Aaron Swartz, fundador do Reddit, morreu há 10 anos, mas seu alerta sobre a internet segue urgente


Programador e ativista foi alvo de perseguição por defender livre acesso de conhecimento na internet

Por Bruna Arimathea
Atualização:

Aaron Swartz poderia ter reprisado uma história vista com frequência no Vale do Silício: aos 19 anos, o jovem prodígio da programação se tornou milionário após vender o Reddit, empresa da qual é cofundador. Ele, porém, abandonou a vida de ‘startupeiro’ para se tornar a principal voz de sua geração contra o poder de grandes corporações de internet — uma decisão incomum e trágica.

Em 11 de janeiro de 2013, Swartz foi encontrado morto aos 26 anos após protagonizar uma disputa pela livre circulação de artigos acadêmicos contra o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O episódio encerrou de maneira triste e precoce a trajetória Swartz, mas os alertas deixados por ele sobre o controle da internet seguem atuais e urgentes.

Um dos principais pontos defendidos por Swartz era de que a internet não poderia ser um lugar de domínio de poucas empresas. Na época, as gigantes da tecnologia, como Google e Facebook, não eram nem tão poderosas nem tão ricas quanto hoje, mas já davam indícios de que poderiam ser ameaças a uma internet descentralizada.

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“Não é uma questão de quem tem acesso e sim de quem tem o controle da forma como as informações acham as pessoas”, dizia Swartz a respeito do controle de grandes empresas de tecnologia. Ele temia que as gigantes pudessem não apenas restringir, mas também moderar aquilo que as pessoas consomem na rede.

Talvez, Swartz não tivesse imaginado que plataformas digitais pudessem ter participação em eventos como os ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília. Mas ele temia que empresas de internet atuassem como grandes intermediários da informação e da organização pública — para ele, o acesso à informação era, acima de tudo, um dever político, que não poderia estar nas mãos de empresas com seus próprios interesses.

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“Hoje em dia, essa preocupação se combina com o poder de disseminação e viralização da comunicação de uma plataforma. E esse não é um problema somente das plataformas, mas também daquilo que está por trás da radicalização nas redes e dos pontos de difusão dessas ideias extremistas”, afirma Rafael Zanatta, diretor executivo da Data Privacy Brasil, ao Estadão.

Ou seja, Swartz julgava ser imprescindível que todos tivessem acesso à informação produzida por cientistas, políticos e autoridades, além de documentos públicos. A ideia era fornecer insumos para que as pessoas pudessem ter um pensamento crítico baseado em todo o conhecimento possível produzido — é algo que parece trabalhar em oposição das atuais bolhas na internet, onde fontes questionáveis de informação retroalimentam de maneira infinita crenças pré-existentes.

Não é uma questão de quem tem acesso e sim de quem tem o controle da forma como as informações acham as pessoas”

Aaron Swartz

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Algoritmos

Uma característica da internet atual que reforça os temores de Swartz sobre o controle corporativo da internet é a utilização de algoritmos para a curadoria do conteúdo. No modelo das empresas, quanto mais a plataforma é utilizada pelo usuário, maior é a receita gerada. Dessa forma, os algoritmos não apenas servem como ferramentas de controle de informação, mas também são engrenagens para manter as pessoas envolvidas com a plataforma — mesmo que isso signifique conteúdo de ódio e desinformação.

O Twitter, por exemplo, é uma das empresas com uma plataforma turbinada por algoritmos na curadoria — e ainda conta com o agravante de ter se tornado parte de um projeto pessoal do bilionário Elon Musk. Outras plataformas como Facebook, Instagram e TikTok — precursor da personalização excessiva dos algoritmos — adotaram a mesma lógica para reter os usuários o maior tempo possível nas telinhas.

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Antes de sistemas do tipo se tornarem sofisticados, Swartz já tinha uma solução na manga. O programador se destacou na cocriação do protocolo RSS (Really Simple Syndication), uma ferramenta de distribuição de links. A ferramenta foi pensada para ser um agregador independente de conteúdo. Assim, as pessoas poderiam selecionar e compartilhar links de forma que eles não dependessem de intermédio da plataforma. Ou seja, não existia uma empresa controlando índices como relevância, audiência ou engajamento.

Aaron alertava, já em 2010, sobre monopólio de grandes empresas de tecnologia Foto: Divulgação

“Atualmente, existe uma amarração entre conteúdo e plataforma, que faz com que você fique preso a um tipo de curadoria. A possibilidade de desmembrar conteúdo e plataforma é algo que está na raiz do projeto do RSS”, afirma Rafael Evangelista, professor da Universidade de Campinas (Unicamp).

