O que você faz quando os aplicativos de seu telefone celular ou de seu computador estão lentos ou não estão funcionando corretamente? Provavelmente você reinicializa (ou reseta) o dispositivo. Isso geralmente funciona, pois as informações, recursos e configurações necessárias para o correto funcionamento dos aplicativos, são reestabelecidas. Ou seja, a "entropia" (grau de desordem) é reduzida após o reset.
Nos seres vivos, depois de vários anos de funcionamento, as células também começam a exibir um funcionamento incorreto. Esse processo é um dos pilares do envelhecimento e ocorre porque a "entropia" vai aumentando nos seres vivos, já que as células vão perdendo informações genéticas e epigenéticas. Até então, ninguém tinha encontrado uma forma de resetar as nossas células para que pudessem voltar a funcionar corretamente.
No entanto, há alguns dias (19 de janeiro de 2023), o cientista David Sinclair publicou no periódico científico Cell os resultados de um estudo onde, junto com seus colegas, conseguiu realizar um reset nas células de ratos. Segundo os autores, o processo permite reverter o processo de envelhecimento celular e recuperar as funções das células jovens nos animais.
Em todos os tipos de célula que testaram, os cientistas conseguiram resetar as células envelhecidas para recuperarem as informações críticas e o correto funcionamento Após o processo, as células retomam suas identidades e voltam a funcionar corretamente, revertendo o processo de envelhecimento.
Além disso, os cientistas conseguiram também acelerar o processo de envelhecimento. Ou seja, a descoberta permite acelerar ou reverter o envelhecimento, mudando o paradigma sobre o tema.
Conceitualmente, é possível que o processo funcione em humanos, apesar de testes não terem sido realizados ainda. Caso funcione, estaremos dentro de uma grande mudança do controle que teremos sobre a longevidade humana, o que poderá desencadear muitas mudanças nas regras e na forma como a sociedade moderna funciona. Por exemplo, com quantos anos alguém poderá se aposentar no futuro? Ou ainda, será que o conceito de aposentadoria continuará fazendo sentido? Como as penas com tempo de reclusão serão impactadas no direito penal? E, por fim, pelo intrínseco valor atribuído à vida, será que em algum momento no futuro o tempo de vida se tornará uma moeda utilizada como meio de pagamento, como no filme "O preço do Amanhã" (2011), dirigido por Andrew Niccol?