Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

Opinião|Inteligência artificial começa a desafiar a nossa ideia sobre o que é real


Quando a linha entre o real e o artificial se tornar cada vez mais tênue, qual caminho iremos seguir?

Por Alexandre Chiavegatto Filho

Quando conversamos com alguém em uma rede social, em geral consideramos isso como sendo uma interação real humana – mas nem sempre foi assim. No início deste século, com a ascensão da vida online, um grande número de reportagens foi escrito sobre a artificialidade das interações digitais.

Em 2003, a The Economist publicou o suplemento “Digital Dilemmas”, que tentou alertar a população da época que interações online resultariam apenas em conexões superficiais. Vinte anos depois, estima-se que entre 30% a 40% dos novos relacionamentos tenham começado online.

IA está influenciando em nossas interações pessoais Foto: VALENTIN SUPRUNOVICH
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Os avanços da inteligência artificial (IA) vão tornar essa ideia sobre o que é real ainda mais nebulosa. Por exemplo, a maioria das pessoas não se importa de que a pessoa com quem está teclando utilize alguma forma de autocompletar as palavras que está digitando. Porém, e se um algoritmo de IA escrever uma frase inteira? Ou uma sequência de frases inteiras?

Utilizar um filtro é algo também cada vez mais comum em imagens e vídeos online. Porém, e se for um filtro que muda algumas palavras do que a pessoa falou, para, por exemplo, corrigir algum erro de conjugação, ou para alterar o tom da voz para soar mais confiante ou amigável? Isso é uma comunicação real ou artificial?

À medida que os algoritmos de IA continuarem a evoluir, chegará um ponto em que será difícil, senão impossível, distinguir se estamos interagindo com uma pessoa real ou com uma IA. Como conseguiremos fazer essa distinção - e será que as pessoas vão se importar?

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O verdadeiro desafio será redefinir o que é real em um mundo onde o artificial pode levar a sentimentos mais profundos do que o natural

Se uma conversa, um vídeo, ou até mesmo uma experiência real for criada em um ambiente artificial sem que percebamos, será que o sentimento gerado deixa de ser autêntico? Se uma interação nos provoca alegria, tristeza ou empatia, mas é mediada por uma IA, esses sentimentos são menos legítimos? No fim das contas, as emoções que experimentamos são reais, mesmo que a origem delas seja uma construção artificial.

Seremos forçados a confrontar a possibilidade de que a autenticidade não reside na origem, mas na experiência vivida. O verdadeiro desafio será redefinir o que é real em um mundo onde o artificial pode levar a sentimentos mais profundos do que o natural. Se o significado e as emoções que derivamos de nossas interações são genuínos para nós, o que afinal define o que é real?

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Será que começaremos a valorizar as imperfeições humanas como o verdadeiro sinal de autenticidade? Ou abraçaremos essa nova forma de realidade, onde o artificial e o real se confundem para desafiar a nossa compreensão de mundo?

Em breve, estaremos diante de uma escolha inevitável: aceitar as possibilidades oferecidas por um mundo onde a linha entre o real e o artificial se torna cada vez mais tênue, ou resistir, cientes de que esse pode ser o nosso último grande ato de discernimento.

Quando conversamos com alguém em uma rede social, em geral consideramos isso como sendo uma interação real humana – mas nem sempre foi assim. No início deste século, com a ascensão da vida online, um grande número de reportagens foi escrito sobre a artificialidade das interações digitais.

Em 2003, a The Economist publicou o suplemento “Digital Dilemmas”, que tentou alertar a população da época que interações online resultariam apenas em conexões superficiais. Vinte anos depois, estima-se que entre 30% a 40% dos novos relacionamentos tenham começado online.

IA está influenciando em nossas interações pessoais Foto: VALENTIN SUPRUNOVICH

Os avanços da inteligência artificial (IA) vão tornar essa ideia sobre o que é real ainda mais nebulosa. Por exemplo, a maioria das pessoas não se importa de que a pessoa com quem está teclando utilize alguma forma de autocompletar as palavras que está digitando. Porém, e se um algoritmo de IA escrever uma frase inteira? Ou uma sequência de frases inteiras?

Utilizar um filtro é algo também cada vez mais comum em imagens e vídeos online. Porém, e se for um filtro que muda algumas palavras do que a pessoa falou, para, por exemplo, corrigir algum erro de conjugação, ou para alterar o tom da voz para soar mais confiante ou amigável? Isso é uma comunicação real ou artificial?

