em frente à farmácia onde trabalha. O pedal do freio pode ser duro, mas ser dono de um Fusca significa que “você tem um veículo resistente”. “Amamos demais os Vochos”, acrescentou.

Uma olhada através de uma janela, porta ou beco em Cuautepec muitas vezes revela um Fusca. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Há teorias conflitantes para “Vocho”, o apelido carinhoso que foi dado ao carro no México. Alguns dizem que é derivado da palavra em espanhol para besouro, “bicho”, combinada às duas primeiras letras de Volkswagen. Outros dizem que é uma versão abreviada do nome da montadora.

Embora a fabricação do Fusca clássico alemão tenha sido oficialmente interrompida em 2003, ele é motivo de orgulho para o México faz muito tempo, sobretudo em Cuautepec. Originalmente projetado para Adolf Hitler na década de 1930, a Volkswagen vendeu centenas de milhares de Fuscas na década de 1960, quando o carro se tornou um emblema da contracultura antissistema.

Por fim, a Volkswagen interrompeu as importações para os Estados Unidos quando não conseguiu acompanhar os padrões de teste de colisão e de emissões de gases de escape. A empresa começou a transferir a produção para outros países. Em 1964, abriu uma fábrica em Puebla, no México, onde produziu o clássico até 2003, e continuou a construir os modelos mais modernos, os New Beetles, até 2019, quando a Volkswagen encerrou completamente o reinado do besouro.

O Fusca uniu gerações de famílias neste bairro, muitas vezes transmitido de pai para filho. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Em Cuautepec, a maioria ainda são os modelos clássicos. “Os bons são os antigos”, disse Eduardo Jiménez León, cujo filho lhe deu de presente um Fusca que já fora usado como táxi.

Para moradores como Jiménez León, de 73 anos, a popularidade do Vocho é uma questão de praticidade: o motor fica na parte de trás e não na frente, o que facilita subir as colinas íngremes de Cuautepec. Os carros marcados com tinta verde e branca ainda são usados como táxis não oficiais no bairro. Muitos visitantes que vão de teleférico até o topo das colinas ao norte da cidade optam por descer em um Vocho, para ter uma experiência de transporte mais retrô.

Uriel Mondragón, mecânico local, afirmou que 40 por cento de seus clientes têm um Fusca: “Dizem que ele se movimenta só com o cheiro da gasolina. Não é como um carro novo. Ele não fica sem gasolina.”

“Não é um carro padrão como qualquer outro”, disse Yolanda Ocampo. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Para outros, ser dono de um carro desses tem mais a ver com o que ele representa. Em Cuautepec, o modelo tem unido gerações de famílias e muitas vezes é passado de pai para filho. “Nosso amado Vocho se tornou parte do folclore mexicano por causa da personalidade única, da qualidade e da confiabilidade. É uma honra sermos da última fábrica em que esse modelo icônico foi montado”, declarou Álea M. Lozada, porta-voz da Volkswagen no México, em um comunicado.

Cada Fusca no bairro tem nome e personalidade próprios; o dono escreve o apelido no topo do para-brisa ou na lateral. Em visita recente a Cuautepec, um Fusca se chamava Ashley. Já Miranda andava a alguns quarteirões de distância, e outro tinha “New York” pintado com spray na lateral.

Desenhos e decorações personalizados também são cobiçados na comunidade Vocho. Um taxista dirigia um com notas falsas de US$ 100 mil coladas em um lado; outro tinha um boneco do Scooby-Doo instalado no porta-malas; estrelas adornavam o para-brisa de um terceiro.

Um salão de automóveis na Cidade do México apresentando Fuscas. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Ocampo disse que gosta mais de dirigir seu Fusca do que seu novo supercompacto Seat Ibiza. Para ela, ter um Vocho é uma maneira de resistir aos estereótipos de gênero que predominavam em sua casa quando era criança. Ela sempre ouvia os homens em Cuautepec questionando se as mulheres conseguiam dirigir o Fusca. “Eu me lembro de que perguntavam: ‘Como é possível uma mulher dirigir um Volkswagen com volante pesado?’ Mas agora, se você tem um, eles não ficam surpresos, né? A verdade é que tenho orgulho de dirigir um Fusca.”

