Desempregadas, elas vendem fotos nuas online, mas enfrentam dificuldades


O sucesso do OnlyFans, uma plataforma que permite que a usuária venda 'nudes' explodiu durante a pandemia; concorrência no site implica que muitas delas vendem pouco

Por Gillian Friedman
Savannah Benavidez criou uma conta OnlyFans depois de perder seu emprego como secretária Foto: Adria Malcolm/The New York Times

Savannah Benavidez parou de trabalhar como secretária de um médico, em junho, para tomar conta do filho de dois anos depois que a creche fechou. Tendo de sobreviver, ela criou uma conta no OnlyFans – uma plataforma de rede social em que os usuários vendem conteúdo original para assinantes mensais – e começou a postar fotos de si mesma nua ou com uma peça de lingerie.

“É muito mais do que eu consegui ganhar em qualquer emprego”, contou. “Tenho tanto dinheiro que não sei o que fazer com ele”.

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Lexi Eixenberger esperava obter um sucesso semelhante quando começou a conta na OnlyFans, em novembro. Funcionária de um restaurante no Estado americano de Montana, Lexi, de 22 anos, foi demitida três vezes durante a pandemia e, em outubro, estava precisando tanto de dinheiro que teve de sair do curso para ser higienista dental. Fazendo todo tipo de trabalho, ainda não ganhava o suficiente para pagar as contas. Então, por sugestão de algumas amigas, recorreu ao OnlyFans. Mas até agora ganhou apenas cerca de US$ 500.

“As pessoas acham que tirar fotos nuas e postá-las online é fácil. No entanto, é um trabalho difícil, um emprego em tempo integral”, afirmou Lexi. Ela diz que, às vezes, postar suas fotos a faz sentir-se “nojenta”.

A popularidade do OnlyFans, fundado em 2016 e sediado na Grã-Bretanha, cresceu durante a pandemia. Em dezembro, a plataforma tinha mais de 90 milhões de usuários e mais de um milhão de criadores de conteúdo, em comparação a 120 mil em 2019. A empresa não quis fazer comentários para esta reportagem.

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Com milhões de americanas desempregadas, algumas como Benavidez e Eixenberger decidiram recorrer ao OnlyFans na tentativa de prover a si mesmas e à família. A pandemia foi particularmente devastadora para as mulheres e as mães porque acabou com alguns setores da economia em que elas predominavam, como as lojas de varejo, restaurantes e na área de saúde em geral.

“Muitas estão migrando para o OnlyFans por puro desespero”, afirmou Angela Jones, professora adjunta de sociologia da Universidade Estadual de Nova York em Farmingdale. “É que elas têm a preocupação da comida, em manter as luzes acesas, e ainda temem ser despejadas”.

Mas para cada pessoa como Benavidez, que pode usar o OnlyFans como sua principal fonte de renda, há dezenas de outras, como Eixenberger, que esperam um milagre e acabam com pouco mais de algumas centenas de dólares, além da perspectiva de que as fotos as impeçam de conseguir um emprego no futuro.

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As criadoras de conteúdo mais bem-sucedidas em geral são modelos, estrelas pornô e celebridades que já têm um grande número de seguidores nas redes sociais. Elas podem usar suas outras plataformas online para atrair seguidores para as próprias contas no OnlyFans, onde oferecem conteúdo exclusivo aos que se dispõem a pagar uma taxa mensal – inclusive conteúdo personalizado em troca de um pagamento extra. 

O OnlyFans fica com 20% de todos os pagamentos. Algumas criadoras conseguem dinheiro extra por meio de aplicativos de pagamentos de celular, que não estão sujeitos a estes cortes. Benavidez ganha a maior parte do seu faturamento desta maneira. Mas muitas das criadoras que foram para a plataforma devido a uma situação financeira desesperadora não têm um grande número de seguidores na rede social ou qualquer outra maneira de obter um negócio consistente.

Lexi Eixenbergerse tornou uma criadora do OnlyFans, mas não ganhou muito até agora Foto: Janie Osborne/The New York Times
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Elle Morocco, 36 anos, da Flórida, foi demitida em julho do seu emprego de gerente. O seguro-desemprego não cobre o aluguel de US$ 1,6 mil mensais, as contas regulares e o custo da alimentação, por isso, em novembro, foi para o OnlyFans.

Morocco não tinha uma presença nas redes sociais para se promover quando entrou na plataforma, e precisou ganhar os seguidores um por um – postando imagens de si mesma no Instagram e no Twitter, e atender individualmente as pessoas que gostam e comentam os seus posts, encorajando cada uma a se tornar assinante do OnlyFans. É algo bem mais trabalhoso e exige muito mais tempo do que ela imaginava, e menos compensador do ponto de vista financeiro.

“É um trabalho em tempo integral além de todo o tempo disponível dedicado à busca de um emprego”, afirmou. “Os fãs querem ver você postando diariamente. Então você trabalha sem parar. Está sempre tirando fotos para postar”.

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Até agora, ganhou apenas US$ 250 na plataforma, apesar de às vezes gastar mais de oito horas diárias criando, postando e promovendo o seu conteúdo. Ela teme também que a sua presença na plataforma possa fazer com que encontre dificuldade na hora de ser contratada futuramente para empregos tradicionais.

“Se você procura uma ocupação normal das 9 às 17 horas diárias, talvez não seja contratada se a empresa souber que você tem uma conta no OnlyFans”, afirmou. “E não a queira por você ser uma trabalhadora do sexo”.

Perigos

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O trabalho com sexo digital pode dar uma ilusão de segurança e privacidade – as criadoras de conteúdo podem ser pagas sem precisarem interagir com clientes pessoalmente. Mas isto não significa que elas não estejam correndo riscos.

“O trabalho do sexo online é uma alternativa muito mais atraente para muitas pessoas do que trabalhar na rua ou vender serviços sexuais diretos”, disse Barb Brents, professora de sociologia da Universidade de Nevada, em Las Vegas. “Agora, todo mundo que esteja ingressando neste tipo de ocupação deve estar consciente de que há perigos”.

Em abril do ano passado, uma mecânica de Indiana perdeu o emprego em uma concessionária Honda depois que a direção ficou sabendo de sua conta na OnlyFans. As criadoras podem ser alvo de “doxxing”— um tipo de assédio online em que alguns usuários publicam informações privadas ou sensíveis a respeito de uma pessoa sem permissão. Em dezembro, o jornal The New York Post publicou um artigo sobre uma médica que usava o OnlyFans para suplementar a renda.

Ela achou que o artigo, publicado sem o seu consentimento, poderia prejudicar a sua reputação e faria com que fosse demitida do emprego.

Para outras, a experiência permitiu que obtivessem maior autonomia. Melanie Hall, 27 anos, mãe solteira de três filhos, ganha US$ 13,30 a hora como paramédica em Ohio, o que mal dá para pagar os gastos. Ela começou uma conta no OnlyFans em dezembro. “Sou mãe de três filhos. Nunca pensei que alguém pudesse pagar para me ver nua”, ela disse. “Mas isto foi um impulso para a minha autoconfiança”. /TRADUÇÃO DE ANA CAPOVILLA

Savannah Benavidez criou uma conta OnlyFans depois de perder seu emprego como secretária Foto: Adria Malcolm/The New York Times

Savannah Benavidez parou de trabalhar como secretária de um médico, em junho, para tomar conta do filho de dois anos depois que a creche fechou. Tendo de sobreviver, ela criou uma conta no OnlyFans – uma plataforma de rede social em que os usuários vendem conteúdo original para assinantes mensais – e começou a postar fotos de si mesma nua ou com uma peça de lingerie.

“É muito mais do que eu consegui ganhar em qualquer emprego”, contou. “Tenho tanto dinheiro que não sei o que fazer com ele”.

Lexi Eixenberger esperava obter um sucesso semelhante quando começou a conta na OnlyFans, em novembro. Funcionária de um restaurante no Estado americano de Montana, Lexi, de 22 anos, foi demitida três vezes durante a pandemia e, em outubro, estava precisando tanto de dinheiro que teve de sair do curso para ser higienista dental. Fazendo todo tipo de trabalho, ainda não ganhava o suficiente para pagar as contas. Então, por sugestão de algumas amigas, recorreu ao OnlyFans. Mas até agora ganhou apenas cerca de US$ 500.

“As pessoas acham que tirar fotos nuas e postá-las online é fácil. No entanto, é um trabalho difícil, um emprego em tempo integral”, afirmou Lexi. Ela diz que, às vezes, postar suas fotos a faz sentir-se “nojenta”.

A popularidade do OnlyFans, fundado em 2016 e sediado na Grã-Bretanha, cresceu durante a pandemia. Em dezembro, a plataforma tinha mais de 90 milhões de usuários e mais de um milhão de criadores de conteúdo, em comparação a 120 mil em 2019. A empresa não quis fazer comentários para esta reportagem.

Com milhões de americanas desempregadas, algumas como Benavidez e Eixenberger decidiram recorrer ao OnlyFans na tentativa de prover a si mesmas e à família. A pandemia foi particularmente devastadora para as mulheres e as mães porque acabou com alguns setores da economia em que elas predominavam, como as lojas de varejo, restaurantes e na área de saúde em geral.

“Muitas estão migrando para o OnlyFans por puro desespero”, afirmou Angela Jones, professora adjunta de sociologia da Universidade Estadual de Nova York em Farmingdale. “É que elas têm a preocupação da comida, em manter as luzes acesas, e ainda temem ser despejadas”.

Mas para cada pessoa como Benavidez, que pode usar o OnlyFans como sua principal fonte de renda, há dezenas de outras, como Eixenberger, que esperam um milagre e acabam com pouco mais de algumas centenas de dólares, além da perspectiva de que as fotos as impeçam de conseguir um emprego no futuro.

As criadoras de conteúdo mais bem-sucedidas em geral são modelos, estrelas pornô e celebridades que já têm um grande número de seguidores nas redes sociais. Elas podem usar suas outras plataformas online para atrair seguidores para as próprias contas no OnlyFans, onde oferecem conteúdo exclusivo aos que se dispõem a pagar uma taxa mensal – inclusive conteúdo personalizado em troca de um pagamento extra. 

O OnlyFans fica com 20% de todos os pagamentos. Algumas criadoras conseguem dinheiro extra por meio de aplicativos de pagamentos de celular, que não estão sujeitos a estes cortes. Benavidez ganha a maior parte do seu faturamento desta maneira. Mas muitas das criadoras que foram para a plataforma devido a uma situação financeira desesperadora não têm um grande número de seguidores na rede social ou qualquer outra maneira de obter um negócio consistente.

Lexi Eixenbergerse tornou uma criadora do OnlyFans, mas não ganhou muito até agora Foto: Janie Osborne/The New York Times

Elle Morocco, 36 anos, da Flórida, foi demitida em julho do seu emprego de gerente. O seguro-desemprego não cobre o aluguel de US$ 1,6 mil mensais, as contas regulares e o custo da alimentação, por isso, em novembro, foi para o OnlyFans.

Morocco não tinha uma presença nas redes sociais para se promover quando entrou na plataforma, e precisou ganhar os seguidores um por um – postando imagens de si mesma no Instagram e no Twitter, e atender individualmente as pessoas que gostam e comentam os seus posts, encorajando cada uma a se tornar assinante do OnlyFans. É algo bem mais trabalhoso e exige muito mais tempo do que ela imaginava, e menos compensador do ponto de vista financeiro.

“É um trabalho em tempo integral além de todo o tempo disponível dedicado à busca de um emprego”, afirmou. “Os fãs querem ver você postando diariamente. Então você trabalha sem parar. Está sempre tirando fotos para postar”.

