'Brasil será exemplo de educação'; aposta Khan


Responsável pela Khan Academy, plataforma de videoaulas mais popular do mundo, veio ao Brasil e fechou parcerias

Por Murilo Roncolato
Salman Khan visitou o Brasil nesta semana a convite da Fundação Lemann. Foto: Clayton de Souza/ESTADÃO

SÃO PAULO – O ex-analista de fundos de investimento e hoje um dos educadores mais populares do mundo, Salman Khan, visitou o Brasil nesta semana e se impressionou com a “energia”. Em menos de um dia, engatou conversas com a presidente Dilma Roussef, o ministro Aloízio Mercadante, da Educação, e fechou uma parceria de R$ 10 milhões com a fundação que leva o sobrenome do homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann. A organização sem fins lucrativos já recebeu cerca de US$ 2 milhões do Google e US$ 1,5 milhões da fundação de Bill Gates.

Dilma o convidou a produzir videosaula para ensino básico, focando em alfabetização, mas Khan declinou justificando que não teria como produzir o conteúdo de imediato, mas levaria algo em torno de sete anos. Mercadante comentou sobre os planos para o que chama de Universidade Livre, um repositório digital de aulas compartilhado entre as 59 instituições federais de ensino superior do País, e disse que as aulas da Khan Academy estarão acessíveis nos 600 mil tablets Android distribuídos pelo MEC a professores de ensino médio – como o app da Khan Academy só está disponível para iOS, o professor terá de acessar os sites do MEC ou da Khan para assistir às aulas, pelo navegador.

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“A sensação é de que aqui vocês querem que as coisas aconteçam rapidamente”, disse Khan durante palestra, no Museu de Imagem e Som, em São Paulo. “Nos próximos cinco ou dez anos, tenho certeza, o Brasil será um exemplo de educação para o resto do mundo.”

Nascido nos Estados Unidos e descendente de indianos, Salman Khan teve uma formação tradicional, mas sempre se destacou por boas notas e por ter cursado disciplinas avançadas de matemática em universidades enquanto ainda estava no colégio. Tempos depois, concluiu duas graduações no Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde vivia matando aula por acharem pouco estimulantes, e um MBA em Harvard.

Em 2004, enquanto residia em Boston, começou a dar aulas de matemática para uma prima de 12 anos que vivia em New Orleans. Mais parentes se interessaram e, em 2006, Salman teve a ideia de gravar vídeos das aulas e colocar tudo no Youtube. “Sempre achei que o Youtube era para gatos tocando piano e não para matemática séria”, disse, rindo. Ainda assim, o canal de Khan ganhou popularidade e chamou a atenção de apoiadores. Um dia soube que Bill Gates ficara cinco minutos falando sobre seu canal, muito frequentado pelas suas filhas, em uma palestra. Dias depois foi chamado para uma conversa com o criador da Microsoft. Hoje, Khan e Gates são amigos. “Eu fiz vídeos para a prima Nadia e não para as filhas do Bill Gates! (agora chamo ele de ‘Bill’).”

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A Khan Academy cresceu. O projeto foi de quatro envolvidos no início aos atuais 40. Hoje, são mais de 3,8 mil videoaulas, 6 milhões de visualizações por mês vindas de mais de 200 países. Segundo Khan, a América Latina responde por 130 mil das visitas diárias.

Agora o objetivo é expandir o alcance da plataforma traduzindo suas aulas para mais idiomas. No Brasil, a Fundação Lemann já traduziu cerca de 400 vídeos e agora se comprometeu a chegar a mais de mil nos próximos meses.

“Já atingimos muita gente com um negócio pequeno. Em 2012, quando tínhamos apenas 24 pessoas trabalhando na Khan, chegamos a interagir com 43 milhões de pessoas.”

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 Foto: Ed Ferreira/ESTADÃO

Vantagem do online

Salman Khan, aos 36 anos, vê o cenário ideal para que a educação mude sua estrutura originada a 200 anos. Acredita que a internet é o lugar para solucionar o mais grave problema das salas de aulas, a falta de interação entre aluno e professor. “Dar aula de história é complicado porque há inúmeras versões. O que é ótimo na internet é que as pessoas assistem ao vídeo e discutem. Uma apostila tradicional, alguém escreve os textos, outro de formação parecida revisa e aquilo chega para todos os alunos de um país.”

