THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Sally Snowman adora ficar sozinha. Como guardiã do Boston Light, um farol centenário em Little Brewster Island, no porto de Boston, ela tem muita prática. Durante a maior parte dos últimos 19 anos, ela morou lá de abril a outubro.
Ela preenche os dias com trabalho, limpando as janelas, cortando a grama e varrendo a escada em espiral da torre do farol. Ela lê muito e assistiu a muitos sóis se pondo. E ela aprecia cada minuto.
“É um alívio estar na ilha”, disse Snowman, 70 anos. Quando ela está sozinha, “as rodas param de girar”. Seu tempo sozinha é reparador.
Mas nem todo mundo sente o mesmo em relação à solidão e, nos últimos dois anos, a pandemia forçou alguma versão dela a todos nós. Temos visto menos amigos e passamos mais tempo em casa. Algumas pessoas se sentiram mais solitárias, principalmente se já eram solteiras ou moravam sozinhas.
À medida que entramos em uma nova fase da pandemia que é menos “desinfetar suas compras” e mais “acho que esse é o nosso novo normal”, períodos ocasionais de isolamento podem ser algo que acabamos de incluir em nossas vidas, como cartões de vacinação digitais ou uma gaveta para máscaras.
Esteja você esperando mais ou menos tempo sozinho nos dias de hoje, a solidão é algo que você pode aprender a apreciar. A solidão é mais agradável se você estiver no controle dela.
Como nos sentimos em relação ao tempo a sós depende em grande parte de se escolhemos isso, disse Virginia Thomas, professora assistente de psicologia no Middlebury College que estuda a solidão.
As pessoas que buscam a solidão por vontade própria “tendem a relatar que se sentem plenas – como se estivessem cheias de ideias, pensamentos ou coisas para fazer”, disse Thomas. Dessa forma, é diferente do isolamento, um estado negativo no qual você está “desconectado de outras pessoas e se sente vazio”.
A chave é ver a solidão como uma escolha, não como um castigo. Em uma pesquisa de 2019, Thomas descobriu que os adolescentes que deliberadamente buscavam a solidão apresentavam níveis mais altos de bem-estar e eram menos solitários do que seus colegas que estavam sozinhos apenas por causa das circunstâncias.
O mesmo aconteceu em adultos jovens de 18 a 25 anos, que também apresentaram níveis maiores de crescimento pessoal e autoaceitação e níveis mais baixos de depressão. Na verdade, a maioria das pesquisas mostra que nos beneficiamos mais da solidão à medida que envelhecemos, disse Thomas, à medida que desenvolvemos mais controle sobre nosso tempo, juntamente com melhores habilidades cognitivas e emocionais para nos ajudar a usá-lo de forma mais construtiva.
Jenn Drummond, uma alpinista em Park City, Utah, passou muito tempo sozinha enquanto treinava para se tornar a primeira mulher a escalar os Seven Second Summits, a segunda montanha mais alta – e geralmente mais difícil – de cada continente. Se ela se pega “entrando em um padrão melancólico”, ela se lembra de que está no comando.
“O fato de estar sozinha está acontecendo comigo”, disse Drummond, 41 anos. “A solidão está acontecendo para o meu bem. Essa pequena mudança faz a maior diferença.” Você pode aprender a gostar da solidão, mesmo que não seja introvertido.
Você pode supor que são apenas os introvertidos que se beneficiam da solidão, mas as pesquisas são confusas sobre se eles são realmente mais habilidosos em ficar sozinhos, disse Thomas. Para ela, “qualquer pessoa, com qualquer personalidade, pode aproveitar – com uma ressalva: se souber usar bem”.
Isso significa decidir o que você quer do seu tempo, seja processando uma situação difícil, aproveitando a criatividade ou apenas desfrutando de cinco minutos a mais sem que alguém com menos de cinco anos lhe peça algo.
Sem um objetivo “estamos apenas no jogo da tentativa e erro, e isso pode provocar uma falsa sensação de fracasso, como ‘Ah, eu não sou boa em ficar sozinha’”, disse Gina Moffa, psicoterapeuta de luto e trauma.
A solidão pode ter um efeito calmante em nossas mentes e corpos, o que pode ser decepcionante para as pessoas que geralmente associam felicidade a sentirem-se energizadas, disse Thomas. Elas geralmente se sentem entediadas ou inquietas.
