O Magreb explodiu: Tunísia e Argélia, e, quem sabe, logo a seguir o Marrocos, estão nas ruas. Nos dois casos, são os jovens que arrastam os adultos, principalmente na Tunísia. O pequeno país de 12 milhões de habitantes, sob a ditadura feroz de Ben Ali, que fugiu na sexta-feira do território tunisiano, enfrenta graves dificuldades econômicas. No entanto, seu sistema educacional não é tão ruim. Consequentemente, há centenas de milhares de jovens formados destinados ao desemprego mais degradante. Eles são a ponta de lança das revoltas.
As faíscas foram atiçadas pelas internet. É provável que o WikiLeaks, a organização de Julian Assange, tenha influenciado a explosão dos tumultos. Em dezembro de 2010, os telegramas do Departamento de Estado, totalmente desconhecidos até então, e revelados pelo WikiLeaks, descreviam com detalhes a corrupção do regime tunisiano. Foi a faísca. Um mês depois, a cólera dos jovens tunisianos, e depois dos argelinos, invadiu as cidades. Depois dos primeiros confrontos, entraram em cena outros instrumentos online. A novidade desses conflitos, a respeito dos quais a rádio e a TV não mencionaram uma palavra, repercutiu no Facebook e no Twitter.
Dos 12 milhões de tunisianos, 3,6 milhões acompanharam a batalha pelo monitor dos computadores, minuto a minuto. Uma palavra grandiloquente, ingênua e estranhamente eficaz ressoou então no céu da Tunísia. “Uma serpente de mil cabeças saiu às ruas”, proclamou Zuheir Makluf, um blogueiro de Túnis. Outro blogueiro, Abdel Ghaza, completou: “O Facebook está no centro dos acontecimentos. O Facebook acabou com a imagem da Tunísia que canta e dança. Nós mostramos uma Tunísia que grita como louca”.
Depois dos tumultos , a Tunísia é o terceiro país do mundo em que a palavra “Facebook” foi a mais buscada, façanha extraordinária para uma população de só 12 milhões de habitantes. As brigadas internacionais da internet uniram-se aos tunisianos. Grupos estrangeiros contribuíram com conselhos técnicos. As milícias do grupo hacker Anonymus prestaram solidariedade aos blogueiros tunisianos e escreveram: “O Anonymous amplificou o grito de liberdade do povo tunisiano. O Anonymous está decidido a ajudar o povo tunisiano em sua luta contra a opressão”. E todos os sites do governo, assim como do banco Zitouna, cujo dono é o genro de Ben Ali, tiveram problemas.
O poder está alarmado, tanto pelo furor das ruas quanto pelo domínio dos tunisianos das ferramentas online. A polícia já prendeu cinco fanáticos do Facebook, que apodrecem em prisões fétidas, mas será impossível prender todos os usuários do serviço. A internet não se abala.
De nada serviram as tentativas de Ben Ali de apagar os princípios de incêndio demitindo seu ministro do Interior, fazendo promessas para 2014. Nada conseguiu aplacar a cólera. “Com a rede à mão”, proclama enfaticamente o fórum de informática Toile, “somos a primeira guerrilha invisível”. E eis a frase gloriosa: “A História lembrará que o Pequeno Polegar tunisiano se libertou calçando as botas do ogro internet”.
Gilles Lapouge, correspondente em Paris (TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA)