Como influenciadores criaram um ‘idioma próprio’ para falar sobre a Palestina nas redes sociais


De ‘terrier’ a ‘P*les+in1ans’, criadores de conteúdo estão mudando sua linguagem para fugir das regras de uso das plataformas

THE WASHINGTON POST - Quando Rathbone deBuys, 37 anos, publica vídeos no TikTok criticando Israel em seu conflito com o grupo terrorista Hamas, ele recorre a estratégias comuns para evitar ser detectado e excluído pela gigante chinesa de rede social.

Nas legendas de seus vídeos, ele usa emojis de terrier (a raça de cachorro) e violino em vez das palavras “terrorista” e “violência”. Na parte inferior de seus vídeos, ele acrescenta um aviso de isenção de responsabilidade, dizendo que a publicação é apenas para fins “educacionais”. Alterar as legendas pode diminuir a probabilidade de o vídeo ser sinalizado como uma violação das regras do TikTok contra retórica de ódio ou conteúdo violento, disse deBuys.

“Muitas pessoas estão atentas ao conflito e querem ouvir o que as pessoas têm a dizer”, disse deBuys, um músico da Louisiana que publica vídeos semelhantes no Instagram. “Mas, ao mesmo tempo, houve casos de censura.”

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Desde que o sangrento conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas se transformou em guerra este mês, os criadores de conteúdo com foco na Palestina têm usado cada vez mais o chamado “algospeak” (uma mistura das palavras algoritmo e “speak”, que significara “falar” em inglês). A estratégia é uma coleção de frases, grafias especiais e palavras de código para evitar que suas publicações sejam removidas ou suprimidas pelas empresas de rede social.

Alguns usuários estão bipando ou adicionando sons para disfarçar suas narrações, enquanto outros estão mudando a grafia de palavras comuns em inglês e árabe, como “Palestina”, “genocídio” e “Hamas”, para evitar a detecção. Muitos criadores populares estão instruindo os usuários palestinos a adotar táticas semelhantes e a acompanhar o conteúdo que as empresas de tecnologia retiram ou suprimem.

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Os criadores de conteúdo com foco na Palestina dizem que há uma necessidade urgente de compartilhar uma perspectiva sobre a guerra que difere da mídia convencional - e que o algospeak é uma tática necessária para garantir que sua mensagem seja transmitida.

Sua retórica reavivou o escrutínio de anos sobre como as empresas de tecnologia, como Meta, YouTube e TikTok, policiam suas plataformas durante os momentos de maior violência entre israelenses e palestinos.

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Grupos da sociedade civil há muito tempo criticam a Meta, dona do Instagram, Facebook e WhatsApp, por esmagar a liberdade de expressão dos usuários palestinos ao remover o conteúdo em árabe com mais frequência do que as publicações em hebraico. Os ativistas acusam as empresas de tecnologia de também não terem investido em sistemas para proteger os usuários palestinos de retórica de ódio e ameaças violentas.

“Esse tem sido um problema constante há anos”, disse Jillian York, diretora de liberdade de expressão internacional da Electronic Frontier Foundation. “Eles aplicam padrões desiguais a diferentes partes do mundo [e] nem sempre têm conhecimento local” ou experiência no idioma, especialmente no Sul Global.

YouTube, TikTok, Facebook e Instagram consideraram o Hamas uma organização extremista, o que proíbe a presença do grupo em suas plataformas. Embora os usuários da Meta e do YouTube possam pedir paz ou comentar sobre os problemas enfrentados pelos palestinos, eles não podem expressar apoio ao grupo terrorista.

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A Meta também disse que alterou as configurações padrão na região, limitando quem pode comentar em novas publicações públicas no Facebook a amigos ou seguidores estabelecidos, em uma tentativa de restringir o conteúdo indesejado. O TikTok disse que adicionou mais moderadores que falam árabe e hebraico para revisar as publicações sobre a guerra. O YouTube afirmou que está retirando do ar discursos de ódio direcionados às comunidades judaica e palestina e, ao mesmo tempo, conectando os usuários a fontes confiáveis de notícias.

