THE NEW YORK TIMES - Nos dois anos desde que Andy Jassy substituiu Jeff Bezos como presidente executivo da Amazon, ele tem feito uma limpeza após a agressiva expansão pandêmica de sua empresa e após Bezos. Jassy controlou o crescimento voraz dos depósitos da Amazon, eliminou a grande quantidade de produtos da empresa e demitiu milhares de funcionários em vários dos projetos de estimação de Bezos.
Na terça-feira 26, ele recebeu outro desafio: uma ação judicial há muito esperada da Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês). O governo alegou que a Amazon usou táticas injustas para monopolizar as compras online de uma forma que aumenta os preços e prejudica a qualidade para os consumidores. A ação se concentrou em partes do negócio que decolaram antes de Jassy assumir o controle da divisão de varejo.
A queixa redigida menciona Bezos 16 vezes e Jassy, apenas duas.
Jassy se junta a outros grandes executivos de tecnologia que assumiram o controle de grandes empresas de fundadores idiossincráticos em momentos difíceis. Assim como acontece com esses outros chefes de segunda geração, o sucesso de Jassy não dependerá apenas do fato de ele ser um visionário como o homem que fundou a empresa. Ele também poderá ser moldado pela forma como ele lida com os temores dos investidores do jornal Wall Street e a desconfiança dos órgãos reguladores em Washington, EUA.
“Ele está limpando uma bagunça que outra pessoa criou”, disse Sucharita Kodali, analista da Forrester Research. “E ele está fazendo isso enquanto tenta manter o navio flutuando.”
Bill Gates passou a Microsoft para Steve Ballmer quando a empresa estava lidando com sua longa e contundente luta antitruste com o Departamento de Justiça. Ao mesmo tempo, a publicidade online e o software vendido pela Internet estavam impulsionando uma nova geração de jovens rivais, como o Google.
Na empresa controladora do Google, a Alphabet, Larry Page nomeou Sundar Pichai para dirigir a empresa, que estava lidando com uma força de trabalho inquieta devido a uma série de questões, incluindo assédio sexual e um contrato com o Departamento de Defesa. Suas práticas comerciais também estavam enfrentando um maior escrutínio dos órgãos reguladores em todo o mundo. Um ano após a transferência, o Departamento de Justiça processou o Google por violações antitruste, culminando em um julgamento que começou este mês.
Agora, Jassy tem sua própria luta com os reguladores, enquanto a vida de Bezos após a Amazon é obsessivamente documentada pelos paparazzi no que a Extra TV chamou de “férias de verão aparentemente intermináveis”.
Jassy disse que conversa com Bezos, que está envolvido na empresa como presidente executivo do conselho, cerca de uma vez por semana. A Amazon se recusou a comentar sobre Jassy. Mas a empresa disse que o caso da FTC não tem mérito e prejudicaria os clientes ao criar preços mais altos, entregas mais lentas e opções reduzidas para pequenas empresas.
Andy Jassy, sucessor de Jeff Bezos na Amazon
Jassy começou a trabalhar na Amazon em 1997, três dias depois de fazer seu último exame na Harvard Business School, EUA. Ele trabalhou no negócio de música da Amazon, o que na época significava vender CDs. A Amazon ainda era apenas uma varejista.
Jassy fundou a Amazon Web Services (AWS), que se tornou a principal fornecedora de serviços de computação em nuvem e um importante gerador de lucros para a Amazon, e conquistou um lugar na equipe de liderança da empresa. Seus clientes não eram consumidores. Eram empresas e outros empreendimentos que precisavam de serviços de tecnologia.
A ação judicial da FTC não trata de nenhum dos serviços oferecidos pela AWS. Em vez disso, ela se concentra nos negócios criados por outros executivos que supervisionavam o núcleo do negócio de varejo da Amazon, vários dos quais deixaram a empresa nos últimos anos.
A batalha legal com os órgãos reguladores parecia inevitável. Quando Bezos nomeou Jassy como seu sucessor, a investigação da FTC já havia começado. Jassy convocou um grupo de executivos da empresa para um briefing sobre a luta antitruste, de acordo com informações anteriores do The New York Times. Em seu primeiro ano, ele começou a fazer a ronda em Washington, reunindo-se com senadores, com o secretário de comércio e com as autoridades da Casa Branca, apresentando-se como um porta-voz diplomático e firme da empresa.
