Comportamento 'narcisista' é comum em videoconferências


Admirar a própria imagem nas videoconferências pode ser o mocinho e o vilão da autoestima e do estresse na pandemia

Por Bruna Arimathea
Desligar a própria imagem da chamada é uma das recomendações de especialistas para evitar o estresse Foto: Loren Elliott/Reuters

Não adianta negar: 10 em cada 10 pessoas tendem a olhar para a própria imagem quando entram em uma sala de conferência com a câmera ligada. Uma ajeitadinha no cabelo, um olhar pelo quarto para ver se tem alguma bagunça e, quando você percebe, não sabe mais o que o professor ou o palestrante está falando. Seria você um narcisista? A ciência explica que sim e que não. 

Uma das causas mais primitivas que nos levam a ficar quase obcecados pela própria imagem é a nossa programação social de convivência. Somos dependentes do olhar e da aprovação do outro — é por isso que é tão difícil ignorar o fato de que podemos arrumar detalhes quando é possível, principalmente em frente às câmeras. 

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“É natural manter a auto-observação quando você está se expondo a uma situação social”, explica Elisa Brietzke, médica psiquiatra, professora e pesquisadora da Escola Paulista de Medicina. As videochamadas, porém, levam esse tipo de situação a um status longe da naturalidade. “A gente não tem o mecanismo da auto-observação o tempo inteiro. Isso demanda um esforço extra. Você começa a somar coisas para prestar atenção”, explica. 

Ainda assim, a opção de desligar a sua própria imagem em uma chamada parece ser absurda depois de um ano utilizando plataformas como Zoom, Google Meet e Microsoft Teams. Arthur Loureiro, cosmólogo e pesquisador na University College of London, é uma das pessoas que não se vê mudando a postura em relação ao seu vídeo.

“Em uma conversa entre amigos, descobri a ferramenta para desativar a minha câmera e foi perturbador. É muito difícil imaginar que as pessoas estão te vendo, mas você não sabe o que está acontecendo”, diz. 

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O comportamento já foi apontado como um fator de estresse entre os usuários de plataformas de videoconferência. Mesmo não sendo o mais relatado, pode se somar a outros efeitos das chamadas e colaborar para a “fadiga de Zoom” – coleção de sintomas comuns nessa rotina.

Então, por que continuar se olhando? Para Sylvia van Enke, especialista em dependência de Tecnologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, além da aprovação alheia, é também um momento de autocrítica. “Todos querem se apresentar de uma maneira que seja aceita. Pode ter um componente narcísico sim, você espera que as outras pessoas te vejam com bons olhos”.

O melhor é saber dosar entre momentos de necessidade e de conforto com a tela. Entre as chamadas, experimente desligar a sua imagem ou mesmo, quando perceber que está olhando demais para si mesmo, focar em observar os outros personagens da chamada.

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No fim, a era das plataformas de vídeo veio para reforçar um gostoso pagode do grupo Os Travessos, que diz: “sorria que eu estou te filmando”. O problema é sorrir demais.

*É estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani 

Desligar a própria imagem da chamada é uma das recomendações de especialistas para evitar o estresse Foto: Loren Elliott/Reuters

Não adianta negar: 10 em cada 10 pessoas tendem a olhar para a própria imagem quando entram em uma sala de conferência com a câmera ligada. Uma ajeitadinha no cabelo, um olhar pelo quarto para ver se tem alguma bagunça e, quando você percebe, não sabe mais o que o professor ou o palestrante está falando. Seria você um narcisista? A ciência explica que sim e que não. 

Uma das causas mais primitivas que nos levam a ficar quase obcecados pela própria imagem é a nossa programação social de convivência. Somos dependentes do olhar e da aprovação do outro — é por isso que é tão difícil ignorar o fato de que podemos arrumar detalhes quando é possível, principalmente em frente às câmeras. 

“É natural manter a auto-observação quando você está se expondo a uma situação social”, explica Elisa Brietzke, médica psiquiatra, professora e pesquisadora da Escola Paulista de Medicina. As videochamadas, porém, levam esse tipo de situação a um status longe da naturalidade. “A gente não tem o mecanismo da auto-observação o tempo inteiro. Isso demanda um esforço extra. Você começa a somar coisas para prestar atenção”, explica. 