Mas muitos usuários de redes sociais com foco na Palestina são céticos em relação à explicação da Meta depois que, segundo eles, a empresa suprimiu suas opiniões de forma semelhante durante uma guerra de duas semanas entre Israel e o Hamas em 2021. Durante o conflito, a polícia israelense invadiu a Mesquita al-Aqsa, um local sagrado muçulmano em Jerusalém, levando o Hamas a disparar foguetes contra Israel, que retaliou com uma campanha de bombardeio que deixou mais de 200 palestinos mortos.

Como os usuários inundaram as redes sociais da Meta com relatos da batalha em primeira mão, o Instagram começou a restringir o conteúdo que continha a hashtag #AlAqsa. Inicialmente, a Meta atribuiu o problema a um erro de implantação de software automatizado.

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Uma auditoria externa encomendada pela Meta por recomendação de seu Conselho de Supervisão independente constatou que a hashtag #AlAqsa foi adicionada por engano a uma lista de termos associados ao terrorismo por um terceiro contratado que faz a moderação de conteúdo para a empresa. O relatório observou que isso provavelmente ocorreu porque os sistemas da Meta que usam inteligência artificial (IA) para monitorar discursos de ódio e outras formas de conteúdo problemático usam listas de termos associados a organizações terroristas estrangeiras. Portanto, é mais provável que uma pessoa que publica em árabe tenha seu conteúdo sinalizado como potencialmente associado a um grupo terrorista.

Um grupo judeu acompanhado pela polícia israelense passeia e reza no pátio da Mesquita de al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém, em agosto de 2021  Foto: Salwan Georges/The Washington Post

Mas nem todos os usuários de rede social com foco na Palestina acreditam na explicação da Meta. Ameer Al-Khatahtbeh, morador de Nova Jersey, que administra a conta Muslim no Instagram, voltada para notícias, disse que suas postagens tiveram um declínio no engajamento e nas visualizações.

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“Os palestinos (...) experimentaram essa supressão em 2021″, disse ele. “Estamos vendo exatamente a mesma coisa (...) acontecendo agora.”

Muitos influenciadores com foco na Palestina estão incentivando seus seguidores a documentar quaisquer ações de aplicação de conteúdo problemático das empresas de tecnologia. Nadim Nashif, diretor do grupo de defesa dos direitos digitais 7amleh-The Arab Center for the Advancement of Social Media, disse que seu grupo encaminhou às plataformas de rede social centenas de relatos de desinformação sobre o conflito, discurso de ódio e usuários que dizem que suas contas foram injustamente silenciadas.

Os usuários de redes sociais também estão incentivando uns aos outros a adotar estratégias não comprovadas para enganar o algoritmo. Em alguns casos, os usuários podem começar suas publicações com “Eu apoio Israel” e depois começar a falar sobre seu apoio aos palestinos. Outros estão encontrando maneiras criativas de soletrar palavras críticas sobre o conflito tanto em árabe quanto em inglês.

“Começamos a remover os pontos” nas publicações em árabe, disse um usuário egípcio que simpatiza com a causa palestina e falou sob condição de anonimato para evitar retaliação. “Nós misturamos letras em inglês [com] as letras em árabe”.

Quando a usuária do Instagram Womena promoveu uma entrevista na quarta-feira, 18, com a jornalista Mariam Barghouti, que criticou a maneira como os veículos de notícias internacionais cobriram a guerra entre Israel e Hamas, eles usaram as abreviações “P*les+in1ans” e “t*rr0rist+s” no lugar de “palestinos” e “terroristas”.

Mas esses truques nem sempre funcionam. Há apenas alguns dias, deBuys disse que o TikTok removeu o som de um vídeo satírico que ele postou, no qual se fazia passar por membros das Forças de Defesa de Israel cumprindo ordens para atacar Gaza. Depois que o vídeo acumulou milhares de visualizações, o TikTok removeu o som, dizendo que ele violava as diretrizes da comunidade da empresa, disse ele.