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Ele sabe que não é o único no mundo a tentar educar usando recursos online. “Talvez eu seja o 500º.” Khan justifica seu sucesso pelo formato escolhido: simples, em tom de conversa e não subestimando a inteligência de quem assiste. “Eu ainda faço vídeos como se fossem para os meus primos.” Além de projetos de particulares, como os nacionais Calcule Mais, O Kuadro e QMagico, universidades e governos passaram a aderir ao ambiente conectado. A prefeitura do Rio de Janeiro desenvolveu a Educopedia, a Universidade de São Paulo conta com mais de 800 videoaulas, a Fundação Getúlio Vargas criou um portal voltado para o ensino médio, e gigantes internacionais lançaram sites conjuntos, como o Edx (MIT, Harvard, Berkeley) e o Cousera (Duke, Princeton, Columbia, Stanford, etc).

“Harvard e MIT agora estão compartilhando o conhecimento que eles produzem lá dentro. O que é ótimo, mas só isso não basta e eles estão percebendo isso.” Khan é crítico do sistema de aulas das grandes universidades, baseado em palestras de 60 a 90 minutos em salas de 300 alunos. “As pessoas ficam lá tomando notas e não há interação, isso está mudando”, afirma.

“Passamos 12 anos sentados e anotando coisas, aí chegamos no mercado e os chefes exigem: ‘seja inovador, seja criativo’. Como é possível?”

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Múltiplas fontes

A nova sala de aula proposta por Khan seria um espaço usado basicamente para interação, resolução de problemas, tirar dúvidas e discussões sobre questões mais avançadas do mesmo tema, já que os alunos aprenderam a essência básica da disciplina em casa no computador.

“É um tragédia que alunos mais novos com mais conhecimento não possam avançar de estágio se quiserem”, diz Khan, que foi impedido de pular a disciplina de Álgebra 2 pela direção do colégio em que estudava. “O importante é o professor saber e dizer que não é a única fonte de conhecimento que aquele estudante tem.”

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O diploma continuaria existindo, mas não da maneira como é hoje, “um pedaço de papel provando ao mundo que agoraa pessoa sabe o que sabe”, como escreveu em seu livro Um mundo, uma escola – A educação reinventada (Intrísenca, 2013, R$ 29,90). Para ele, as instituições cobrariam uma taxa de US$ 300 para avaliar qualquer pessoa que queira ter uma certificação, independente da sua formação – que poderia ter sido feita na Khan Academy, por exemplo.

Assim, pessoas de baixa renda ou residentes em regiões desprovidas de instituições de ensino superior de prestígio teriam a mesma chance de se “comprovarem” capacitados sobre alguma área curricular.

Conectado e em frente

O maior problema para a expansão de plataformas como a de Khan é a universalização do acesso a computadores (ou aparelhos móveis) com conexão. O americano reconhece, mas se mostra otimista. “É uma vergonha que não se resolva coisas básicas como essas amanhã já. Mas a internet está crescendo muito. Em pouco mais de cinco anos a questão do acesso vai se resolver”, aposta.

Seria então a Khan Academy parte da educação do futuro? “Não cabe a mim dizer”, escreve Khan. “A única coisa que não podemos nos permitir é deixar as coisas como estão. O custo da inércia é inescrupuloso e alto, e é contado não em dólares, nem em euros ou rupias, mas nos destinos das pessoas.”

Salman Khan visitou o Brasil nesta semana a convite da Fundação Lemann. Foto: Clayton de Souza/ESTADÃO

SÃO PAULO – O ex-analista de fundos de investimento e hoje um dos educadores mais populares do mundo, Salman Khan, visitou o Brasil nesta semana e se impressionou com a “energia”. Em menos de um dia, engatou conversas com a presidente Dilma Roussef, o ministro Aloízio Mercadante, da Educação, e fechou uma parceria de R$ 10 milhões com a fundação que leva o sobrenome do homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann. A organização sem fins lucrativos já recebeu cerca de US$ 2 milhões do Google e US$ 1,5 milhões da fundação de Bill Gates.

Dilma o convidou a produzir videosaula para ensino básico, focando em alfabetização, mas Khan declinou justificando que não teria como produzir o conteúdo de imediato, mas levaria algo em torno de sete anos. Mercadante comentou sobre os planos para o que chama de Universidade Livre, um repositório digital de aulas compartilhado entre as 59 instituições federais de ensino superior do País, e disse que as aulas da Khan Academy estarão acessíveis nos 600 mil tablets Android distribuídos pelo MEC a professores de ensino médio – como o app da Khan Academy só está disponível para iOS, o professor terá de acessar os sites do MEC ou da Khan para assistir às aulas, pelo navegador.