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“Muitos dos problemas que temos hoje em relação a redes sociais, desinformação, economia da atenção, podem ter algum caminho de mudança com aquilo que o projeto do RSS tinha na sua raiz”, explica Evangelista. O serviço mais conhecido a utilizar o RSS foi o Google Reader, desativado em julho de 2013 para tristeza ainda hoje de um grupo bastante ativo de usuários. Não parece ser uma coincidência que o declínio do protocolo coincida com a ascensão das redes sociais como força moderadora das redes.

Legado

Atualmente, a internet passa por um novo momento de debate sobre descentralização — as grandes empresas de tecnologia estão sob a mira de reguladores em diferentes países. E alguns apostam que a web3, uma nova configuração da rede que aposta em comunicação direta entre usuários e em tecnologias de validação como blockchain, possa remover poder das gigantes.

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Há, porém, um longo caminho para essa transição de poder. “O problema é a centralização: desde o conhecimento até a infraestrutura da internet. É válido continuar questionando o monopólio, porque o benefício da internet foi dar voz para todo mundo”, explica Isabela Fernandes, diretora executiva do projeto TOR, rede anônima de código aberto. “Estamos vivendo crises em relação a isso, porque a lógica começa a ser influenciada pelos anúncios e pela necessidade de crescimento de usuários”.

Ainda que pareça utópica, a visão de internet proposta por Swartz deixou resultados concretos no mundo real. No Brasil, o trabalho dele inspirou a construção do Marco Civil da Internet e Lei Geral de Proteção de Dados — os cidadãos passaram a ter direitos no ambiente digital. Além disso, ele pavimentou o caminho para a demanda por transparência e informação, que se converteu em leis como a Lei de Acesso à Informação.

Atualmente, uma série de entidades nacionais tentam levar adiante o trabalho de ativismo em direitos digitais. Órgãos como o Coding Rights, Data Privacy Brasil, Internet Lab e o coletivo Coalizão Direitos na Rede são alguns que defendem o acesso à informação e o direito à leis que protejam a vida online dos indivíduos. O País, porém, ainda conta o Instituto Aaron Swartz Brasil, fundado em 2022 após autorização da mãe do programador, que busca conectar ativistas em prol do movimento de livre acesso da internet - a vida de Swartz foi retratada no documentário O Menino da Internet - a História de Aaaron Swartz.

“É difícil dizer exatamente o que Aaron estaria fazendo hoje, mas possivelmente, ajudaria a desenvolver mais mecanismos e ferramentas para tornar a internet um instrumento de participação cívica, de pressão da sociedade civil e cobrança política”, diz o instituto ao Estadão.

De fato, para quem ficou, a busca por uma internet diferente é o combustível principal. “É possível para as empresas continuarem fazendo dinheiro sem precisar de toda essa influência. O Aaron questionava muito, queria entender sempre se era possível mudar, fazer diferente e esse é o espírito ainda hoje”, diz Isabela.

Aaron Swartz poderia ter reprisado uma história vista com frequência no Vale do Silício: aos 19 anos, o jovem prodígio da programação se tornou milionário após vender o Reddit, empresa da qual é cofundador. Ele, porém, abandonou a vida de ‘startupeiro’ para se tornar a principal voz de sua geração contra o poder de grandes corporações de internet — uma decisão incomum e trágica.

Em 11 de janeiro de 2013, Swartz foi encontrado morto aos 26 anos após protagonizar uma disputa pela livre circulação de artigos acadêmicos contra o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O episódio encerrou de maneira triste e precoce a trajetória Swartz, mas os alertas deixados por ele sobre o controle da internet seguem atuais e urgentes.

Um dos principais pontos defendidos por Swartz era de que a internet não poderia ser um lugar de domínio de poucas empresas. Na época, as gigantes da tecnologia, como Google e Facebook, não eram nem tão poderosas nem tão ricas quanto hoje, mas já davam indícios de que poderiam ser ameaças a uma internet descentralizada.

“Não é uma questão de quem tem acesso e sim de quem tem o controle da forma como as informações acham as pessoas”, dizia Swartz a respeito do controle de grandes empresas de tecnologia. Ele temia que as gigantes pudessem não apenas restringir, mas também moderar aquilo que as pessoas consomem na rede.

Talvez, Swartz não tivesse imaginado que plataformas digitais pudessem ter participação em eventos como os ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília. Mas ele temia que empresas de internet atuassem como grandes intermediários da informação e da organização pública — para ele, o acesso à informação era, acima de tudo, um dever político, que não poderia estar nas mãos de empresas com seus próprios interesses.

“Hoje em dia, essa preocupação se combina com o poder de disseminação e viralização da comunicação de uma plataforma. E esse não é um problema somente das plataformas, mas também daquilo que está por trás da radicalização nas redes e dos pontos de difusão dessas ideias extremistas”, afirma Rafael Zanatta, diretor executivo da Data Privacy Brasil, ao Estadão.

Ou seja, Swartz julgava ser imprescindível que todos tivessem acesso à informação produzida por cientistas, políticos e autoridades, além de documentos públicos. A ideia era fornecer insumos para que as pessoas pudessem ter um pensamento crítico baseado em todo o conhecimento possível produzido — é algo que parece trabalhar em oposição das atuais bolhas na internet, onde fontes questionáveis de informação retroalimentam de maneira infinita crenças pré-existentes.

Não é uma questão de quem tem acesso e sim de quem tem o controle da forma como as informações acham as pessoas”

Aaron Swartz

Algoritmos

Uma característica da internet atual que reforça os temores de Swartz sobre o controle corporativo da internet é a utilização de algoritmos para a curadoria do conteúdo. No modelo das empresas, quanto mais a plataforma é utilizada pelo usuário, maior é a receita gerada. Dessa forma, os algoritmos não apenas servem como ferramentas de controle de informação, mas também são engrenagens para manter as pessoas envolvidas com a plataforma — mesmo que isso signifique conteúdo de ódio e desinformação.

O Twitter, por exemplo, é uma das empresas com uma plataforma turbinada por algoritmos na curadoria — e ainda conta com o agravante de ter se tornado parte de um projeto pessoal do bilionário Elon Musk. Outras plataformas como Facebook, Instagram e TikTok — precursor da personalização excessiva dos algoritmos — adotaram a mesma lógica para reter os usuários o maior tempo possível nas telinhas.

Antes de sistemas do tipo se tornarem sofisticados, Swartz já tinha uma solução na manga. O programador se destacou na cocriação do protocolo RSS (Really Simple Syndication), uma ferramenta de distribuição de links. A ferramenta foi pensada para ser um agregador independente de conteúdo. Assim, as pessoas poderiam selecionar e compartilhar links de forma que eles não dependessem de intermédio da plataforma. Ou seja, não existia uma empresa controlando índices como relevância, audiência ou engajamento.

Aaron alertava, já em 2010, sobre monopólio de grandes empresas de tecnologia Foto: Divulgação

“Atualmente, existe uma amarração entre conteúdo e plataforma, que faz com que você fique preso a um tipo de curadoria. A possibilidade de desmembrar conteúdo e plataforma é algo que está na raiz do projeto do RSS”, afirma Rafael Evangelista, professor da Universidade de Campinas (Unicamp).

“Muitos dos problemas que temos hoje em relação a redes sociais, desinformação, economia da atenção, podem ter algum caminho de mudança com aquilo que o projeto do RSS tinha na sua raiz”, explica Evangelista. O serviço mais conhecido a utilizar o RSS foi o Google Reader, desativado em julho de 2013 para tristeza ainda hoje de um grupo bastante ativo de usuários. Não parece ser uma coincidência que o declínio do protocolo coincida com a ascensão das redes sociais como força moderadora das redes.

Legado

Atualmente, a internet passa por um novo momento de debate sobre descentralização — as grandes empresas de tecnologia estão sob a mira de reguladores em diferentes países. E alguns apostam que a web3, uma nova configuração da rede que aposta em comunicação direta entre usuários e em tecnologias de validação como blockchain, possa remover poder das gigantes.

Há, porém, um longo caminho para essa transição de poder. “O problema é a centralização: desde o conhecimento até a infraestrutura da internet. É válido continuar questionando o monopólio, porque o benefício da internet foi dar voz para todo mundo”, explica Isabela Fernandes, diretora executiva do projeto TOR, rede anônima de código aberto. “Estamos vivendo crises em relação a isso, porque a lógica começa a ser influenciada pelos anúncios e pela necessidade de crescimento de usuários”.

Ainda que pareça utópica, a visão de internet proposta por Swartz deixou resultados concretos no mundo real. No Brasil, o trabalho dele inspirou a construção do Marco Civil da Internet e Lei Geral de Proteção de Dados — os cidadãos passaram a ter direitos no ambiente digital. Além disso, ele pavimentou o caminho para a demanda por transparência e informação, que se converteu em leis como a Lei de Acesso à Informação.

