Da telegrafia à IA: relembre 10 vencedores do Nobel que transformaram a tecnologia


Prêmio foi criado em 1901 com o intuito de reconhecer avanços em benefício da humanidade

Por Guilherme Nannini

O Prêmio Nobel de Química de 2024 foi concedido a David Baker, da Universidade de Washington (EUA), e Demis Hassabis e John M. Jumper, do Google DeepMind (Reino Unido), por suas contribuições revolucionárias para a bioquímica. Utilizando inteligência artificial (IA), os cientistas desenvolveram softwares que prevêem a estrutura tridimensional de proteínas, abrindo caminho para avanços científicos e médicos.

O campo da tecnologia e inteligência artificial também foi reconhecido no Prêmio Nobel de Física de 2024, concedido a Geoffrey Hinton e John Hopfield por seus trabalhos pioneiros em machine learning. Hinton, muitas vezes chamado de “padrinho da IA”, desenvolveu algoritmos e modelos fundamentais para o avanço das redes neurais artificiais, que se inspiram no funcionamento do cérebro humano e impulsionam diversas tecnologias hoje, desde buscas na internet até edição de fotos.

Na foto, os ganhadores do Prêmio Nobel de Química. David Baker, da Universidade de Washington (EUA), e Demis Hassabis e John M. Jumper, do Google DeepMind, uma empresa britânica focada em soluções que usam a IA. Foto: Reprodução/Instagram/nobelprize_org
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Hassabis e Jumper desenvolveram o AlphaFold, programa que prevê a estrutura de proteínas com alta precisão. A ferramenta já permitiu a previsão da estrutura de mais de 200 milhões de proteínas conhecidas, acelerando pesquisas em diversas áreas. Já Baker desenvolveu o software Rosetta, que prevê a estrutura de proteínas e cria novas proteínas com funções específicas.

No campo da Física Geoffrey Hinton teve um papel crucial no desenvolvimento das redes neurais que formam a base da inteligência artificial moderna. Desde seu doutorado, Hinton acreditava no potencial das redes neurais, mesmo quando essa ideia era marginalizada na comunidade científica.

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O que é o Prêmio Nobel?

Prêmio Nobel começou a ser promovido em 1901 Foto: Reprodução/The Nobel Prize
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O Prêmio Nobel é uma das mais prestigiadas premiações do mundo, criada em 1895 pelo químico e inventor sueco Alfred Nobel. Anualmente, o prêmio reconhece indivíduos que realizaram pesquisas ou descobertas importantes em benefício da humanidade em seis categorias: Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura, Paz e Ciências Econômicas.

Alfred Nobel, nascido em Estocolmo em 1833, foi um químico e inventor que acumulou fortuna com suas invenções, incluindo a dinamite. Após sua morte, em 1896, seu testamento revelou a criação da Fundação Nobel e do Prêmio Nobel, com o objetivo de premiar aqueles que contribuíssem para o avanço da ciência, da literatura e da paz mundial.

Ao longo dos anos, o Prêmio Nobel tem reconhecido avanços tecnológicos que transformaram o mundo, desde a invenção da telegrafia até a aplicação da IA para desvendar os segredos das proteínas, como no caso dos ganhadores de 2024. Conheça algumas delas:

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10 ganhadores do Nobel que transformaram a tecnologia

Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun (1909): comunicação por telégrafo

Vencedores do Nobel Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun Foto: Reprodução/The Nobel Prize
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No final do século 19, a comunicação a longa distância ainda era um desafio. Cartas levavam semanas para cruzar oceanos, e o telégrafo, apesar de revolucionário, dependia de fios que limitavam seu alcance. Foi nesse cenário que Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun, dois visionários da ciência, deram um passo audacioso: dominar as ondas eletromagnéticas para conectar o mundo sem fios.

Nascido em Bolonha, Itália, em 25 de abril de 1874, Guglielmo Marconi era um jovem inquieto com uma paixão pela eletricidade. Fascinado pelos experimentos de Heinrich Hertz, que comprovou a existência das ondas eletromagnéticas, Marconi vislumbrou o potencial dessa descoberta para a comunicação sem fio.

Em 1895, aos 21 anos, Marconi construiu seu primeiro transmissor e receptor de rádio, utilizando equipamentos simples em sua casa de campo. Seus experimentos iniciais, inicialmente recebidos com ceticismo, logo chamaram a atenção ao transmitir sinais a distâncias cada vez maiores.

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Nascido em Fulda, Alemanha, em 6 de junho de 1850, Karl Ferdinand Braun era um físico renomado com sólida formação acadêmica. Professor na Universidade de Estrasburgo, Braun se dedicou ao estudo da eletricidade e do magnetismo, contribuindo para o desenvolvimento de tecnologias como o osciloscópio de raios catódicos.

Braun se interessou pelo trabalho de Marconi e, em 1898, desenvolveu um circuito transmissor mais eficiente, que utilizava um circuito fechado e uma antena. Essa inovação aumentou o alcance e a qualidade da transmissão de rádio.

Marconi e Braun contribuíram para o desenvolvimento da radiotelegrafia, a transmissão de mensagens telegráficas sem fio. Em 1899, Marconi realizou a primeira transmissão de rádio por meio do Canal da Mancha, conectando a Inglaterra e a França. Em 1901, Marconi alcançou um feito histórico: a primeira transmissão transatlântica de rádio, enviando um sinal da Inglaterra para Newfoundland, no Canadá.

A radiotelegrafia de Marconi e Braun abriu caminho para o desenvolvimento do rádio como o conhecemos hoje, um meio de comunicação de massa que transformou a sociedade. Notícias, música, entretenimento e informações passaram a ser transmitidas instantaneamente para todo o mundo, conectando pessoas e culturas. Em 1909, Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun foram agraciados com o Prêmio Nobel de Física “em reconhecimento às suas contribuições para o desenvolvimento da telegrafia sem fio”.

Bardeen, Brattain e Shockley (1956): os pais do transistor

Bardeen, Brattain e Shockley, os inventores do transistor Foto: Reprodução/Nobel Prize

Um mundo sem computadores, smartphones ou internet. Essa era a realidade antes de 1947, quando três mentes brilhantes nos Laboratórios Bell, nos Estados Unidos, mudaram o curso da história da eletrônica: John Bardeen, Walter Brattain e William Shockley, os pais do transistor.

Nascido em Madison, Wisconsin, em 23 de maio de 1908, John Bardeen era um prodígio da matemática e da física. Doutorou-se pela Universidade de Princeton em 1936 e, após um período na Universidade de Minnesota, juntou-se aos Laboratórios Bell em 1945.

Bardeen era conhecido por sua inteligência excepcional, sua persistência e sua habilidade em trabalhar em equipe. Ele desempenhou um papel fundamental na compreensão teórica dos semicondutores, materiais que são a base do transistor, e na superação dos desafios para a criação do primeiro dispositivo funcional.

Walter Brattain, nascido em Amoy, China, em 10 de fevereiro de 1902, era um físico experimental talentoso. Graduou-se no Whitman College e obteve seu doutorado na Universidade de Minnesota. Juntou-se aos Laboratórios Bell em 1929, onde se dedicou à pesquisa em física de estado sólido.

Brattain era um mestre na arte da experimentação, com uma intuição aguçada para encontrar soluções práticas para problemas complexos. Sua habilidade em manipular materiais e construir dispositivos delicados foi crucial para o sucesso da equipe.

William Shockley, nascido em Londres, Inglaterra, em 13 de fevereiro de 1910, era um físico e engenheiro com uma personalidade forte e uma visão ambiciosa para o futuro da eletrônica. Doutorou-se pelo MIT em 1936 e ingressou nos Laboratórios Bell no mesmo ano.

Shockley liderou a equipe que inventou o transistor, fornecendo a direção estratégica e o impulso para a pesquisa. Após a invenção, ele se dedicou ao desenvolvimento do transistor de junção, uma versão mais eficiente e confiável do dispositivo original.

O transistor, inventado em 16 de dezembro de 1947, substituiu as válvulas termiônicas volumosas e ineficientes, abrindo caminho para a miniaturização dos dispositivos eletrônicos. Rádios, televisores, computadores, smartphones – todos esses dispositivos e muitos outros se tornaram possíveis graças ao transistor.

Em 1956, Bardeen, Brattain e Shockley receberam o Prêmio Nobel de Física por sua invenção. Bardeen fez história ao receber o prêmio novamente em 1972, por suas contribuições para a teoria da supercondutividade, tornando-se o único cientista a ganhar o Nobel de Física duas vezes. Apesar do sucesso profissional, a equipe enfrentou conflitos e desentendimentos. Shockley, em particular, se envolveu em controvérsias por suas opiniões polêmicas sobre raça e inteligência.

Dennis Gabor (1971): o ‘inventor’ do 3D

Dennis Gabor inventor da holografia Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Um mundo onde imagens flutuam no ar, tão reais que você pode quase tocá-las. Essa era a visão de Dennis Gabor, o homem por trás da holografia, uma técnica que revolucionou a forma como capturamos e visualizamos a luz.

Nascido em Budapeste, Hungria, em 5 de junho de 1900, Gabor demonstrou desde cedo uma curiosidade insaciável pelo mundo ao seu redor. Fascinado por física e engenharia, ele se formou na Universidade Técnica de Berlim em 1924 e obteve seu doutorado em 1927, mergulhando no estudo da óptica e da eletrônica.

Em 1947, enquanto trabalhava na British Thomson-Houston em Rugby, Inglaterra, Gabor buscava aprimorar a microscopia eletrônica. Frustado com as limitações da época, ele teve uma epifania: e se fosse possível registrar não apenas a intensidade da luz, mas também sua fase, capturando a totalidade da informação óptica?

Essa ideia o levou a desenvolver a holografia, um método que utiliza a interferência de ondas de luz para criar uma imagem tridimensional. A invenção, inicialmente registrada em placas fotográficas, permitia observar o objeto de diferentes ângulos, revelando detalhes impossíveis de serem vistos em fotografias convencionais.

Apesar do potencial revolucionário, a holografia de Gabor enfrentou limitações tecnológicas. A falta de fontes de luz coerentes, como o laser, inventado apenas em 1960, impedia a criação de hologramas de alta qualidade. Mesmo assim, Gabor perseverou, explorando as aplicações da holografia em diversas áreas, como microscopia, reconhecimento de padrões e armazenamento de dados. Sua visão ia além da ciência, imaginando um futuro com hologramas em televisores e cinemas, proporcionando experiências imersivas.

O trabalho pioneiro de Gabor foi finalmente reconhecido em 1971, quando recebeu o Prêmio Nobel de Física pela invenção da holografia. A essa altura, o laser já havia impulsionado o desenvolvimento da técnica, abrindo caminho para aplicações em diversas áreas, da medicina à arte.

Hoje, a holografia está presente em cartões de crédito, cédulas de dinheiro, e até em shows com artistas “ressuscitados” digitalmente.

Godfrey Hounsfield e Allan Cormack (1979): os ‘tomografistas’

Godfrey Hounsfield e Allan Cormack criadores da tomografia Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Enxergar o interior do corpo humano sem cortes, revelando ossos, órgãos e tecidos em detalhes tridimensionais. Essa revolução no diagnóstico médico se tornou realidade graças à tomografia computadorizada, invenção que coroou o trabalho de dois cientistas visionários: Godfrey Hounsfield e Allan Cormack.

Nascido em Newark-on-Trent, Inglaterra, em 28 de agosto de 1919, Godfrey Hounsfield era um engenheiro eletricista com uma mente inventiva e uma paixão por tecnologia. Após servir na Royal Air Force durante a Segunda Guerra Mundial, ele se juntou à EMI, Ltd., uma empresa britânica de eletrônicos, em 1951.