“A sensação é de que aqui vocês querem que as coisas aconteçam rapidamente”, disse Khan durante palestra, no Museu de Imagem e Som, em São Paulo. “Nos próximos cinco ou dez anos, tenho certeza, o Brasil será um exemplo de educação para o resto do mundo.”

Nascido nos Estados Unidos e descendente de indianos, Salman Khan teve uma formação tradicional, mas sempre se destacou por boas notas e por ter cursado disciplinas avançadas de matemática em universidades enquanto ainda estava no colégio. Tempos depois, concluiu duas graduações no Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde vivia matando aula por acharem pouco estimulantes, e um MBA em Harvard.

Em 2004, enquanto residia em Boston, começou a dar aulas de matemática para uma prima de 12 anos que vivia em New Orleans. Mais parentes se interessaram e, em 2006, Salman teve a ideia de gravar vídeos das aulas e colocar tudo no Youtube. “Sempre achei que o Youtube era para gatos tocando piano e não para matemática séria”, disse, rindo. Ainda assim, o canal de Khan ganhou popularidade e chamou a atenção de apoiadores. Um dia soube que Bill Gates ficara cinco minutos falando sobre seu canal, muito frequentado pelas suas filhas, em uma palestra. Dias depois foi chamado para uma conversa com o criador da Microsoft. Hoje, Khan e Gates são amigos. “Eu fiz vídeos para a prima Nadia e não para as filhas do Bill Gates! (agora chamo ele de ‘Bill’).”

A Khan Academy cresceu. O projeto foi de quatro envolvidos no início aos atuais 40. Hoje, são mais de 3,8 mil videoaulas, 6 milhões de visualizações por mês vindas de mais de 200 países. Segundo Khan, a América Latina responde por 130 mil das visitas diárias.

Agora o objetivo é expandir o alcance da plataforma traduzindo suas aulas para mais idiomas. No Brasil, a Fundação Lemann já traduziu cerca de 400 vídeos e agora se comprometeu a chegar a mais de mil nos próximos meses.

“Já atingimos muita gente com um negócio pequeno. Em 2012, quando tínhamos apenas 24 pessoas trabalhando na Khan, chegamos a interagir com 43 milhões de pessoas.”

 Foto: Ed Ferreira/ESTADÃO

Vantagem do online

Salman Khan, aos 36 anos, vê o cenário ideal para que a educação mude sua estrutura originada a 200 anos. Acredita que a internet é o lugar para solucionar o mais grave problema das salas de aulas, a falta de interação entre aluno e professor. “Dar aula de história é complicado porque há inúmeras versões. O que é ótimo na internet é que as pessoas assistem ao vídeo e discutem. Uma apostila tradicional, alguém escreve os textos, outro de formação parecida revisa e aquilo chega para todos os alunos de um país.”

Ele sabe que não é o único no mundo a tentar educar usando recursos online. “Talvez eu seja o 500º.” Khan justifica seu sucesso pelo formato escolhido: simples, em tom de conversa e não subestimando a inteligência de quem assiste. “Eu ainda faço vídeos como se fossem para os meus primos.” Além de projetos de particulares, como os nacionais Calcule Mais, O Kuadro e QMagico, universidades e governos passaram a aderir ao ambiente conectado. A prefeitura do Rio de Janeiro desenvolveu a Educopedia, a Universidade de São Paulo conta com mais de 800 videoaulas, a Fundação Getúlio Vargas criou um portal voltado para o ensino médio, e gigantes internacionais lançaram sites conjuntos, como o Edx (MIT, Harvard, Berkeley) e o Cousera (Duke, Princeton, Columbia, Stanford, etc).

“Harvard e MIT agora estão compartilhando o conhecimento que eles produzem lá dentro. O que é ótimo, mas só isso não basta e eles estão percebendo isso.” Khan é crítico do sistema de aulas das grandes universidades, baseado em palestras de 60 a 90 minutos em salas de 300 alunos. “As pessoas ficam lá tomando notas e não há interação, isso está mudando”, afirma.

“Passamos 12 anos sentados e anotando coisas, aí chegamos no mercado e os chefes exigem: ‘seja inovador, seja criativo’. Como é possível?”

Múltiplas fontes

A nova sala de aula proposta por Khan seria um espaço usado basicamente para interação, resolução de problemas, tirar dúvidas e discussões sobre questões mais avançadas do mesmo tema, já que os alunos aprenderam a essência básica da disciplina em casa no computador.

