Primeiro, compramos um gadget. Durante os anos seguintes, o fabricante lança uma eventual atualização de software que corrige alguns bugs e nos protege contra vulnerabilidades. Um dia, essas atualizações param de chegar. De acordo com o senso comum, isso significa que é hora de comprar um novo dispositivo.
Mas e se não for?
A verdade é que as atualizações não precisam ser tão automáticas. Muitas vezes, podemos adiá-las se adotarmos algumas práticas de segurança recomendadas e assumirmos o controle de nossos dispositivos individualmente. Afinal, não é realista que todos façam um upgrade seguindo o cronograma de uma empresa de tecnologia – alguns gadgets, inclusive celulares Android caros, deixam de receber atualizações de software depois de apenas dois anos. Nem todos nós temos tempo ou dinheiro para comprar novos produtos com regularidade.
Ao mesmo tempo, não queremos deixar nossos aparelhos com software desatualizado a ponto de se tornarem vulneráveis a bugs, ciberataques e outros problemas. No geral, as atualizações são necessárias por esses motivos. Todo mundo precisa ser capaz de usar a tecnologia com segurança, seja para uso pessoal ou para trabalhar, disse Hilary Shohoney, diretora-executiva da Free Geek, organização sem fins lucrativos que reaproveita dispositivos desatualizados para escolas e idosos.
“Temos que entender a realidade de muitas pessoas e reconhecer que todos precisam de acesso ao mundo digital”, disse ela. “Não é justo dizer que é necessário ter o melhor computador para estar o mais seguro possível.”
E como podemos fazer isso? Embora um novo gadget deva ser comprado em algum momento, existem algumas formas de manter seus dispositivos funcionando com segurança, mesmo quando o fabricante deixa de oferecer atualizações de software para ele. Aqui estão algumas dicas.
Siga as práticas de segurança recomendadas
Pense em como a tecnologia está presente em nosso dia a dia. Muito do que fazemos nos computadores, desde enviar trabalhos escolares até editar planilhas, acontece por meio de um navegador da web. No caso dos celulares, dependemos muito da web e dos aplicativos.
Por isso, manter-se seguro online sem a ajuda direta de um fabricante envolve, em grande parte, tomar medidas ao navegar na Internet e ao usar aplicativos. Essas são algumas coisas para prestar atenção:
Mantenha seu navegador atualizado. A atualização do navegador oferecerá alguma proteção contra sites mal-intencionados. Empresas de navegadores confiáveis, como a Mozilla, fabricante do Firefox, atualizam seus aplicativos para funcionar em computadores com mais de 10 anos.
Como sempre, evite o que parece suspeito. Não abra e-mails ou clique em links enviados por remetentes desconhecidos e, se possível, use apenas aplicativos oferecidos por marcas confiáveis, disse Sinan Eren, executivo da Barracuda Networks, empresa de produtos de segurança.
Fique atento a apps duvidosos. Os dispositivos Android são mais suscetíveis a malware que os da Apple, em parte porque podem ser configurados para instalar aplicativos de lojas de apps não autorizadas. Além disso, muitos fabricantes param de oferecer suporte a dispositivos Android depois de apenas dois anos. O Google não quis se pronunciar. Os donos de aparelhos Android podem melhorar a segurança dos gadgets instalando um aplicativo de verificação de malware de marcas como Malwarebytes, NortonLifeLock e Lookout.
Reforce a segurança de suas contas online. Mesmo que o software de seu dispositivo esteja desatualizado, configurar suas contas online com autenticação de dois fatores – uma prática de segurança que gera um código exclusivo por meio de um aplicativo ou mensagem de texto sempre que você fizer login em um site a partir de um dispositivo diferente – pode ajudar a impedir que outras pessoas acessem sua conta caso sua senha seja roubada.
Fazer tudo isso reduzirá o risco, mas não o eliminará. Dan Guido, CEO da Trail of Bits, empresa de serviços de segurança na Internet, disse que os dispositivos desatualizados continuam sujeitos a ataques cibernéticos devido a vulnerabilidades conhecidas em softwares antigos.
“Dispositivos desatualizados são um alvo constante – um alvo fácil – de ciberataques”, disse ele.
Instale um sistema operacional diferente
Existem medidas mais avançadas que podem manter um dispositivo funcional e seguro quando ele não recebe mais atualizações. Uma envolve a substituição do software do fabricante por um alternativo.
A organização sem fins lucrativos de Hilary, a Free Geek, com sede em Portland, Oregon, recupera computadores antigos instalando uma cópia do Linux, o sistema operacional de código aberto conhecido por sua forte segurança e usado para tarefas básicas como navegar na web, trocar e-mails e escrever documentos de texto.
A instalação de um sistema operacional diferente requer algum conhecimento técnico, mas há inúmeros recursos e tutoriais na Internet ensinando passo a passo como instalar o Linux em computadores Windows e Mac desatualizados.
Os donos de smartphones têm menos opções. Para aqueles com aparelhos Android, o LineageOS, um sistema operacional de código aberto para dispositivos móveis, recebeu críticas positivas por sua segurança robusta.
No entanto, os dispositivos móveis desatualizados da Apple não podem ser facilmente modificados para instalar um sistema operacional alternativo. Na verdade, os especialistas em segurança não recomendam o “jailbreak”, processo que permite a instalação de software não autorizado pela Apple, porque isso pode enfraquecer a segurança do dispositivo.
Utilize seu antigo dispositivo de uma forma diferente
Também podemos tomar outras medidas para prolongar a vida útil de nosso hardware, como substituir uma bateria antiga, e ele continuar funcionando. Mas com o tempo, quando o custo, o esforço e o risco vão aumentando e continuar usando um dispositivo desatualizado se torna inviável, a atualização é sua melhor aposta.
Isso não significa que temos de levar nossos dispositivos para um centro de reciclagem. Ao desabilitar a conexão com a Internet de um iPad desatualizado, por exemplo, você pode usá-lo com segurança para tarefas leves, como tocar música ou anotar receitas, disse Kyle Wiens, CEO da iFixit, empresa que oferece ferramentas e orientações de como consertar produtos de tecnologia.
“Se um dispositivo não está conectado à Internet, não tem importância ele estar desatualizado”, disse ele./TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA