A China desenvolveu um modelo de inteligência artificial (IA) próprio, treinado partir de livros oficiais atribuídos ao presidente Xi Jinping, de acordo com informações publicadas pelo jornal britânico Financial Times na última segunda-feira, 20. A tecnologia vem para complementar o esforço de autoridades chinesas em difundir as ideias de Xi, também líder do Partido Comunista Chinês (PCC), sobre política e filosofia em todo o país.
Similar ao ChatGPT, da OpenAI, a “IA comunista” chinesa é capaz de responder a perguntas, criar relatórios, resumir informações e traduzir conteúdo do chinês para o inglês, informa o Financial Times a partir de uma publicação feita pelo órgão chinês de administração do ciberespaço, responsável por desenvolver a IA, na segunda.
Atualmente, o produto está sob pesquisa interna do regulador, mas a tecnologia deve ser liberada para uso geral em breve, relatou ao jornal britânico uma pessoa envolvida com o projeto.
A IA chinesa foi treinada a partir de uma série de livros escritos por Xi Jinping. Na China, essas teorias são conhecidas como “Pensamentos de Xi Jinping sobre Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era” ou, de forma resumida, “Pensamentos de Xi”.
Na China, esses pensamentos sobre política e filosofia são difundidos em todo o país, de instituições escolares a órgãos de internet, como aplicativos de notícias da Tencent (gigante dos jogos). Segundo o Financial Times, foi criado um aplicativo nacional para testar os conhecimentos dos 100 milhões de filiados ao Partido Comunista.
A IA comunista usa a tecnologia de LLM, sigla em inglês para modelos amplos de linguagem, em que vastas quantidades de textos e imagens são utilizadas para treinar as IAs. Com isso, os robôs são capazes de receber comandos, entender o contexto e gerar respostas únicas. É a mesma tecnologia que a OpenAI aplica ao ChatGPT e Dall-E 2 ou o Google ao Gemini.
Leia também
A China tem feito esforços para desenvolver uma IA própria para o país, cujas leis impedem a liberdade de expressão em plataformas digitais. Além disso, a legislação do país asiático exige que os modelos de IA desenvolvidos no país “incorporem valores socialistas fundamentais” e que o conteúdo gerado não pode “conter qualquer conteúdo que subverta o poder do Estado”.
Lá, ao contrário da legislação americana, por exemplo, as companhias de tecnologia são responsávies pelos conteúdos gerados por suas IAs.
Segundo o Financial Times, os esforços chineses incluem o fornecimento de 100 milhões de entradas de dados de qualidade para que as empresas de tecnologia do país, como Alibaba e Baidu, possam desenvolver seus modelos de IA, permitindo-lhes competir com as companhias americanas.