Otimizar um algoritmo para que consiga produzir algo belo é um desafio que tem ocupado muitas gerações de pesquisadores. O artista e cientista da computação formado pelo MIT Karl Sims, vem desde a década de 1980 produzindo algoritmos capazes de gerar obras de arte, que têm vencido prêmios e já foram até exibidas no Georges Pompidou em Paris.
O desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial (IA) é em si também uma arte, ao contrário do que tradicionalistas possam dizer. A inspiração vem de grandes artistas como Margaret Hamilton, a responsável pela sequência de códigos que em 1969 levou a humanidade à Lua, utilizando uma capacidade computacional muito inferior à dos celulares que hoje cabem no nosso bolso.
Para garantir a eficiência do código de um algoritmo de IA, é importante ficar atento a todos os detalhes, corrigindo cada pequena imperfeição para que as instruções fluam da forma mais harmônica possível. É necessário que o desenvolvedor possua visão, criatividade e, por que não, sensibilidade artística.
A reação ludista contra o uso da tecnologia na criação artística possui um histórico que é tão longo quanto mal-sucedido. A mais forte dessas reações talvez tenha sido contra a fotografia, que foi durante décadas acusada de tirar emprego de pintores e de ser uma manifestação criativa preguiçosa.
A defesa da fotografia como uma manifestação artística foi encabeçada pelo movimento Pictorialista, que começou em 1885 e foi amplamente vitorioso. Hoje, felizmente, ninguém pensa em reclamar que Sebastião Salgado deveria pintar quadros dos índios suruwahas em vez de fotografá-los.
O aumento do uso da IA na arte permitirá ampliar a criatividade humana e torná-la mais acessível a um grande número de novos artistas. Além disso, é duplamente criativa, unindo o desenvolvedor que programou o algoritmo ao artista que utilizou a sua própria inspiração para orientar linhas de código a criarem algo esteticamente aprazível.
Nesta sexta, 10, o prêmio Jabuti optou por desqualificar a obra Frankenstein do prêmio de melhor ilustração por ter sido elaborada em conjunto com IA, o que é uma pena. A obra de Vicente Pessôa retrata o olhar de um monstro resignado com a sua recém-descoberta monstruosidade. Possui criatividade, profundidade e leveza estética.
André Dahmer, o autor da brilhante tirinha Os Malvados, é um dos jurados do prêmio Jabuti de melhor ilustração. Ele se manifestou hoje no X, ex-Twitter, afirmando que não teria selecionado a obra se soubesse que havia sido feita com o auxílio de IA. Assim como está escrito na sua mais recente tirinha dos Malvados, a internet é mesmo uma tecnologia do século 21 que as pessoas utilizam para emitirem opiniões do século 19.