Atualmente, uma série de entidades nacionais tentam levar adiante o trabalho de ativismo em direitos digitais. Órgãos como o Coding Rights, Data Privacy Brasil, Internet Lab e o coletivo Coalizão Direitos na Rede são alguns que defendem o acesso à informação e o direito à leis que protejam a vida online dos indivíduos. O País, porém, ainda conta o Instituto Aaron Swartz Brasil, fundado em 2022 após autorização da mãe do programador, que busca conectar ativistas em prol do movimento de livre acesso da internet - a vida de Swartz foi retratada no documentário O Menino da Internet - a História de Aaaron Swartz.

“É difícil dizer exatamente o que Aaron estaria fazendo hoje, mas possivelmente, ajudaria a desenvolver mais mecanismos e ferramentas para tornar a internet um instrumento de participação cívica, de pressão da sociedade civil e cobrança política”, diz o instituto ao Estadão.

De fato, para quem ficou, a busca por uma internet diferente é o combustível principal. “É possível para as empresas continuarem fazendo dinheiro sem precisar de toda essa influência. O Aaron questionava muito, queria entender sempre se era possível mudar, fazer diferente e esse é o espírito ainda hoje”, diz Isabela.

Aaron Swartz poderia ter reprisado uma história vista com frequência no Vale do Silício: aos 19 anos, o jovem prodígio da programação se tornou milionário após vender o Reddit, empresa da qual é cofundador. Ele, porém, abandonou a vida de ‘startupeiro’ para se tornar a principal voz de sua geração contra o poder de grandes corporações de internet — uma decisão incomum e trágica.

Em 11 de janeiro de 2013, Swartz foi encontrado morto aos 26 anos após protagonizar uma disputa pela livre circulação de artigos acadêmicos contra o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O episódio encerrou de maneira triste e precoce a trajetória Swartz, mas os alertas deixados por ele sobre o controle da internet seguem atuais e urgentes.

Um dos principais pontos defendidos por Swartz era de que a internet não poderia ser um lugar de domínio de poucas empresas. Na época, as gigantes da tecnologia, como Google e Facebook, não eram nem tão poderosas nem tão ricas quanto hoje, mas já davam indícios de que poderiam ser ameaças a uma internet descentralizada.

“Não é uma questão de quem tem acesso e sim de quem tem o controle da forma como as informações acham as pessoas”, dizia Swartz a respeito do controle de grandes empresas de tecnologia. Ele temia que as gigantes pudessem não apenas restringir, mas também moderar aquilo que as pessoas consomem na rede.

Talvez, Swartz não tivesse imaginado que plataformas digitais pudessem ter participação em eventos como os ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília. Mas ele temia que empresas de internet atuassem como grandes intermediários da informação e da organização pública — para ele, o acesso à informação era, acima de tudo, um dever político, que não poderia estar nas mãos de empresas com seus próprios interesses.

“Hoje em dia, essa preocupação se combina com o poder de disseminação e viralização da comunicação de uma plataforma. E esse não é um problema somente das plataformas, mas também daquilo que está por trás da radicalização nas redes e dos pontos de difusão dessas ideias extremistas”, afirma Rafael Zanatta, diretor executivo da Data Privacy Brasil, ao Estadão.

Ou seja, Swartz julgava ser imprescindível que todos tivessem acesso à informação produzida por cientistas, políticos e autoridades, além de documentos públicos. A ideia era fornecer insumos para que as pessoas pudessem ter um pensamento crítico baseado em todo o conhecimento possível produzido — é algo que parece trabalhar em oposição das atuais bolhas na internet, onde fontes questionáveis de informação retroalimentam de maneira infinita crenças pré-existentes.

Não é uma questão de quem tem acesso e sim de quem tem o controle da forma como as informações acham as pessoas”

Aaron Swartz

Algoritmos

Uma característica da internet atual que reforça os temores de Swartz sobre o controle corporativo da internet é a utilização de algoritmos para a curadoria do conteúdo. No modelo das empresas, quanto mais a plataforma é utilizada pelo usuário, maior é a receita gerada. Dessa forma, os algoritmos não apenas servem como ferramentas de controle de informação, mas também são engrenagens para manter as pessoas envolvidas com a plataforma — mesmo que isso signifique conteúdo de ódio e desinformação.

O Twitter, por exemplo, é uma das empresas com uma plataforma turbinada por algoritmos na curadoria — e ainda conta com o agravante de ter se tornado parte de um projeto pessoal do bilionário Elon Musk. Outras plataformas como Facebook, Instagram e TikTok — precursor da personalização excessiva dos algoritmos — adotaram a mesma lógica para reter os usuários o maior tempo possível nas telinhas.

