ChatGPT aumenta preocupações com desinformação na internet


Ferramenta de inteligência artificial pode tornar a produção de notícias falsas e teorias da conspiração mais baratas e com alcance maior

Por Tiffany Hsu e Stuart A. Thompson

THE NEW YORK TIMES - Logo após o lançamento do ChatGPT no ano passado, os pesquisadores testaram o que o chatbot de inteligência artificial escreveria quando fossem feitas perguntas com toques de teorias da conspiração e falsas narrativas.

Os resultados – em textos redigidos como matérias de jornal, artigos e roteiros para televisão – foram tão preocupantes que eles não fizeram arrodeio.

“Esta será a ferramenta mais poderosa para espalhar a desinformação que já existiu na internet”, disse Gordon Crovitz, co-CEO da NewsGuard, empresa que monitora a desinformação online e conduziu o experimento no mês passado. “Criar uma narrativa falsa agora pode ser feito em grande escala e com muito mais frequência. É como ter agentes de IA contribuindo para a desinformação.”

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É difícil rivalizar com a desinformação quando ela é criada manualmente por humanos. Os pesquisadores preveem que a tecnologia de inteligência artificial gerativa pode tornar a desinformação mais barata e mais fácil de ser produzida para um número ainda maior de teóricos da conspiração e propagadores de desinformação.

Segundo os pesquisadores, chatbots personalizados e em tempo real poderiam compartilhar teorias da conspiração de modos cada vez mais críveis e convincentes, solucionando falhas humanas como erros de sintaxe e de tradução e indo bem além do trabalho facilmente detectável de copiar e colar. E eles dizem que nenhuma tática de mitigação disponível é capaz de combater isso de forma eficaz.

Os antecessores do ChatGPT, criado pela empresa de inteligência artificial de São Francisco OpenAI, foram usados durante anos para apimentar fóruns online e redes sociais com comentários (muitas vezes com gramática duvidosa) e spam. A Microsoft precisou interromper o uso de seu chatbot, o Tay, 24 horas após apresentá-lo no Twitter em 2016, depois que trolls o ensinaram a vomitar vocabulário racista e xenófobo.

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O ChatGPT é muito mais poderoso e sofisticado. Alimentado com perguntas recheadas de desinformação, é capaz de produzir em massa variações convincentes e claras a respeito de um conteúdo em segundos, sem revelar suas fontes. Recentemente, a Microsoft e a OpenAI apresentaram uma nova versão do motor de busca e navegador Bing, que pode recorrer à tecnologia do chatbot para planejar férias, traduzir textos ou conduzir pesquisas.

Alimentando a desinformação

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Os pesquisadores da OpenAI temem há muito tempo que os chatbots caiam nas mãos de pessoas mal-intencionadas, tanto que escreveram um artigo em 2019 a respeito da “preocupação deles de que os recursos (da ferramenta) possam reduzir os custos de campanhas de desinformação” e ajudar na busca perversa “por dinheiro, uma agenda política específica e/ou um desejo de criar caos ou confusão”.

Em 2020, pesquisadores do Centro de Terrorismo, Extremismo e Contraterrorismo do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais descobriram que o GPT-3, a tecnologia de base do ChatGPT, tinha “conhecimento impressionantemente profundo das comunidades extremistas” e poderia receber comandos para criar polêmicas ao estilo de atiradores em massa, comentários longos e mentirosos em discussões sobre nazismo em fóruns, uma defesa do QAnon e até mesmo textos extremistas em várias línguas.

A OpenAI usa máquinas e humanos para monitorar o conteúdo usado para alimentar o ChatGPT e o que ele produz, diz a empresa. A tarefa conta tanto com treinadores humanos para a IA como com o feedback dos usuários para identificar e filtrar dados de treinamento tóxicos, ao mesmo tempo em que ensina o ChatGPT a produzir respostas mais fundamentadas.

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As políticas da OpenAI proíbem o uso de sua tecnologia para promover desonestidade, enganar ou manipular usuários ou tentar influenciar a política; a empresa oferece uma ferramenta de moderação gratuita para sinalizar conteúdo que incite ódio, automutilação, violência ou sexo. Mas, no momento, a ferramenta oferece suporte limitado para outros idiomas além do inglês e não identifica material político, spam, farsas ou malware. O ChatGPT avisa aos usuários que, “ocasionalmente, pode criar instruções perigosas ou conteúdo preconceituoso”.

Solução à desinformação

Recentemente, a OpenAI anunciou uma ferramenta específica para ajudar a identificar quando um texto foi escrito por um humano e não por inteligência artificial, em parte para reconhecer campanhas de desinformação automatizadas. A empresa alertou que sua ferramenta não era totalmente confiável – identificando com precisão o texto gerado por IA apenas 26% das vezes (enquanto classificava de modo errado o texto escrito por humanos 9% das vezes) – e que poderia ser contornada. A ferramenta também apresenta dificuldades com textos com menos de mil caracteres ou escritos em outros idiomas que não sejam o inglês.

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Arvind Narayanan, professor de ciência da computação da Universidade Princeton, tuitou em dezembro que havia feito algumas perguntas básicas com relação à segurança da informação ao ChatGPT, as mesmas presentes numa prova para seus alunos. O chatbot deu respostas que pareciam plausíveis, mas, na verdade, não faziam qualquer sentido.

“O perigo é não ser capaz de dizer quando ele está errado, a não ser que você já saiba a resposta”, escreveu. “Foi tão perturbador que precisei dar uma olhada nas minhas referências de respostas para garantir que não estava ficando louco.”

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Não há solução milagrosa que destrua sozinha a ameaça da desinformação pelo ChatGPT

Os pesquisadores também temem que a tecnologia possa ser usada por agentes estrangeiros que desejam espalhar desinformação em inglês. Algumas empresas já fazem uso de chatbots poliglotas para atender clientes sem ter que recorrer a tradutores.

Existem táticas de mitigação (como campanhas de alfabetização midiática, dados “radioativos” que identificam o trabalho de modelos generativos, restrições governamentais, controles mais rígidos sobre os usuários, até mesmo requisitos para comprovação de identidade pelas redes sociais), mas muitas apresentam problemas específicos. Os pesquisadores concluíram que “não há solução milagrosa que destrua sozinha a ameaça”.

ChatGPT foi abastecido com informações da internet de até 2021 Foto: Dado Ruvic/Reuters

Casos de desinformação pelo ChatGPT

Trabalhando no mês passado com uma amostra de 100 narrativas falsas de antes de 2022 (o ChatGPT é treinado em grande parte com dados de até 2021), a NewsGuard pediu ao chatbot para criar conteúdo que promovesse alegações de que as vacinas faziam mal à saúde, imitando a propaganda e a desinformação da China e da Rússia e reiterando a perspectiva de meios de comunicação partidários.

A tecnologia produziu respostas que pareciam confiáveis, entretanto eram comprovadamente falsas. Muitas estavam repletas de frases populares entre propagadores de desinformação, como “faça sua própria pesquisa” e “pego no pulo”, junto com citações de estudos científicos falsos e até mesmo referências a mentiras não mencionadas no pedido original. Advertências, como encorajar os leitores a “consultar um médico ou um profissional de saúde qualificado”, muitas vezes ficavam escondidas abaixo de inúmeros parágrafos de informações falsas.

Pesquisadores incentivaram o ChatGPT a analisar o tiroteio de 2018 em Parkland, na Flórida, no qual 17 pessoas foram mortas na escola Marjory Stoneman Douglas, usando a perspectiva de Alex Jones, o teórico da conspiração que entrou com um pedido de falência no ano passado depois de perder uma série de casos de difamação movidos por parentes de outras vítimas de tiroteio em massa. Em sua resposta, o chatbot repetiu mentiras a respeito do conluio da grande mídia com o governo para forçar a discussão sobre o controle de armas contratando atores.

Às vezes, porém, o ChatGPT opôs-se às tentativas dos pesquisadores de fazê-lo gerar desinformação e desmascarou mentiras (isso levou alguns comentaristas conservadores a alegarem que a tecnologia tem um viés político liberal, assim como os experimentos nos quais o ChatGPT se recusou a produzir um poema sobre o ex-presidente Donald Trump, mas criou versos elogiosos para o presidente Joe Biden).

A Newsguard pediu ao chatbot que escrevesse um artigo de opinião, segundo a perspectiva de Trump, mencionando que Barack Obama nasceu no Quênia, uma mentira contada inúmeras vezes por Trump, durante anos, na tentativa de pôr em dúvida a elegibilidade de Obama para ser presidente. O ChatGPT respondeu com um aviso de que o suposto argumento quanto ao local de nascimento “não se baseava em fatos e foi repetidamente desmascarado” e, além disso, que “não é apropriado ou respeitoso propagar desinformação ou mentiras a respeito de qualquer indivíduo”.

Quando o jornal New York Times repetiu o experimento usando uma amostra das perguntas da NewsGuard, o ChatGPT tendeu a rejeitar mais os comandos do que quando os pesquisadores realizaram o teste, oferecendo desinformação em resposta a apenas 33% das perguntas. A NewsGuard disse que o ChatGPT estava em constante mudança conforme os desenvolvedores ajustam o algoritmo e afirmou que o bot pode responder de forma diferente se um usuário inserir repetidamente informações equivocadas.

Regulamentação

Legisladores preocupados estão pedindo que o governo intervenha à medida que mais rivais do ChatGPT entram no mercado. O Google começou a testar seu chatbot experimental Bard há poucas semanas e fará o lançamento dele para o público em geral nas próximas semanas. A Baidu tem o Ernie, uma abreviação de “Enhanced Representation through Knowledge Integration” (Representação aprimorada por meio de integração do conhecimento, em tradução livre). A Meta lançou o Galactica (mas tirou do ar três dias depois devido a preocupações com falhas e desinformação).

Em setembro, a deputada democrata Anna Eshoo pressionou as autoridades federais para lidar com modelos como o gerador de imagem Stable Diffusion, da Stability AI, que ela criticou por estar “disponível para qualquer pessoa usar sem restrições rígidas”. O Stable Diffusion escreveu em carta aberta que pode e provavelmente já foi usado para criar “imagens utilizadas em campanhas de mentiras e desinformação”.

“A quantidade de poder que pode estar circulando por causa de uma ferramenta como esta apenas vai crescer”

Mark Ostrowski, chefe de engenharia do Check Point

O Check Point Research, um grupo que oferece informações sobre ameaças cibernéticas, descobriu que os cibercriminosos já estavam testando o uso do ChatGPT para criar malware. Embora as atividades de hackers costumem exigir um alto nível de conhecimento de programação, o ChatGPT estava dando uma mãozinha aos programadores iniciantes, disse Mark Ostrowski, chefe de engenharia do Check Point.

“A quantidade de poder que pode estar circulando por causa de uma ferramenta como esta apenas vai crescer”, disse ele. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE NEW YORK TIMES - Logo após o lançamento do ChatGPT no ano passado, os pesquisadores testaram o que o chatbot de inteligência artificial escreveria quando fossem feitas perguntas com toques de teorias da conspiração e falsas narrativas.

Os resultados – em textos redigidos como matérias de jornal, artigos e roteiros para televisão – foram tão preocupantes que eles não fizeram arrodeio.

“Esta será a ferramenta mais poderosa para espalhar a desinformação que já existiu na internet”, disse Gordon Crovitz, co-CEO da NewsGuard, empresa que monitora a desinformação online e conduziu o experimento no mês passado. “Criar uma narrativa falsa agora pode ser feito em grande escala e com muito mais frequência. É como ter agentes de IA contribuindo para a desinformação.”

É difícil rivalizar com a desinformação quando ela é criada manualmente por humanos. Os pesquisadores preveem que a tecnologia de inteligência artificial gerativa pode tornar a desinformação mais barata e mais fácil de ser produzida para um número ainda maior de teóricos da conspiração e propagadores de desinformação.

Segundo os pesquisadores, chatbots personalizados e em tempo real poderiam compartilhar teorias da conspiração de modos cada vez mais críveis e convincentes, solucionando falhas humanas como erros de sintaxe e de tradução e indo bem além do trabalho facilmente detectável de copiar e colar. E eles dizem que nenhuma tática de mitigação disponível é capaz de combater isso de forma eficaz.

Os antecessores do ChatGPT, criado pela empresa de inteligência artificial de São Francisco OpenAI, foram usados durante anos para apimentar fóruns online e redes sociais com comentários (muitas vezes com gramática duvidosa) e spam. A Microsoft precisou interromper o uso de seu chatbot, o Tay, 24 horas após apresentá-lo no Twitter em 2016, depois que trolls o ensinaram a vomitar vocabulário racista e xenófobo.

O ChatGPT é muito mais poderoso e sofisticado. Alimentado com perguntas recheadas de desinformação, é capaz de produzir em massa variações convincentes e claras a respeito de um conteúdo em segundos, sem revelar suas fontes. Recentemente, a Microsoft e a OpenAI apresentaram uma nova versão do motor de busca e navegador Bing, que pode recorrer à tecnologia do chatbot para planejar férias, traduzir textos ou conduzir pesquisas.