A “mídia pode ignorar o fato de que as Forças de Defesa de Israel estão massacrando a população civil de Gaza”, disse deBuys, cujas contas receberam outras violações no passado do TikTok e do Instagram. “Mas fazer um vídeo sobre isso, que é um esboço satírico sobre o que está acontecendo, é um tabu no TikTok.”

THE WASHINGTON POST - Quando Rathbone deBuys, 37 anos, publica vídeos no TikTok criticando Israel em seu conflito com o grupo terrorista Hamas, ele recorre a estratégias comuns para evitar ser detectado e excluído pela gigante chinesa de rede social.

Nas legendas de seus vídeos, ele usa emojis de terrier (a raça de cachorro) e violino em vez das palavras “terrorista” e “violência”. Na parte inferior de seus vídeos, ele acrescenta um aviso de isenção de responsabilidade, dizendo que a publicação é apenas para fins “educacionais”. Alterar as legendas pode diminuir a probabilidade de o vídeo ser sinalizado como uma violação das regras do TikTok contra retórica de ódio ou conteúdo violento, disse deBuys.

“Muitas pessoas estão atentas ao conflito e querem ouvir o que as pessoas têm a dizer”, disse deBuys, um músico da Louisiana que publica vídeos semelhantes no Instagram. “Mas, ao mesmo tempo, houve casos de censura.”

Desde que o sangrento conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas se transformou em guerra este mês, os criadores de conteúdo com foco na Palestina têm usado cada vez mais o chamado “algospeak” (uma mistura das palavras algoritmo e “speak”, que significara “falar” em inglês). A estratégia é uma coleção de frases, grafias especiais e palavras de código para evitar que suas publicações sejam removidas ou suprimidas pelas empresas de rede social.

Alguns usuários estão bipando ou adicionando sons para disfarçar suas narrações, enquanto outros estão mudando a grafia de palavras comuns em inglês e árabe, como “Palestina”, “genocídio” e “Hamas”, para evitar a detecção. Muitos criadores populares estão instruindo os usuários palestinos a adotar táticas semelhantes e a acompanhar o conteúdo que as empresas de tecnologia retiram ou suprimem.

Os criadores de conteúdo com foco na Palestina dizem que há uma necessidade urgente de compartilhar uma perspectiva sobre a guerra que difere da mídia convencional - e que o algospeak é uma tática necessária para garantir que sua mensagem seja transmitida.

Sua retórica reavivou o escrutínio de anos sobre como as empresas de tecnologia, como Meta, YouTube e TikTok, policiam suas plataformas durante os momentos de maior violência entre israelenses e palestinos.

Grupos da sociedade civil há muito tempo criticam a Meta, dona do Instagram, Facebook e WhatsApp, por esmagar a liberdade de expressão dos usuários palestinos ao remover o conteúdo em árabe com mais frequência do que as publicações em hebraico. Os ativistas acusam as empresas de tecnologia de também não terem investido em sistemas para proteger os usuários palestinos de retórica de ódio e ameaças violentas.

“Esse tem sido um problema constante há anos”, disse Jillian York, diretora de liberdade de expressão internacional da Electronic Frontier Foundation. “Eles aplicam padrões desiguais a diferentes partes do mundo [e] nem sempre têm conhecimento local” ou experiência no idioma, especialmente no Sul Global.

YouTube, TikTok, Facebook e Instagram consideraram o Hamas uma organização extremista, o que proíbe a presença do grupo em suas plataformas. Embora os usuários da Meta e do YouTube possam pedir paz ou comentar sobre os problemas enfrentados pelos palestinos, eles não podem expressar apoio ao grupo terrorista.

A Meta também disse que alterou as configurações padrão na região, limitando quem pode comentar em novas publicações públicas no Facebook a amigos ou seguidores estabelecidos, em uma tentativa de restringir o conteúdo indesejado. O TikTok disse que adicionou mais moderadores que falam árabe e hebraico para revisar as publicações sobre a guerra. O YouTube afirmou que está retirando do ar discursos de ódio direcionados às comunidades judaica e palestina e, ao mesmo tempo, conectando os usuários a fontes confiáveis de notícias.

