Nesta segunda-feira, 5, a reportagem de capa do Link aborda a mudança na forma do brasileiro acessar à internet: as conexões estão cada vez mais caseiras, o que está obrigando as lan houses – que já representaram mais da metade dos acessos à internet no Brasil – a mudarem para oferecer algo que as pessoas não têm em suas casas. A reportagem, que já vinha sendo apurada há algum tempo, ganhou um contorno mais forte com o fato de a última unidade da Monkey ter fechado suas portas no dia 1º de abril (quinta-feira passada). Com a limitação do espaço físico imposta pelo meio impresso, foi possível apenas falar brevemente dos motivos que levaram àquela que já foi considerada sinônimo de lan house no Brasil, a fechar suas portas. Pois agora, você pode ler uma matéria mais detalhada sobre o fechamento da última Monkey, que ficava no número 1217 na Alameda Santos, em São Paulo.
Boa localização. O fechamento da última Monkey é explicado nessas duas palavras. Leandro Montoya, gerente da loja de 2008 até seu fechamento, explica que ela continuava com muitos usuários e ainda rendia lucro a Sunami Chun, criador da rede. A questão é que o prédio fica em uma das regiões mais nobres de São Paulo: a Alameda Santos, colada à Avenida Paulista. E para os donos da Monkey, alugar ou vender o prédio traria quase o mesmo rendimento que loja dava, mas com infinitamente menos preocupações.
“Se a lan estivesse em outro bairro, digamos que no Tatuapé, ela iria continuar funcionando tranquilamente. Mas aqui, a região é valorizada demais e esse prédio está valendo muito e fica difícil manter”, exemplifica Montoya.
Tudo bem. Mas este é um caso específico da loja localizada na Alameda Santos. E as outras 62 lan houses que a Monkey teve pelo País? O que aconteceu para não ter sobrado nenhuma? O domínio dos donos das franquias da tecnologia que envolve uma lan house. “As pessoas abriam uma Monkey, mas não sabiam colocar computador em rede, não sabiam mexer nos programas, dependiam da gente para tudo. Com o tempo, eles foram dominando essa tecnologia e não precisavam mais de nós. Então eles simplesmente tiravam o nome Monkey e paravam de nos pagar”.
Outro fator foi a briga constante entre a matriz e as franquias. “Os franqueados queriam fazer coisas que nós não deixávamos. Nós, queríamos instituir alguns elementos que não agradavam a eles”. A solução foi manter apenas a loja da Alameda Santos, que foi a primeira a ter sido criada.
Nem CT, nem terrorista Mas além de todos os fatores já citados – imobiliários, briga entre matriz e franquias – o que verdadeiramente fez com que a loja deixasse de ser lucrativa como já foi é número e o perfil de usuários. “Isso aqui antes parecia um formigueiro de tanta gente. A fila saía da loja e ia até a esquina. Tínhamos até uma máquina de senhas, como aquelas de banco. E a grande maioria eram garotos vindo jogar horas de Counter Strike. E isso de repetia todo dia. Agora eles têm bons computadores em casa e treinam por lá. Só vem na lan pra disputar os campeonatos. Com isso, o nosso público caiu demais”, relembra Montoya.
Novo nicho Assim, a renda que vinha de garotos jogando Counter Strike parou de entrar nos cofres da Monkey. O jeito era procurar outras fontes e Montoya afirma que isso foi encontrado. Nos últimos anos a loja da Alameda Santos vinha fazendo eventos para empresas: desde treinamentos ali dentro, até festas onde executivos jogavam Counter Strike e ganhavam medalhas no final, campanhas e outras. Empresas grandes como HP, Axe e AmBev. O problema, conta o gerente, é que se a Monkey quisesse entrar de cabeça nesse nicho, precisaria de uma reformulação total de seu espaço (“Pé direito maior, cozinha grande, mais computadores, mais pessoas trabalhando”). “Nossa estrutura permite que façamos eventos médios aqui. Quando uma empresa quer fazer algo realmente grande, ela aluga um saguão de um hotel, porque aqui não temos como comportar”.
Esse investimento, claro que consumiria muito dinheiro. Dinheiro que o dono, Sunami Chun, não estaria disposto a investir em algo que ele não tinha certeza do retorno. E ai está o ponto final da extinção das Monkeys do País: Chun, o dono, já não tinha a lan house como seu negócio principal. “Ele e seu irmão tem outras empresas, nas quais estão totalmente envolvidos. Não vivem o dia-a-dia aqui da Monkey e por isso, pra eles, fica mais difícil investir uma grande quantia.”