Esta eleição é a mais importante desde aquela que, feita no interior do Congresso e sem o voto popular, elegeu Tancredo Neves para um mandato que, é nossa tragédia nacional, ele não pôde cumprir. Não está em jogo apenas a manutenção do Brasil como Democracia Liberal. Está em jogo também a possibilidade de reconstruirmos nossa Democracia — porque ela está fissurada. E, neste segundo turno, implantou-se o caos informativo.
Neste exato momento, o Tribunal Superior Eleitoral está sob um nível tal de ataques que elucida a estratégia bolsonarista de tentar uma ação golpista em caso de derrota. Um pastor popular, por exemplo, mentiu para sete milhões de seguidores dizendo ter sido intimado pela corte a se retratar.
Há também uma onda de indignação pelo TSE ter censurado a rádio Jovem Pan, uma Fox News bolsonarista. A história é bem mais complicada. O TSE atendeu a um pedido de direito de resposta por acusações feitas contra Lula — o que é corriqueiro mesmo em tempos não eleitorais. Os jornalistas foram proibidos de afirmar que Lula foi condenado. Porque, juridicamente, as condenações deixaram de existir.
A decisão precisa ser compreendida num contexto. Na quarta-feira, o mesmo TSE tirou da campanha Bolsonaro e entregou à de Lula um total de 226 inserções da publicidade gratuita para direitos de resposta. Quase metade daquilo a que o presidente teria direito. A maioria delas tratam do mesmo tema: a prisão de Lula. E é difícil distinguir, na Jovem Pan, o que é jornalismo e o que é publicidade governista.
Outro veículo que acusa censura é a produtora Brasil Paralelo, que faz documentários históricos em geral manipulados e com viés de extrema direita. O TSE ordenou que fosse desmonetizada. Esse é o ponto complicado: proibiu o lançamento antes do dia 30 do filme “Quem Mandou Matar Jair Bolsonaro?”. O filme pode ser veiculado. Mas depois da eleição.
De acordo com a investigação da Polícia Federal, Adélio Bispo tentou matar o presidente agindo por conta própria. É um homem doente e profundamente perturbado.
Existe uma máquina descentralizada de desinformação no País. Na virada do primeiro para o segundo turno, ela entrou em atividade máxima. Não temos como mensurar o aumento dos disparos por WhatsApp nas últimas semanas, mas foi muito ampliado. Há uma rede de empresários que ajudam nesse financiamento, de acordo com o inquérito das Fake News. E parte do dinheiro vem pela propaganda via grandes audiências em plataformas sociais.
A principal mensagem da campanha negativa governista se concentra na acusação de corrupção de Lula. É hipócrita — há rachadinhas, imóveis comprados em dinheiro vivo e o Orçamento Secreto desvendado pelo Estadão. E distorce ao ignorar o fato de que, gostem ou não seus adversários, a Justiça já deu a palavra final. Lula nada deve a ela. Bolsonaro deve.
Como se controla desinformação feita em guerrilha num pleito onde a democracia está em jogo e o outro lado não tem qualquer pudor? Enquanto gritam censura, afinal, lutam para censurar pesquisas.