Mas muitos usuários de redes sociais com foco na Palestina são céticos em relação à explicação da Meta depois que, segundo eles, a empresa suprimiu suas opiniões de forma semelhante durante uma guerra de duas semanas entre Israel e o Hamas em 2021. Durante o conflito, a polícia israelense invadiu a Mesquita al-Aqsa, um local sagrado muçulmano em Jerusalém, levando o Hamas a disparar foguetes contra Israel, que retaliou com uma campanha de bombardeio que deixou mais de 200 palestinos mortos.

Como os usuários inundaram as redes sociais da Meta com relatos da batalha em primeira mão, o Instagram começou a restringir o conteúdo que continha a hashtag #AlAqsa. Inicialmente, a Meta atribuiu o problema a um erro de implantação de software automatizado.

Uma auditoria externa encomendada pela Meta por recomendação de seu Conselho de Supervisão independente constatou que a hashtag #AlAqsa foi adicionada por engano a uma lista de termos associados ao terrorismo por um terceiro contratado que faz a moderação de conteúdo para a empresa. O relatório observou que isso provavelmente ocorreu porque os sistemas da Meta que usam inteligência artificial (IA) para monitorar discursos de ódio e outras formas de conteúdo problemático usam listas de termos associados a organizações terroristas estrangeiras. Portanto, é mais provável que uma pessoa que publica em árabe tenha seu conteúdo sinalizado como potencialmente associado a um grupo terrorista.

Um grupo judeu acompanhado pela polícia israelense passeia e reza no pátio da Mesquita de al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém, em agosto de 2021  Foto: Salwan Georges/The Washington Post

Mas nem todos os usuários de rede social com foco na Palestina acreditam na explicação da Meta. Ameer Al-Khatahtbeh, morador de Nova Jersey, que administra a conta Muslim no Instagram, voltada para notícias, disse que suas postagens tiveram um declínio no engajamento e nas visualizações.

“Os palestinos (...) experimentaram essa supressão em 2021″, disse ele. “Estamos vendo exatamente a mesma coisa (...) acontecendo agora.”

Muitos influenciadores com foco na Palestina estão incentivando seus seguidores a documentar quaisquer ações de aplicação de conteúdo problemático das empresas de tecnologia. Nadim Nashif, diretor do grupo de defesa dos direitos digitais 7amleh-The Arab Center for the Advancement of Social Media, disse que seu grupo encaminhou às plataformas de rede social centenas de relatos de desinformação sobre o conflito, discurso de ódio e usuários que dizem que suas contas foram injustamente silenciadas.

Os usuários de redes sociais também estão incentivando uns aos outros a adotar estratégias não comprovadas para enganar o algoritmo. Em alguns casos, os usuários podem começar suas publicações com “Eu apoio Israel” e depois começar a falar sobre seu apoio aos palestinos. Outros estão encontrando maneiras criativas de soletrar palavras críticas sobre o conflito tanto em árabe quanto em inglês.

“Começamos a remover os pontos” nas publicações em árabe, disse um usuário egípcio que simpatiza com a causa palestina e falou sob condição de anonimato para evitar retaliação. “Nós misturamos letras em inglês [com] as letras em árabe”.

Quando a usuária do Instagram Womena promoveu uma entrevista na quarta-feira, 18, com a jornalista Mariam Barghouti, que criticou a maneira como os veículos de notícias internacionais cobriram a guerra entre Israel e Hamas, eles usaram as abreviações “P*les+in1ans” e “t*rr0rist+s” no lugar de “palestinos” e “terroristas”.

Mas esses truques nem sempre funcionam. Há apenas alguns dias, deBuys disse que o TikTok removeu o som de um vídeo satírico que ele postou, no qual se fazia passar por membros das Forças de Defesa de Israel cumprindo ordens para atacar Gaza. Depois que o vídeo acumulou milhares de visualizações, o TikTok removeu o som, dizendo que ele violava as diretrizes da comunidade da empresa, disse ele.

A “mídia pode ignorar o fato de que as Forças de Defesa de Israel estão massacrando a população civil de Gaza”, disse deBuys, cujas contas receberam outras violações no passado do TikTok e do Instagram. “Mas fazer um vídeo sobre isso, que é um esboço satírico sobre o que está acontecendo, é um tabu no TikTok.”