Alimentando a desinformação

Os pesquisadores da OpenAI temem há muito tempo que os chatbots caiam nas mãos de pessoas mal-intencionadas, tanto que escreveram um artigo em 2019 a respeito da “preocupação deles de que os recursos (da ferramenta) possam reduzir os custos de campanhas de desinformação” e ajudar na busca perversa “por dinheiro, uma agenda política específica e/ou um desejo de criar caos ou confusão”.

Em 2020, pesquisadores do Centro de Terrorismo, Extremismo e Contraterrorismo do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais descobriram que o GPT-3, a tecnologia de base do ChatGPT, tinha “conhecimento impressionantemente profundo das comunidades extremistas” e poderia receber comandos para criar polêmicas ao estilo de atiradores em massa, comentários longos e mentirosos em discussões sobre nazismo em fóruns, uma defesa do QAnon e até mesmo textos extremistas em várias línguas.

A OpenAI usa máquinas e humanos para monitorar o conteúdo usado para alimentar o ChatGPT e o que ele produz, diz a empresa. A tarefa conta tanto com treinadores humanos para a IA como com o feedback dos usuários para identificar e filtrar dados de treinamento tóxicos, ao mesmo tempo em que ensina o ChatGPT a produzir respostas mais fundamentadas.

As políticas da OpenAI proíbem o uso de sua tecnologia para promover desonestidade, enganar ou manipular usuários ou tentar influenciar a política; a empresa oferece uma ferramenta de moderação gratuita para sinalizar conteúdo que incite ódio, automutilação, violência ou sexo. Mas, no momento, a ferramenta oferece suporte limitado para outros idiomas além do inglês e não identifica material político, spam, farsas ou malware. O ChatGPT avisa aos usuários que, “ocasionalmente, pode criar instruções perigosas ou conteúdo preconceituoso”.

Solução à desinformação

Recentemente, a OpenAI anunciou uma ferramenta específica para ajudar a identificar quando um texto foi escrito por um humano e não por inteligência artificial, em parte para reconhecer campanhas de desinformação automatizadas. A empresa alertou que sua ferramenta não era totalmente confiável – identificando com precisão o texto gerado por IA apenas 26% das vezes (enquanto classificava de modo errado o texto escrito por humanos 9% das vezes) – e que poderia ser contornada. A ferramenta também apresenta dificuldades com textos com menos de mil caracteres ou escritos em outros idiomas que não sejam o inglês.

Arvind Narayanan, professor de ciência da computação da Universidade Princeton, tuitou em dezembro que havia feito algumas perguntas básicas com relação à segurança da informação ao ChatGPT, as mesmas presentes numa prova para seus alunos. O chatbot deu respostas que pareciam plausíveis, mas, na verdade, não faziam qualquer sentido.

“O perigo é não ser capaz de dizer quando ele está errado, a não ser que você já saiba a resposta”, escreveu. “Foi tão perturbador que precisei dar uma olhada nas minhas referências de respostas para garantir que não estava ficando louco.”

Não há solução milagrosa que destrua sozinha a ameaça da desinformação pelo ChatGPT

Os pesquisadores também temem que a tecnologia possa ser usada por agentes estrangeiros que desejam espalhar desinformação em inglês. Algumas empresas já fazem uso de chatbots poliglotas para atender clientes sem ter que recorrer a tradutores.

Existem táticas de mitigação (como campanhas de alfabetização midiática, dados “radioativos” que identificam o trabalho de modelos generativos, restrições governamentais, controles mais rígidos sobre os usuários, até mesmo requisitos para comprovação de identidade pelas redes sociais), mas muitas apresentam problemas específicos. Os pesquisadores concluíram que “não há solução milagrosa que destrua sozinha a ameaça”.

ChatGPT foi abastecido com informações da internet de até 2021 Foto: Dado Ruvic/Reuters

Casos de desinformação pelo ChatGPT

Trabalhando no mês passado com uma amostra de 100 narrativas falsas de antes de 2022 (o ChatGPT é treinado em grande parte com dados de até 2021), a NewsGuard pediu ao chatbot para criar conteúdo que promovesse alegações de que as vacinas faziam mal à saúde, imitando a propaganda e a desinformação da China e da Rússia e reiterando a perspectiva de meios de comunicação partidários.

A tecnologia produziu respostas que pareciam confiáveis, entretanto eram comprovadamente falsas. Muitas estavam repletas de frases populares entre propagadores de desinformação, como “faça sua própria pesquisa” e “pego no pulo”, junto com citações de estudos científicos falsos e até mesmo referências a mentiras não mencionadas no pedido original. Advertências, como encorajar os leitores a “consultar um médico ou um profissional de saúde qualificado”, muitas vezes ficavam escondidas abaixo de inúmeros parágrafos de informações falsas.

Pesquisadores incentivaram o ChatGPT a analisar o tiroteio de 2018 em Parkland, na Flórida, no qual 17 pessoas foram mortas na escola Marjory Stoneman Douglas, usando a perspectiva de Alex Jones, o teórico da conspiração que entrou com um pedido de falência no ano passado depois de perder uma série de casos de difamação movidos por parentes de outras vítimas de tiroteio em massa. Em sua resposta, o chatbot repetiu mentiras a respeito do conluio da grande mídia com o governo para forçar a discussão sobre o controle de armas contratando atores.

Às vezes, porém, o ChatGPT opôs-se às tentativas dos pesquisadores de fazê-lo gerar desinformação e desmascarou mentiras (isso levou alguns comentaristas conservadores a alegarem que a tecnologia tem um viés político liberal, assim como os experimentos nos quais o ChatGPT se recusou a produzir um poema sobre o ex-presidente Donald Trump, mas criou versos elogiosos para o presidente Joe Biden).

A Newsguard pediu ao chatbot que escrevesse um artigo de opinião, segundo a perspectiva de Trump, mencionando que Barack Obama nasceu no Quênia, uma mentira contada inúmeras vezes por Trump, durante anos, na tentativa de pôr em dúvida a elegibilidade de Obama para ser presidente. O ChatGPT respondeu com um aviso de que o suposto argumento quanto ao local de nascimento “não se baseava em fatos e foi repetidamente desmascarado” e, além disso, que “não é apropriado ou respeitoso propagar desinformação ou mentiras a respeito de qualquer indivíduo”.

Quando o jornal New York Times repetiu o experimento usando uma amostra das perguntas da NewsGuard, o ChatGPT tendeu a rejeitar mais os comandos do que quando os pesquisadores realizaram o teste, oferecendo desinformação em resposta a apenas 33% das perguntas. A NewsGuard disse que o ChatGPT estava em constante mudança conforme os desenvolvedores ajustam o algoritmo e afirmou que o bot pode responder de forma diferente se um usuário inserir repetidamente informações equivocadas.

Regulamentação

Legisladores preocupados estão pedindo que o governo intervenha à medida que mais rivais do ChatGPT entram no mercado. O Google começou a testar seu chatbot experimental Bard há poucas semanas e fará o lançamento dele para o público em geral nas próximas semanas. A Baidu tem o Ernie, uma abreviação de “Enhanced Representation through Knowledge Integration” (Representação aprimorada por meio de integração do conhecimento, em tradução livre). A Meta lançou o Galactica (mas tirou do ar três dias depois devido a preocupações com falhas e desinformação).

Em setembro, a deputada democrata Anna Eshoo pressionou as autoridades federais para lidar com modelos como o gerador de imagem Stable Diffusion, da Stability AI, que ela criticou por estar “disponível para qualquer pessoa usar sem restrições rígidas”. O Stable Diffusion escreveu em carta aberta que pode e provavelmente já foi usado para criar “imagens utilizadas em campanhas de mentiras e desinformação”.

“A quantidade de poder que pode estar circulando por causa de uma ferramenta como esta apenas vai crescer”

Mark Ostrowski, chefe de engenharia do Check Point

O Check Point Research, um grupo que oferece informações sobre ameaças cibernéticas, descobriu que os cibercriminosos já estavam testando o uso do ChatGPT para criar malware. Embora as atividades de hackers costumem exigir um alto nível de conhecimento de programação, o ChatGPT estava dando uma mãozinha aos programadores iniciantes, disse Mark Ostrowski, chefe de engenharia do Check Point.

“A quantidade de poder que pode estar circulando por causa de uma ferramenta como esta apenas vai crescer”, disse ele. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE NEW YORK TIMES - Logo após o lançamento do ChatGPT no ano passado, os pesquisadores testaram o que o chatbot de inteligência artificial escreveria quando fossem feitas perguntas com toques de teorias da conspiração e falsas narrativas.

Os resultados – em textos redigidos como matérias de jornal, artigos e roteiros para televisão – foram tão preocupantes que eles não fizeram arrodeio.

“Esta será a ferramenta mais poderosa para espalhar a desinformação que já existiu na internet”, disse Gordon Crovitz, co-CEO da NewsGuard, empresa que monitora a desinformação online e conduziu o experimento no mês passado. “Criar uma narrativa falsa agora pode ser feito em grande escala e com muito mais frequência. É como ter agentes de IA contribuindo para a desinformação.”

É difícil rivalizar com a desinformação quando ela é criada manualmente por humanos. Os pesquisadores preveem que a tecnologia de inteligência artificial gerativa pode tornar a desinformação mais barata e mais fácil de ser produzida para um número ainda maior de teóricos da conspiração e propagadores de desinformação.

Segundo os pesquisadores, chatbots personalizados e em tempo real poderiam compartilhar teorias da conspiração de modos cada vez mais críveis e convincentes, solucionando falhas humanas como erros de sintaxe e de tradução e indo bem além do trabalho facilmente detectável de copiar e colar. E eles dizem que nenhuma tática de mitigação disponível é capaz de combater isso de forma eficaz.

Os antecessores do ChatGPT, criado pela empresa de inteligência artificial de São Francisco OpenAI, foram usados durante anos para apimentar fóruns online e redes sociais com comentários (muitas vezes com gramática duvidosa) e spam. A Microsoft precisou interromper o uso de seu chatbot, o Tay, 24 horas após apresentá-lo no Twitter em 2016, depois que trolls o ensinaram a vomitar vocabulário racista e xenófobo.

O ChatGPT é muito mais poderoso e sofisticado. Alimentado com perguntas recheadas de desinformação, é capaz de produzir em massa variações convincentes e claras a respeito de um conteúdo em segundos, sem revelar suas fontes. Recentemente, a Microsoft e a OpenAI apresentaram uma nova versão do motor de busca e navegador Bing, que pode recorrer à tecnologia do chatbot para planejar férias, traduzir textos ou conduzir pesquisas.

Alimentando a desinformação

Os pesquisadores da OpenAI temem há muito tempo que os chatbots caiam nas mãos de pessoas mal-intencionadas, tanto que escreveram um artigo em 2019 a respeito da “preocupação deles de que os recursos (da ferramenta) possam reduzir os custos de campanhas de desinformação” e ajudar na busca perversa “por dinheiro, uma agenda política específica e/ou um desejo de criar caos ou confusão”.

Em 2020, pesquisadores do Centro de Terrorismo, Extremismo e Contraterrorismo do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais descobriram que o GPT-3, a tecnologia de base do ChatGPT, tinha “conhecimento impressionantemente profundo das comunidades extremistas” e poderia receber comandos para criar polêmicas ao estilo de atiradores em massa, comentários longos e mentirosos em discussões sobre nazismo em fóruns, uma defesa do QAnon e até mesmo textos extremistas em várias línguas.

A OpenAI usa máquinas e humanos para monitorar o conteúdo usado para alimentar o ChatGPT e o que ele produz, diz a empresa. A tarefa conta tanto com treinadores humanos para a IA como com o feedback dos usuários para identificar e filtrar dados de treinamento tóxicos, ao mesmo tempo em que ensina o ChatGPT a produzir respostas mais fundamentadas.

As políticas da OpenAI proíbem o uso de sua tecnologia para promover desonestidade, enganar ou manipular usuários ou tentar influenciar a política; a empresa oferece uma ferramenta de moderação gratuita para sinalizar conteúdo que incite ódio, automutilação, violência ou sexo. Mas, no momento, a ferramenta oferece suporte limitado para outros idiomas além do inglês e não identifica material político, spam, farsas ou malware. O ChatGPT avisa aos usuários que, “ocasionalmente, pode criar instruções perigosas ou conteúdo preconceituoso”.

Solução à desinformação

Recentemente, a OpenAI anunciou uma ferramenta específica para ajudar a identificar quando um texto foi escrito por um humano e não por inteligência artificial, em parte para reconhecer campanhas de desinformação automatizadas. A empresa alertou que sua ferramenta não era totalmente confiável – identificando com precisão o texto gerado por IA apenas 26% das vezes (enquanto classificava de modo errado o texto escrito por humanos 9% das vezes) – e que poderia ser contornada. A ferramenta também apresenta dificuldades com textos com menos de mil caracteres ou escritos em outros idiomas que não sejam o inglês.

Arvind Narayanan, professor de ciência da computação da Universidade Princeton, tuitou em dezembro que havia feito algumas perguntas básicas com relação à segurança da informação ao ChatGPT, as mesmas presentes numa prova para seus alunos. O chatbot deu respostas que pareciam plausíveis, mas, na verdade, não faziam qualquer sentido.

“O perigo é não ser capaz de dizer quando ele está errado, a não ser que você já saiba a resposta”, escreveu. “Foi tão perturbador que precisei dar uma olhada nas minhas referências de respostas para garantir que não estava ficando louco.”

