Apple alerta usuários da Índia que seus iPhones podem estar sendo espionados pelo governo


Maior parte das pessoas que receberam a notificação são opositores políticos do premiê Narendra Modi; governo nega acusações

Por Alex Travelli e Suhasini Raj

THE NEW YORK TIMES — Diversos iPhones em toda a Índia vibraram com a mesma notificação no início da semana. Cada notificação soava um pequeno alarme ao chegar nos aparelhos, mas o barulho foi se amplificando à medida que cada usuário se identificava publicamente. Isso porque a maioria das pessoas que receberam o alerta eram opositores do primeiro-ministro Narendra Modi e do seu partido Bharatiya Janata.

O aviso em seus celulares, enviados pela Apple na segunda-feira, 31, parecia severo: “atacantes patrocinados pelo Estado podem estar atacando o seu iPhone”, dizia. Mas essas chamadas poderiam ser, como a própria Apple admite, um “alarme falso”. O governo de Modi rejeitou as alegações de que estava espionando a oposição, jornalistas e críticos, como alguns especularam.

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No poder por quase uma década, Modi e seu governo consolidaram poder reprimindo a liberdade de expressão, minando a imprensa independente e silenciando vozes dissidentes, incluindo as de sua oposição. O episódio desta semana pareceu se encaixar nesse padrão para seus críticos e para muitos dos que receberam o aviso da Apple. Algumas pessoas sugeriram que a vigilância indicada pelo alerta poderia ajudar o partido do governo a ter vantagens nas eleições do próximo ano.

Rahul Gandhi, o principal líder da oposição, disse que muitos de seus companheiros de partido receberam a notificação. Gandhi acrescentou que considera a vigilância ilegal. Em entrevista coletiva, ele disse: “Não estamos com medo. Você pode fazer quantas escutas telefônicas quiser, não me importo. Esta disputa é uma distração das falhas mais graves do governo, como a corrupção.”

Ashwini Vaishnaw, ministro das Comunicações, Eletrônica e TI da Índia, rejeitou as alegações de espionagem como queixas de “críticos compulsivos”, deixando claro que se referia a Gandhi em específico. Ele também chamou isso de distração, acrescentando que o governo investigaria o assunto, ao mesmo tempo em que pedia o público a ignorar as notificações “vagas”.

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Mas Sriram Karri, um editor de um jornal na cidade de Hyderabad, no sudeste do país, disse que essa foi a quarta notificação que ele recebeu em dois anos. Desta vez, ele “surtou” e temeu motivos “muito políticos”. “A pessoa se sente violada, pois não apenas suas ligações, mas alguém tem acesso a todos os dados do seu telefone, incluindo fotos e vídeos”, disse Karri.

A Apple começou a enviar esse tipo de alerta em 2019, depois que o uso generalizado do Pegasus, um programa de espionagem desenvolvido pela empresa israelense de inteligência cibernética NSO, se tornou público. Clientes da NSO, incluindo governos ao redor do mundo, usavam Pegasus para invadir os celulares de dissidentes e opositores. Um desses clientes era a Índia, conforme denunciou o The New York Times em 2022.

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Alguns pesquisadores independentes na Índia relataram evidências de invasões por Pegasus em seus telefones. Um comitê formado pelo Supremo Tribunal da Índia para investigar esses relatórios foi dissolvido no ano passado, observando que “o governo da Índia não cooperou”.

A Anistia Internacional desempenhou um papel crucial na descoberta da escala global do spyware Pegasus. Em comunicado, Likhita Banerji, pesquisadora de tecnologia e direitos humanos do grupo, disse que a causa das notificações da Apple “parece ser mais um escândalo de vigilância”. Ela acrescentou: “Na Índia, os relatos de jornalistas proeminentes e líderes da oposição que recebem notificações da Apple são particularmente preocupantes nos meses que antecedem as eleições gerais estaduais e nacionais”.

Na terça-feira, 31, a Apple confirmou que foi a fonte dos alertas na Índia. Mas as declarações públicas da empresa, assim como as do governo indiano, tiveram o efeito de minimizar o impacto dos avisos. As notificações foram baseadas em “sinais de inteligência que muitas vezes são imperfeitos e incompletos”, disse a Apple, acrescentando que existia a possibilidade de alguns avisos serem “alarmes falsos”. A empresa ainda disse que os avisos permaneceriam vagos para evitar que os hackers “adaptassem seu comportamento para evitar detecção no futuro”.

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A empresa ainda afirmou que mandou notificações como essas para quase 150 países desde que começou a alertar potenciais vítimas.

A Apple é uma marca importante para o governo indiano, sendo de longe a empresa mais proeminente a aderir a uma campanha governamental para aumentar a produção no país.  Foto: EFE/EPA/IDREES MOHAMMED

Para Mishi Choudhary, advogado que fundou uma organização na Índia para defender os direitos dos usuários da Internet e desenvolvedores de software, este episódio em específico se destacou porque apenas figuras da oposição pareciam tê-lo recebido. “Esta não foi uma violação de segurança comum”, disse ela.

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Nos últimos anos, a Apple estabeleceu uma posição de alto risco na Índia, à medida que a economia do país cresceu para a quinta maior do mundo. A marca entrou com mais força no mercado da Índia, abrindo Apple Stores e desafiando o domínio da plataforma Android.

Ao mesmo tempo, a Apple tornou-se mais importante para o governo indiano. É de longe a empresa mais proeminente a aderir a uma campanha governamental para aumentar a produção no país. A Tata Sons da Índia e a Foxconn de Taiwan compraram e construíram fábricas que estão produzindo cada vez mais iPhones de última geração, ao mesmo tempo em que a Apple está ansiosa para reduzir sua dependência da China como centro de produção.

THE NEW YORK TIMES — Diversos iPhones em toda a Índia vibraram com a mesma notificação no início da semana. Cada notificação soava um pequeno alarme ao chegar nos aparelhos, mas o barulho foi se amplificando à medida que cada usuário se identificava publicamente. Isso porque a maioria das pessoas que receberam o alerta eram opositores do primeiro-ministro Narendra Modi e do seu partido Bharatiya Janata.

O aviso em seus celulares, enviados pela Apple na segunda-feira, 31, parecia severo: “atacantes patrocinados pelo Estado podem estar atacando o seu iPhone”, dizia. Mas essas chamadas poderiam ser, como a própria Apple admite, um “alarme falso”. O governo de Modi rejeitou as alegações de que estava espionando a oposição, jornalistas e críticos, como alguns especularam.

No poder por quase uma década, Modi e seu governo consolidaram poder reprimindo a liberdade de expressão, minando a imprensa independente e silenciando vozes dissidentes, incluindo as de sua oposição. O episódio desta semana pareceu se encaixar nesse padrão para seus críticos e para muitos dos que receberam o aviso da Apple. Algumas pessoas sugeriram que a vigilância indicada pelo alerta poderia ajudar o partido do governo a ter vantagens nas eleições do próximo ano.

Rahul Gandhi, o principal líder da oposição, disse que muitos de seus companheiros de partido receberam a notificação. Gandhi acrescentou que considera a vigilância ilegal. Em entrevista coletiva, ele disse: “Não estamos com medo. Você pode fazer quantas escutas telefônicas quiser, não me importo. Esta disputa é uma distração das falhas mais graves do governo, como a corrupção.”

Ashwini Vaishnaw, ministro das Comunicações, Eletrônica e TI da Índia, rejeitou as alegações de espionagem como queixas de “críticos compulsivos”, deixando claro que se referia a Gandhi em específico. Ele também chamou isso de distração, acrescentando que o governo investigaria o assunto, ao mesmo tempo em que pedia o público a ignorar as notificações “vagas”.

Mas Sriram Karri, um editor de um jornal na cidade de Hyderabad, no sudeste do país, disse que essa foi a quarta notificação que ele recebeu em dois anos. Desta vez, ele “surtou” e temeu motivos “muito políticos”. “A pessoa se sente violada, pois não apenas suas ligações, mas alguém tem acesso a todos os dados do seu telefone, incluindo fotos e vídeos”, disse Karri.