A chave para dissipar o desconforto é substituí-lo por algo agradável. Se você não sabe por onde começar, “pense em algo que você gosta de fazer em geral e tente fazer isso sozinho”, disse Moffa.
E não, gastar tempo excessivo no Twitter não conta como solidão saudável. Em um estudo de 2020, Thomas acompanhou 69 participantes por uma semana, concluindo que eles estavam mais emocionalmente satisfeitos com sua solidão quando estavam realmente sozinhos, sem seus telefones, do que quando estavam sozinhos, mas ainda com seus telefones.
“Se você quer se conectar consigo mesmo ou se sentir calmo ou criativo, ficar checando as redes sociais vai te dar o que você precisa?” ela disse. Na maioria das vezes, a resposta é não. Existem maneiras de tornar a solidão mais fácil.
O ex-astronauta da Nasa Jim “Ox” van Hoften experimentou uma solidão muito particular; durante suas missões ao espaço na década de 1980, ele ficou isolado de sua família, de sua rotina e, literalmente, do mundo.
E, no entanto, “apenas algumas vezes senti que estava realmente sozinho”, disse van Hoften, 77 anos. Embora a tripulação pudesse alcançar o controle do solo por apenas 20 minutos em cada órbita de 90 minutos, ele ainda se sentia reforçado pelo apoio. Mesmo no espaço sideral, “você nunca está sozinho, sempre tem alguém ajudando”, ele disse.
Isso funciona na Terra também. Conversar com um amigo ainda pode ser parte de seu ritual de solidão, disse Moffa. De fato, “ter espaço para fazer isso enquanto estamos neste lugar de solidão pode tornar a comunicação mais profunda e a conexão mais autêntica, porque estamos sem as muitas camadas de distrações ao nosso redor”.
Você também pode fazer uma atividade solitária, mas compartilhá-la comunitariamente. Moffa faz parte de um grupo de amigos que trocam mensagens de texto com suas pontuações do Wordle todos os dias. “Todos nós fazemos isso silenciosamente por conta própria, mas se torna algo que nos conecta quando compartilhamos”, ela disse.
A solidão também pode envolver o silêncio, que reduz o estresse, melhora o sono e ajuda na tomada de decisões em algumas pessoas. Mas sem estrutura, pode parecer intimidador, disse Eloise Skinner, que passou um ano treinando como monge em uma comunidade monástica moderna.
Pratique ficar confortável com o silêncio durante pequenos momentos do seu dia, primeiro enquanto estiver fazendo outra coisa ativamente – como cozinhar ou caminhar – e depois, para um desafio maior, enquanto está sentado quieto. Na comunidade monástica, “todos os momentos de silêncio têm um propósito”, disse Skinner, 30 anos. Adicionar uma estrutura ao seu silêncio – escrevendo um diário ou ouvindo sua respiração – pode torná-lo mais satisfatório.
Se você só precisa ouvir outra voz, não há vergonha em torná-la sua. Liz Thomas, uma andarilha profissional de longa distância que viajou 16 mil quilômetros sozinha, tem conversas estimulantes consigo mesma usando seu nome de trilha, Snorkel. “Eu digo: ‘Vamos, Snorkel, você precisa montar esta barraca’”, disse. Falar consigo mesma na segunda pessoa acalma suas preocupações, algo que os pesquisadores também descobriram em um estudo de 2014.
Você pode encontrar a solidão em qualquer lugar.
Sally Snowman não passa a noite em Little Brewster Island desde 2019. Ela ainda vai várias vezes por semana para a manutenção de rotina, mas a Guarda Costeira está transferindo a administração do farol e não precisa tanto dela lá.
Recuperar a sensação de calma que ela sentiu lá foi “o desafio final” no continente, ela disse. Ela começou a visitar um parque local fora do horário de pico, “olhando para além dos aspectos criados pela humanidade e apenas se concentrando nas árvores”. Então ela tenta engarrafar essa paz e contentamento e trazê-lo para casa. “Encontre um lugar com o qual você se sinta conectado”, ela disse. “Então pratique encontrar esse lugar dentro de você sem literalmente ter que ir até lá.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES.
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