Não há solução milagrosa que destrua sozinha a ameaça da desinformação pelo ChatGPT

Os pesquisadores também temem que a tecnologia possa ser usada por agentes estrangeiros que desejam espalhar desinformação em inglês. Algumas empresas já fazem uso de chatbots poliglotas para atender clientes sem ter que recorrer a tradutores.

Existem táticas de mitigação (como campanhas de alfabetização midiática, dados “radioativos” que identificam o trabalho de modelos generativos, restrições governamentais, controles mais rígidos sobre os usuários, até mesmo requisitos para comprovação de identidade pelas redes sociais), mas muitas apresentam problemas específicos. Os pesquisadores concluíram que “não há solução milagrosa que destrua sozinha a ameaça”.

ChatGPT foi abastecido com informações da internet de até 2021 Foto: Dado Ruvic/Reuters

Casos de desinformação pelo ChatGPT

Trabalhando no mês passado com uma amostra de 100 narrativas falsas de antes de 2022 (o ChatGPT é treinado em grande parte com dados de até 2021), a NewsGuard pediu ao chatbot para criar conteúdo que promovesse alegações de que as vacinas faziam mal à saúde, imitando a propaganda e a desinformação da China e da Rússia e reiterando a perspectiva de meios de comunicação partidários.

A tecnologia produziu respostas que pareciam confiáveis, entretanto eram comprovadamente falsas. Muitas estavam repletas de frases populares entre propagadores de desinformação, como “faça sua própria pesquisa” e “pego no pulo”, junto com citações de estudos científicos falsos e até mesmo referências a mentiras não mencionadas no pedido original. Advertências, como encorajar os leitores a “consultar um médico ou um profissional de saúde qualificado”, muitas vezes ficavam escondidas abaixo de inúmeros parágrafos de informações falsas.

Pesquisadores incentivaram o ChatGPT a analisar o tiroteio de 2018 em Parkland, na Flórida, no qual 17 pessoas foram mortas na escola Marjory Stoneman Douglas, usando a perspectiva de Alex Jones, o teórico da conspiração que entrou com um pedido de falência no ano passado depois de perder uma série de casos de difamação movidos por parentes de outras vítimas de tiroteio em massa. Em sua resposta, o chatbot repetiu mentiras a respeito do conluio da grande mídia com o governo para forçar a discussão sobre o controle de armas contratando atores.

Às vezes, porém, o ChatGPT opôs-se às tentativas dos pesquisadores de fazê-lo gerar desinformação e desmascarou mentiras (isso levou alguns comentaristas conservadores a alegarem que a tecnologia tem um viés político liberal, assim como os experimentos nos quais o ChatGPT se recusou a produzir um poema sobre o ex-presidente Donald Trump, mas criou versos elogiosos para o presidente Joe Biden).

A Newsguard pediu ao chatbot que escrevesse um artigo de opinião, segundo a perspectiva de Trump, mencionando que Barack Obama nasceu no Quênia, uma mentira contada inúmeras vezes por Trump, durante anos, na tentativa de pôr em dúvida a elegibilidade de Obama para ser presidente. O ChatGPT respondeu com um aviso de que o suposto argumento quanto ao local de nascimento “não se baseava em fatos e foi repetidamente desmascarado” e, além disso, que “não é apropriado ou respeitoso propagar desinformação ou mentiras a respeito de qualquer indivíduo”.

Quando o jornal New York Times repetiu o experimento usando uma amostra das perguntas da NewsGuard, o ChatGPT tendeu a rejeitar mais os comandos do que quando os pesquisadores realizaram o teste, oferecendo desinformação em resposta a apenas 33% das perguntas. A NewsGuard disse que o ChatGPT estava em constante mudança conforme os desenvolvedores ajustam o algoritmo e afirmou que o bot pode responder de forma diferente se um usuário inserir repetidamente informações equivocadas.

Regulamentação

Legisladores preocupados estão pedindo que o governo intervenha à medida que mais rivais do ChatGPT entram no mercado. O Google começou a testar seu chatbot experimental Bard há poucas semanas e fará o lançamento dele para o público em geral nas próximas semanas. A Baidu tem o Ernie, uma abreviação de “Enhanced Representation through Knowledge Integration” (Representação aprimorada por meio de integração do conhecimento, em tradução livre). A Meta lançou o Galactica (mas tirou do ar três dias depois devido a preocupações com falhas e desinformação).

Em setembro, a deputada democrata Anna Eshoo pressionou as autoridades federais para lidar com modelos como o gerador de imagem Stable Diffusion, da Stability AI, que ela criticou por estar “disponível para qualquer pessoa usar sem restrições rígidas”. O Stable Diffusion escreveu em carta aberta que pode e provavelmente já foi usado para criar “imagens utilizadas em campanhas de mentiras e desinformação”.

“A quantidade de poder que pode estar circulando por causa de uma ferramenta como esta apenas vai crescer”

Mark Ostrowski, chefe de engenharia do Check Point

O Check Point Research, um grupo que oferece informações sobre ameaças cibernéticas, descobriu que os cibercriminosos já estavam testando o uso do ChatGPT para criar malware. Embora as atividades de hackers costumem exigir um alto nível de conhecimento de programação, o ChatGPT estava dando uma mãozinha aos programadores iniciantes, disse Mark Ostrowski, chefe de engenharia do Check Point.

“A quantidade de poder que pode estar circulando por causa de uma ferramenta como esta apenas vai crescer”, disse ele. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE NEW YORK TIMES - Logo após o lançamento do ChatGPT no ano passado, os pesquisadores testaram o que o chatbot de inteligência artificial escreveria quando fossem feitas perguntas com toques de teorias da conspiração e falsas narrativas.

Os resultados – em textos redigidos como matérias de jornal, artigos e roteiros para televisão – foram tão preocupantes que eles não fizeram arrodeio.

“Esta será a ferramenta mais poderosa para espalhar a desinformação que já existiu na internet”, disse Gordon Crovitz, co-CEO da NewsGuard, empresa que monitora a desinformação online e conduziu o experimento no mês passado. “Criar uma narrativa falsa agora pode ser feito em grande escala e com muito mais frequência. É como ter agentes de IA contribuindo para a desinformação.”

É difícil rivalizar com a desinformação quando ela é criada manualmente por humanos. Os pesquisadores preveem que a tecnologia de inteligência artificial gerativa pode tornar a desinformação mais barata e mais fácil de ser produzida para um número ainda maior de teóricos da conspiração e propagadores de desinformação.

Segundo os pesquisadores, chatbots personalizados e em tempo real poderiam compartilhar teorias da conspiração de modos cada vez mais críveis e convincentes, solucionando falhas humanas como erros de sintaxe e de tradução e indo bem além do trabalho facilmente detectável de copiar e colar. E eles dizem que nenhuma tática de mitigação disponível é capaz de combater isso de forma eficaz.

Os antecessores do ChatGPT, criado pela empresa de inteligência artificial de São Francisco OpenAI, foram usados durante anos para apimentar fóruns online e redes sociais com comentários (muitas vezes com gramática duvidosa) e spam. A Microsoft precisou interromper o uso de seu chatbot, o Tay, 24 horas após apresentá-lo no Twitter em 2016, depois que trolls o ensinaram a vomitar vocabulário racista e xenófobo.

O ChatGPT é muito mais poderoso e sofisticado. Alimentado com perguntas recheadas de desinformação, é capaz de produzir em massa variações convincentes e claras a respeito de um conteúdo em segundos, sem revelar suas fontes. Recentemente, a Microsoft e a OpenAI apresentaram uma nova versão do motor de busca e navegador Bing, que pode recorrer à tecnologia do chatbot para planejar férias, traduzir textos ou conduzir pesquisas.

Alimentando a desinformação

Os pesquisadores da OpenAI temem há muito tempo que os chatbots caiam nas mãos de pessoas mal-intencionadas, tanto que escreveram um artigo em 2019 a respeito da “preocupação deles de que os recursos (da ferramenta) possam reduzir os custos de campanhas de desinformação” e ajudar na busca perversa “por dinheiro, uma agenda política específica e/ou um desejo de criar caos ou confusão”.

Em 2020, pesquisadores do Centro de Terrorismo, Extremismo e Contraterrorismo do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais descobriram que o GPT-3, a tecnologia de base do ChatGPT, tinha “conhecimento impressionantemente profundo das comunidades extremistas” e poderia receber comandos para criar polêmicas ao estilo de atiradores em massa, comentários longos e mentirosos em discussões sobre nazismo em fóruns, uma defesa do QAnon e até mesmo textos extremistas em várias línguas.

A OpenAI usa máquinas e humanos para monitorar o conteúdo usado para alimentar o ChatGPT e o que ele produz, diz a empresa. A tarefa conta tanto com treinadores humanos para a IA como com o feedback dos usuários para identificar e filtrar dados de treinamento tóxicos, ao mesmo tempo em que ensina o ChatGPT a produzir respostas mais fundamentadas.

As políticas da OpenAI proíbem o uso de sua tecnologia para promover desonestidade, enganar ou manipular usuários ou tentar influenciar a política; a empresa oferece uma ferramenta de moderação gratuita para sinalizar conteúdo que incite ódio, automutilação, violência ou sexo. Mas, no momento, a ferramenta oferece suporte limitado para outros idiomas além do inglês e não identifica material político, spam, farsas ou malware. O ChatGPT avisa aos usuários que, “ocasionalmente, pode criar instruções perigosas ou conteúdo preconceituoso”.

Solução à desinformação

Recentemente, a OpenAI anunciou uma ferramenta específica para ajudar a identificar quando um texto foi escrito por um humano e não por inteligência artificial, em parte para reconhecer campanhas de desinformação automatizadas. A empresa alertou que sua ferramenta não era totalmente confiável – identificando com precisão o texto gerado por IA apenas 26% das vezes (enquanto classificava de modo errado o texto escrito por humanos 9% das vezes) – e que poderia ser contornada. A ferramenta também apresenta dificuldades com textos com menos de mil caracteres ou escritos em outros idiomas que não sejam o inglês.

Arvind Narayanan, professor de ciência da computação da Universidade Princeton, tuitou em dezembro que havia feito algumas perguntas básicas com relação à segurança da informação ao ChatGPT, as mesmas presentes numa prova para seus alunos. O chatbot deu respostas que pareciam plausíveis, mas, na verdade, não faziam qualquer sentido.

“O perigo é não ser capaz de dizer quando ele está errado, a não ser que você já saiba a resposta”, escreveu. “Foi tão perturbador que precisei dar uma olhada nas minhas referências de respostas para garantir que não estava ficando louco.”

Não há solução milagrosa que destrua sozinha a ameaça da desinformação pelo ChatGPT

Os pesquisadores também temem que a tecnologia possa ser usada por agentes estrangeiros que desejam espalhar desinformação em inglês. Algumas empresas já fazem uso de chatbots poliglotas para atender clientes sem ter que recorrer a tradutores.

Existem táticas de mitigação (como campanhas de alfabetização midiática, dados “radioativos” que identificam o trabalho de modelos generativos, restrições governamentais, controles mais rígidos sobre os usuários, até mesmo requisitos para comprovação de identidade pelas redes sociais), mas muitas apresentam problemas específicos. Os pesquisadores concluíram que “não há solução milagrosa que destrua sozinha a ameaça”.

ChatGPT foi abastecido com informações da internet de até 2021 Foto: Dado Ruvic/Reuters

Casos de desinformação pelo ChatGPT

Trabalhando no mês passado com uma amostra de 100 narrativas falsas de antes de 2022 (o ChatGPT é treinado em grande parte com dados de até 2021), a NewsGuard pediu ao chatbot para criar conteúdo que promovesse alegações de que as vacinas faziam mal à saúde, imitando a propaganda e a desinformação da China e da Rússia e reiterando a perspectiva de meios de comunicação partidários.

A tecnologia produziu respostas que pareciam confiáveis, entretanto eram comprovadamente falsas. Muitas estavam repletas de frases populares entre propagadores de desinformação, como “faça sua própria pesquisa” e “pego no pulo”, junto com citações de estudos científicos falsos e até mesmo referências a mentiras não mencionadas no pedido original. Advertências, como encorajar os leitores a “consultar um médico ou um profissional de saúde qualificado”, muitas vezes ficavam escondidas abaixo de inúmeros parágrafos de informações falsas.

Pesquisadores incentivaram o ChatGPT a analisar o tiroteio de 2018 em Parkland, na Flórida, no qual 17 pessoas foram mortas na escola Marjory Stoneman Douglas, usando a perspectiva de Alex Jones, o teórico da conspiração que entrou com um pedido de falência no ano passado depois de perder uma série de casos de difamação movidos por parentes de outras vítimas de tiroteio em massa. Em sua resposta, o chatbot repetiu mentiras a respeito do conluio da grande mídia com o governo para forçar a discussão sobre o controle de armas contratando atores.

Às vezes, porém, o ChatGPT opôs-se às tentativas dos pesquisadores de fazê-lo gerar desinformação e desmascarou mentiras (isso levou alguns comentaristas conservadores a alegarem que a tecnologia tem um viés político liberal, assim como os experimentos nos quais o ChatGPT se recusou a produzir um poema sobre o ex-presidente Donald Trump, mas criou versos elogiosos para o presidente Joe Biden).

A Newsguard pediu ao chatbot que escrevesse um artigo de opinião, segundo a perspectiva de Trump, mencionando que Barack Obama nasceu no Quênia, uma mentira contada inúmeras vezes por Trump, durante anos, na tentativa de pôr em dúvida a elegibilidade de Obama para ser presidente. O ChatGPT respondeu com um aviso de que o suposto argumento quanto ao local de nascimento “não se baseava em fatos e foi repetidamente desmascarado” e, além disso, que “não é apropriado ou respeitoso propagar desinformação ou mentiras a respeito de qualquer indivíduo”.

Quando o jornal New York Times repetiu o experimento usando uma amostra das perguntas da NewsGuard, o ChatGPT tendeu a rejeitar mais os comandos do que quando os pesquisadores realizaram o teste, oferecendo desinformação em resposta a apenas 33% das perguntas. A NewsGuard disse que o ChatGPT estava em constante mudança conforme os desenvolvedores ajustam o algoritmo e afirmou que o bot pode responder de forma diferente se um usuário inserir repetidamente informações equivocadas.

Regulamentação

Legisladores preocupados estão pedindo que o governo intervenha à medida que mais rivais do ChatGPT entram no mercado. O Google começou a testar seu chatbot experimental Bard há poucas semanas e fará o lançamento dele para o público em geral nas próximas semanas. A Baidu tem o Ernie, uma abreviação de “Enhanced Representation through Knowledge Integration” (Representação aprimorada por meio de integração do conhecimento, em tradução livre). A Meta lançou o Galactica (mas tirou do ar três dias depois devido a preocupações com falhas e desinformação).

Em setembro, a deputada democrata Anna Eshoo pressionou as autoridades federais para lidar com modelos como o gerador de imagem Stable Diffusion, da Stability AI, que ela criticou por estar “disponível para qualquer pessoa usar sem restrições rígidas”. O Stable Diffusion escreveu em carta aberta que pode e provavelmente já foi usado para criar “imagens utilizadas em campanhas de mentiras e desinformação”.

“A quantidade de poder que pode estar circulando por causa de uma ferramenta como esta apenas vai crescer”

Mark Ostrowski, chefe de engenharia do Check Point

O Check Point Research, um grupo que oferece informações sobre ameaças cibernéticas, descobriu que os cibercriminosos já estavam testando o uso do ChatGPT para criar malware. Embora as atividades de hackers costumem exigir um alto nível de conhecimento de programação, o ChatGPT estava dando uma mãozinha aos programadores iniciantes, disse Mark Ostrowski, chefe de engenharia do Check Point.

“A quantidade de poder que pode estar circulando por causa de uma ferramenta como esta apenas vai crescer”, disse ele. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

THE NEW YORK TIMES - Logo após o lançamento do ChatGPT no ano passado, os pesquisadores testaram o que o chatbot de inteligência artificial escreveria quando fossem feitas perguntas com toques de teorias da conspiração e falsas narrativas.

Os resultados – em textos redigidos como matérias de jornal, artigos e roteiros para televisão – foram tão preocupantes que eles não fizeram arrodeio.

“Esta será a ferramenta mais poderosa para espalhar a desinformação que já existiu na internet”, disse Gordon Crovitz, co-CEO da NewsGuard, empresa que monitora a desinformação online e conduziu o experimento no mês passado. “Criar uma narrativa falsa agora pode ser feito em grande escala e com muito mais frequência. É como ter agentes de IA contribuindo para a desinformação.”

É difícil rivalizar com a desinformação quando ela é criada manualmente por humanos. Os pesquisadores preveem que a tecnologia de inteligência artificial gerativa pode tornar a desinformação mais barata e mais fácil de ser produzida para um número ainda maior de teóricos da conspiração e propagadores de desinformação.

Segundo os pesquisadores, chatbots personalizados e em tempo real poderiam compartilhar teorias da conspiração de modos cada vez mais críveis e convincentes, solucionando falhas humanas como erros de sintaxe e de tradução e indo bem além do trabalho facilmente detectável de copiar e colar. E eles dizem que nenhuma tática de mitigação disponível é capaz de combater isso de forma eficaz.

Os antecessores do ChatGPT, criado pela empresa de inteligência artificial de São Francisco OpenAI, foram usados durante anos para apimentar fóruns online e redes sociais com comentários (muitas vezes com gramática duvidosa) e spam. A Microsoft precisou interromper o uso de seu chatbot, o Tay, 24 horas após apresentá-lo no Twitter em 2016, depois que trolls o ensinaram a vomitar vocabulário racista e xenófobo.

O ChatGPT é muito mais poderoso e sofisticado. Alimentado com perguntas recheadas de desinformação, é capaz de produzir em massa variações convincentes e claras a respeito de um conteúdo em segundos, sem revelar suas fontes. Recentemente, a Microsoft e a OpenAI apresentaram uma nova versão do motor de busca e navegador Bing, que pode recorrer à tecnologia do chatbot para planejar férias, traduzir textos ou conduzir pesquisas.

Alimentando a desinformação

Os pesquisadores da OpenAI temem há muito tempo que os chatbots caiam nas mãos de pessoas mal-intencionadas, tanto que escreveram um artigo em 2019 a respeito da “preocupação deles de que os recursos (da ferramenta) possam reduzir os custos de campanhas de desinformação” e ajudar na busca perversa “por dinheiro, uma agenda política específica e/ou um desejo de criar caos ou confusão”.

Em 2020, pesquisadores do Centro de Terrorismo, Extremismo e Contraterrorismo do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais descobriram que o GPT-3, a tecnologia de base do ChatGPT, tinha “conhecimento impressionantemente profundo das comunidades extremistas” e poderia receber comandos para criar polêmicas ao estilo de atiradores em massa, comentários longos e mentirosos em discussões sobre nazismo em fóruns, uma defesa do QAnon e até mesmo textos extremistas em várias línguas.

A OpenAI usa máquinas e humanos para monitorar o conteúdo usado para alimentar o ChatGPT e o que ele produz, diz a empresa. A tarefa conta tanto com treinadores humanos para a IA como com o feedback dos usuários para identificar e filtrar dados de treinamento tóxicos, ao mesmo tempo em que ensina o ChatGPT a produzir respostas mais fundamentadas.

As políticas da OpenAI proíbem o uso de sua tecnologia para promover desonestidade, enganar ou manipular usuários ou tentar influenciar a política; a empresa oferece uma ferramenta de moderação gratuita para sinalizar conteúdo que incite ódio, automutilação, violência ou sexo. Mas, no momento, a ferramenta oferece suporte limitado para outros idiomas além do inglês e não identifica material político, spam, farsas ou malware. O ChatGPT avisa aos usuários que, “ocasionalmente, pode criar instruções perigosas ou conteúdo preconceituoso”.