Hounsfield não tinha formação médica, mas sua curiosidade e talento para a engenharia o levaram a explorar novas formas de gerar imagens do corpo humano. Inspirado pela ideia de reconstruir imagens a partir de múltiplas projeções, ele se dedicou ao desenvolvimento de um sistema que utilizava raios X para criar “fatias” transversais do corpo, revelando detalhes anatômicos sem precedentes.

Nascido em Joanesburgo, África do Sul, em 23 de fevereiro de 1924, Allan Cormack era um físico com um talento especial para a matemática. Após obter seu doutorado pela Universidade da Cidade do Cabo, ele se dedicou ao estudo da física nuclear e, posteriormente, à aplicação da matemática na medicina.

Cormack desenvolveu os fundamentos matemáticos da tomografia computadorizada, criando algoritmos que permitiam reconstruir imagens precisas do interior do corpo a partir de múltiplas medidas de atenuação de raios-X. Trabalhando de forma independente, Hounsfield e Cormack desenvolveram as peças-chave da tomografia computadorizada. Em 1971, Hounsfield construiu o primeiro tomógrafo computadorizado comercial, um aparelho que revolucionou o diagnóstico médico.

A tomografia computadorizada permitiu aos médicos visualizar o interior do corpo humano com uma clareza sem precedentes, identificando tumores, fraturas, hemorragias e outras anomalias com precisão. Essa técnica não invasiva transformou a medicina e se tornou uma ferramenta essencial no diagnóstico e tratamento de diversas doenças, guiando cirurgias, monitorando o progresso de tratamentos e permitindo a detecção precoce de casos graves.

Em 1979, Godfrey Hounsfield e Allan Cormack receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina pelo “o desenvolvimento da tomografia computadorizada”. Hounsfield morreu em 12 de agosto de 2004, aos 84 anos, e Cormack em 7 de maio de 1998, aos 74 anos.

Georges Charpak (1992): a câmara que registra a trajetória das partículas

Georges Charpak ganhador do Nobel de Física de 1992 Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Desvendar o mundo microscópico é um desafio que exige ferramentas precisas e mentes brilhantes. E foi nesse cenário que Georges Charpak, um físico polonês naturalizado francês, deixou sua marca.

Nascido em Dąbrowica, Polônia (hoje Ucrânia), em 1º de agosto de 1924, Charpak teve uma infância marcada pela turbulência da guerra. Em 1943, aos 19 anos, foi preso pela Gestapo e deportado para o campo de concentração de Dachau, na Alemanha, onde passou um ano como prisioneiro político.

Após a guerra, Charpak mudou-se para a França, onde se formou em Engenharia de Minas pela École nationale supérieure des mines de Paris em 1947. Seu interesse pela física nuclear o levou ao Collège de France, onde trabalhou com Frédéric Joliot-Curie, genro de Marie Curie. Em 1959, ingressou no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), em Genebra, Suíça, o maior laboratório de física de partículas do mundo.

No CERN, Charpak se dedicou ao desenvolvimento de detectores de partículas, dispositivos essenciais para observar e analisar os fragmentos infinitesimais gerados em colisões de alta energia. Em 1968, ele inventou a câmara proporcional multifios, um detector que permitia registrar a trajetória de partículas com precisão e velocidade sem precedentes.

A invenção de Charpak representou um salto gigantesco na física experimental. A câmara proporcional multifios era capaz de detectar até 1000 partículas por segundo, superando em muito a capacidade dos detectores anteriores. Essa ferramenta possibilitou a realização de experimentos mais complexos e a descoberta de novas partículas, expandindo o conhecimento sobre a estrutura fundamental da matéria.

O impacto da câmara proporcional multifios se estendeu para além da física de partículas, encontrando aplicações em áreas como medicina, biologia e segurança. Em 1992, Georges Charpak foi consagrado com o Prêmio Nobel de Física por sua invenção, um reconhecimento por sua contribuição fundamental à ciência.

Charpak não se limitou à pesquisa científica. Ele também se dedicou à educação e à divulgação científica, buscando despertar o interesse pela ciência em jovens e leigos. Defensor da paz e do desarmamento nuclear, ele usou sua influência para alertar sobre os perigos da proliferação de armas atômicas. Ele faleceu em Paris, em 29 de setembro de 2010, aos 86 anos.

Alan Heeger, Alan MacDiarmid e Hideki Shirakawa (2000): polímeros condutores

Os ganhadores do Prêmio Nobel de Química em 2000, Alan Heeger, Alan MacDiarmid e Hideki Shirakawa Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Telas flexíveis que se dobram como papel, roupas que geram energia solar e dispositivos eletrônicos leves e maleáveis como nunca. Essa é a promessa dos polímeros condutores, uma classe de materiais que desafiou as expectativas e abriu caminho para uma nova era na eletrônica. E por trás dessa descoberta revolucionária estão três cientistas visionários: Alan Heeger, Alan MacDiarmid e Hideki Shirakawa.

Nascido em Sioux City, Iowa, EUA, em 22 de janeiro de 1936, Alan Heeger é um físico e químico com uma paixão por desvendar os segredos da matéria. Após obter seu doutorado pela Universidade da Califórnia, Berkeley, em 1961, Heeger se dedicou ao estudo da física da matéria condensada, explorando as propriedades de materiais como semicondutores e polímeros.

Heeger possuía uma mente inquisitiva e uma habilidade única de conectar diferentes áreas do conhecimento. Sua expertise em física, combinada com sua curiosidade sobre a química dos polímeros, o levou a questionar a crença de que os plásticos eram apenas isolantes elétricos.

Nascido em Masterton, Nova Zelândia, em 14 de abril de 1927, Alan MacDiarmid era um químico com uma paixão por explorar o desconhecido. Após obter seu doutorado pela Universidade de Wisconsin-Madison em 1953, MacDiarmid se dedicou à pesquisa em química inorgânica e ciência dos materiais, com foco em compostos com propriedades incomuns.

MacDiarmid era conhecido por sua criatividade e sua persistência em desafiar as convenções. Ele acreditava que a ciência deveria ser guiada pela curiosidade e pela busca por novas descobertas, mesmo que isso significasse questionar os dogmas estabelecidos.

Nascido em Tóquio, Japão, em 20 de agosto de 1936, Hideki Shirakawa é um químico especializado em polímeros, macromoléculas com estruturas complexas e diversas aplicações. Após obter seu doutorado pelo Instituto de Tecnologia de Tóquio em 1966, Shirakawa se dedicou ao estudo da síntese e das propriedades de diferentes tipos de polímeros.

Shirakawa era um mestre na arte da síntese de polímeros, com uma habilidade excepcional para criar novos materiais com propriedades únicas. Sua expertise em química de polímeros foi fundamental para a descoberta dos polímeros condutores.

O encontro desses três cientistas, em meados da década de 1970, marcou o início de uma colaboração que mudaria o rumo da eletrônica. Shirakawa, durante uma visita ao laboratório de MacDiarmid na Universidade da Pensilvânia, sintetizou um filme fino de poliacetileno, um polímero com potencial para conduzir eletricidade.

Intrigado com as propriedades do material, MacDiarmid convidou Heeger, especialista em física de polímeros, para se juntar à pesquisa. Juntos, eles descobriram que a condutividade do poliacetileno podia ser aumentada em bilhões de vezes através de um processo chamado dopagem, que adiciona ou remove elétrons do material.

A descoberta dos polímeros condutores abriu um leque de possibilidades para a eletrônica. Esses materiais, leves, flexíveis e baratos, podem ser utilizados em telas flexíveis, células solares, dispositivos biomédicos, sensores e muitas outras aplicações.

O impacto da descoberta na sociedade moderna ainda está se desdobrando, mas seu potencial é imenso. Os polímeros condutores prometem revolucionar a eletrônica, tornando os dispositivos mais acessíveis, eficientes e integrados ao nosso dia a dia. Em 2000, Heeger, MacDiarmid e Shirakawa receberam o Prêmio Nobel de Química por sua descoberta e desenvolvimento da tecnologia.

Jack Kilby (2000): criação do circuito integrado

Jack Kilby, o "pai" da microeletrônica Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Em um mundo dominado por smartphones, computadores e internet, é fácil esquecer a revolução silenciosa que possibilitou toda essa tecnologia. Por trás dessa transformação, encontramos a figura modesta de Jack Kilby, o engenheiro que, com uma lâmina de germânio e fios de ouro, construiu o primeiro circuito integrado e abriu as portas para a era da informação.

Nascido em 8 de novembro de 1923, em Jefferson City, Missouri, EUA, Jack St. Clair Kilby demonstrou desde cedo uma aptidão natural para a matemática e as ciências. Após se formar em Engenharia Elétrica pela Universidade de Illinois em 1947, Kilby iniciou sua carreira na Centralab, onde desenvolveu circuitos para aparelhos auditivos.

Em 1958, Kilby se juntou à Texas Instruments (TI), uma empresa em ascensão no campo da eletrônica. Na época, os circuitos eletrônicos eram grandes, complexos e caros, limitando o desenvolvimento de novas tecnologias. Kilby, com sua mente visionária, buscava uma solução para a miniaturização dos circuitos.

No verão de 1958, enquanto seus colegas de trabalho desfrutavam das férias, Kilby, recém-contratado e sem direito a folga, se dedicou a um desafio que mudaria o curso da história. Insatisfeito com a complexidade dos circuitos da época, ele teve uma ideia revolucionária: integrar todos os componentes eletrônicos em um único pedaço de semicondutor.

Utilizando uma lâmina de germânio e fios de ouro, Kilby construiu o primeiro circuito integrado funcional, um dispositivo que, apesar de rudimentar em comparação aos chips atuais, continha todos os elementos essenciais de um circuito eletrônico moderno. Essa invenção, apelidada de “microchip”, inaugurou uma nova era na eletrônica.

A invenção de Kilby, juntamente com o trabalho independente de Robert Noyce na Fairchild Semiconductor, impulsionou a miniaturização e o desenvolvimento de dispositivos eletrônicos cada vez menores, mais potentes e acessíveis. Computadores, smartphones, internet, dispositivos médicos, satélites – tudo isso e muito mais se tornou possível graças ao circuito integrado.

Apesar da importância de sua invenção, o reconhecimento de Kilby demorou a chegar. Somente em 2000, aos 77 anos, ele recebeu o Prêmio Nobel de Física, dividindo a honraria com Herbert Kroemer e Zhores Alferov, que também fizeram contribuições significativas para a eletrônica moderna.

Kilby não se limitou ao circuito integrado. Ao longo de sua carreira, ele registrou mais de 60 patentes, incluindo a calculadora de bolso e a impressora térmica. Sua paixão pela inovação e sua busca por soluções criativas o acompanharam até o fim de sua vida, em 20 de junho de 2005, aos 81 anos.

Charles K.Kao (2009): internet de alta velocidade com a fibra óptica

Charles K. Kao vencedor do prêmio em 2009 Foto: Reprodução/The Nobel Prize

A internet de alta velocidade, o streaming de vídeos, videoconferências ou jogos online só foi possível graças a Charles K. Kao, um brilhante engenheiro e físico, que revolucionou a comunicação com sua pesquisa em fibras ópticas.

Nascido em Xangai, China, em 4 de novembro de 1933, Kao demonstrou desde cedo uma paixão pela ciência e pela descoberta. Ele se formou em Engenharia Elétrica pela Universidade de Londres em 1957 e obteve seu doutorado em Engenharia Elétrica pela University College London em 1965.