Até agora, ganhou apenas US$ 250 na plataforma, apesar de às vezes gastar mais de oito horas diárias criando, postando e promovendo o seu conteúdo. Ela teme também que a sua presença na plataforma possa fazer com que encontre dificuldade na hora de ser contratada futuramente para empregos tradicionais.

“Se você procura uma ocupação normal das 9 às 17 horas diárias, talvez não seja contratada se a empresa souber que você tem uma conta no OnlyFans”, afirmou. “E não a queira por você ser uma trabalhadora do sexo”.

Perigos

O trabalho com sexo digital pode dar uma ilusão de segurança e privacidade – as criadoras de conteúdo podem ser pagas sem precisarem interagir com clientes pessoalmente. Mas isto não significa que elas não estejam correndo riscos.

“O trabalho do sexo online é uma alternativa muito mais atraente para muitas pessoas do que trabalhar na rua ou vender serviços sexuais diretos”, disse Barb Brents, professora de sociologia da Universidade de Nevada, em Las Vegas. “Agora, todo mundo que esteja ingressando neste tipo de ocupação deve estar consciente de que há perigos”.

Em abril do ano passado, uma mecânica de Indiana perdeu o emprego em uma concessionária Honda depois que a direção ficou sabendo de sua conta na OnlyFans. As criadoras podem ser alvo de “doxxing”— um tipo de assédio online em que alguns usuários publicam informações privadas ou sensíveis a respeito de uma pessoa sem permissão. Em dezembro, o jornal The New York Post publicou um artigo sobre uma médica que usava o OnlyFans para suplementar a renda.

Ela achou que o artigo, publicado sem o seu consentimento, poderia prejudicar a sua reputação e faria com que fosse demitida do emprego.

Para outras, a experiência permitiu que obtivessem maior autonomia. Melanie Hall, 27 anos, mãe solteira de três filhos, ganha US$ 13,30 a hora como paramédica em Ohio, o que mal dá para pagar os gastos. Ela começou uma conta no OnlyFans em dezembro. “Sou mãe de três filhos. Nunca pensei que alguém pudesse pagar para me ver nua”, ela disse. “Mas isto foi um impulso para a minha autoconfiança”. /TRADUÇÃO DE ANA CAPOVILLA

Savannah Benavidez criou uma conta OnlyFans depois de perder seu emprego como secretária Foto: Adria Malcolm/The New York Times

Savannah Benavidez parou de trabalhar como secretária de um médico, em junho, para tomar conta do filho de dois anos depois que a creche fechou. Tendo de sobreviver, ela criou uma conta no OnlyFans – uma plataforma de rede social em que os usuários vendem conteúdo original para assinantes mensais – e começou a postar fotos de si mesma nua ou com uma peça de lingerie.

“É muito mais do que eu consegui ganhar em qualquer emprego”, contou. “Tenho tanto dinheiro que não sei o que fazer com ele”.

Lexi Eixenberger esperava obter um sucesso semelhante quando começou a conta na OnlyFans, em novembro. Funcionária de um restaurante no Estado americano de Montana, Lexi, de 22 anos, foi demitida três vezes durante a pandemia e, em outubro, estava precisando tanto de dinheiro que teve de sair do curso para ser higienista dental. Fazendo todo tipo de trabalho, ainda não ganhava o suficiente para pagar as contas. Então, por sugestão de algumas amigas, recorreu ao OnlyFans. Mas até agora ganhou apenas cerca de US$ 500.

“As pessoas acham que tirar fotos nuas e postá-las online é fácil. No entanto, é um trabalho difícil, um emprego em tempo integral”, afirmou Lexi. Ela diz que, às vezes, postar suas fotos a faz sentir-se “nojenta”.

A popularidade do OnlyFans, fundado em 2016 e sediado na Grã-Bretanha, cresceu durante a pandemia. Em dezembro, a plataforma tinha mais de 90 milhões de usuários e mais de um milhão de criadores de conteúdo, em comparação a 120 mil em 2019. A empresa não quis fazer comentários para esta reportagem.

Com milhões de americanas desempregadas, algumas como Benavidez e Eixenberger decidiram recorrer ao OnlyFans na tentativa de prover a si mesmas e à família. A pandemia foi particularmente devastadora para as mulheres e as mães porque acabou com alguns setores da economia em que elas predominavam, como as lojas de varejo, restaurantes e na área de saúde em geral.

“Muitas estão migrando para o OnlyFans por puro desespero”, afirmou Angela Jones, professora adjunta de sociologia da Universidade Estadual de Nova York em Farmingdale. “É que elas têm a preocupação da comida, em manter as luzes acesas, e ainda temem ser despejadas”.

Mas para cada pessoa como Benavidez, que pode usar o OnlyFans como sua principal fonte de renda, há dezenas de outras, como Eixenberger, que esperam um milagre e acabam com pouco mais de algumas centenas de dólares, além da perspectiva de que as fotos as impeçam de conseguir um emprego no futuro.

As criadoras de conteúdo mais bem-sucedidas em geral são modelos, estrelas pornô e celebridades que já têm um grande número de seguidores nas redes sociais. Elas podem usar suas outras plataformas online para atrair seguidores para as próprias contas no OnlyFans, onde oferecem conteúdo exclusivo aos que se dispõem a pagar uma taxa mensal – inclusive conteúdo personalizado em troca de um pagamento extra. 

O OnlyFans fica com 20% de todos os pagamentos. Algumas criadoras conseguem dinheiro extra por meio de aplicativos de pagamentos de celular, que não estão sujeitos a estes cortes. Benavidez ganha a maior parte do seu faturamento desta maneira. Mas muitas das criadoras que foram para a plataforma devido a uma situação financeira desesperadora não têm um grande número de seguidores na rede social ou qualquer outra maneira de obter um negócio consistente.

Lexi Eixenbergerse tornou uma criadora do OnlyFans, mas não ganhou muito até agora Foto: Janie Osborne/The New York Times

Elle Morocco, 36 anos, da Flórida, foi demitida em julho do seu emprego de gerente. O seguro-desemprego não cobre o aluguel de US$ 1,6 mil mensais, as contas regulares e o custo da alimentação, por isso, em novembro, foi para o OnlyFans.

Morocco não tinha uma presença nas redes sociais para se promover quando entrou na plataforma, e precisou ganhar os seguidores um por um – postando imagens de si mesma no Instagram e no Twitter, e atender individualmente as pessoas que gostam e comentam os seus posts, encorajando cada uma a se tornar assinante do OnlyFans. É algo bem mais trabalhoso e exige muito mais tempo do que ela imaginava, e menos compensador do ponto de vista financeiro.

“É um trabalho em tempo integral além de todo o tempo disponível dedicado à busca de um emprego”, afirmou. “Os fãs querem ver você postando diariamente. Então você trabalha sem parar. Está sempre tirando fotos para postar”.

Até agora, ganhou apenas US$ 250 na plataforma, apesar de às vezes gastar mais de oito horas diárias criando, postando e promovendo o seu conteúdo. Ela teme também que a sua presença na plataforma possa fazer com que encontre dificuldade na hora de ser contratada futuramente para empregos tradicionais.

“Se você procura uma ocupação normal das 9 às 17 horas diárias, talvez não seja contratada se a empresa souber que você tem uma conta no OnlyFans”, afirmou. “E não a queira por você ser uma trabalhadora do sexo”.

Perigos

O trabalho com sexo digital pode dar uma ilusão de segurança e privacidade – as criadoras de conteúdo podem ser pagas sem precisarem interagir com clientes pessoalmente. Mas isto não significa que elas não estejam correndo riscos.

“O trabalho do sexo online é uma alternativa muito mais atraente para muitas pessoas do que trabalhar na rua ou vender serviços sexuais diretos”, disse Barb Brents, professora de sociologia da Universidade de Nevada, em Las Vegas. “Agora, todo mundo que esteja ingressando neste tipo de ocupação deve estar consciente de que há perigos”.

Em abril do ano passado, uma mecânica de Indiana perdeu o emprego em uma concessionária Honda depois que a direção ficou sabendo de sua conta na OnlyFans. As criadoras podem ser alvo de “doxxing”— um tipo de assédio online em que alguns usuários publicam informações privadas ou sensíveis a respeito de uma pessoa sem permissão. Em dezembro, o jornal The New York Post publicou um artigo sobre uma médica que usava o OnlyFans para suplementar a renda.

Ela achou que o artigo, publicado sem o seu consentimento, poderia prejudicar a sua reputação e faria com que fosse demitida do emprego.

Para outras, a experiência permitiu que obtivessem maior autonomia. Melanie Hall, 27 anos, mãe solteira de três filhos, ganha US$ 13,30 a hora como paramédica em Ohio, o que mal dá para pagar os gastos. Ela começou uma conta no OnlyFans em dezembro. “Sou mãe de três filhos. Nunca pensei que alguém pudesse pagar para me ver nua”, ela disse. “Mas isto foi um impulso para a minha autoconfiança”. /TRADUÇÃO DE ANA CAPOVILLA

Savannah Benavidez criou uma conta OnlyFans depois de perder seu emprego como secretária Foto: Adria Malcolm/The New York Times

Savannah Benavidez parou de trabalhar como secretária de um médico, em junho, para tomar conta do filho de dois anos depois que a creche fechou. Tendo de sobreviver, ela criou uma conta no OnlyFans – uma plataforma de rede social em que os usuários vendem conteúdo original para assinantes mensais – e começou a postar fotos de si mesma nua ou com uma peça de lingerie.

“É muito mais do que eu consegui ganhar em qualquer emprego”, contou. “Tenho tanto dinheiro que não sei o que fazer com ele”.

Lexi Eixenberger esperava obter um sucesso semelhante quando começou a conta na OnlyFans, em novembro. Funcionária de um restaurante no Estado americano de Montana, Lexi, de 22 anos, foi demitida três vezes durante a pandemia e, em outubro, estava precisando tanto de dinheiro que teve de sair do curso para ser higienista dental. Fazendo todo tipo de trabalho, ainda não ganhava o suficiente para pagar as contas. Então, por sugestão de algumas amigas, recorreu ao OnlyFans. Mas até agora ganhou apenas cerca de US$ 500.

“As pessoas acham que tirar fotos nuas e postá-las online é fácil. No entanto, é um trabalho difícil, um emprego em tempo integral”, afirmou Lexi. Ela diz que, às vezes, postar suas fotos a faz sentir-se “nojenta”.

A popularidade do OnlyFans, fundado em 2016 e sediado na Grã-Bretanha, cresceu durante a pandemia. Em dezembro, a plataforma tinha mais de 90 milhões de usuários e mais de um milhão de criadores de conteúdo, em comparação a 120 mil em 2019. A empresa não quis fazer comentários para esta reportagem.

Com milhões de americanas desempregadas, algumas como Benavidez e Eixenberger decidiram recorrer ao OnlyFans na tentativa de prover a si mesmas e à família. A pandemia foi particularmente devastadora para as mulheres e as mães porque acabou com alguns setores da economia em que elas predominavam, como as lojas de varejo, restaurantes e na área de saúde em geral.

“Muitas estão migrando para o OnlyFans por puro desespero”, afirmou Angela Jones, professora adjunta de sociologia da Universidade Estadual de Nova York em Farmingdale. “É que elas têm a preocupação da comida, em manter as luzes acesas, e ainda temem ser despejadas”.

Mas para cada pessoa como Benavidez, que pode usar o OnlyFans como sua principal fonte de renda, há dezenas de outras, como Eixenberger, que esperam um milagre e acabam com pouco mais de algumas centenas de dólares, além da perspectiva de que as fotos as impeçam de conseguir um emprego no futuro.

