A Creditas, um dos últimos “unicórnios” (avaliada acima de US$ 1 bilhão) nacionais a resistir às demissões em massa, também enxugou o quadro de funcionários nesta segunda, 20. A fintech de crédito fez uma reestruturação no seu braço de venda e financiamento de veículos, o Creditas Auto, que resultou na redução do quadro em, ao menos, 100 pessoas.
As mudanças foram comunicadas aos funcionários da startup pelo CEO Sergio Furio na manhã desta segunda. Na mensagem, o executivo afirma a reestruturação levará à terceirização do chamado CPC, centro de operação que preparava veículos para as vendas. Inaugurado em 2021, o espaço oferece áreas de mecânica, funilaria, pintura e estética automotiva e também um estúdio fotográfico.
Furio afirma também que a startup passará a focar mais na compra e venda direta entre clientes, tirando o foco das lojas. “No processo de expansão do negócio, percebemos que poderíamos ser mais eficientes com um modelo de negócio mais ágil”, disse o executivo ao Estadão.
A operação do CPC será terceirizada e, com o menor estoque de veículos, a companhia afirma também que vai fechar três de suas seis lojas físicas de veículos. A loja do Rio de Janeiro será fechada em junho, enquanto uma das lojas de São Paulo será encerrada em abril (ainda não há definição sobre qual será a loja fechada). Já a loja ligada ao CPC, localizada em Barueri (SP), que tinha área de 30 mil metros quadrados e capacidade para abrigar 3 mil carros será encerrada nos próximos dias.
“Nos próximos meses, trabalharemos conjuntamente na desmobilização dos espaços físicos e no apoio para recolocação das equipes”, diz a mensagem. Na mensagem, Furio não detalhou qual será o tamanho dos desligamentos. Inicialmente, comentava-se que os cortes afetariam pelos menos 150 pessoas. Ao Estadão, Furio afirma que nenhum desligamento foi oficializado nesta segunda. “Cerca de 95 funcionários do CPC poderão ser integrados ou não à terceirizada, e há um processo em aberto no momento”, diz ele. “Mas eles deixam de ser funcionários da Creditas”.
Ainda há um número menor de funcionários ligados às operações das lojas físicas, em média cinco em cada uma, que serão cortados, segundo o executivo.
Profissionais das áreas de tecnologia e gestão poderão ser migrados para outras áreas da startup (incluindo o novo modelo de operação da Creditas Auto), mas os casos serão discutidos com os gestores de cada setor.
“Estamos mirando a máxima eficiência e essa decisão é uma das maneiras de atingir isso”, disse ele à reportagem.
Crise é grande entre ‘unicórnios’
Conhecidas por contratar centenas de funcionários ao mês, as startups têm realizado centenas de demissões pelo mundo — o fenômeno não é exclusivo do Brasil. O período tem sido batizado de “inverno das startups”, após a onda positiva causada pela digitalização da pandemia nos últimos dois anos.
Segundo especialistas consultados pelo Estadão nos últimos meses, as demissões ocorrem como reajuste de rota em meio à alta global nos preços e à guerra da Ucrânia, que desorganiza a cadeia produtiva mundial. Nesse cenário, investidores viram as costas para investimentos de risco, como startups. Com isso, levantar rodadas tem sido mais difícil do que durante a pandemia, quando o apetite dos investidores por risco era maior.
O processo tem sido especialmente duro com as startups maiores, que estão no momento conhecido como “late stage”. Nesse estágio de maturidade, as empresas queimam dinheiro velozmente na tentativa de crescer e ganhar mercado - sem o dinheiro, elas precisam preservar caixa para sobreviver.
Entre os unicórnios nacionais que já fizeram demissões em massa nos últimos meses estão 99, Loggi, QuintoAndar, Loft, Facily, Vtex, Ebanx, MadeiraMadeira, Mercado Bitcoin, Olist, Unico, Hotmart, Dock e Wildlife. A mexicana Kavak, maior unicórnio da América Latina, também fez cortes severos na operação brasileira. Os mais recentes unicórnios a demitir foram o iFood, que dispensou 355 pessoas, e a Loft, que fez sua quarta rodada de dispensas desde o início da crise.