No início dos anos 1960, enquanto trabalhava na Standard Telecommunication Laboratories (STL) em Harlow, Inglaterra, Kao se dedicou a encontrar um meio mais eficiente para transmitir informações. Na época, os cabos de cobre coaxial eram a principal forma de transmissão, mas apresentavam limitações de capacidade e distância. Kao vislumbrou o potencial das fibras ópticas, fios finos de vidro que conduzem a luz, como um meio de transmissão superior. No entanto, a tecnologia da época ainda era incipiente, e as fibras ópticas existentes apresentavam perdas de sinal significativas, limitando seu alcance a poucos metros.

Em 1966, Kao e seu colega George Hockham publicaram um artigo que demonstrava que as impurezas no vidro eram a principal causa das perdas de sinal nas fibras ópticas. Eles propuseram que fibras de vidro ultra-puro poderiam transmitir luz por longas distâncias com mínima perda de sinal.

Essa descoberta abriu caminho para o desenvolvimento de fibras ópticas de alta qualidade, capazes de transmitir grandes quantidades de dados com velocidade e confiabilidade. A visão de Kao impulsionou uma revolução na comunicação, abrindo caminho para a internet de alta velocidade que conhecemos hoje.

A fibra se tornou a espinha dorsal da internet, conectando continentes e possibilitando a comunicação instantânea em escala global. Ela também é utilizada em diversas outras áreas, como medicina, sensoriamento remoto e iluminação.

Em 2009, Charles K. Kao recebeu o Prêmio Nobel de Física por suas “contribuições pioneiras para a transmissão de luz em fibras ópticas para comunicação óptica”. Ele dividiu o prêmio com Willard S. Boyle e George E. Smith, inventores do sensor CCD, outro componente essencial da era digital. Kao faleceu em Hong Kong em 23 de setembro de 2018, aos 84 anos

Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura (2014): a lâmpada LED

Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura vencedores em 2014 Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Mais um caso vencedor foi o de Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura (2014), que inventaram diodos emissores de luz azul eficientes, que permitiram a criação de lâmpadas LED brancas e telas de dispositivos eletrônicos mais eficientes e brilhantes. Akasaki e Amano, físicos japoneses, realizaram pesquisas pioneiras sobre semicondutores de nitreto de gálio (GaN), material essencial para a produção de LEDs azuis. Nakamura, engenheiro e inventor japonês, desenvolveu o primeiro LED azul de alta luminosidade usando GaN.

Nascido em 1929, em Chiran, Japão, Isamu Akasaki era um físico, que, após obter seu doutorado pela Universidade de Nagoya em 1964, dedicou sua carreira à pesquisa de semicondutores, com foco no nitreto de gálio (GaN), um material com potencial para revolucionar a eletrônica e a iluminação.

Akasaki enfrentou anos de ceticismo e desafios para dominar o GaN, um material difícil de se trabalhar. Mas sua persistência e visão o levaram a superar os obstáculos e a criar os primeiros cristais de GaN de alta qualidade, abrindo caminho para a criação do LED azul.

Nascido em 1960, em Hamamatsu, Japão, Hiroshi Amano se juntou ao laboratório de Akasaki na Universidade de Nagoya como estudante de graduação em 1982. Inspirado pela visão de seu mentor, Amano se dedicou à pesquisa do GaN com paixão e determinação.

Nascido em 1954, em Ikata, Japão, Shuji Nakamura era um engenheiro com uma mente inventiva e uma paixão por desafiar os limites da tecnologia. Enquanto trabalhava na Nichia Corporation, uma pequena empresa japonesa de produtos químicos, Nakamura se dedicou à pesquisa de LEDs, buscando desenvolver uma fonte de luz mais eficiente e durável.

Nakamura desenvolveu uma técnica para o crescimento de cristais de GaN de alta qualidade, utilizando um método de deposição de vapor químico metalorgânico (MOCVD). Sua abordagem o levaram a criar o primeiro LED azul de alto brilho em 1993.

A invenção do LED azul por Akasaki, Amano e Nakamura revolucionou a iluminação. Combinado com LEDs vermelhos e verdes, o LED azul permitiu a criação de luz branca de alta qualidade, mais eficiente e durável do que as lâmpadas incandescentes e fluorescentes tradicionais.

Os LEDs azuis também abriram caminho para telas de alta definição em smartphones, tablets e televisores, além de diversas outras aplicações, como leitores de Blu-ray e iluminação automotiva. O impacto da invenção na sociedade moderna é imensurável, economizando energia, reduzindo custos e abrindo novas possibilidades tecnológicas.

Em 2014, Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura receberam o Prêmio Nobel de Física por “a invenção de diodos emissores de luz azul eficientes, que permitiram fontes de luz branca brilhantes e economizadoras de energia”.

Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne (2017): as ondas gravitacionais

Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne vencedores do prêmio em 2017 Foto: Reprodução/ The Nobel Prize

Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne (2017), fizeram contribuições para o detector LIGO e a observação de ondas gravitacionais que facilitam a leitura do que ocorre no espaço. Weiss, físico, liderou o LIGO durante sua fase de construção e início da operação.

Nascido em 1932, em Berlim, Alemanha, Rainer Weiss é um físico experimental com uma paixão por desvendar os segredos do universo. Emigrou para os Estados Unidos com sua família ainda criança, escapando do regime nazista. Após obter seu doutorado pelo MIT em 1962, Weiss se dedicou ao estudo da física gravitacional e à busca por ondas gravitacionais, ondulações no tecido do espaço-tempo previstas por Albert Einstein em sua Teoria da Relatividade Geral.

Weiss foi o arquiteto do Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser (LIGO), um projeto ambicioso que envolveu a construção de detectores gigantes com quilômetros de extensão, capazes de detectar as minúsculas distorções no espaço-tempo causadas pela passagem de ondas gravitacionais. Sua visão e expertise em física experimental foram essenciais para o sucesso do projeto.

Nascido em 1936, em Omaha, Nebraska, EUA, Barry C. Barish é um físico experimental com um talento nato para liderar grandes projetos científicos. Após obter seu doutorado pela Universidade da Califórnia, Berkeley, em 1962, Barish se dedicou ao estudo da física de partículas e à construção de detectores de partículas cada vez mais sofisticados.

Barish assumiu a liderança do LIGO em 1994, transformando o projeto em uma colaboração internacional com mais de mil cientistas. Sua habilidade em gerenciar equipes e coordenar esforços foi crucial para superar os desafios tecnológicos e construir os detectores LIGO, que operam em Hanford, Washington, e Livingston, Louisiana.

Nascido em 1940, em Logan, Utah, EUA, Kip S. Thorne é um físico teórico com uma paixão por explorar os objetos mais exóticos do universo, como buracos negros e estrelas de nêutrons. Após obter seu doutorado pela Universidade de Princeton em 1965, Thorne se dedicou ao estudo da relatividade geral e da astrofísica, desvendando os mistérios da gravidade e do espaço-tempo.

Thorne foi um dos pioneiros na pesquisa de ondas gravitacionais, prevendo as características dos sinais emitidos pela colisão de buracos negros. Seu trabalho teórico forneceu o embasamento científico para o LIGO e guiou a busca por ondas gravitacionais.

Em 14 de setembro de 2015, os detectores LIGO captaram pela primeira vez as ondas gravitacionais geradas pela colisão de dois buracos negros a 1,3 bilhão de anos-luz de distância. Essa descoberta histórica confirmou a previsão de Einstein e abriu uma nova era na astronomia, permitindo-nos “ouvir” o universo e desvendar seus segredos mais profundos.

Em 2017, Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne foram homenageados com o Prêmio Nobel de Física por “contribuições decisivas para o detector LIGO e a observação de ondas gravitacionais”. Seu trabalho pioneiro revolucionou a astronomia e inspirou gerações de cientistas a explorar os mistérios do universo.

O Prêmio Nobel de Química de 2024 foi concedido a David Baker, da Universidade de Washington (EUA), e Demis Hassabis e John M. Jumper, do Google DeepMind (Reino Unido), por suas contribuições revolucionárias para a bioquímica. Utilizando inteligência artificial (IA), os cientistas desenvolveram softwares que prevêem a estrutura tridimensional de proteínas, abrindo caminho para avanços científicos e médicos.

O campo da tecnologia e inteligência artificial também foi reconhecido no Prêmio Nobel de Física de 2024, concedido a Geoffrey Hinton e John Hopfield por seus trabalhos pioneiros em machine learning. Hinton, muitas vezes chamado de “padrinho da IA”, desenvolveu algoritmos e modelos fundamentais para o avanço das redes neurais artificiais, que se inspiram no funcionamento do cérebro humano e impulsionam diversas tecnologias hoje, desde buscas na internet até edição de fotos.

Na foto, os ganhadores do Prêmio Nobel de Química. David Baker, da Universidade de Washington (EUA), e Demis Hassabis e John M. Jumper, do Google DeepMind, uma empresa britânica focada em soluções que usam a IA. Foto: Reprodução/Instagram/nobelprize_org

Hassabis e Jumper desenvolveram o AlphaFold, programa que prevê a estrutura de proteínas com alta precisão. A ferramenta já permitiu a previsão da estrutura de mais de 200 milhões de proteínas conhecidas, acelerando pesquisas em diversas áreas. Já Baker desenvolveu o software Rosetta, que prevê a estrutura de proteínas e cria novas proteínas com funções específicas.

No campo da Física Geoffrey Hinton teve um papel crucial no desenvolvimento das redes neurais que formam a base da inteligência artificial moderna. Desde seu doutorado, Hinton acreditava no potencial das redes neurais, mesmo quando essa ideia era marginalizada na comunidade científica.

O que é o Prêmio Nobel?

Prêmio Nobel começou a ser promovido em 1901 Foto: Reprodução/The Nobel Prize

O Prêmio Nobel é uma das mais prestigiadas premiações do mundo, criada em 1895 pelo químico e inventor sueco Alfred Nobel. Anualmente, o prêmio reconhece indivíduos que realizaram pesquisas ou descobertas importantes em benefício da humanidade em seis categorias: Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura, Paz e Ciências Econômicas.

Alfred Nobel, nascido em Estocolmo em 1833, foi um químico e inventor que acumulou fortuna com suas invenções, incluindo a dinamite. Após sua morte, em 1896, seu testamento revelou a criação da Fundação Nobel e do Prêmio Nobel, com o objetivo de premiar aqueles que contribuíssem para o avanço da ciência, da literatura e da paz mundial.

Ao longo dos anos, o Prêmio Nobel tem reconhecido avanços tecnológicos que transformaram o mundo, desde a invenção da telegrafia até a aplicação da IA para desvendar os segredos das proteínas, como no caso dos ganhadores de 2024. Conheça algumas delas:

10 ganhadores do Nobel que transformaram a tecnologia

Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun (1909): comunicação por telégrafo

Vencedores do Nobel Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun Foto: Reprodução/The Nobel Prize

No final do século 19, a comunicação a longa distância ainda era um desafio. Cartas levavam semanas para cruzar oceanos, e o telégrafo, apesar de revolucionário, dependia de fios que limitavam seu alcance. Foi nesse cenário que Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun, dois visionários da ciência, deram um passo audacioso: dominar as ondas eletromagnéticas para conectar o mundo sem fios.

Nascido em Bolonha, Itália, em 25 de abril de 1874, Guglielmo Marconi era um jovem inquieto com uma paixão pela eletricidade. Fascinado pelos experimentos de Heinrich Hertz, que comprovou a existência das ondas eletromagnéticas, Marconi vislumbrou o potencial dessa descoberta para a comunicação sem fio.

Em 1895, aos 21 anos, Marconi construiu seu primeiro transmissor e receptor de rádio, utilizando equipamentos simples em sua casa de campo. Seus experimentos iniciais, inicialmente recebidos com ceticismo, logo chamaram a atenção ao transmitir sinais a distâncias cada vez maiores.

Nascido em Fulda, Alemanha, em 6 de junho de 1850, Karl Ferdinand Braun era um físico renomado com sólida formação acadêmica. Professor na Universidade de Estrasburgo, Braun se dedicou ao estudo da eletricidade e do magnetismo, contribuindo para o desenvolvimento de tecnologias como o osciloscópio de raios catódicos.

Braun se interessou pelo trabalho de Marconi e, em 1898, desenvolveu um circuito transmissor mais eficiente, que utilizava um circuito fechado e uma antena. Essa inovação aumentou o alcance e a qualidade da transmissão de rádio.

Marconi e Braun contribuíram para o desenvolvimento da radiotelegrafia, a transmissão de mensagens telegráficas sem fio. Em 1899, Marconi realizou a primeira transmissão de rádio por meio do Canal da Mancha, conectando a Inglaterra e a França. Em 1901, Marconi alcançou um feito histórico: a primeira transmissão transatlântica de rádio, enviando um sinal da Inglaterra para Newfoundland, no Canadá.

A radiotelegrafia de Marconi e Braun abriu caminho para o desenvolvimento do rádio como o conhecemos hoje, um meio de comunicação de massa que transformou a sociedade. Notícias, música, entretenimento e informações passaram a ser transmitidas instantaneamente para todo o mundo, conectando pessoas e culturas. Em 1909, Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun foram agraciados com o Prêmio Nobel de Física “em reconhecimento às suas contribuições para o desenvolvimento da telegrafia sem fio”.

Bardeen, Brattain e Shockley (1956): os pais do transistor

Bardeen, Brattain e Shockley, os inventores do transistor Foto: Reprodução/Nobel Prize

Um mundo sem computadores, smartphones ou internet. Essa era a realidade antes de 1947, quando três mentes brilhantes nos Laboratórios Bell, nos Estados Unidos, mudaram o curso da história da eletrônica: John Bardeen, Walter Brattain e William Shockley, os pais do transistor.

Nascido em Madison, Wisconsin, em 23 de maio de 1908, John Bardeen era um prodígio da matemática e da física. Doutorou-se pela Universidade de Princeton em 1936 e, após um período na Universidade de Minnesota, juntou-se aos Laboratórios Bell em 1945.

Bardeen era conhecido por sua inteligência excepcional, sua persistência e sua habilidade em trabalhar em equipe. Ele desempenhou um papel fundamental na compreensão teórica dos semicondutores, materiais que são a base do transistor, e na superação dos desafios para a criação do primeiro dispositivo funcional.

Walter Brattain, nascido em Amoy, China, em 10 de fevereiro de 1902, era um físico experimental talentoso. Graduou-se no Whitman College e obteve seu doutorado na Universidade de Minnesota. Juntou-se aos Laboratórios Bell em 1929, onde se dedicou à pesquisa em física de estado sólido.

Brattain era um mestre na arte da experimentação, com uma intuição aguçada para encontrar soluções práticas para problemas complexos. Sua habilidade em manipular materiais e construir dispositivos delicados foi crucial para o sucesso da equipe.

William Shockley, nascido em Londres, Inglaterra, em 13 de fevereiro de 1910, era um físico e engenheiro com uma personalidade forte e uma visão ambiciosa para o futuro da eletrônica. Doutorou-se pelo MIT em 1936 e ingressou nos Laboratórios Bell no mesmo ano.

Shockley liderou a equipe que inventou o transistor, fornecendo a direção estratégica e o impulso para a pesquisa. Após a invenção, ele se dedicou ao desenvolvimento do transistor de junção, uma versão mais eficiente e confiável do dispositivo original.

O transistor, inventado em 16 de dezembro de 1947, substituiu as válvulas termiônicas volumosas e ineficientes, abrindo caminho para a miniaturização dos dispositivos eletrônicos. Rádios, televisores, computadores, smartphones – todos esses dispositivos e muitos outros se tornaram possíveis graças ao transistor.

Em 1956, Bardeen, Brattain e Shockley receberam o Prêmio Nobel de Física por sua invenção. Bardeen fez história ao receber o prêmio novamente em 1972, por suas contribuições para a teoria da supercondutividade, tornando-se o único cientista a ganhar o Nobel de Física duas vezes. Apesar do sucesso profissional, a equipe enfrentou conflitos e desentendimentos. Shockley, em particular, se envolveu em controvérsias por suas opiniões polêmicas sobre raça e inteligência.

Dennis Gabor (1971): o ‘inventor’ do 3D

Dennis Gabor inventor da holografia Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Um mundo onde imagens flutuam no ar, tão reais que você pode quase tocá-las. Essa era a visão de Dennis Gabor, o homem por trás da holografia, uma técnica que revolucionou a forma como capturamos e visualizamos a luz.

Nascido em Budapeste, Hungria, em 5 de junho de 1900, Gabor demonstrou desde cedo uma curiosidade insaciável pelo mundo ao seu redor. Fascinado por física e engenharia, ele se formou na Universidade Técnica de Berlim em 1924 e obteve seu doutorado em 1927, mergulhando no estudo da óptica e da eletrônica.

Em 1947, enquanto trabalhava na British Thomson-Houston em Rugby, Inglaterra, Gabor buscava aprimorar a microscopia eletrônica. Frustado com as limitações da época, ele teve uma epifania: e se fosse possível registrar não apenas a intensidade da luz, mas também sua fase, capturando a totalidade da informação óptica?

Essa ideia o levou a desenvolver a holografia, um método que utiliza a interferência de ondas de luz para criar uma imagem tridimensional. A invenção, inicialmente registrada em placas fotográficas, permitia observar o objeto de diferentes ângulos, revelando detalhes impossíveis de serem vistos em fotografias convencionais.

Apesar do potencial revolucionário, a holografia de Gabor enfrentou limitações tecnológicas. A falta de fontes de luz coerentes, como o laser, inventado apenas em 1960, impedia a criação de hologramas de alta qualidade. Mesmo assim, Gabor perseverou, explorando as aplicações da holografia em diversas áreas, como microscopia, reconhecimento de padrões e armazenamento de dados. Sua visão ia além da ciência, imaginando um futuro com hologramas em televisores e cinemas, proporcionando experiências imersivas.

O trabalho pioneiro de Gabor foi finalmente reconhecido em 1971, quando recebeu o Prêmio Nobel de Física pela invenção da holografia. A essa altura, o laser já havia impulsionado o desenvolvimento da técnica, abrindo caminho para aplicações em diversas áreas, da medicina à arte.

Hoje, a holografia está presente em cartões de crédito, cédulas de dinheiro, e até em shows com artistas “ressuscitados” digitalmente.

Godfrey Hounsfield e Allan Cormack (1979): os ‘tomografistas’

Godfrey Hounsfield e Allan Cormack criadores da tomografia Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Enxergar o interior do corpo humano sem cortes, revelando ossos, órgãos e tecidos em detalhes tridimensionais. Essa revolução no diagnóstico médico se tornou realidade graças à tomografia computadorizada, invenção que coroou o trabalho de dois cientistas visionários: Godfrey Hounsfield e Allan Cormack.

Nascido em Newark-on-Trent, Inglaterra, em 28 de agosto de 1919, Godfrey Hounsfield era um engenheiro eletricista com uma mente inventiva e uma paixão por tecnologia. Após servir na Royal Air Force durante a Segunda Guerra Mundial, ele se juntou à EMI, Ltd., uma empresa britânica de eletrônicos, em 1951.

Hounsfield não tinha formação médica, mas sua curiosidade e talento para a engenharia o levaram a explorar novas formas de gerar imagens do corpo humano. Inspirado pela ideia de reconstruir imagens a partir de múltiplas projeções, ele se dedicou ao desenvolvimento de um sistema que utilizava raios X para criar “fatias” transversais do corpo, revelando detalhes anatômicos sem precedentes.

Nascido em Joanesburgo, África do Sul, em 23 de fevereiro de 1924, Allan Cormack era um físico com um talento especial para a matemática. Após obter seu doutorado pela Universidade da Cidade do Cabo, ele se dedicou ao estudo da física nuclear e, posteriormente, à aplicação da matemática na medicina.

Cormack desenvolveu os fundamentos matemáticos da tomografia computadorizada, criando algoritmos que permitiam reconstruir imagens precisas do interior do corpo a partir de múltiplas medidas de atenuação de raios-X. Trabalhando de forma independente, Hounsfield e Cormack desenvolveram as peças-chave da tomografia computadorizada. Em 1971, Hounsfield construiu o primeiro tomógrafo computadorizado comercial, um aparelho que revolucionou o diagnóstico médico.

A tomografia computadorizada permitiu aos médicos visualizar o interior do corpo humano com uma clareza sem precedentes, identificando tumores, fraturas, hemorragias e outras anomalias com precisão. Essa técnica não invasiva transformou a medicina e se tornou uma ferramenta essencial no diagnóstico e tratamento de diversas doenças, guiando cirurgias, monitorando o progresso de tratamentos e permitindo a detecção precoce de casos graves.

Em 1979, Godfrey Hounsfield e Allan Cormack receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina pelo “o desenvolvimento da tomografia computadorizada”. Hounsfield morreu em 12 de agosto de 2004, aos 84 anos, e Cormack em 7 de maio de 1998, aos 74 anos.

Georges Charpak (1992): a câmara que registra a trajetória das partículas

Georges Charpak ganhador do Nobel de Física de 1992 Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Desvendar o mundo microscópico é um desafio que exige ferramentas precisas e mentes brilhantes. E foi nesse cenário que Georges Charpak, um físico polonês naturalizado francês, deixou sua marca.

Nascido em Dąbrowica, Polônia (hoje Ucrânia), em 1º de agosto de 1924, Charpak teve uma infância marcada pela turbulência da guerra. Em 1943, aos 19 anos, foi preso pela Gestapo e deportado para o campo de concentração de Dachau, na Alemanha, onde passou um ano como prisioneiro político.

Após a guerra, Charpak mudou-se para a França, onde se formou em Engenharia de Minas pela École nationale supérieure des mines de Paris em 1947. Seu interesse pela física nuclear o levou ao Collège de France, onde trabalhou com Frédéric Joliot-Curie, genro de Marie Curie. Em 1959, ingressou no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), em Genebra, Suíça, o maior laboratório de física de partículas do mundo.

No CERN, Charpak se dedicou ao desenvolvimento de detectores de partículas, dispositivos essenciais para observar e analisar os fragmentos infinitesimais gerados em colisões de alta energia. Em 1968, ele inventou a câmara proporcional multifios, um detector que permitia registrar a trajetória de partículas com precisão e velocidade sem precedentes.

A invenção de Charpak representou um salto gigantesco na física experimental. A câmara proporcional multifios era capaz de detectar até 1000 partículas por segundo, superando em muito a capacidade dos detectores anteriores. Essa ferramenta possibilitou a realização de experimentos mais complexos e a descoberta de novas partículas, expandindo o conhecimento sobre a estrutura fundamental da matéria.

O impacto da câmara proporcional multifios se estendeu para além da física de partículas, encontrando aplicações em áreas como medicina, biologia e segurança. Em 1992, Georges Charpak foi consagrado com o Prêmio Nobel de Física por sua invenção, um reconhecimento por sua contribuição fundamental à ciência.