As criadoras de conteúdo mais bem-sucedidas em geral são modelos, estrelas pornô e celebridades que já têm um grande número de seguidores nas redes sociais. Elas podem usar suas outras plataformas online para atrair seguidores para as próprias contas no OnlyFans, onde oferecem conteúdo exclusivo aos que se dispõem a pagar uma taxa mensal – inclusive conteúdo personalizado em troca de um pagamento extra. 

O OnlyFans fica com 20% de todos os pagamentos. Algumas criadoras conseguem dinheiro extra por meio de aplicativos de pagamentos de celular, que não estão sujeitos a estes cortes. Benavidez ganha a maior parte do seu faturamento desta maneira. Mas muitas das criadoras que foram para a plataforma devido a uma situação financeira desesperadora não têm um grande número de seguidores na rede social ou qualquer outra maneira de obter um negócio consistente.

Lexi Eixenbergerse tornou uma criadora do OnlyFans, mas não ganhou muito até agora Foto: Janie Osborne/The New York Times

Elle Morocco, 36 anos, da Flórida, foi demitida em julho do seu emprego de gerente. O seguro-desemprego não cobre o aluguel de US$ 1,6 mil mensais, as contas regulares e o custo da alimentação, por isso, em novembro, foi para o OnlyFans.

Morocco não tinha uma presença nas redes sociais para se promover quando entrou na plataforma, e precisou ganhar os seguidores um por um – postando imagens de si mesma no Instagram e no Twitter, e atender individualmente as pessoas que gostam e comentam os seus posts, encorajando cada uma a se tornar assinante do OnlyFans. É algo bem mais trabalhoso e exige muito mais tempo do que ela imaginava, e menos compensador do ponto de vista financeiro.

“É um trabalho em tempo integral além de todo o tempo disponível dedicado à busca de um emprego”, afirmou. “Os fãs querem ver você postando diariamente. Então você trabalha sem parar. Está sempre tirando fotos para postar”.

Até agora, ganhou apenas US$ 250 na plataforma, apesar de às vezes gastar mais de oito horas diárias criando, postando e promovendo o seu conteúdo. Ela teme também que a sua presença na plataforma possa fazer com que encontre dificuldade na hora de ser contratada futuramente para empregos tradicionais.

“Se você procura uma ocupação normal das 9 às 17 horas diárias, talvez não seja contratada se a empresa souber que você tem uma conta no OnlyFans”, afirmou. “E não a queira por você ser uma trabalhadora do sexo”.

Perigos

O trabalho com sexo digital pode dar uma ilusão de segurança e privacidade – as criadoras de conteúdo podem ser pagas sem precisarem interagir com clientes pessoalmente. Mas isto não significa que elas não estejam correndo riscos.

“O trabalho do sexo online é uma alternativa muito mais atraente para muitas pessoas do que trabalhar na rua ou vender serviços sexuais diretos”, disse Barb Brents, professora de sociologia da Universidade de Nevada, em Las Vegas. “Agora, todo mundo que esteja ingressando neste tipo de ocupação deve estar consciente de que há perigos”.

Em abril do ano passado, uma mecânica de Indiana perdeu o emprego em uma concessionária Honda depois que a direção ficou sabendo de sua conta na OnlyFans. As criadoras podem ser alvo de “doxxing”— um tipo de assédio online em que alguns usuários publicam informações privadas ou sensíveis a respeito de uma pessoa sem permissão. Em dezembro, o jornal The New York Post publicou um artigo sobre uma médica que usava o OnlyFans para suplementar a renda.

Ela achou que o artigo, publicado sem o seu consentimento, poderia prejudicar a sua reputação e faria com que fosse demitida do emprego.

Para outras, a experiência permitiu que obtivessem maior autonomia. Melanie Hall, 27 anos, mãe solteira de três filhos, ganha US$ 13,30 a hora como paramédica em Ohio, o que mal dá para pagar os gastos. Ela começou uma conta no OnlyFans em dezembro. “Sou mãe de três filhos. Nunca pensei que alguém pudesse pagar para me ver nua”, ela disse. “Mas isto foi um impulso para a minha autoconfiança”. /TRADUÇÃO DE ANA CAPOVILLA

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