À medida que os algoritmos de IA continuarem a evoluir, chegará um ponto em que será difícil, senão impossível, distinguir se estamos interagindo com uma pessoa real ou com uma IA. Como conseguiremos fazer essa distinção - e será que as pessoas vão se importar?

O verdadeiro desafio será redefinir o que é real em um mundo onde o artificial pode levar a sentimentos mais profundos do que o natural

Se uma conversa, um vídeo, ou até mesmo uma experiência real for criada em um ambiente artificial sem que percebamos, será que o sentimento gerado deixa de ser autêntico? Se uma interação nos provoca alegria, tristeza ou empatia, mas é mediada por uma IA, esses sentimentos são menos legítimos? No fim das contas, as emoções que experimentamos são reais, mesmo que a origem delas seja uma construção artificial.

Seremos forçados a confrontar a possibilidade de que a autenticidade não reside na origem, mas na experiência vivida. O verdadeiro desafio será redefinir o que é real em um mundo onde o artificial pode levar a sentimentos mais profundos do que o natural. Se o significado e as emoções que derivamos de nossas interações são genuínos para nós, o que afinal define o que é real?

Será que começaremos a valorizar as imperfeições humanas como o verdadeiro sinal de autenticidade? Ou abraçaremos essa nova forma de realidade, onde o artificial e o real se confundem para desafiar a nossa compreensão de mundo?

Em breve, estaremos diante de uma escolha inevitável: aceitar as possibilidades oferecidas por um mundo onde a linha entre o real e o artificial se torna cada vez mais tênue, ou resistir, cientes de que esse pode ser o nosso último grande ato de discernimento.

Quando conversamos com alguém em uma rede social, em geral consideramos isso como sendo uma interação real humana – mas nem sempre foi assim. No início deste século, com a ascensão da vida online, um grande número de reportagens foi escrito sobre a artificialidade das interações digitais.

Em 2003, a The Economist publicou o suplemento “Digital Dilemmas”, que tentou alertar a população da época que interações online resultariam apenas em conexões superficiais. Vinte anos depois, estima-se que entre 30% a 40% dos novos relacionamentos tenham começado online.

IA está influenciando em nossas interações pessoais Foto: VALENTIN SUPRUNOVICH

Os avanços da inteligência artificial (IA) vão tornar essa ideia sobre o que é real ainda mais nebulosa. Por exemplo, a maioria das pessoas não se importa de que a pessoa com quem está teclando utilize alguma forma de autocompletar as palavras que está digitando. Porém, e se um algoritmo de IA escrever uma frase inteira? Ou uma sequência de frases inteiras?

Utilizar um filtro é algo também cada vez mais comum em imagens e vídeos online. Porém, e se for um filtro que muda algumas palavras do que a pessoa falou, para, por exemplo, corrigir algum erro de conjugação, ou para alterar o tom da voz para soar mais confiante ou amigável? Isso é uma comunicação real ou artificial?

À medida que os algoritmos de IA continuarem a evoluir, chegará um ponto em que será difícil, senão impossível, distinguir se estamos interagindo com uma pessoa real ou com uma IA. Como conseguiremos fazer essa distinção - e será que as pessoas vão se importar?

O verdadeiro desafio será redefinir o que é real em um mundo onde o artificial pode levar a sentimentos mais profundos do que o natural

Se uma conversa, um vídeo, ou até mesmo uma experiência real for criada em um ambiente artificial sem que percebamos, será que o sentimento gerado deixa de ser autêntico? Se uma interação nos provoca alegria, tristeza ou empatia, mas é mediada por uma IA, esses sentimentos são menos legítimos? No fim das contas, as emoções que experimentamos são reais, mesmo que a origem delas seja uma construção artificial.

Seremos forçados a confrontar a possibilidade de que a autenticidade não reside na origem, mas na experiência vivida. O verdadeiro desafio será redefinir o que é real em um mundo onde o artificial pode levar a sentimentos mais profundos do que o natural. Se o significado e as emoções que derivamos de nossas interações são genuínos para nós, o que afinal define o que é real?

Será que começaremos a valorizar as imperfeições humanas como o verdadeiro sinal de autenticidade? Ou abraçaremos essa nova forma de realidade, onde o artificial e o real se confundem para desafiar a nossa compreensão de mundo?

Em breve, estaremos diante de uma escolha inevitável: aceitar as possibilidades oferecidas por um mundo onde a linha entre o real e o artificial se torna cada vez mais tênue, ou resistir, cientes de que esse pode ser o nosso último grande ato de discernimento.

Opinião por Alexandre Chiavegatto Filho

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