THE WASHINGTON POST - Quando Rathbone deBuys, 37 anos, publica vídeos no TikTok criticando Israel em seu conflito com o grupo terrorista Hamas, ele recorre a estratégias comuns para evitar ser detectado e excluído pela gigante chinesa de rede social.

Nas legendas de seus vídeos, ele usa emojis de terrier (a raça de cachorro) e violino em vez das palavras “terrorista” e “violência”. Na parte inferior de seus vídeos, ele acrescenta um aviso de isenção de responsabilidade, dizendo que a publicação é apenas para fins “educacionais”. Alterar as legendas pode diminuir a probabilidade de o vídeo ser sinalizado como uma violação das regras do TikTok contra retórica de ódio ou conteúdo violento, disse deBuys.

“Muitas pessoas estão atentas ao conflito e querem ouvir o que as pessoas têm a dizer”, disse deBuys, um músico da Louisiana que publica vídeos semelhantes no Instagram. “Mas, ao mesmo tempo, houve casos de censura.”

Desde que o sangrento conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas se transformou em guerra este mês, os criadores de conteúdo com foco na Palestina têm usado cada vez mais o chamado “algospeak” (uma mistura das palavras algoritmo e “speak”, que significara “falar” em inglês). A estratégia é uma coleção de frases, grafias especiais e palavras de código para evitar que suas publicações sejam removidas ou suprimidas pelas empresas de rede social.

Alguns usuários estão bipando ou adicionando sons para disfarçar suas narrações, enquanto outros estão mudando a grafia de palavras comuns em inglês e árabe, como “Palestina”, “genocídio” e “Hamas”, para evitar a detecção. Muitos criadores populares estão instruindo os usuários palestinos a adotar táticas semelhantes e a acompanhar o conteúdo que as empresas de tecnologia retiram ou suprimem.

Os criadores de conteúdo com foco na Palestina dizem que há uma necessidade urgente de compartilhar uma perspectiva sobre a guerra que difere da mídia convencional - e que o algospeak é uma tática necessária para garantir que sua mensagem seja transmitida.

Sua retórica reavivou o escrutínio de anos sobre como as empresas de tecnologia, como Meta, YouTube e TikTok, policiam suas plataformas durante os momentos de maior violência entre israelenses e palestinos.

Grupos da sociedade civil há muito tempo criticam a Meta, dona do Instagram, Facebook e WhatsApp, por esmagar a liberdade de expressão dos usuários palestinos ao remover o conteúdo em árabe com mais frequência do que as publicações em hebraico. Os ativistas acusam as empresas de tecnologia de também não terem investido em sistemas para proteger os usuários palestinos de retórica de ódio e ameaças violentas.

“Esse tem sido um problema constante há anos”, disse Jillian York, diretora de liberdade de expressão internacional da Electronic Frontier Foundation. “Eles aplicam padrões desiguais a diferentes partes do mundo [e] nem sempre têm conhecimento local” ou experiência no idioma, especialmente no Sul Global.

YouTube, TikTok, Facebook e Instagram consideraram o Hamas uma organização extremista, o que proíbe a presença do grupo em suas plataformas. Embora os usuários da Meta e do YouTube possam pedir paz ou comentar sobre os problemas enfrentados pelos palestinos, eles não podem expressar apoio ao grupo terrorista.

A Meta também disse que alterou as configurações padrão na região, limitando quem pode comentar em novas publicações públicas no Facebook a amigos ou seguidores estabelecidos, em uma tentativa de restringir o conteúdo indesejado. O TikTok disse que adicionou mais moderadores que falam árabe e hebraico para revisar as publicações sobre a guerra. O YouTube afirmou que está retirando do ar discursos de ódio direcionados às comunidades judaica e palestina e, ao mesmo tempo, conectando os usuários a fontes confiáveis de notícias.