Charpak não se limitou à pesquisa científica. Ele também se dedicou à educação e à divulgação científica, buscando despertar o interesse pela ciência em jovens e leigos. Defensor da paz e do desarmamento nuclear, ele usou sua influência para alertar sobre os perigos da proliferação de armas atômicas. Ele faleceu em Paris, em 29 de setembro de 2010, aos 86 anos.

Alan Heeger, Alan MacDiarmid e Hideki Shirakawa (2000): polímeros condutores

Os ganhadores do Prêmio Nobel de Química em 2000, Alan Heeger, Alan MacDiarmid e Hideki Shirakawa Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Telas flexíveis que se dobram como papel, roupas que geram energia solar e dispositivos eletrônicos leves e maleáveis como nunca. Essa é a promessa dos polímeros condutores, uma classe de materiais que desafiou as expectativas e abriu caminho para uma nova era na eletrônica. E por trás dessa descoberta revolucionária estão três cientistas visionários: Alan Heeger, Alan MacDiarmid e Hideki Shirakawa.

Nascido em Sioux City, Iowa, EUA, em 22 de janeiro de 1936, Alan Heeger é um físico e químico com uma paixão por desvendar os segredos da matéria. Após obter seu doutorado pela Universidade da Califórnia, Berkeley, em 1961, Heeger se dedicou ao estudo da física da matéria condensada, explorando as propriedades de materiais como semicondutores e polímeros.

Heeger possuía uma mente inquisitiva e uma habilidade única de conectar diferentes áreas do conhecimento. Sua expertise em física, combinada com sua curiosidade sobre a química dos polímeros, o levou a questionar a crença de que os plásticos eram apenas isolantes elétricos.

Nascido em Masterton, Nova Zelândia, em 14 de abril de 1927, Alan MacDiarmid era um químico com uma paixão por explorar o desconhecido. Após obter seu doutorado pela Universidade de Wisconsin-Madison em 1953, MacDiarmid se dedicou à pesquisa em química inorgânica e ciência dos materiais, com foco em compostos com propriedades incomuns.

MacDiarmid era conhecido por sua criatividade e sua persistência em desafiar as convenções. Ele acreditava que a ciência deveria ser guiada pela curiosidade e pela busca por novas descobertas, mesmo que isso significasse questionar os dogmas estabelecidos.

Nascido em Tóquio, Japão, em 20 de agosto de 1936, Hideki Shirakawa é um químico especializado em polímeros, macromoléculas com estruturas complexas e diversas aplicações. Após obter seu doutorado pelo Instituto de Tecnologia de Tóquio em 1966, Shirakawa se dedicou ao estudo da síntese e das propriedades de diferentes tipos de polímeros.

Shirakawa era um mestre na arte da síntese de polímeros, com uma habilidade excepcional para criar novos materiais com propriedades únicas. Sua expertise em química de polímeros foi fundamental para a descoberta dos polímeros condutores.

O encontro desses três cientistas, em meados da década de 1970, marcou o início de uma colaboração que mudaria o rumo da eletrônica. Shirakawa, durante uma visita ao laboratório de MacDiarmid na Universidade da Pensilvânia, sintetizou um filme fino de poliacetileno, um polímero com potencial para conduzir eletricidade.

Intrigado com as propriedades do material, MacDiarmid convidou Heeger, especialista em física de polímeros, para se juntar à pesquisa. Juntos, eles descobriram que a condutividade do poliacetileno podia ser aumentada em bilhões de vezes através de um processo chamado dopagem, que adiciona ou remove elétrons do material.

A descoberta dos polímeros condutores abriu um leque de possibilidades para a eletrônica. Esses materiais, leves, flexíveis e baratos, podem ser utilizados em telas flexíveis, células solares, dispositivos biomédicos, sensores e muitas outras aplicações.

O impacto da descoberta na sociedade moderna ainda está se desdobrando, mas seu potencial é imenso. Os polímeros condutores prometem revolucionar a eletrônica, tornando os dispositivos mais acessíveis, eficientes e integrados ao nosso dia a dia. Em 2000, Heeger, MacDiarmid e Shirakawa receberam o Prêmio Nobel de Química por sua descoberta e desenvolvimento da tecnologia.

Jack Kilby (2000): criação do circuito integrado

Jack Kilby, o "pai" da microeletrônica Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Em um mundo dominado por smartphones, computadores e internet, é fácil esquecer a revolução silenciosa que possibilitou toda essa tecnologia. Por trás dessa transformação, encontramos a figura modesta de Jack Kilby, o engenheiro que, com uma lâmina de germânio e fios de ouro, construiu o primeiro circuito integrado e abriu as portas para a era da informação.

Nascido em 8 de novembro de 1923, em Jefferson City, Missouri, EUA, Jack St. Clair Kilby demonstrou desde cedo uma aptidão natural para a matemática e as ciências. Após se formar em Engenharia Elétrica pela Universidade de Illinois em 1947, Kilby iniciou sua carreira na Centralab, onde desenvolveu circuitos para aparelhos auditivos.

Em 1958, Kilby se juntou à Texas Instruments (TI), uma empresa em ascensão no campo da eletrônica. Na época, os circuitos eletrônicos eram grandes, complexos e caros, limitando o desenvolvimento de novas tecnologias. Kilby, com sua mente visionária, buscava uma solução para a miniaturização dos circuitos.

No verão de 1958, enquanto seus colegas de trabalho desfrutavam das férias, Kilby, recém-contratado e sem direito a folga, se dedicou a um desafio que mudaria o curso da história. Insatisfeito com a complexidade dos circuitos da época, ele teve uma ideia revolucionária: integrar todos os componentes eletrônicos em um único pedaço de semicondutor.

Utilizando uma lâmina de germânio e fios de ouro, Kilby construiu o primeiro circuito integrado funcional, um dispositivo que, apesar de rudimentar em comparação aos chips atuais, continha todos os elementos essenciais de um circuito eletrônico moderno. Essa invenção, apelidada de “microchip”, inaugurou uma nova era na eletrônica.

A invenção de Kilby, juntamente com o trabalho independente de Robert Noyce na Fairchild Semiconductor, impulsionou a miniaturização e o desenvolvimento de dispositivos eletrônicos cada vez menores, mais potentes e acessíveis. Computadores, smartphones, internet, dispositivos médicos, satélites – tudo isso e muito mais se tornou possível graças ao circuito integrado.

Apesar da importância de sua invenção, o reconhecimento de Kilby demorou a chegar. Somente em 2000, aos 77 anos, ele recebeu o Prêmio Nobel de Física, dividindo a honraria com Herbert Kroemer e Zhores Alferov, que também fizeram contribuições significativas para a eletrônica moderna.

Kilby não se limitou ao circuito integrado. Ao longo de sua carreira, ele registrou mais de 60 patentes, incluindo a calculadora de bolso e a impressora térmica. Sua paixão pela inovação e sua busca por soluções criativas o acompanharam até o fim de sua vida, em 20 de junho de 2005, aos 81 anos.

Charles K.Kao (2009): internet de alta velocidade com a fibra óptica

Charles K. Kao vencedor do prêmio em 2009 Foto: Reprodução/The Nobel Prize

A internet de alta velocidade, o streaming de vídeos, videoconferências ou jogos online só foi possível graças a Charles K. Kao, um brilhante engenheiro e físico, que revolucionou a comunicação com sua pesquisa em fibras ópticas.

Nascido em Xangai, China, em 4 de novembro de 1933, Kao demonstrou desde cedo uma paixão pela ciência e pela descoberta. Ele se formou em Engenharia Elétrica pela Universidade de Londres em 1957 e obteve seu doutorado em Engenharia Elétrica pela University College London em 1965.

No início dos anos 1960, enquanto trabalhava na Standard Telecommunication Laboratories (STL) em Harlow, Inglaterra, Kao se dedicou a encontrar um meio mais eficiente para transmitir informações. Na época, os cabos de cobre coaxial eram a principal forma de transmissão, mas apresentavam limitações de capacidade e distância. Kao vislumbrou o potencial das fibras ópticas, fios finos de vidro que conduzem a luz, como um meio de transmissão superior. No entanto, a tecnologia da época ainda era incipiente, e as fibras ópticas existentes apresentavam perdas de sinal significativas, limitando seu alcance a poucos metros.

Em 1966, Kao e seu colega George Hockham publicaram um artigo que demonstrava que as impurezas no vidro eram a principal causa das perdas de sinal nas fibras ópticas. Eles propuseram que fibras de vidro ultra-puro poderiam transmitir luz por longas distâncias com mínima perda de sinal.

Essa descoberta abriu caminho para o desenvolvimento de fibras ópticas de alta qualidade, capazes de transmitir grandes quantidades de dados com velocidade e confiabilidade. A visão de Kao impulsionou uma revolução na comunicação, abrindo caminho para a internet de alta velocidade que conhecemos hoje.

A fibra se tornou a espinha dorsal da internet, conectando continentes e possibilitando a comunicação instantânea em escala global. Ela também é utilizada em diversas outras áreas, como medicina, sensoriamento remoto e iluminação.

Em 2009, Charles K. Kao recebeu o Prêmio Nobel de Física por suas “contribuições pioneiras para a transmissão de luz em fibras ópticas para comunicação óptica”. Ele dividiu o prêmio com Willard S. Boyle e George E. Smith, inventores do sensor CCD, outro componente essencial da era digital. Kao faleceu em Hong Kong em 23 de setembro de 2018, aos 84 anos

Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura (2014): a lâmpada LED

Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura vencedores em 2014 Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Mais um caso vencedor foi o de Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura (2014), que inventaram diodos emissores de luz azul eficientes, que permitiram a criação de lâmpadas LED brancas e telas de dispositivos eletrônicos mais eficientes e brilhantes. Akasaki e Amano, físicos japoneses, realizaram pesquisas pioneiras sobre semicondutores de nitreto de gálio (GaN), material essencial para a produção de LEDs azuis. Nakamura, engenheiro e inventor japonês, desenvolveu o primeiro LED azul de alta luminosidade usando GaN.

Nascido em 1929, em Chiran, Japão, Isamu Akasaki era um físico, que, após obter seu doutorado pela Universidade de Nagoya em 1964, dedicou sua carreira à pesquisa de semicondutores, com foco no nitreto de gálio (GaN), um material com potencial para revolucionar a eletrônica e a iluminação.

Akasaki enfrentou anos de ceticismo e desafios para dominar o GaN, um material difícil de se trabalhar. Mas sua persistência e visão o levaram a superar os obstáculos e a criar os primeiros cristais de GaN de alta qualidade, abrindo caminho para a criação do LED azul.

Nascido em 1960, em Hamamatsu, Japão, Hiroshi Amano se juntou ao laboratório de Akasaki na Universidade de Nagoya como estudante de graduação em 1982. Inspirado pela visão de seu mentor, Amano se dedicou à pesquisa do GaN com paixão e determinação.

Nascido em 1954, em Ikata, Japão, Shuji Nakamura era um engenheiro com uma mente inventiva e uma paixão por desafiar os limites da tecnologia. Enquanto trabalhava na Nichia Corporation, uma pequena empresa japonesa de produtos químicos, Nakamura se dedicou à pesquisa de LEDs, buscando desenvolver uma fonte de luz mais eficiente e durável.

Nakamura desenvolveu uma técnica para o crescimento de cristais de GaN de alta qualidade, utilizando um método de deposição de vapor químico metalorgânico (MOCVD). Sua abordagem o levaram a criar o primeiro LED azul de alto brilho em 1993.