Mas, como o modelo já não é produzido, pode ser difícil encontrar as peças certas na hora de consertá-lo. Por isso, os carros muitas vezes possuem peças incompatíveis. Um carro pode ter o capô verde, a porta do passageiro azul e um porta-malas amarelo – sinais de consertos anteriores e de um esforço para combiná-los com as casas vibrantes do bairro.

Um Fusca modificado para servir de motorhome em um salão de automóveis na Cidade do México. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Amor sem fronteiras

A “Fuscamania” não se limita ao bairro de “Vocholândia”. Berenzain Amaya, tatuador do Octattoo Studio em outra parte da Cidade do México, diz que já tatuou o carro em pelo menos dez fãs do modelo. “É difícil explicar. Se você é de outro país e vê esse carro alemão por aqui, acha um pouco esquisito, mas para mim o México é um lugar esquisito. Tem muita coisa aqui que você não costuma ver em outros países. Faz parte da nossa cultura.”

Os carros fazem parte da família de Mario Gambo, de 45 anos, há décadas. Com seu irmão, Alejandro, ele administra uma oficina mecânica na Cidade do México, a Grillos Racing, que atende principalmente proprietários de Fusca. Mas os irmãos também equipam os veículos com um motor mais potente e pintura nova e brilhante para provas de arrancada na cidade. É uma tradição familiar que começou com seus pais, que, na casa dos 60 anos, ainda participam das corridas.

As cores vibrantes das casas de Cuautepec muitas vezes se refletem nas cores dos besouros que patrulham as ruas de lá. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

A família possui 15 Fuscas, no total. O próprio Gamboa tem sete. Em uma tarde recente, os irmãos disseram que estavam se preparando para exibir seus melhores exemplares em um salão de automóveis.

Gamboa tem uma conexão com o Fusca desde a infância. “Todo mundo no México aprende a dirigir em um Volkswagen. Toda família tem um. Se você não tem, talvez seu tio, seu primo ou sua avó tenham.”

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THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE – Enferrujados e sem o banco do passageiro, estacionados e enfileirados nas esquinas, Fuscas servem como táxis não oficiais no bairro Cuautepec, na capital do México. O símbolo curvilíneo da era hippie dos anos 1960 é admirado – e até mesmo decorado e batizado – pelos moradores, que sentem que o carro representa sua resiliência e sua ética de trabalho.

As curvas distintas do Fusca são tão familiares aos entusiastas quanto o rosto de um amigo querido. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Esses veículos podem ser vistos na Cidade do México inteira, mas são abundantes nas ruas movimentadas de Cuautepec, onde sobem colinas íngremes, passando por moradores que relaxam no telhado e por cães de guarda nas varandas.

Uma das muitas oficinas mecânicas do bairro geralmente fica só a algumas quadras de distância. O cheiro da fumaça do escapamento enche as ruas enquanto Fuscas amarelos, verdes, vermelhos e roxos passam uns pelos outros nos cruzamentos.

“Não é um carro como outro qualquer”, afirmou Yolanda Ocampo, de 45 anos, enquanto admirava seu exemplar de 1982 estacionado em frente à farmácia onde trabalha. O pedal do freio pode ser duro, mas ser dono de um Fusca significa que “você tem um veículo resistente”. “Amamos demais os Vochos”, acrescentou.

Uma olhada através de uma janela, porta ou beco em Cuautepec muitas vezes revela um Fusca. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Há teorias conflitantes para “Vocho”, o apelido carinhoso que foi dado ao carro no México. Alguns dizem que é derivado da palavra em espanhol para besouro, “bicho”, combinada às duas primeiras letras de Volkswagen. Outros dizem que é uma versão abreviada do nome da montadora.

Embora a fabricação do Fusca clássico alemão tenha sido oficialmente interrompida em 2003, ele é motivo de orgulho para o México faz muito tempo, sobretudo em Cuautepec. Originalmente projetado para Adolf Hitler na década de 1930, a Volkswagen vendeu centenas de milhares de Fuscas na década de 1960, quando o carro se tornou um emblema da contracultura antissistema.

Por fim, a Volkswagen interrompeu as importações para os Estados Unidos quando não conseguiu acompanhar os padrões de teste de colisão e de emissões de gases de escape. A empresa começou a transferir a produção para outros países. Em 1964, abriu uma fábrica em Puebla, no México, onde produziu o clássico até 2003, e continuou a construir os modelos mais modernos, os New Beetles, até 2019, quando a Volkswagen encerrou completamente o reinado do besouro.

O Fusca uniu gerações de famílias neste bairro, muitas vezes transmitido de pai para filho. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Em Cuautepec, a maioria ainda são os modelos clássicos. “Os bons são os antigos”, disse Eduardo Jiménez León, cujo filho lhe deu de presente um Fusca que já fora usado como táxi.

Para moradores como Jiménez León, de 73 anos, a popularidade do Vocho é uma questão de praticidade: o motor fica na parte de trás e não na frente, o que facilita subir as colinas íngremes de Cuautepec. Os carros marcados com tinta verde e branca ainda são usados como táxis não oficiais no bairro. Muitos visitantes que vão de teleférico até o topo das colinas ao norte da cidade optam por descer em um Vocho, para ter uma experiência de transporte mais retrô.

Uriel Mondragón, mecânico local, afirmou que 40 por cento de seus clientes têm um Fusca: “Dizem que ele se movimenta só com o cheiro da gasolina. Não é como um carro novo. Ele não fica sem gasolina.”

“Não é um carro padrão como qualquer outro”, disse Yolanda Ocampo. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Para outros, ser dono de um carro desses tem mais a ver com o que ele representa. Em Cuautepec, o modelo tem unido gerações de famílias e muitas vezes é passado de pai para filho. “Nosso amado Vocho se tornou parte do folclore mexicano por causa da personalidade única, da qualidade e da confiabilidade. É uma honra sermos da última fábrica em que esse modelo icônico foi montado”, declarou Álea M. Lozada, porta-voz da Volkswagen no México, em um comunicado.

Cada Fusca no bairro tem nome e personalidade próprios; o dono escreve o apelido no topo do para-brisa ou na lateral. Em visita recente a Cuautepec, um Fusca se chamava Ashley. Já Miranda andava a alguns quarteirões de distância, e outro tinha “New York” pintado com spray na lateral.

Desenhos e decorações personalizados também são cobiçados na comunidade Vocho. Um taxista dirigia um com notas falsas de US$ 100 mil coladas em um lado; outro tinha um boneco do Scooby-Doo instalado no porta-malas; estrelas adornavam o para-brisa de um terceiro.

Um salão de automóveis na Cidade do México apresentando Fuscas. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Ocampo disse que gosta mais de dirigir seu Fusca do que seu novo supercompacto Seat Ibiza. Para ela, ter um Vocho é uma maneira de resistir aos estereótipos de gênero que predominavam em sua casa quando era criança. Ela sempre ouvia os homens em Cuautepec questionando se as mulheres conseguiam dirigir o Fusca. “Eu me lembro de que perguntavam: ‘Como é possível uma mulher dirigir um Volkswagen com volante pesado?’ Mas agora, se você tem um, eles não ficam surpresos, né? A verdade é que tenho orgulho de dirigir um Fusca.”

Mas, como o modelo já não é produzido, pode ser difícil encontrar as peças certas na hora de consertá-lo. Por isso, os carros muitas vezes possuem peças incompatíveis. Um carro pode ter o capô verde, a porta do passageiro azul e um porta-malas amarelo – sinais de consertos anteriores e de um esforço para combiná-los com as casas vibrantes do bairro.

Um Fusca modificado para servir de motorhome em um salão de automóveis na Cidade do México. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Amor sem fronteiras

A “Fuscamania” não se limita ao bairro de “Vocholândia”. Berenzain Amaya, tatuador do Octattoo Studio em outra parte da Cidade do México, diz que já tatuou o carro em pelo menos dez fãs do modelo. “É difícil explicar. Se você é de outro país e vê esse carro alemão por aqui, acha um pouco esquisito, mas para mim o México é um lugar esquisito. Tem muita coisa aqui que você não costuma ver em outros países. Faz parte da nossa cultura.”