Antes de sistemas do tipo se tornarem sofisticados, Swartz já tinha uma solução na manga. O programador se destacou na cocriação do protocolo RSS (Really Simple Syndication), uma ferramenta de distribuição de links. A ferramenta foi pensada para ser um agregador independente de conteúdo. Assim, as pessoas poderiam selecionar e compartilhar links de forma que eles não dependessem de intermédio da plataforma. Ou seja, não existia uma empresa controlando índices como relevância, audiência ou engajamento.

Aaron alertava, já em 2010, sobre monopólio de grandes empresas de tecnologia Foto: Divulgação

“Atualmente, existe uma amarração entre conteúdo e plataforma, que faz com que você fique preso a um tipo de curadoria. A possibilidade de desmembrar conteúdo e plataforma é algo que está na raiz do projeto do RSS”, afirma Rafael Evangelista, professor da Universidade de Campinas (Unicamp).

“Muitos dos problemas que temos hoje em relação a redes sociais, desinformação, economia da atenção, podem ter algum caminho de mudança com aquilo que o projeto do RSS tinha na sua raiz”, explica Evangelista. O serviço mais conhecido a utilizar o RSS foi o Google Reader, desativado em julho de 2013 para tristeza ainda hoje de um grupo bastante ativo de usuários. Não parece ser uma coincidência que o declínio do protocolo coincida com a ascensão das redes sociais como força moderadora das redes.

Legado

Atualmente, a internet passa por um novo momento de debate sobre descentralização — as grandes empresas de tecnologia estão sob a mira de reguladores em diferentes países. E alguns apostam que a web3, uma nova configuração da rede que aposta em comunicação direta entre usuários e em tecnologias de validação como blockchain, possa remover poder das gigantes.

Há, porém, um longo caminho para essa transição de poder. “O problema é a centralização: desde o conhecimento até a infraestrutura da internet. É válido continuar questionando o monopólio, porque o benefício da internet foi dar voz para todo mundo”, explica Isabela Fernandes, diretora executiva do projeto TOR, rede anônima de código aberto. “Estamos vivendo crises em relação a isso, porque a lógica começa a ser influenciada pelos anúncios e pela necessidade de crescimento de usuários”.

Ainda que pareça utópica, a visão de internet proposta por Swartz deixou resultados concretos no mundo real. No Brasil, o trabalho dele inspirou a construção do Marco Civil da Internet e Lei Geral de Proteção de Dados — os cidadãos passaram a ter direitos no ambiente digital. Além disso, ele pavimentou o caminho para a demanda por transparência e informação, que se converteu em leis como a Lei de Acesso à Informação.

Atualmente, uma série de entidades nacionais tentam levar adiante o trabalho de ativismo em direitos digitais. Órgãos como o Coding Rights, Data Privacy Brasil, Internet Lab e o coletivo Coalizão Direitos na Rede são alguns que defendem o acesso à informação e o direito à leis que protejam a vida online dos indivíduos. O País, porém, ainda conta o Instituto Aaron Swartz Brasil, fundado em 2022 após autorização da mãe do programador, que busca conectar ativistas em prol do movimento de livre acesso da internet - a vida de Swartz foi retratada no documentário O Menino da Internet - a História de Aaaron Swartz.

“É difícil dizer exatamente o que Aaron estaria fazendo hoje, mas possivelmente, ajudaria a desenvolver mais mecanismos e ferramentas para tornar a internet um instrumento de participação cívica, de pressão da sociedade civil e cobrança política”, diz o instituto ao Estadão.

De fato, para quem ficou, a busca por uma internet diferente é o combustível principal. “É possível para as empresas continuarem fazendo dinheiro sem precisar de toda essa influência. O Aaron questionava muito, queria entender sempre se era possível mudar, fazer diferente e esse é o espírito ainda hoje”, diz Isabela.

Aaron Swartz poderia ter reprisado uma história vista com frequência no Vale do Silício: aos 19 anos, o jovem prodígio da programação se tornou milionário após vender o Reddit, empresa da qual é cofundador. Ele, porém, abandonou a vida de ‘startupeiro’ para se tornar a principal voz de sua geração contra o poder de grandes corporações de internet — uma decisão incomum e trágica.

Em 11 de janeiro de 2013, Swartz foi encontrado morto aos 26 anos após protagonizar uma disputa pela livre circulação de artigos acadêmicos contra o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O episódio encerrou de maneira triste e precoce a trajetória Swartz, mas os alertas deixados por ele sobre o controle da internet seguem atuais e urgentes.