“É um tragédia que alunos mais novos com mais conhecimento não possam avançar de estágio se quiserem”, diz Khan, que foi impedido de pular a disciplina de Álgebra 2 pela direção do colégio em que estudava. “O importante é o professor saber e dizer que não é a única fonte de conhecimento que aquele estudante tem.”

O diploma continuaria existindo, mas não da maneira como é hoje, “um pedaço de papel provando ao mundo que agoraa pessoa sabe o que sabe”, como escreveu em seu livro Um mundo, uma escola – A educação reinventada (Intrísenca, 2013, R$ 29,90). Para ele, as instituições cobrariam uma taxa de US$ 300 para avaliar qualquer pessoa que queira ter uma certificação, independente da sua formação – que poderia ter sido feita na Khan Academy, por exemplo.

Assim, pessoas de baixa renda ou residentes em regiões desprovidas de instituições de ensino superior de prestígio teriam a mesma chance de se “comprovarem” capacitados sobre alguma área curricular.

Conectado e em frente

O maior problema para a expansão de plataformas como a de Khan é a universalização do acesso a computadores (ou aparelhos móveis) com conexão. O americano reconhece, mas se mostra otimista. “É uma vergonha que não se resolva coisas básicas como essas amanhã já. Mas a internet está crescendo muito. Em pouco mais de cinco anos a questão do acesso vai se resolver”, aposta.

Seria então a Khan Academy parte da educação do futuro? “Não cabe a mim dizer”, escreve Khan. “A única coisa que não podemos nos permitir é deixar as coisas como estão. O custo da inércia é inescrupuloso e alto, e é contado não em dólares, nem em euros ou rupias, mas nos destinos das pessoas.”

Salman Khan visitou o Brasil nesta semana a convite da Fundação Lemann. Foto: Clayton de Souza/ESTADÃO

SÃO PAULO – O ex-analista de fundos de investimento e hoje um dos educadores mais populares do mundo, Salman Khan, visitou o Brasil nesta semana e se impressionou com a “energia”. Em menos de um dia, engatou conversas com a presidente Dilma Roussef, o ministro Aloízio Mercadante, da Educação, e fechou uma parceria de R$ 10 milhões com a fundação que leva o sobrenome do homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann. A organização sem fins lucrativos já recebeu cerca de US$ 2 milhões do Google e US$ 1,5 milhões da fundação de Bill Gates.

Dilma o convidou a produzir videosaula para ensino básico, focando em alfabetização, mas Khan declinou justificando que não teria como produzir o conteúdo de imediato, mas levaria algo em torno de sete anos. Mercadante comentou sobre os planos para o que chama de Universidade Livre, um repositório digital de aulas compartilhado entre as 59 instituições federais de ensino superior do País, e disse que as aulas da Khan Academy estarão acessíveis nos 600 mil tablets Android distribuídos pelo MEC a professores de ensino médio – como o app da Khan Academy só está disponível para iOS, o professor terá de acessar os sites do MEC ou da Khan para assistir às aulas, pelo navegador.

“A sensação é de que aqui vocês querem que as coisas aconteçam rapidamente”, disse Khan durante palestra, no Museu de Imagem e Som, em São Paulo. “Nos próximos cinco ou dez anos, tenho certeza, o Brasil será um exemplo de educação para o resto do mundo.”

Nascido nos Estados Unidos e descendente de indianos, Salman Khan teve uma formação tradicional, mas sempre se destacou por boas notas e por ter cursado disciplinas avançadas de matemática em universidades enquanto ainda estava no colégio. Tempos depois, concluiu duas graduações no Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde vivia matando aula por acharem pouco estimulantes, e um MBA em Harvard.

Em 2004, enquanto residia em Boston, começou a dar aulas de matemática para uma prima de 12 anos que vivia em New Orleans. Mais parentes se interessaram e, em 2006, Salman teve a ideia de gravar vídeos das aulas e colocar tudo no Youtube. “Sempre achei que o Youtube era para gatos tocando piano e não para matemática séria”, disse, rindo. Ainda assim, o canal de Khan ganhou popularidade e chamou a atenção de apoiadores. Um dia soube que Bill Gates ficara cinco minutos falando sobre seu canal, muito frequentado pelas suas filhas, em uma palestra. Dias depois foi chamado para uma conversa com o criador da Microsoft. Hoje, Khan e Gates são amigos. “Eu fiz vídeos para a prima Nadia e não para as filhas do Bill Gates! (agora chamo ele de ‘Bill’).”