Ainda assim, a opção de desligar a sua própria imagem em uma chamada parece ser absurda depois de um ano utilizando plataformas como Zoom, Google Meet e Microsoft Teams. Arthur Loureiro, cosmólogo e pesquisador na University College of London, é uma das pessoas que não se vê mudando a postura em relação ao seu vídeo.

“Em uma conversa entre amigos, descobri a ferramenta para desativar a minha câmera e foi perturbador. É muito difícil imaginar que as pessoas estão te vendo, mas você não sabe o que está acontecendo”, diz. 

O comportamento já foi apontado como um fator de estresse entre os usuários de plataformas de videoconferência. Mesmo não sendo o mais relatado, pode se somar a outros efeitos das chamadas e colaborar para a “fadiga de Zoom” – coleção de sintomas comuns nessa rotina.

Então, por que continuar se olhando? Para Sylvia van Enke, especialista em dependência de Tecnologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, além da aprovação alheia, é também um momento de autocrítica. “Todos querem se apresentar de uma maneira que seja aceita. Pode ter um componente narcísico sim, você espera que as outras pessoas te vejam com bons olhos”.

O melhor é saber dosar entre momentos de necessidade e de conforto com a tela. Entre as chamadas, experimente desligar a sua imagem ou mesmo, quando perceber que está olhando demais para si mesmo, focar em observar os outros personagens da chamada.

No fim, a era das plataformas de vídeo veio para reforçar um gostoso pagode do grupo Os Travessos, que diz: “sorria que eu estou te filmando”. O problema é sorrir demais.

*É estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani 

Desligar a própria imagem da chamada é uma das recomendações de especialistas para evitar o estresse Foto: Loren Elliott/Reuters

Não adianta negar: 10 em cada 10 pessoas tendem a olhar para a própria imagem quando entram em uma sala de conferência com a câmera ligada. Uma ajeitadinha no cabelo, um olhar pelo quarto para ver se tem alguma bagunça e, quando você percebe, não sabe mais o que o professor ou o palestrante está falando. Seria você um narcisista? A ciência explica que sim e que não. 

Uma das causas mais primitivas que nos levam a ficar quase obcecados pela própria imagem é a nossa programação social de convivência. Somos dependentes do olhar e da aprovação do outro — é por isso que é tão difícil ignorar o fato de que podemos arrumar detalhes quando é possível, principalmente em frente às câmeras. 

“É natural manter a auto-observação quando você está se expondo a uma situação social”, explica Elisa Brietzke, médica psiquiatra, professora e pesquisadora da Escola Paulista de Medicina. As videochamadas, porém, levam esse tipo de situação a um status longe da naturalidade. “A gente não tem o mecanismo da auto-observação o tempo inteiro. Isso demanda um esforço extra. Você começa a somar coisas para prestar atenção”, explica. 

Ainda assim, a opção de desligar a sua própria imagem em uma chamada parece ser absurda depois de um ano utilizando plataformas como Zoom, Google Meet e Microsoft Teams. Arthur Loureiro, cosmólogo e pesquisador na University College of London, é uma das pessoas que não se vê mudando a postura em relação ao seu vídeo.

“Em uma conversa entre amigos, descobri a ferramenta para desativar a minha câmera e foi perturbador. É muito difícil imaginar que as pessoas estão te vendo, mas você não sabe o que está acontecendo”, diz. 

O comportamento já foi apontado como um fator de estresse entre os usuários de plataformas de videoconferência. Mesmo não sendo o mais relatado, pode se somar a outros efeitos das chamadas e colaborar para a “fadiga de Zoom” – coleção de sintomas comuns nessa rotina.

Então, por que continuar se olhando? Para Sylvia van Enke, especialista em dependência de Tecnologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, além da aprovação alheia, é também um momento de autocrítica. “Todos querem se apresentar de uma maneira que seja aceita. Pode ter um componente narcísico sim, você espera que as outras pessoas te vejam com bons olhos”.

O melhor é saber dosar entre momentos de necessidade e de conforto com a tela. Entre as chamadas, experimente desligar a sua imagem ou mesmo, quando perceber que está olhando demais para si mesmo, focar em observar os outros personagens da chamada.

No fim, a era das plataformas de vídeo veio para reforçar um gostoso pagode do grupo Os Travessos, que diz: “sorria que eu estou te filmando”. O problema é sorrir demais.

*É estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani 

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