Os carros fazem parte da família de Mario Gambo, de 45 anos, há décadas. Com seu irmão, Alejandro, ele administra uma oficina mecânica na Cidade do México, a Grillos Racing, que atende principalmente proprietários de Fusca. Mas os irmãos também equipam os veículos com um motor mais potente e pintura nova e brilhante para provas de arrancada na cidade. É uma tradição familiar que começou com seus pais, que, na casa dos 60 anos, ainda participam das corridas.

As cores vibrantes das casas de Cuautepec muitas vezes se refletem nas cores dos besouros que patrulham as ruas de lá. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

A família possui 15 Fuscas, no total. O próprio Gamboa tem sete. Em uma tarde recente, os irmãos disseram que estavam se preparando para exibir seus melhores exemplares em um salão de automóveis.

Gamboa tem uma conexão com o Fusca desde a infância. “Todo mundo no México aprende a dirigir em um Volkswagen. Toda família tem um. Se você não tem, talvez seu tio, seu primo ou sua avó tenham.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE – Enferrujados e sem o banco do passageiro, estacionados e enfileirados nas esquinas, Fuscas servem como táxis não oficiais no bairro Cuautepec, na capital do México. O símbolo curvilíneo da era hippie dos anos 1960 é admirado – e até mesmo decorado e batizado – pelos moradores, que sentem que o carro representa sua resiliência e sua ética de trabalho.

As curvas distintas do Fusca são tão familiares aos entusiastas quanto o rosto de um amigo querido. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Esses veículos podem ser vistos na Cidade do México inteira, mas são abundantes nas ruas movimentadas de Cuautepec, onde sobem colinas íngremes, passando por moradores que relaxam no telhado e por cães de guarda nas varandas.

Uma das muitas oficinas mecânicas do bairro geralmente fica só a algumas quadras de distância. O cheiro da fumaça do escapamento enche as ruas enquanto Fuscas amarelos, verdes, vermelhos e roxos passam uns pelos outros nos cruzamentos.

“Não é um carro como outro qualquer”, afirmou Yolanda Ocampo, de 45 anos, enquanto admirava seu exemplar de 1982 estacionado em frente à farmácia onde trabalha. O pedal do freio pode ser duro, mas ser dono de um Fusca significa que “você tem um veículo resistente”. “Amamos demais os Vochos”, acrescentou.

Uma olhada através de uma janela, porta ou beco em Cuautepec muitas vezes revela um Fusca. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Há teorias conflitantes para “Vocho”, o apelido carinhoso que foi dado ao carro no México. Alguns dizem que é derivado da palavra em espanhol para besouro, “bicho”, combinada às duas primeiras letras de Volkswagen. Outros dizem que é uma versão abreviada do nome da montadora.

Embora a fabricação do Fusca clássico alemão tenha sido oficialmente interrompida em 2003, ele é motivo de orgulho para o México faz muito tempo, sobretudo em Cuautepec. Originalmente projetado para Adolf Hitler na década de 1930, a Volkswagen vendeu centenas de milhares de Fuscas na década de 1960, quando o carro se tornou um emblema da contracultura antissistema.

Por fim, a Volkswagen interrompeu as importações para os Estados Unidos quando não conseguiu acompanhar os padrões de teste de colisão e de emissões de gases de escape. A empresa começou a transferir a produção para outros países. Em 1964, abriu uma fábrica em Puebla, no México, onde produziu o clássico até 2003, e continuou a construir os modelos mais modernos, os New Beetles, até 2019, quando a Volkswagen encerrou completamente o reinado do besouro.

O Fusca uniu gerações de famílias neste bairro, muitas vezes transmitido de pai para filho. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Em Cuautepec, a maioria ainda são os modelos clássicos. “Os bons são os antigos”, disse Eduardo Jiménez León, cujo filho lhe deu de presente um Fusca que já fora usado como táxi.

Para moradores como Jiménez León, de 73 anos, a popularidade do Vocho é uma questão de praticidade: o motor fica na parte de trás e não na frente, o que facilita subir as colinas íngremes de Cuautepec. Os carros marcados com tinta verde e branca ainda são usados como táxis não oficiais no bairro. Muitos visitantes que vão de teleférico até o topo das colinas ao norte da cidade optam por descer em um Vocho, para ter uma experiência de transporte mais retrô.

Uriel Mondragón, mecânico local, afirmou que 40 por cento de seus clientes têm um Fusca: “Dizem que ele se movimenta só com o cheiro da gasolina. Não é como um carro novo. Ele não fica sem gasolina.”

“Não é um carro padrão como qualquer outro”, disse Yolanda Ocampo. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Para outros, ser dono de um carro desses tem mais a ver com o que ele representa. Em Cuautepec, o modelo tem unido gerações de famílias e muitas vezes é passado de pai para filho. “Nosso amado Vocho se tornou parte do folclore mexicano por causa da personalidade única, da qualidade e da confiabilidade. É uma honra sermos da última fábrica em que esse modelo icônico foi montado”, declarou Álea M. Lozada, porta-voz da Volkswagen no México, em um comunicado.

Cada Fusca no bairro tem nome e personalidade próprios; o dono escreve o apelido no topo do para-brisa ou na lateral. Em visita recente a Cuautepec, um Fusca se chamava Ashley. Já Miranda andava a alguns quarteirões de distância, e outro tinha “New York” pintado com spray na lateral.

Desenhos e decorações personalizados também são cobiçados na comunidade Vocho. Um taxista dirigia um com notas falsas de US$ 100 mil coladas em um lado; outro tinha um boneco do Scooby-Doo instalado no porta-malas; estrelas adornavam o para-brisa de um terceiro.

Um salão de automóveis na Cidade do México apresentando Fuscas. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Ocampo disse que gosta mais de dirigir seu Fusca do que seu novo supercompacto Seat Ibiza. Para ela, ter um Vocho é uma maneira de resistir aos estereótipos de gênero que predominavam em sua casa quando era criança. Ela sempre ouvia os homens em Cuautepec questionando se as mulheres conseguiam dirigir o Fusca. “Eu me lembro de que perguntavam: ‘Como é possível uma mulher dirigir um Volkswagen com volante pesado?’ Mas agora, se você tem um, eles não ficam surpresos, né? A verdade é que tenho orgulho de dirigir um Fusca.”

Mas, como o modelo já não é produzido, pode ser difícil encontrar as peças certas na hora de consertá-lo. Por isso, os carros muitas vezes possuem peças incompatíveis. Um carro pode ter o capô verde, a porta do passageiro azul e um porta-malas amarelo – sinais de consertos anteriores e de um esforço para combiná-los com as casas vibrantes do bairro.

Um Fusca modificado para servir de motorhome em um salão de automóveis na Cidade do México. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Amor sem fronteiras

A “Fuscamania” não se limita ao bairro de “Vocholândia”. Berenzain Amaya, tatuador do Octattoo Studio em outra parte da Cidade do México, diz que já tatuou o carro em pelo menos dez fãs do modelo. “É difícil explicar. Se você é de outro país e vê esse carro alemão por aqui, acha um pouco esquisito, mas para mim o México é um lugar esquisito. Tem muita coisa aqui que você não costuma ver em outros países. Faz parte da nossa cultura.”

Os carros fazem parte da família de Mario Gambo, de 45 anos, há décadas. Com seu irmão, Alejandro, ele administra uma oficina mecânica na Cidade do México, a Grillos Racing, que atende principalmente proprietários de Fusca. Mas os irmãos também equipam os veículos com um motor mais potente e pintura nova e brilhante para provas de arrancada na cidade. É uma tradição familiar que começou com seus pais, que, na casa dos 60 anos, ainda participam das corridas.

As cores vibrantes das casas de Cuautepec muitas vezes se refletem nas cores dos besouros que patrulham as ruas de lá. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

A família possui 15 Fuscas, no total. O próprio Gamboa tem sete. Em uma tarde recente, os irmãos disseram que estavam se preparando para exibir seus melhores exemplares em um salão de automóveis.

Gamboa tem uma conexão com o Fusca desde a infância. “Todo mundo no México aprende a dirigir em um Volkswagen. Toda família tem um. Se você não tem, talvez seu tio, seu primo ou sua avó tenham.”

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