A Khan Academy cresceu. O projeto foi de quatro envolvidos no início aos atuais 40. Hoje, são mais de 3,8 mil videoaulas, 6 milhões de visualizações por mês vindas de mais de 200 países. Segundo Khan, a América Latina responde por 130 mil das visitas diárias.

Agora o objetivo é expandir o alcance da plataforma traduzindo suas aulas para mais idiomas. No Brasil, a Fundação Lemann já traduziu cerca de 400 vídeos e agora se comprometeu a chegar a mais de mil nos próximos meses.

“Já atingimos muita gente com um negócio pequeno. Em 2012, quando tínhamos apenas 24 pessoas trabalhando na Khan, chegamos a interagir com 43 milhões de pessoas.”

 Foto: Ed Ferreira/ESTADÃO

Vantagem do online

Salman Khan, aos 36 anos, vê o cenário ideal para que a educação mude sua estrutura originada a 200 anos. Acredita que a internet é o lugar para solucionar o mais grave problema das salas de aulas, a falta de interação entre aluno e professor. “Dar aula de história é complicado porque há inúmeras versões. O que é ótimo na internet é que as pessoas assistem ao vídeo e discutem. Uma apostila tradicional, alguém escreve os textos, outro de formação parecida revisa e aquilo chega para todos os alunos de um país.”

Ele sabe que não é o único no mundo a tentar educar usando recursos online. “Talvez eu seja o 500º.” Khan justifica seu sucesso pelo formato escolhido: simples, em tom de conversa e não subestimando a inteligência de quem assiste. “Eu ainda faço vídeos como se fossem para os meus primos.” Além de projetos de particulares, como os nacionais Calcule Mais, O Kuadro e QMagico, universidades e governos passaram a aderir ao ambiente conectado. A prefeitura do Rio de Janeiro desenvolveu a Educopedia, a Universidade de São Paulo conta com mais de 800 videoaulas, a Fundação Getúlio Vargas criou um portal voltado para o ensino médio, e gigantes internacionais lançaram sites conjuntos, como o Edx (MIT, Harvard, Berkeley) e o Cousera (Duke, Princeton, Columbia, Stanford, etc).

“Harvard e MIT agora estão compartilhando o conhecimento que eles produzem lá dentro. O que é ótimo, mas só isso não basta e eles estão percebendo isso.” Khan é crítico do sistema de aulas das grandes universidades, baseado em palestras de 60 a 90 minutos em salas de 300 alunos. “As pessoas ficam lá tomando notas e não há interação, isso está mudando”, afirma.

“Passamos 12 anos sentados e anotando coisas, aí chegamos no mercado e os chefes exigem: ‘seja inovador, seja criativo’. Como é possível?”

Múltiplas fontes

A nova sala de aula proposta por Khan seria um espaço usado basicamente para interação, resolução de problemas, tirar dúvidas e discussões sobre questões mais avançadas do mesmo tema, já que os alunos aprenderam a essência básica da disciplina em casa no computador.

“É um tragédia que alunos mais novos com mais conhecimento não possam avançar de estágio se quiserem”, diz Khan, que foi impedido de pular a disciplina de Álgebra 2 pela direção do colégio em que estudava. “O importante é o professor saber e dizer que não é a única fonte de conhecimento que aquele estudante tem.”

O diploma continuaria existindo, mas não da maneira como é hoje, “um pedaço de papel provando ao mundo que agoraa pessoa sabe o que sabe”, como escreveu em seu livro Um mundo, uma escola – A educação reinventada (Intrísenca, 2013, R$ 29,90). Para ele, as instituições cobrariam uma taxa de US$ 300 para avaliar qualquer pessoa que queira ter uma certificação, independente da sua formação – que poderia ter sido feita na Khan Academy, por exemplo.

Assim, pessoas de baixa renda ou residentes em regiões desprovidas de instituições de ensino superior de prestígio teriam a mesma chance de se “comprovarem” capacitados sobre alguma área curricular.

Conectado e em frente

O maior problema para a expansão de plataformas como a de Khan é a universalização do acesso a computadores (ou aparelhos móveis) com conexão. O americano reconhece, mas se mostra otimista. “É uma vergonha que não se resolva coisas básicas como essas amanhã já. Mas a internet está crescendo muito. Em pouco mais de cinco anos a questão do acesso vai se resolver”, aposta.

Seria então a Khan Academy parte da educação do futuro? “Não cabe a mim dizer”, escreve Khan. “A única coisa que não podemos nos permitir é deixar as coisas como estão. O custo da inércia é inescrupuloso e alto, e é contado não em dólares, nem em euros ou rupias, mas nos destinos das pessoas.”

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