Um dos principais pontos defendidos por Swartz era de que a internet não poderia ser um lugar de domínio de poucas empresas. Na época, as gigantes da tecnologia, como Google e Facebook, não eram nem tão poderosas nem tão ricas quanto hoje, mas já davam indícios de que poderiam ser ameaças a uma internet descentralizada.

“Não é uma questão de quem tem acesso e sim de quem tem o controle da forma como as informações acham as pessoas”, dizia Swartz a respeito do controle de grandes empresas de tecnologia. Ele temia que as gigantes pudessem não apenas restringir, mas também moderar aquilo que as pessoas consomem na rede.

Talvez, Swartz não tivesse imaginado que plataformas digitais pudessem ter participação em eventos como os ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília. Mas ele temia que empresas de internet atuassem como grandes intermediários da informação e da organização pública — para ele, o acesso à informação era, acima de tudo, um dever político, que não poderia estar nas mãos de empresas com seus próprios interesses.

“Hoje em dia, essa preocupação se combina com o poder de disseminação e viralização da comunicação de uma plataforma. E esse não é um problema somente das plataformas, mas também daquilo que está por trás da radicalização nas redes e dos pontos de difusão dessas ideias extremistas”, afirma Rafael Zanatta, diretor executivo da Data Privacy Brasil, ao Estadão.

Ou seja, Swartz julgava ser imprescindível que todos tivessem acesso à informação produzida por cientistas, políticos e autoridades, além de documentos públicos. A ideia era fornecer insumos para que as pessoas pudessem ter um pensamento crítico baseado em todo o conhecimento possível produzido — é algo que parece trabalhar em oposição das atuais bolhas na internet, onde fontes questionáveis de informação retroalimentam de maneira infinita crenças pré-existentes.

Não é uma questão de quem tem acesso e sim de quem tem o controle da forma como as informações acham as pessoas”

Aaron Swartz

Algoritmos

Uma característica da internet atual que reforça os temores de Swartz sobre o controle corporativo da internet é a utilização de algoritmos para a curadoria do conteúdo. No modelo das empresas, quanto mais a plataforma é utilizada pelo usuário, maior é a receita gerada. Dessa forma, os algoritmos não apenas servem como ferramentas de controle de informação, mas também são engrenagens para manter as pessoas envolvidas com a plataforma — mesmo que isso signifique conteúdo de ódio e desinformação.

O Twitter, por exemplo, é uma das empresas com uma plataforma turbinada por algoritmos na curadoria — e ainda conta com o agravante de ter se tornado parte de um projeto pessoal do bilionário Elon Musk. Outras plataformas como Facebook, Instagram e TikTok — precursor da personalização excessiva dos algoritmos — adotaram a mesma lógica para reter os usuários o maior tempo possível nas telinhas.

Antes de sistemas do tipo se tornarem sofisticados, Swartz já tinha uma solução na manga. O programador se destacou na cocriação do protocolo RSS (Really Simple Syndication), uma ferramenta de distribuição de links. A ferramenta foi pensada para ser um agregador independente de conteúdo. Assim, as pessoas poderiam selecionar e compartilhar links de forma que eles não dependessem de intermédio da plataforma. Ou seja, não existia uma empresa controlando índices como relevância, audiência ou engajamento.

Aaron alertava, já em 2010, sobre monopólio de grandes empresas de tecnologia Foto: Divulgação

“Atualmente, existe uma amarração entre conteúdo e plataforma, que faz com que você fique preso a um tipo de curadoria. A possibilidade de desmembrar conteúdo e plataforma é algo que está na raiz do projeto do RSS”, afirma Rafael Evangelista, professor da Universidade de Campinas (Unicamp).

“Muitos dos problemas que temos hoje em relação a redes sociais, desinformação, economia da atenção, podem ter algum caminho de mudança com aquilo que o projeto do RSS tinha na sua raiz”, explica Evangelista. O serviço mais conhecido a utilizar o RSS foi o Google Reader, desativado em julho de 2013 para tristeza ainda hoje de um grupo bastante ativo de usuários. Não parece ser uma coincidência que o declínio do protocolo coincida com a ascensão das redes sociais como força moderadora das redes.

Legado

Atualmente, a internet passa por um novo momento de debate sobre descentralização — as grandes empresas de tecnologia estão sob a mira de reguladores em diferentes países. E alguns apostam que a web3, uma nova configuração da rede que aposta em comunicação direta entre usuários e em tecnologias de validação como blockchain, possa remover poder das gigantes.