A invenção do LED azul por Akasaki, Amano e Nakamura revolucionou a iluminação. Combinado com LEDs vermelhos e verdes, o LED azul permitiu a criação de luz branca de alta qualidade, mais eficiente e durável do que as lâmpadas incandescentes e fluorescentes tradicionais.

Os LEDs azuis também abriram caminho para telas de alta definição em smartphones, tablets e televisores, além de diversas outras aplicações, como leitores de Blu-ray e iluminação automotiva. O impacto da invenção na sociedade moderna é imensurável, economizando energia, reduzindo custos e abrindo novas possibilidades tecnológicas.

Em 2014, Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura receberam o Prêmio Nobel de Física por “a invenção de diodos emissores de luz azul eficientes, que permitiram fontes de luz branca brilhantes e economizadoras de energia”.

Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne (2017): as ondas gravitacionais

Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne vencedores do prêmio em 2017 Foto: Reprodução/ The Nobel Prize

Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne (2017), fizeram contribuições para o detector LIGO e a observação de ondas gravitacionais que facilitam a leitura do que ocorre no espaço. Weiss, físico, liderou o LIGO durante sua fase de construção e início da operação.

Nascido em 1932, em Berlim, Alemanha, Rainer Weiss é um físico experimental com uma paixão por desvendar os segredos do universo. Emigrou para os Estados Unidos com sua família ainda criança, escapando do regime nazista. Após obter seu doutorado pelo MIT em 1962, Weiss se dedicou ao estudo da física gravitacional e à busca por ondas gravitacionais, ondulações no tecido do espaço-tempo previstas por Albert Einstein em sua Teoria da Relatividade Geral.

Weiss foi o arquiteto do Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser (LIGO), um projeto ambicioso que envolveu a construção de detectores gigantes com quilômetros de extensão, capazes de detectar as minúsculas distorções no espaço-tempo causadas pela passagem de ondas gravitacionais. Sua visão e expertise em física experimental foram essenciais para o sucesso do projeto.

Nascido em 1936, em Omaha, Nebraska, EUA, Barry C. Barish é um físico experimental com um talento nato para liderar grandes projetos científicos. Após obter seu doutorado pela Universidade da Califórnia, Berkeley, em 1962, Barish se dedicou ao estudo da física de partículas e à construção de detectores de partículas cada vez mais sofisticados.

Barish assumiu a liderança do LIGO em 1994, transformando o projeto em uma colaboração internacional com mais de mil cientistas. Sua habilidade em gerenciar equipes e coordenar esforços foi crucial para superar os desafios tecnológicos e construir os detectores LIGO, que operam em Hanford, Washington, e Livingston, Louisiana.

Nascido em 1940, em Logan, Utah, EUA, Kip S. Thorne é um físico teórico com uma paixão por explorar os objetos mais exóticos do universo, como buracos negros e estrelas de nêutrons. Após obter seu doutorado pela Universidade de Princeton em 1965, Thorne se dedicou ao estudo da relatividade geral e da astrofísica, desvendando os mistérios da gravidade e do espaço-tempo.

Thorne foi um dos pioneiros na pesquisa de ondas gravitacionais, prevendo as características dos sinais emitidos pela colisão de buracos negros. Seu trabalho teórico forneceu o embasamento científico para o LIGO e guiou a busca por ondas gravitacionais.

Em 14 de setembro de 2015, os detectores LIGO captaram pela primeira vez as ondas gravitacionais geradas pela colisão de dois buracos negros a 1,3 bilhão de anos-luz de distância. Essa descoberta histórica confirmou a previsão de Einstein e abriu uma nova era na astronomia, permitindo-nos “ouvir” o universo e desvendar seus segredos mais profundos.

Em 2017, Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne foram homenageados com o Prêmio Nobel de Física por “contribuições decisivas para o detector LIGO e a observação de ondas gravitacionais”. Seu trabalho pioneiro revolucionou a astronomia e inspirou gerações de cientistas a explorar os mistérios do universo.

O Prêmio Nobel de Química de 2024 foi concedido a David Baker, da Universidade de Washington (EUA), e Demis Hassabis e John M. Jumper, do Google DeepMind (Reino Unido), por suas contribuições revolucionárias para a bioquímica. Utilizando inteligência artificial (IA), os cientistas desenvolveram softwares que prevêem a estrutura tridimensional de proteínas, abrindo caminho para avanços científicos e médicos.

O campo da tecnologia e inteligência artificial também foi reconhecido no Prêmio Nobel de Física de 2024, concedido a Geoffrey Hinton e John Hopfield por seus trabalhos pioneiros em machine learning. Hinton, muitas vezes chamado de “padrinho da IA”, desenvolveu algoritmos e modelos fundamentais para o avanço das redes neurais artificiais, que se inspiram no funcionamento do cérebro humano e impulsionam diversas tecnologias hoje, desde buscas na internet até edição de fotos.

Na foto, os ganhadores do Prêmio Nobel de Química. David Baker, da Universidade de Washington (EUA), e Demis Hassabis e John M. Jumper, do Google DeepMind, uma empresa britânica focada em soluções que usam a IA. Foto: Reprodução/Instagram/nobelprize_org

Hassabis e Jumper desenvolveram o AlphaFold, programa que prevê a estrutura de proteínas com alta precisão. A ferramenta já permitiu a previsão da estrutura de mais de 200 milhões de proteínas conhecidas, acelerando pesquisas em diversas áreas. Já Baker desenvolveu o software Rosetta, que prevê a estrutura de proteínas e cria novas proteínas com funções específicas.

No campo da Física Geoffrey Hinton teve um papel crucial no desenvolvimento das redes neurais que formam a base da inteligência artificial moderna. Desde seu doutorado, Hinton acreditava no potencial das redes neurais, mesmo quando essa ideia era marginalizada na comunidade científica.

O que é o Prêmio Nobel?

Prêmio Nobel começou a ser promovido em 1901 Foto: Reprodução/The Nobel Prize

O Prêmio Nobel é uma das mais prestigiadas premiações do mundo, criada em 1895 pelo químico e inventor sueco Alfred Nobel. Anualmente, o prêmio reconhece indivíduos que realizaram pesquisas ou descobertas importantes em benefício da humanidade em seis categorias: Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura, Paz e Ciências Econômicas.

Alfred Nobel, nascido em Estocolmo em 1833, foi um químico e inventor que acumulou fortuna com suas invenções, incluindo a dinamite. Após sua morte, em 1896, seu testamento revelou a criação da Fundação Nobel e do Prêmio Nobel, com o objetivo de premiar aqueles que contribuíssem para o avanço da ciência, da literatura e da paz mundial.

Ao longo dos anos, o Prêmio Nobel tem reconhecido avanços tecnológicos que transformaram o mundo, desde a invenção da telegrafia até a aplicação da IA para desvendar os segredos das proteínas, como no caso dos ganhadores de 2024. Conheça algumas delas:

10 ganhadores do Nobel que transformaram a tecnologia

Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun (1909): comunicação por telégrafo

Vencedores do Nobel Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun Foto: Reprodução/The Nobel Prize

No final do século 19, a comunicação a longa distância ainda era um desafio. Cartas levavam semanas para cruzar oceanos, e o telégrafo, apesar de revolucionário, dependia de fios que limitavam seu alcance. Foi nesse cenário que Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun, dois visionários da ciência, deram um passo audacioso: dominar as ondas eletromagnéticas para conectar o mundo sem fios.

Nascido em Bolonha, Itália, em 25 de abril de 1874, Guglielmo Marconi era um jovem inquieto com uma paixão pela eletricidade. Fascinado pelos experimentos de Heinrich Hertz, que comprovou a existência das ondas eletromagnéticas, Marconi vislumbrou o potencial dessa descoberta para a comunicação sem fio.

Em 1895, aos 21 anos, Marconi construiu seu primeiro transmissor e receptor de rádio, utilizando equipamentos simples em sua casa de campo. Seus experimentos iniciais, inicialmente recebidos com ceticismo, logo chamaram a atenção ao transmitir sinais a distâncias cada vez maiores.

Nascido em Fulda, Alemanha, em 6 de junho de 1850, Karl Ferdinand Braun era um físico renomado com sólida formação acadêmica. Professor na Universidade de Estrasburgo, Braun se dedicou ao estudo da eletricidade e do magnetismo, contribuindo para o desenvolvimento de tecnologias como o osciloscópio de raios catódicos.

Braun se interessou pelo trabalho de Marconi e, em 1898, desenvolveu um circuito transmissor mais eficiente, que utilizava um circuito fechado e uma antena. Essa inovação aumentou o alcance e a qualidade da transmissão de rádio.

Marconi e Braun contribuíram para o desenvolvimento da radiotelegrafia, a transmissão de mensagens telegráficas sem fio. Em 1899, Marconi realizou a primeira transmissão de rádio por meio do Canal da Mancha, conectando a Inglaterra e a França. Em 1901, Marconi alcançou um feito histórico: a primeira transmissão transatlântica de rádio, enviando um sinal da Inglaterra para Newfoundland, no Canadá.

A radiotelegrafia de Marconi e Braun abriu caminho para o desenvolvimento do rádio como o conhecemos hoje, um meio de comunicação de massa que transformou a sociedade. Notícias, música, entretenimento e informações passaram a ser transmitidas instantaneamente para todo o mundo, conectando pessoas e culturas. Em 1909, Guglielmo Marconi e Karl Ferdinand Braun foram agraciados com o Prêmio Nobel de Física “em reconhecimento às suas contribuições para o desenvolvimento da telegrafia sem fio”.

Bardeen, Brattain e Shockley (1956): os pais do transistor

Bardeen, Brattain e Shockley, os inventores do transistor Foto: Reprodução/Nobel Prize

Um mundo sem computadores, smartphones ou internet. Essa era a realidade antes de 1947, quando três mentes brilhantes nos Laboratórios Bell, nos Estados Unidos, mudaram o curso da história da eletrônica: John Bardeen, Walter Brattain e William Shockley, os pais do transistor.

Nascido em Madison, Wisconsin, em 23 de maio de 1908, John Bardeen era um prodígio da matemática e da física. Doutorou-se pela Universidade de Princeton em 1936 e, após um período na Universidade de Minnesota, juntou-se aos Laboratórios Bell em 1945.

Bardeen era conhecido por sua inteligência excepcional, sua persistência e sua habilidade em trabalhar em equipe. Ele desempenhou um papel fundamental na compreensão teórica dos semicondutores, materiais que são a base do transistor, e na superação dos desafios para a criação do primeiro dispositivo funcional.

Walter Brattain, nascido em Amoy, China, em 10 de fevereiro de 1902, era um físico experimental talentoso. Graduou-se no Whitman College e obteve seu doutorado na Universidade de Minnesota. Juntou-se aos Laboratórios Bell em 1929, onde se dedicou à pesquisa em física de estado sólido.

Brattain era um mestre na arte da experimentação, com uma intuição aguçada para encontrar soluções práticas para problemas complexos. Sua habilidade em manipular materiais e construir dispositivos delicados foi crucial para o sucesso da equipe.

William Shockley, nascido em Londres, Inglaterra, em 13 de fevereiro de 1910, era um físico e engenheiro com uma personalidade forte e uma visão ambiciosa para o futuro da eletrônica. Doutorou-se pelo MIT em 1936 e ingressou nos Laboratórios Bell no mesmo ano.

Shockley liderou a equipe que inventou o transistor, fornecendo a direção estratégica e o impulso para a pesquisa. Após a invenção, ele se dedicou ao desenvolvimento do transistor de junção, uma versão mais eficiente e confiável do dispositivo original.

O transistor, inventado em 16 de dezembro de 1947, substituiu as válvulas termiônicas volumosas e ineficientes, abrindo caminho para a miniaturização dos dispositivos eletrônicos. Rádios, televisores, computadores, smartphones – todos esses dispositivos e muitos outros se tornaram possíveis graças ao transistor.

Em 1956, Bardeen, Brattain e Shockley receberam o Prêmio Nobel de Física por sua invenção. Bardeen fez história ao receber o prêmio novamente em 1972, por suas contribuições para a teoria da supercondutividade, tornando-se o único cientista a ganhar o Nobel de Física duas vezes. Apesar do sucesso profissional, a equipe enfrentou conflitos e desentendimentos. Shockley, em particular, se envolveu em controvérsias por suas opiniões polêmicas sobre raça e inteligência.

Dennis Gabor (1971): o ‘inventor’ do 3D

Dennis Gabor inventor da holografia Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Um mundo onde imagens flutuam no ar, tão reais que você pode quase tocá-las. Essa era a visão de Dennis Gabor, o homem por trás da holografia, uma técnica que revolucionou a forma como capturamos e visualizamos a luz.

Nascido em Budapeste, Hungria, em 5 de junho de 1900, Gabor demonstrou desde cedo uma curiosidade insaciável pelo mundo ao seu redor. Fascinado por física e engenharia, ele se formou na Universidade Técnica de Berlim em 1924 e obteve seu doutorado em 1927, mergulhando no estudo da óptica e da eletrônica.

Em 1947, enquanto trabalhava na British Thomson-Houston em Rugby, Inglaterra, Gabor buscava aprimorar a microscopia eletrônica. Frustado com as limitações da época, ele teve uma epifania: e se fosse possível registrar não apenas a intensidade da luz, mas também sua fase, capturando a totalidade da informação óptica?

Essa ideia o levou a desenvolver a holografia, um método que utiliza a interferência de ondas de luz para criar uma imagem tridimensional. A invenção, inicialmente registrada em placas fotográficas, permitia observar o objeto de diferentes ângulos, revelando detalhes impossíveis de serem vistos em fotografias convencionais.

Apesar do potencial revolucionário, a holografia de Gabor enfrentou limitações tecnológicas. A falta de fontes de luz coerentes, como o laser, inventado apenas em 1960, impedia a criação de hologramas de alta qualidade. Mesmo assim, Gabor perseverou, explorando as aplicações da holografia em diversas áreas, como microscopia, reconhecimento de padrões e armazenamento de dados. Sua visão ia além da ciência, imaginando um futuro com hologramas em televisores e cinemas, proporcionando experiências imersivas.

O trabalho pioneiro de Gabor foi finalmente reconhecido em 1971, quando recebeu o Prêmio Nobel de Física pela invenção da holografia. A essa altura, o laser já havia impulsionado o desenvolvimento da técnica, abrindo caminho para aplicações em diversas áreas, da medicina à arte.

Hoje, a holografia está presente em cartões de crédito, cédulas de dinheiro, e até em shows com artistas “ressuscitados” digitalmente.

Godfrey Hounsfield e Allan Cormack (1979): os ‘tomografistas’

Godfrey Hounsfield e Allan Cormack criadores da tomografia Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Enxergar o interior do corpo humano sem cortes, revelando ossos, órgãos e tecidos em detalhes tridimensionais. Essa revolução no diagnóstico médico se tornou realidade graças à tomografia computadorizada, invenção que coroou o trabalho de dois cientistas visionários: Godfrey Hounsfield e Allan Cormack.

Nascido em Newark-on-Trent, Inglaterra, em 28 de agosto de 1919, Godfrey Hounsfield era um engenheiro eletricista com uma mente inventiva e uma paixão por tecnologia. Após servir na Royal Air Force durante a Segunda Guerra Mundial, ele se juntou à EMI, Ltd., uma empresa britânica de eletrônicos, em 1951.

Hounsfield não tinha formação médica, mas sua curiosidade e talento para a engenharia o levaram a explorar novas formas de gerar imagens do corpo humano. Inspirado pela ideia de reconstruir imagens a partir de múltiplas projeções, ele se dedicou ao desenvolvimento de um sistema que utilizava raios X para criar “fatias” transversais do corpo, revelando detalhes anatômicos sem precedentes.

Nascido em Joanesburgo, África do Sul, em 23 de fevereiro de 1924, Allan Cormack era um físico com um talento especial para a matemática. Após obter seu doutorado pela Universidade da Cidade do Cabo, ele se dedicou ao estudo da física nuclear e, posteriormente, à aplicação da matemática na medicina.

Cormack desenvolveu os fundamentos matemáticos da tomografia computadorizada, criando algoritmos que permitiam reconstruir imagens precisas do interior do corpo a partir de múltiplas medidas de atenuação de raios-X. Trabalhando de forma independente, Hounsfield e Cormack desenvolveram as peças-chave da tomografia computadorizada. Em 1971, Hounsfield construiu o primeiro tomógrafo computadorizado comercial, um aparelho que revolucionou o diagnóstico médico.

A tomografia computadorizada permitiu aos médicos visualizar o interior do corpo humano com uma clareza sem precedentes, identificando tumores, fraturas, hemorragias e outras anomalias com precisão. Essa técnica não invasiva transformou a medicina e se tornou uma ferramenta essencial no diagnóstico e tratamento de diversas doenças, guiando cirurgias, monitorando o progresso de tratamentos e permitindo a detecção precoce de casos graves.

Em 1979, Godfrey Hounsfield e Allan Cormack receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina pelo “o desenvolvimento da tomografia computadorizada”. Hounsfield morreu em 12 de agosto de 2004, aos 84 anos, e Cormack em 7 de maio de 1998, aos 74 anos.

Georges Charpak (1992): a câmara que registra a trajetória das partículas

Georges Charpak ganhador do Nobel de Física de 1992 Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Desvendar o mundo microscópico é um desafio que exige ferramentas precisas e mentes brilhantes. E foi nesse cenário que Georges Charpak, um físico polonês naturalizado francês, deixou sua marca.

Nascido em Dąbrowica, Polônia (hoje Ucrânia), em 1º de agosto de 1924, Charpak teve uma infância marcada pela turbulência da guerra. Em 1943, aos 19 anos, foi preso pela Gestapo e deportado para o campo de concentração de Dachau, na Alemanha, onde passou um ano como prisioneiro político.

Após a guerra, Charpak mudou-se para a França, onde se formou em Engenharia de Minas pela École nationale supérieure des mines de Paris em 1947. Seu interesse pela física nuclear o levou ao Collège de France, onde trabalhou com Frédéric Joliot-Curie, genro de Marie Curie. Em 1959, ingressou no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), em Genebra, Suíça, o maior laboratório de física de partículas do mundo.

No CERN, Charpak se dedicou ao desenvolvimento de detectores de partículas, dispositivos essenciais para observar e analisar os fragmentos infinitesimais gerados em colisões de alta energia. Em 1968, ele inventou a câmara proporcional multifios, um detector que permitia registrar a trajetória de partículas com precisão e velocidade sem precedentes.

A invenção de Charpak representou um salto gigantesco na física experimental. A câmara proporcional multifios era capaz de detectar até 1000 partículas por segundo, superando em muito a capacidade dos detectores anteriores. Essa ferramenta possibilitou a realização de experimentos mais complexos e a descoberta de novas partículas, expandindo o conhecimento sobre a estrutura fundamental da matéria.

O impacto da câmara proporcional multifios se estendeu para além da física de partículas, encontrando aplicações em áreas como medicina, biologia e segurança. Em 1992, Georges Charpak foi consagrado com o Prêmio Nobel de Física por sua invenção, um reconhecimento por sua contribuição fundamental à ciência.

Charpak não se limitou à pesquisa científica. Ele também se dedicou à educação e à divulgação científica, buscando despertar o interesse pela ciência em jovens e leigos. Defensor da paz e do desarmamento nuclear, ele usou sua influência para alertar sobre os perigos da proliferação de armas atômicas. Ele faleceu em Paris, em 29 de setembro de 2010, aos 86 anos.

Alan Heeger, Alan MacDiarmid e Hideki Shirakawa (2000): polímeros condutores

Os ganhadores do Prêmio Nobel de Química em 2000, Alan Heeger, Alan MacDiarmid e Hideki Shirakawa Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Telas flexíveis que se dobram como papel, roupas que geram energia solar e dispositivos eletrônicos leves e maleáveis como nunca. Essa é a promessa dos polímeros condutores, uma classe de materiais que desafiou as expectativas e abriu caminho para uma nova era na eletrônica. E por trás dessa descoberta revolucionária estão três cientistas visionários: Alan Heeger, Alan MacDiarmid e Hideki Shirakawa.

Nascido em Sioux City, Iowa, EUA, em 22 de janeiro de 1936, Alan Heeger é um físico e químico com uma paixão por desvendar os segredos da matéria. Após obter seu doutorado pela Universidade da Califórnia, Berkeley, em 1961, Heeger se dedicou ao estudo da física da matéria condensada, explorando as propriedades de materiais como semicondutores e polímeros.

Heeger possuía uma mente inquisitiva e uma habilidade única de conectar diferentes áreas do conhecimento. Sua expertise em física, combinada com sua curiosidade sobre a química dos polímeros, o levou a questionar a crença de que os plásticos eram apenas isolantes elétricos.

Nascido em Masterton, Nova Zelândia, em 14 de abril de 1927, Alan MacDiarmid era um químico com uma paixão por explorar o desconhecido. Após obter seu doutorado pela Universidade de Wisconsin-Madison em 1953, MacDiarmid se dedicou à pesquisa em química inorgânica e ciência dos materiais, com foco em compostos com propriedades incomuns.

MacDiarmid era conhecido por sua criatividade e sua persistência em desafiar as convenções. Ele acreditava que a ciência deveria ser guiada pela curiosidade e pela busca por novas descobertas, mesmo que isso significasse questionar os dogmas estabelecidos.

Nascido em Tóquio, Japão, em 20 de agosto de 1936, Hideki Shirakawa é um químico especializado em polímeros, macromoléculas com estruturas complexas e diversas aplicações. Após obter seu doutorado pelo Instituto de Tecnologia de Tóquio em 1966, Shirakawa se dedicou ao estudo da síntese e das propriedades de diferentes tipos de polímeros.

Shirakawa era um mestre na arte da síntese de polímeros, com uma habilidade excepcional para criar novos materiais com propriedades únicas. Sua expertise em química de polímeros foi fundamental para a descoberta dos polímeros condutores.

O encontro desses três cientistas, em meados da década de 1970, marcou o início de uma colaboração que mudaria o rumo da eletrônica. Shirakawa, durante uma visita ao laboratório de MacDiarmid na Universidade da Pensilvânia, sintetizou um filme fino de poliacetileno, um polímero com potencial para conduzir eletricidade.

Intrigado com as propriedades do material, MacDiarmid convidou Heeger, especialista em física de polímeros, para se juntar à pesquisa. Juntos, eles descobriram que a condutividade do poliacetileno podia ser aumentada em bilhões de vezes através de um processo chamado dopagem, que adiciona ou remove elétrons do material.

A descoberta dos polímeros condutores abriu um leque de possibilidades para a eletrônica. Esses materiais, leves, flexíveis e baratos, podem ser utilizados em telas flexíveis, células solares, dispositivos biomédicos, sensores e muitas outras aplicações.