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“Ele fez muito, mas claramente terá muito mais a fazer”, disse Tom Forte, analista do banco de investimentos D.A. Davidson, que cobre a empresa há mais de duas décadas.
A supervisão do caso antitruste está a cargo de uma equipe sob o comando do conselheiro geral da empresa, David Zapolsky, que ingressou na Amazon em 1999, apenas dois anos após Jassy. Seus principais assistentes incluem Andrew DeVore, que representou a empresa perante o Congresso, e Bryson Bachman, que ingressou na Amazon há quatro anos, após deixar a divisão antitruste do Departamento de Justiça.
Tolerância pós-pandemia
Quando Jassy assumiu o cargo em julho de 2021, a pandemia havia impulsionado o crescimento da empresa. Mas esse crescimento logo atingiu um obstáculo.
Há muito tempo, Wall Street deu um passe para Jeff Bezos, tolerando períodos de pouco ou nenhum lucro enquanto a empresa buscava novos empreendimentos - desde produções de estúdio caras e uma organização maciça para construir o assistente de voz Alexa até entregas por drones e uma busca para construir mercearias de sucesso. Mas o preço das ações caiu rapidamente.
“Definitivamente, seria uma tarefa mais difícil para Jassy”, disse Kodali.
Embora Jassy tenha dito que “a equipe tomou a decisão certa” de gastar agressivamente na pandemia, ele freou a expansão dos armazéns da empresa, interrompeu o trabalho na maior fase da segunda sede planejada da Amazon, no Estado americano da Virgínia do Norte, e demitiu 27 mil funcionários corporativos e de tecnologia.
Ele encerrou ou reduziu algumas das apostas da empresa que ainda não haviam sido realmente recompensadas, demitindo funcionários de equipes que trabalhavam com o assistente de voz Alexa, drones e lojas automatizadas.
A empresa tem 1,46 milhão de funcionários, abaixo do pico de 1,62 milhão no início do ano passado.
As mudanças começaram a produzir resultados. O crescimento da Amazon ganhou força, e os lucros aumentaram mais do que Wall Street esperava. No último trimestre, as vendas cresceram 11%, chegando a US$ 134,4 bilhões, e o lucro aumentou para US$ 6,7 bilhões, em comparação com um pequeno prejuízo no ano anterior.
De muitas maneiras, o sucesso de Jassy veio do fato de tornar a Amazon mais dependente das partes do negócio que o FTC está visando: os serviços, como publicidade e atendimento, oferecidos aos vendedores em sua plataforma.
No ano passado, as vendas de produtos que a Amazon vende online diretamente aos clientes aumentaram apenas 4%, mas os serviços oferecidos aos vendedores para alcançar os clientes, incluindo taxas de remessa e indicação, cresceram 18%. A publicidade teve um aumento de 22%.
Os analistas afirmam que seus serviços são mais lucrativos do que a venda de produtos diretamente aos clientes, o que reflete o negócio de serviços de alta margem de lucro que Jassy desenvolveu na computação em nuvem.
Os produtos oferecidos pelos vendedores do mercado, e não diretamente pela Amazon, foram responsáveis por 60% de suas vendas no varejo no último trimestre. Em uma ligação com analistas do Wall Street Journal em agosto, Jassy passou 15 minutos expondo sua visão. Em chamadas anteriores, ele falou muito sobre o trabalho que fez para reduzir e se concentrar no que parecia ser os problemas que herdou.
Segundo Forte escreveu em uma nota aos investidores, essa foi “a descrição mais clara e mais evidente de sua visão para o futuro”. Ele falou sobre suas grandes ambições em inteligência artificial (IA), cuidados com a saúde e sucesso na reestruturação da logística para disponibilizar mais produtos com mais rapidez do que nunca.
Menos de dois meses depois, a FTC entrou com uma ação judicial, o que deu início a uma longa e contenciosa luta. / TRADUÇÃO POR ALICE LABATE