Há, porém, um longo caminho para essa transição de poder. “O problema é a centralização: desde o conhecimento até a infraestrutura da internet. É válido continuar questionando o monopólio, porque o benefício da internet foi dar voz para todo mundo”, explica Isabela Fernandes, diretora executiva do projeto TOR, rede anônima de código aberto. “Estamos vivendo crises em relação a isso, porque a lógica começa a ser influenciada pelos anúncios e pela necessidade de crescimento de usuários”.

Ainda que pareça utópica, a visão de internet proposta por Swartz deixou resultados concretos no mundo real. No Brasil, o trabalho dele inspirou a construção do Marco Civil da Internet e Lei Geral de Proteção de Dados — os cidadãos passaram a ter direitos no ambiente digital. Além disso, ele pavimentou o caminho para a demanda por transparência e informação, que se converteu em leis como a Lei de Acesso à Informação.

Atualmente, uma série de entidades nacionais tentam levar adiante o trabalho de ativismo em direitos digitais. Órgãos como o Coding Rights, Data Privacy Brasil, Internet Lab e o coletivo Coalizão Direitos na Rede são alguns que defendem o acesso à informação e o direito à leis que protejam a vida online dos indivíduos. O País, porém, ainda conta o Instituto Aaron Swartz Brasil, fundado em 2022 após autorização da mãe do programador, que busca conectar ativistas em prol do movimento de livre acesso da internet - a vida de Swartz foi retratada no documentário O Menino da Internet - a História de Aaaron Swartz.

“É difícil dizer exatamente o que Aaron estaria fazendo hoje, mas possivelmente, ajudaria a desenvolver mais mecanismos e ferramentas para tornar a internet um instrumento de participação cívica, de pressão da sociedade civil e cobrança política”, diz o instituto ao Estadão.

De fato, para quem ficou, a busca por uma internet diferente é o combustível principal. “É possível para as empresas continuarem fazendo dinheiro sem precisar de toda essa influência. O Aaron questionava muito, queria entender sempre se era possível mudar, fazer diferente e esse é o espírito ainda hoje”, diz Isabela.

Aaron Swartz poderia ter reprisado uma história vista com frequência no Vale do Silício: aos 19 anos, o jovem prodígio da programação se tornou milionário após vender o Reddit, empresa da qual é cofundador. Ele, porém, abandonou a vida de ‘startupeiro’ para se tornar a principal voz de sua geração contra o poder de grandes corporações de internet — uma decisão incomum e trágica.

Em 11 de janeiro de 2013, Swartz foi encontrado morto aos 26 anos após protagonizar uma disputa pela livre circulação de artigos acadêmicos contra o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O episódio encerrou de maneira triste e precoce a trajetória Swartz, mas os alertas deixados por ele sobre o controle da internet seguem atuais e urgentes.

Um dos principais pontos defendidos por Swartz era de que a internet não poderia ser um lugar de domínio de poucas empresas. Na época, as gigantes da tecnologia, como Google e Facebook, não eram nem tão poderosas nem tão ricas quanto hoje, mas já davam indícios de que poderiam ser ameaças a uma internet descentralizada.

“Não é uma questão de quem tem acesso e sim de quem tem o controle da forma como as informações acham as pessoas”, dizia Swartz a respeito do controle de grandes empresas de tecnologia. Ele temia que as gigantes pudessem não apenas restringir, mas também moderar aquilo que as pessoas consomem na rede.

Talvez, Swartz não tivesse imaginado que plataformas digitais pudessem ter participação em eventos como os ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília. Mas ele temia que empresas de internet atuassem como grandes intermediários da informação e da organização pública — para ele, o acesso à informação era, acima de tudo, um dever político, que não poderia estar nas mãos de empresas com seus próprios interesses.

“Hoje em dia, essa preocupação se combina com o poder de disseminação e viralização da comunicação de uma plataforma. E esse não é um problema somente das plataformas, mas também daquilo que está por trás da radicalização nas redes e dos pontos de difusão dessas ideias extremistas”, afirma Rafael Zanatta, diretor executivo da Data Privacy Brasil, ao Estadão.

Ou seja, Swartz julgava ser imprescindível que todos tivessem acesso à informação produzida por cientistas, políticos e autoridades, além de documentos públicos. A ideia era fornecer insumos para que as pessoas pudessem ter um pensamento crítico baseado em todo o conhecimento possível produzido — é algo que parece trabalhar em oposição das atuais bolhas na internet, onde fontes questionáveis de informação retroalimentam de maneira infinita crenças pré-existentes.

Não é uma questão de quem tem acesso e sim de quem tem o controle da forma como as informações acham as pessoas”

Aaron Swartz

Algoritmos

Uma característica da internet atual que reforça os temores de Swartz sobre o controle corporativo da internet é a utilização de algoritmos para a curadoria do conteúdo. No modelo das empresas, quanto mais a plataforma é utilizada pelo usuário, maior é a receita gerada. Dessa forma, os algoritmos não apenas servem como ferramentas de controle de informação, mas também são engrenagens para manter as pessoas envolvidas com a plataforma — mesmo que isso signifique conteúdo de ódio e desinformação.

O Twitter, por exemplo, é uma das empresas com uma plataforma turbinada por algoritmos na curadoria — e ainda conta com o agravante de ter se tornado parte de um projeto pessoal do bilionário Elon Musk. Outras plataformas como Facebook, Instagram e TikTok — precursor da personalização excessiva dos algoritmos — adotaram a mesma lógica para reter os usuários o maior tempo possível nas telinhas.

Antes de sistemas do tipo se tornarem sofisticados, Swartz já tinha uma solução na manga. O programador se destacou na cocriação do protocolo RSS (Really Simple Syndication), uma ferramenta de distribuição de links. A ferramenta foi pensada para ser um agregador independente de conteúdo. Assim, as pessoas poderiam selecionar e compartilhar links de forma que eles não dependessem de intermédio da plataforma. Ou seja, não existia uma empresa controlando índices como relevância, audiência ou engajamento.

Aaron alertava, já em 2010, sobre monopólio de grandes empresas de tecnologia Foto: Divulgação

“Atualmente, existe uma amarração entre conteúdo e plataforma, que faz com que você fique preso a um tipo de curadoria. A possibilidade de desmembrar conteúdo e plataforma é algo que está na raiz do projeto do RSS”, afirma Rafael Evangelista, professor da Universidade de Campinas (Unicamp).

“Muitos dos problemas que temos hoje em relação a redes sociais, desinformação, economia da atenção, podem ter algum caminho de mudança com aquilo que o projeto do RSS tinha na sua raiz”, explica Evangelista. O serviço mais conhecido a utilizar o RSS foi o Google Reader, desativado em julho de 2013 para tristeza ainda hoje de um grupo bastante ativo de usuários. Não parece ser uma coincidência que o declínio do protocolo coincida com a ascensão das redes sociais como força moderadora das redes.

Legado

Atualmente, a internet passa por um novo momento de debate sobre descentralização — as grandes empresas de tecnologia estão sob a mira de reguladores em diferentes países. E alguns apostam que a web3, uma nova configuração da rede que aposta em comunicação direta entre usuários e em tecnologias de validação como blockchain, possa remover poder das gigantes.

Há, porém, um longo caminho para essa transição de poder. “O problema é a centralização: desde o conhecimento até a infraestrutura da internet. É válido continuar questionando o monopólio, porque o benefício da internet foi dar voz para todo mundo”, explica Isabela Fernandes, diretora executiva do projeto TOR, rede anônima de código aberto. “Estamos vivendo crises em relação a isso, porque a lógica começa a ser influenciada pelos anúncios e pela necessidade de crescimento de usuários”.

Ainda que pareça utópica, a visão de internet proposta por Swartz deixou resultados concretos no mundo real. No Brasil, o trabalho dele inspirou a construção do Marco Civil da Internet e Lei Geral de Proteção de Dados — os cidadãos passaram a ter direitos no ambiente digital. Além disso, ele pavimentou o caminho para a demanda por transparência e informação, que se converteu em leis como a Lei de Acesso à Informação.

Atualmente, uma série de entidades nacionais tentam levar adiante o trabalho de ativismo em direitos digitais. Órgãos como o Coding Rights, Data Privacy Brasil, Internet Lab e o coletivo Coalizão Direitos na Rede são alguns que defendem o acesso à informação e o direito à leis que protejam a vida online dos indivíduos. O País, porém, ainda conta o Instituto Aaron Swartz Brasil, fundado em 2022 após autorização da mãe do programador, que busca conectar ativistas em prol do movimento de livre acesso da internet - a vida de Swartz foi retratada no documentário O Menino da Internet - a História de Aaaron Swartz.

“É difícil dizer exatamente o que Aaron estaria fazendo hoje, mas possivelmente, ajudaria a desenvolver mais mecanismos e ferramentas para tornar a internet um instrumento de participação cívica, de pressão da sociedade civil e cobrança política”, diz o instituto ao Estadão.

De fato, para quem ficou, a busca por uma internet diferente é o combustível principal. “É possível para as empresas continuarem fazendo dinheiro sem precisar de toda essa influência. O Aaron questionava muito, queria entender sempre se era possível mudar, fazer diferente e esse é o espírito ainda hoje”, diz Isabela.

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