A Apple começou a enviar esse tipo de alerta em 2019, depois que o uso generalizado do Pegasus, um programa de espionagem desenvolvido pela empresa israelense de inteligência cibernética NSO, se tornou público. Clientes da NSO, incluindo governos ao redor do mundo, usavam Pegasus para invadir os celulares de dissidentes e opositores. Um desses clientes era a Índia, conforme denunciou o The New York Times em 2022.

Alguns pesquisadores independentes na Índia relataram evidências de invasões por Pegasus em seus telefones. Um comitê formado pelo Supremo Tribunal da Índia para investigar esses relatórios foi dissolvido no ano passado, observando que “o governo da Índia não cooperou”.

A Anistia Internacional desempenhou um papel crucial na descoberta da escala global do spyware Pegasus. Em comunicado, Likhita Banerji, pesquisadora de tecnologia e direitos humanos do grupo, disse que a causa das notificações da Apple “parece ser mais um escândalo de vigilância”. Ela acrescentou: “Na Índia, os relatos de jornalistas proeminentes e líderes da oposição que recebem notificações da Apple são particularmente preocupantes nos meses que antecedem as eleições gerais estaduais e nacionais”.

Na terça-feira, 31, a Apple confirmou que foi a fonte dos alertas na Índia. Mas as declarações públicas da empresa, assim como as do governo indiano, tiveram o efeito de minimizar o impacto dos avisos. As notificações foram baseadas em “sinais de inteligência que muitas vezes são imperfeitos e incompletos”, disse a Apple, acrescentando que existia a possibilidade de alguns avisos serem “alarmes falsos”. A empresa ainda disse que os avisos permaneceriam vagos para evitar que os hackers “adaptassem seu comportamento para evitar detecção no futuro”.

A empresa ainda afirmou que mandou notificações como essas para quase 150 países desde que começou a alertar potenciais vítimas.

A Apple é uma marca importante para o governo indiano, sendo de longe a empresa mais proeminente a aderir a uma campanha governamental para aumentar a produção no país.  Foto: EFE/EPA/IDREES MOHAMMED

Para Mishi Choudhary, advogado que fundou uma organização na Índia para defender os direitos dos usuários da Internet e desenvolvedores de software, este episódio em específico se destacou porque apenas figuras da oposição pareciam tê-lo recebido. “Esta não foi uma violação de segurança comum”, disse ela.

Nos últimos anos, a Apple estabeleceu uma posição de alto risco na Índia, à medida que a economia do país cresceu para a quinta maior do mundo. A marca entrou com mais força no mercado da Índia, abrindo Apple Stores e desafiando o domínio da plataforma Android.

Ao mesmo tempo, a Apple tornou-se mais importante para o governo indiano. É de longe a empresa mais proeminente a aderir a uma campanha governamental para aumentar a produção no país. A Tata Sons da Índia e a Foxconn de Taiwan compraram e construíram fábricas que estão produzindo cada vez mais iPhones de última geração, ao mesmo tempo em que a Apple está ansiosa para reduzir sua dependência da China como centro de produção.

THE NEW YORK TIMES — Diversos iPhones em toda a Índia vibraram com a mesma notificação no início da semana. Cada notificação soava um pequeno alarme ao chegar nos aparelhos, mas o barulho foi se amplificando à medida que cada usuário se identificava publicamente. Isso porque a maioria das pessoas que receberam o alerta eram opositores do primeiro-ministro Narendra Modi e do seu partido Bharatiya Janata.

O aviso em seus celulares, enviados pela Apple na segunda-feira, 31, parecia severo: “atacantes patrocinados pelo Estado podem estar atacando o seu iPhone”, dizia. Mas essas chamadas poderiam ser, como a própria Apple admite, um “alarme falso”. O governo de Modi rejeitou as alegações de que estava espionando a oposição, jornalistas e críticos, como alguns especularam.

No poder por quase uma década, Modi e seu governo consolidaram poder reprimindo a liberdade de expressão, minando a imprensa independente e silenciando vozes dissidentes, incluindo as de sua oposição. O episódio desta semana pareceu se encaixar nesse padrão para seus críticos e para muitos dos que receberam o aviso da Apple. Algumas pessoas sugeriram que a vigilância indicada pelo alerta poderia ajudar o partido do governo a ter vantagens nas eleições do próximo ano.