Mas muitos usuários de redes sociais com foco na Palestina são céticos em relação à explicação da Meta depois que, segundo eles, a empresa suprimiu suas opiniões de forma semelhante durante uma guerra de duas semanas entre Israel e o Hamas em 2021. Durante o conflito, a polícia israelense invadiu a Mesquita al-Aqsa, um local sagrado muçulmano em Jerusalém, levando o Hamas a disparar foguetes contra Israel, que retaliou com uma campanha de bombardeio que deixou mais de 200 palestinos mortos.

Como os usuários inundaram as redes sociais da Meta com relatos da batalha em primeira mão, o Instagram começou a restringir o conteúdo que continha a hashtag #AlAqsa. Inicialmente, a Meta atribuiu o problema a um erro de implantação de software automatizado.

Uma auditoria externa encomendada pela Meta por recomendação de seu Conselho de Supervisão independente constatou que a hashtag #AlAqsa foi adicionada por engano a uma lista de termos associados ao terrorismo por um terceiro contratado que faz a moderação de conteúdo para a empresa. O relatório observou que isso provavelmente ocorreu porque os sistemas da Meta que usam inteligência artificial (IA) para monitorar discursos de ódio e outras formas de conteúdo problemático usam listas de termos associados a organizações terroristas estrangeiras. Portanto, é mais provável que uma pessoa que publica em árabe tenha seu conteúdo sinalizado como potencialmente associado a um grupo terrorista.

Um grupo judeu acompanhado pela polícia israelense passeia e reza no pátio da Mesquita de al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém, em agosto de 2021  Foto: Salwan Georges/The Washington Post

Mas nem todos os usuários de rede social com foco na Palestina acreditam na explicação da Meta. Ameer Al-Khatahtbeh, morador de Nova Jersey, que administra a conta Muslim no Instagram, voltada para notícias, disse que suas postagens tiveram um declínio no engajamento e nas visualizações.

“Os palestinos (...) experimentaram essa supressão em 2021″, disse ele. “Estamos vendo exatamente a mesma coisa (...) acontecendo agora.”

Muitos influenciadores com foco na Palestina estão incentivando seus seguidores a documentar quaisquer ações de aplicação de conteúdo problemático das empresas de tecnologia. Nadim Nashif, diretor do grupo de defesa dos direitos digitais 7amleh-The Arab Center for the Advancement of Social Media, disse que seu grupo encaminhou às plataformas de rede social centenas de relatos de desinformação sobre o conflito, discurso de ódio e usuários que dizem que suas contas foram injustamente silenciadas.

Os usuários de redes sociais também estão incentivando uns aos outros a adotar estratégias não comprovadas para enganar o algoritmo. Em alguns casos, os usuários podem começar suas publicações com “Eu apoio Israel” e depois começar a falar sobre seu apoio aos palestinos. Outros estão encontrando maneiras criativas de soletrar palavras críticas sobre o conflito tanto em árabe quanto em inglês.

“Começamos a remover os pontos” nas publicações em árabe, disse um usuário egípcio que simpatiza com a causa palestina e falou sob condição de anonimato para evitar retaliação. “Nós misturamos letras em inglês [com] as letras em árabe”.

Quando a usuária do Instagram Womena promoveu uma entrevista na quarta-feira, 18, com a jornalista Mariam Barghouti, que criticou a maneira como os veículos de notícias internacionais cobriram a guerra entre Israel e Hamas, eles usaram as abreviações “P*les+in1ans” e “t*rr0rist+s” no lugar de “palestinos” e “terroristas”.

Mas esses truques nem sempre funcionam. Há apenas alguns dias, deBuys disse que o TikTok removeu o som de um vídeo satírico que ele postou, no qual se fazia passar por membros das Forças de Defesa de Israel cumprindo ordens para atacar Gaza. Depois que o vídeo acumulou milhares de visualizações, o TikTok removeu o som, dizendo que ele violava as diretrizes da comunidade da empresa, disse ele.

A “mídia pode ignorar o fato de que as Forças de Defesa de Israel estão massacrando a população civil de Gaza”, disse deBuys, cujas contas receberam outras violações no passado do TikTok e do Instagram. “Mas fazer um vídeo sobre isso, que é um esboço satírico sobre o que está acontecendo, é um tabu no TikTok.”

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