O impacto da descoberta na sociedade moderna ainda está se desdobrando, mas seu potencial é imenso. Os polímeros condutores prometem revolucionar a eletrônica, tornando os dispositivos mais acessíveis, eficientes e integrados ao nosso dia a dia. Em 2000, Heeger, MacDiarmid e Shirakawa receberam o Prêmio Nobel de Química por sua descoberta e desenvolvimento da tecnologia.

Jack Kilby (2000): criação do circuito integrado

Jack Kilby, o "pai" da microeletrônica Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Em um mundo dominado por smartphones, computadores e internet, é fácil esquecer a revolução silenciosa que possibilitou toda essa tecnologia. Por trás dessa transformação, encontramos a figura modesta de Jack Kilby, o engenheiro que, com uma lâmina de germânio e fios de ouro, construiu o primeiro circuito integrado e abriu as portas para a era da informação.

Nascido em 8 de novembro de 1923, em Jefferson City, Missouri, EUA, Jack St. Clair Kilby demonstrou desde cedo uma aptidão natural para a matemática e as ciências. Após se formar em Engenharia Elétrica pela Universidade de Illinois em 1947, Kilby iniciou sua carreira na Centralab, onde desenvolveu circuitos para aparelhos auditivos.

Em 1958, Kilby se juntou à Texas Instruments (TI), uma empresa em ascensão no campo da eletrônica. Na época, os circuitos eletrônicos eram grandes, complexos e caros, limitando o desenvolvimento de novas tecnologias. Kilby, com sua mente visionária, buscava uma solução para a miniaturização dos circuitos.

No verão de 1958, enquanto seus colegas de trabalho desfrutavam das férias, Kilby, recém-contratado e sem direito a folga, se dedicou a um desafio que mudaria o curso da história. Insatisfeito com a complexidade dos circuitos da época, ele teve uma ideia revolucionária: integrar todos os componentes eletrônicos em um único pedaço de semicondutor.

Utilizando uma lâmina de germânio e fios de ouro, Kilby construiu o primeiro circuito integrado funcional, um dispositivo que, apesar de rudimentar em comparação aos chips atuais, continha todos os elementos essenciais de um circuito eletrônico moderno. Essa invenção, apelidada de “microchip”, inaugurou uma nova era na eletrônica.

A invenção de Kilby, juntamente com o trabalho independente de Robert Noyce na Fairchild Semiconductor, impulsionou a miniaturização e o desenvolvimento de dispositivos eletrônicos cada vez menores, mais potentes e acessíveis. Computadores, smartphones, internet, dispositivos médicos, satélites – tudo isso e muito mais se tornou possível graças ao circuito integrado.

Apesar da importância de sua invenção, o reconhecimento de Kilby demorou a chegar. Somente em 2000, aos 77 anos, ele recebeu o Prêmio Nobel de Física, dividindo a honraria com Herbert Kroemer e Zhores Alferov, que também fizeram contribuições significativas para a eletrônica moderna.

Kilby não se limitou ao circuito integrado. Ao longo de sua carreira, ele registrou mais de 60 patentes, incluindo a calculadora de bolso e a impressora térmica. Sua paixão pela inovação e sua busca por soluções criativas o acompanharam até o fim de sua vida, em 20 de junho de 2005, aos 81 anos.

Charles K.Kao (2009): internet de alta velocidade com a fibra óptica

Charles K. Kao vencedor do prêmio em 2009 Foto: Reprodução/The Nobel Prize

A internet de alta velocidade, o streaming de vídeos, videoconferências ou jogos online só foi possível graças a Charles K. Kao, um brilhante engenheiro e físico, que revolucionou a comunicação com sua pesquisa em fibras ópticas.

Nascido em Xangai, China, em 4 de novembro de 1933, Kao demonstrou desde cedo uma paixão pela ciência e pela descoberta. Ele se formou em Engenharia Elétrica pela Universidade de Londres em 1957 e obteve seu doutorado em Engenharia Elétrica pela University College London em 1965.

No início dos anos 1960, enquanto trabalhava na Standard Telecommunication Laboratories (STL) em Harlow, Inglaterra, Kao se dedicou a encontrar um meio mais eficiente para transmitir informações. Na época, os cabos de cobre coaxial eram a principal forma de transmissão, mas apresentavam limitações de capacidade e distância. Kao vislumbrou o potencial das fibras ópticas, fios finos de vidro que conduzem a luz, como um meio de transmissão superior. No entanto, a tecnologia da época ainda era incipiente, e as fibras ópticas existentes apresentavam perdas de sinal significativas, limitando seu alcance a poucos metros.

Em 1966, Kao e seu colega George Hockham publicaram um artigo que demonstrava que as impurezas no vidro eram a principal causa das perdas de sinal nas fibras ópticas. Eles propuseram que fibras de vidro ultra-puro poderiam transmitir luz por longas distâncias com mínima perda de sinal.

Essa descoberta abriu caminho para o desenvolvimento de fibras ópticas de alta qualidade, capazes de transmitir grandes quantidades de dados com velocidade e confiabilidade. A visão de Kao impulsionou uma revolução na comunicação, abrindo caminho para a internet de alta velocidade que conhecemos hoje.

A fibra se tornou a espinha dorsal da internet, conectando continentes e possibilitando a comunicação instantânea em escala global. Ela também é utilizada em diversas outras áreas, como medicina, sensoriamento remoto e iluminação.

Em 2009, Charles K. Kao recebeu o Prêmio Nobel de Física por suas “contribuições pioneiras para a transmissão de luz em fibras ópticas para comunicação óptica”. Ele dividiu o prêmio com Willard S. Boyle e George E. Smith, inventores do sensor CCD, outro componente essencial da era digital. Kao faleceu em Hong Kong em 23 de setembro de 2018, aos 84 anos

Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura (2014): a lâmpada LED

Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura vencedores em 2014 Foto: Reprodução/The Nobel Prize

Mais um caso vencedor foi o de Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura (2014), que inventaram diodos emissores de luz azul eficientes, que permitiram a criação de lâmpadas LED brancas e telas de dispositivos eletrônicos mais eficientes e brilhantes. Akasaki e Amano, físicos japoneses, realizaram pesquisas pioneiras sobre semicondutores de nitreto de gálio (GaN), material essencial para a produção de LEDs azuis. Nakamura, engenheiro e inventor japonês, desenvolveu o primeiro LED azul de alta luminosidade usando GaN.

Nascido em 1929, em Chiran, Japão, Isamu Akasaki era um físico, que, após obter seu doutorado pela Universidade de Nagoya em 1964, dedicou sua carreira à pesquisa de semicondutores, com foco no nitreto de gálio (GaN), um material com potencial para revolucionar a eletrônica e a iluminação.

Akasaki enfrentou anos de ceticismo e desafios para dominar o GaN, um material difícil de se trabalhar. Mas sua persistência e visão o levaram a superar os obstáculos e a criar os primeiros cristais de GaN de alta qualidade, abrindo caminho para a criação do LED azul.

Nascido em 1960, em Hamamatsu, Japão, Hiroshi Amano se juntou ao laboratório de Akasaki na Universidade de Nagoya como estudante de graduação em 1982. Inspirado pela visão de seu mentor, Amano se dedicou à pesquisa do GaN com paixão e determinação.

Nascido em 1954, em Ikata, Japão, Shuji Nakamura era um engenheiro com uma mente inventiva e uma paixão por desafiar os limites da tecnologia. Enquanto trabalhava na Nichia Corporation, uma pequena empresa japonesa de produtos químicos, Nakamura se dedicou à pesquisa de LEDs, buscando desenvolver uma fonte de luz mais eficiente e durável.

Nakamura desenvolveu uma técnica para o crescimento de cristais de GaN de alta qualidade, utilizando um método de deposição de vapor químico metalorgânico (MOCVD). Sua abordagem o levaram a criar o primeiro LED azul de alto brilho em 1993.

A invenção do LED azul por Akasaki, Amano e Nakamura revolucionou a iluminação. Combinado com LEDs vermelhos e verdes, o LED azul permitiu a criação de luz branca de alta qualidade, mais eficiente e durável do que as lâmpadas incandescentes e fluorescentes tradicionais.

Os LEDs azuis também abriram caminho para telas de alta definição em smartphones, tablets e televisores, além de diversas outras aplicações, como leitores de Blu-ray e iluminação automotiva. O impacto da invenção na sociedade moderna é imensurável, economizando energia, reduzindo custos e abrindo novas possibilidades tecnológicas.

Em 2014, Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura receberam o Prêmio Nobel de Física por “a invenção de diodos emissores de luz azul eficientes, que permitiram fontes de luz branca brilhantes e economizadoras de energia”.

Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne (2017): as ondas gravitacionais

Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne vencedores do prêmio em 2017 Foto: Reprodução/ The Nobel Prize

Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne (2017), fizeram contribuições para o detector LIGO e a observação de ondas gravitacionais que facilitam a leitura do que ocorre no espaço. Weiss, físico, liderou o LIGO durante sua fase de construção e início da operação.

Nascido em 1932, em Berlim, Alemanha, Rainer Weiss é um físico experimental com uma paixão por desvendar os segredos do universo. Emigrou para os Estados Unidos com sua família ainda criança, escapando do regime nazista. Após obter seu doutorado pelo MIT em 1962, Weiss se dedicou ao estudo da física gravitacional e à busca por ondas gravitacionais, ondulações no tecido do espaço-tempo previstas por Albert Einstein em sua Teoria da Relatividade Geral.

Weiss foi o arquiteto do Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser (LIGO), um projeto ambicioso que envolveu a construção de detectores gigantes com quilômetros de extensão, capazes de detectar as minúsculas distorções no espaço-tempo causadas pela passagem de ondas gravitacionais. Sua visão e expertise em física experimental foram essenciais para o sucesso do projeto.

Nascido em 1936, em Omaha, Nebraska, EUA, Barry C. Barish é um físico experimental com um talento nato para liderar grandes projetos científicos. Após obter seu doutorado pela Universidade da Califórnia, Berkeley, em 1962, Barish se dedicou ao estudo da física de partículas e à construção de detectores de partículas cada vez mais sofisticados.

Barish assumiu a liderança do LIGO em 1994, transformando o projeto em uma colaboração internacional com mais de mil cientistas. Sua habilidade em gerenciar equipes e coordenar esforços foi crucial para superar os desafios tecnológicos e construir os detectores LIGO, que operam em Hanford, Washington, e Livingston, Louisiana.

Nascido em 1940, em Logan, Utah, EUA, Kip S. Thorne é um físico teórico com uma paixão por explorar os objetos mais exóticos do universo, como buracos negros e estrelas de nêutrons. Após obter seu doutorado pela Universidade de Princeton em 1965, Thorne se dedicou ao estudo da relatividade geral e da astrofísica, desvendando os mistérios da gravidade e do espaço-tempo.

Thorne foi um dos pioneiros na pesquisa de ondas gravitacionais, prevendo as características dos sinais emitidos pela colisão de buracos negros. Seu trabalho teórico forneceu o embasamento científico para o LIGO e guiou a busca por ondas gravitacionais.

Em 14 de setembro de 2015, os detectores LIGO captaram pela primeira vez as ondas gravitacionais geradas pela colisão de dois buracos negros a 1,3 bilhão de anos-luz de distância. Essa descoberta histórica confirmou a previsão de Einstein e abriu uma nova era na astronomia, permitindo-nos “ouvir” o universo e desvendar seus segredos mais profundos.

Em 2017, Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne foram homenageados com o Prêmio Nobel de Física por “contribuições decisivas para o detector LIGO e a observação de ondas gravitacionais”. Seu trabalho pioneiro revolucionou a astronomia e inspirou gerações de cientistas a explorar os mistérios do universo.

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