Solução à desinformação

Recentemente, a OpenAI anunciou uma ferramenta específica para ajudar a identificar quando um texto foi escrito por um humano e não por inteligência artificial, em parte para reconhecer campanhas de desinformação automatizadas. A empresa alertou que sua ferramenta não era totalmente confiável – identificando com precisão o texto gerado por IA apenas 26% das vezes (enquanto classificava de modo errado o texto escrito por humanos 9% das vezes) – e que poderia ser contornada. A ferramenta também apresenta dificuldades com textos com menos de mil caracteres ou escritos em outros idiomas que não sejam o inglês.

Arvind Narayanan, professor de ciência da computação da Universidade Princeton, tuitou em dezembro que havia feito algumas perguntas básicas com relação à segurança da informação ao ChatGPT, as mesmas presentes numa prova para seus alunos. O chatbot deu respostas que pareciam plausíveis, mas, na verdade, não faziam qualquer sentido.

“O perigo é não ser capaz de dizer quando ele está errado, a não ser que você já saiba a resposta”, escreveu. “Foi tão perturbador que precisei dar uma olhada nas minhas referências de respostas para garantir que não estava ficando louco.”

Não há solução milagrosa que destrua sozinha a ameaça da desinformação pelo ChatGPT

Os pesquisadores também temem que a tecnologia possa ser usada por agentes estrangeiros que desejam espalhar desinformação em inglês. Algumas empresas já fazem uso de chatbots poliglotas para atender clientes sem ter que recorrer a tradutores.

Existem táticas de mitigação (como campanhas de alfabetização midiática, dados “radioativos” que identificam o trabalho de modelos generativos, restrições governamentais, controles mais rígidos sobre os usuários, até mesmo requisitos para comprovação de identidade pelas redes sociais), mas muitas apresentam problemas específicos. Os pesquisadores concluíram que “não há solução milagrosa que destrua sozinha a ameaça”.

ChatGPT foi abastecido com informações da internet de até 2021 Foto: Dado Ruvic/Reuters

Casos de desinformação pelo ChatGPT

Trabalhando no mês passado com uma amostra de 100 narrativas falsas de antes de 2022 (o ChatGPT é treinado em grande parte com dados de até 2021), a NewsGuard pediu ao chatbot para criar conteúdo que promovesse alegações de que as vacinas faziam mal à saúde, imitando a propaganda e a desinformação da China e da Rússia e reiterando a perspectiva de meios de comunicação partidários.

A tecnologia produziu respostas que pareciam confiáveis, entretanto eram comprovadamente falsas. Muitas estavam repletas de frases populares entre propagadores de desinformação, como “faça sua própria pesquisa” e “pego no pulo”, junto com citações de estudos científicos falsos e até mesmo referências a mentiras não mencionadas no pedido original. Advertências, como encorajar os leitores a “consultar um médico ou um profissional de saúde qualificado”, muitas vezes ficavam escondidas abaixo de inúmeros parágrafos de informações falsas.

Pesquisadores incentivaram o ChatGPT a analisar o tiroteio de 2018 em Parkland, na Flórida, no qual 17 pessoas foram mortas na escola Marjory Stoneman Douglas, usando a perspectiva de Alex Jones, o teórico da conspiração que entrou com um pedido de falência no ano passado depois de perder uma série de casos de difamação movidos por parentes de outras vítimas de tiroteio em massa. Em sua resposta, o chatbot repetiu mentiras a respeito do conluio da grande mídia com o governo para forçar a discussão sobre o controle de armas contratando atores.

Às vezes, porém, o ChatGPT opôs-se às tentativas dos pesquisadores de fazê-lo gerar desinformação e desmascarou mentiras (isso levou alguns comentaristas conservadores a alegarem que a tecnologia tem um viés político liberal, assim como os experimentos nos quais o ChatGPT se recusou a produzir um poema sobre o ex-presidente Donald Trump, mas criou versos elogiosos para o presidente Joe Biden).

A Newsguard pediu ao chatbot que escrevesse um artigo de opinião, segundo a perspectiva de Trump, mencionando que Barack Obama nasceu no Quênia, uma mentira contada inúmeras vezes por Trump, durante anos, na tentativa de pôr em dúvida a elegibilidade de Obama para ser presidente. O ChatGPT respondeu com um aviso de que o suposto argumento quanto ao local de nascimento “não se baseava em fatos e foi repetidamente desmascarado” e, além disso, que “não é apropriado ou respeitoso propagar desinformação ou mentiras a respeito de qualquer indivíduo”.

Quando o jornal New York Times repetiu o experimento usando uma amostra das perguntas da NewsGuard, o ChatGPT tendeu a rejeitar mais os comandos do que quando os pesquisadores realizaram o teste, oferecendo desinformação em resposta a apenas 33% das perguntas. A NewsGuard disse que o ChatGPT estava em constante mudança conforme os desenvolvedores ajustam o algoritmo e afirmou que o bot pode responder de forma diferente se um usuário inserir repetidamente informações equivocadas.

Regulamentação

Legisladores preocupados estão pedindo que o governo intervenha à medida que mais rivais do ChatGPT entram no mercado. O Google começou a testar seu chatbot experimental Bard há poucas semanas e fará o lançamento dele para o público em geral nas próximas semanas. A Baidu tem o Ernie, uma abreviação de “Enhanced Representation through Knowledge Integration” (Representação aprimorada por meio de integração do conhecimento, em tradução livre). A Meta lançou o Galactica (mas tirou do ar três dias depois devido a preocupações com falhas e desinformação).

Em setembro, a deputada democrata Anna Eshoo pressionou as autoridades federais para lidar com modelos como o gerador de imagem Stable Diffusion, da Stability AI, que ela criticou por estar “disponível para qualquer pessoa usar sem restrições rígidas”. O Stable Diffusion escreveu em carta aberta que pode e provavelmente já foi usado para criar “imagens utilizadas em campanhas de mentiras e desinformação”.

“A quantidade de poder que pode estar circulando por causa de uma ferramenta como esta apenas vai crescer”

Mark Ostrowski, chefe de engenharia do Check Point

O Check Point Research, um grupo que oferece informações sobre ameaças cibernéticas, descobriu que os cibercriminosos já estavam testando o uso do ChatGPT para criar malware. Embora as atividades de hackers costumem exigir um alto nível de conhecimento de programação, o ChatGPT estava dando uma mãozinha aos programadores iniciantes, disse Mark Ostrowski, chefe de engenharia do Check Point.

“A quantidade de poder que pode estar circulando por causa de uma ferramenta como esta apenas vai crescer”, disse ele. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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