Rahul Gandhi, o principal líder da oposição, disse que muitos de seus companheiros de partido receberam a notificação. Gandhi acrescentou que considera a vigilância ilegal. Em entrevista coletiva, ele disse: “Não estamos com medo. Você pode fazer quantas escutas telefônicas quiser, não me importo. Esta disputa é uma distração das falhas mais graves do governo, como a corrupção.”

Ashwini Vaishnaw, ministro das Comunicações, Eletrônica e TI da Índia, rejeitou as alegações de espionagem como queixas de “críticos compulsivos”, deixando claro que se referia a Gandhi em específico. Ele também chamou isso de distração, acrescentando que o governo investigaria o assunto, ao mesmo tempo em que pedia o público a ignorar as notificações “vagas”.

Mas Sriram Karri, um editor de um jornal na cidade de Hyderabad, no sudeste do país, disse que essa foi a quarta notificação que ele recebeu em dois anos. Desta vez, ele “surtou” e temeu motivos “muito políticos”. “A pessoa se sente violada, pois não apenas suas ligações, mas alguém tem acesso a todos os dados do seu telefone, incluindo fotos e vídeos”, disse Karri.

A Apple começou a enviar esse tipo de alerta em 2019, depois que o uso generalizado do Pegasus, um programa de espionagem desenvolvido pela empresa israelense de inteligência cibernética NSO, se tornou público. Clientes da NSO, incluindo governos ao redor do mundo, usavam Pegasus para invadir os celulares de dissidentes e opositores. Um desses clientes era a Índia, conforme denunciou o The New York Times em 2022.

Alguns pesquisadores independentes na Índia relataram evidências de invasões por Pegasus em seus telefones. Um comitê formado pelo Supremo Tribunal da Índia para investigar esses relatórios foi dissolvido no ano passado, observando que “o governo da Índia não cooperou”.

A Anistia Internacional desempenhou um papel crucial na descoberta da escala global do spyware Pegasus. Em comunicado, Likhita Banerji, pesquisadora de tecnologia e direitos humanos do grupo, disse que a causa das notificações da Apple “parece ser mais um escândalo de vigilância”. Ela acrescentou: “Na Índia, os relatos de jornalistas proeminentes e líderes da oposição que recebem notificações da Apple são particularmente preocupantes nos meses que antecedem as eleições gerais estaduais e nacionais”.

Na terça-feira, 31, a Apple confirmou que foi a fonte dos alertas na Índia. Mas as declarações públicas da empresa, assim como as do governo indiano, tiveram o efeito de minimizar o impacto dos avisos. As notificações foram baseadas em “sinais de inteligência que muitas vezes são imperfeitos e incompletos”, disse a Apple, acrescentando que existia a possibilidade de alguns avisos serem “alarmes falsos”. A empresa ainda disse que os avisos permaneceriam vagos para evitar que os hackers “adaptassem seu comportamento para evitar detecção no futuro”.

A empresa ainda afirmou que mandou notificações como essas para quase 150 países desde que começou a alertar potenciais vítimas.

A Apple é uma marca importante para o governo indiano, sendo de longe a empresa mais proeminente a aderir a uma campanha governamental para aumentar a produção no país.  Foto: EFE/EPA/IDREES MOHAMMED

Para Mishi Choudhary, advogado que fundou uma organização na Índia para defender os direitos dos usuários da Internet e desenvolvedores de software, este episódio em específico se destacou porque apenas figuras da oposição pareciam tê-lo recebido. “Esta não foi uma violação de segurança comum”, disse ela.

Nos últimos anos, a Apple estabeleceu uma posição de alto risco na Índia, à medida que a economia do país cresceu para a quinta maior do mundo. A marca entrou com mais força no mercado da Índia, abrindo Apple Stores e desafiando o domínio da plataforma Android.

Ao mesmo tempo, a Apple tornou-se mais importante para o governo indiano. É de longe a empresa mais proeminente a aderir a uma campanha governamental para aumentar a produção no país. A Tata Sons da Índia e a Foxconn de Taiwan compraram e construíram fábricas que estão produzindo cada vez mais iPhones de última geração, ao mesmo tempo em que a Apple está ansiosa para reduzir sua dependência da China como centro de produção.

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