Desenvolvimento de tecnologias quânticas está ameaçado por disputas geopolíticas de China e EUA


Uma corrida global pelo poder quântico está colocando as preocupações com o protecionismo contra o espírito de cooperação

Por Damien Cave

A corrida global para desenvolver tecnologias quânticas de todos os tipos tem se acelerado à medida que os governos investem no setor e os cientistas fazem rápidos avanços técnicos. Mas para manter uma vantagem sobre a China - que adota uma abordagem centralizada para o desenvolvimento de tecnologia - os Estados Unidos estão considerando controles de exportação mais rígidos para o setor, um movimento bastante conservador para a cultura de desenvolvimento do país.

O desafio é claro: como equilibrar protecionismo e cooperação em um campo em que o talento é escasso e menos concentrado nos Estados Unidos, tornando a interdependência inevitável e cada vez mais necessária?

Aliados americanos afirmam que um maior limite poderia sufocar o ímpeto do desenvolvimento desse tipo de tecnologia, porque a força do modelo americano na área vem, justamente, de sua abertura, combinando pools de dinheiro público para pesquisa com investimento privado para apoiar cientistas de muitos países.

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“O mundo mudou, e o ritmo da tecnologia é muito mais rápido do que costumava ser”, disse John Christianson, bolsista militar do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, coautor de um relatório recente sobre o AUKUS, o acordo de segurança de 2021 entre os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Austrália. “Não podemos confiar apenas no fato de que os americanos sempre têm o melhor material.”

Apenas nos últimos anos a tecnologia quântica chegou ao ponto de ser amplamente utilizada. Agora, empresas, nações e investidores ajudam os cientistas a transformar a extrema sensibilidade dos átomos em sensores poderosos, sistemas de comunicação mais seguros e computadores super-rápidos. Isso pode impulsionar o progresso exponencial em inteligência artificial (IA), descoberta de medicamentos, mineração, finanças e outros setores.

Computador quântico do Google foi apresentado em 2019  Foto: HANNAH BENET/Google
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Concorrência

Com seu método centralizado de canalizar bilhões de dólares para universidades afiliadas a militares, a China produziu resultados que quase igualaram ou superaram a abordagem americana. Algumas de suas afirmações sobre descobertas quânticas e promessas de financiamento foram contestadas, mas um aumento demonstrável na experiência chinesa começou há cerca de uma década. O movimento se deu com o aumento do investimento do governo depois que o vazamento de Edward Snowden confirmou, em 2013, que as agências de inteligência dos EUA e da Grã-Bretanha haviam encontrado maneiras de quebrar e espionar o tráfego criptografado da internet.

Em 2017, a China construiu um campus de 91 acres em Hefei, a oeste de Xangai, com o maior laboratório nacional de ciência quântica do mundo. Desde então, os pesquisadores chineses publicaram milhares de artigos demonstrando avanços importantes. Uma delas, inclusive, em 2021, sobre o uso de uma “rede de comunicação quântica espaço-terra” ligando satélites a um cabo de fibra óptica que conecta Xangai a Pequim.

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“Para a China, o caso Snowden teve um impacto psicológico”, disse Edward Parker, físico especializado em tecnologias emergentes da RAND Corporation. “Há também um certo aspecto de orgulho nacional - eles identificaram isso como uma tecnologia quântica muito demonstrável em que poderiam se tornar os melhores do mundo.”

Jian-Wei Pan, às vezes chamado de “pai da quântica” da China, tem sido uma figura importante. Seu Ph.D. concentrou-se na ciência da informação quântica na Universidade de Viena, sob a orientação de Anton Zeilinger, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física do ano passado. As conquistas mais notáveis da China no setor vieram com a comunicação que aproveita as leis da física quântica para proteger os dados.

Soberania

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Michael Biercuk, 43 anos, fundador da Q-CTRL, é um físico americano com um ar militar e um Ph.D. em Harvard que se mudou para a Austrália em 2010 para lecionar na Universidade de Sydney. Ele e sua startup, com escritórios em Sidney, Los Angeles, Berlim e Oxford, fazem parte de um grupo de ponta de líderes quânticos globais que veem exagero e estadismo em muitos anúncios quânticos chineses.

“Para nós, o AUKUS é excepcionalmente importante”, disse o professor Biercuk, observando que a Q-CTRL trabalha com sensores e computação quântica. “É uma oportunidade real para que a capacidade interna que estamos desenvolvendo na Austrália seja implantada em uma estrutura internacional.”

Cerca de metade dos 100 funcionários da Q-CTRL é australiana, metade é de outros países, e muitos, inclusive o professor Biercuk, têm experiência de trabalho nos laboratórios civis e de defesa de elite dos Estados Unidos. O principal produto de software da empresa, que “estabiliza o hardware contra tudo o que dá errado no campo”, disse o professor Biercuk, já está sendo usado por desenvolvedores quânticos nos Estados Unidos, Canadá e Europa, onde a tecnologia de sensores precisos também está avançando.

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Anton Zeilinger foi um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física do ano passado Foto: LEONHARD FOEGER / REUTERS

Mas a transferência de tecnologia sensível de uma nação para outra, ou o desenvolvimento de tecnologia com equipes transfronteiriças, têm se tornado cada vez mais problemáticos.

Temendo que sua tecnologia seja usada para construir as economias de países maiores, a Austrália vem explorando como manter seus próprios avanços em segredo. Os cientistas da Q-CTRL em Sydney já evitam cautelosamente compartilhar informações técnicas com colegas nos Estados Unidos para não ficarem sujeitos ao ITAR (International Traffic in Arms Regulations) dos EUA, um conjunto de salvaguardas restritivas para tecnologia militar que é amplamente visto como um grande obstáculo à modernização das alianças dos EUA na região.

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Se as autoridades americanas levarem adiante seu plano de expandir os controles de exportação para a computação quântica, a própria informação poderia ser considerada um produto, o que significa que os detalhes não poderiam ser compartilhados com pessoas nascidas fora dos Estados Unidos.

“É muito complicado se você tiver que ter laboratórios separados para coisas mais sensíveis”, disse o Dr. Parker, o físico da RAND.

Muitas empresas quânticas dos Estados Unidos e de outros países, inclusive a Q-CTRL, esperam que haja diretrizes claras e sensatas. As autoridades australianas e alguns legisladores americanos também estão pressionando por uma isenção dos regulamentos de armas dos EUA para que as empresas australianas não sejam tratadas como entidades estrangeiras.

Para muitos que trabalham com tecnologia avançada, em que a inovação exige o compartilhamento de informações, há uma preocupação constante de que os Estados Unidos e seus aliados mais próximos correm o risco de desperdiçar os ganhos recentes ao esperar muito tempo para esclarecer os mecanismos legais de cooperação.

Em uma tarde recente na antiga fábrica de locomotivas onde a Q-CTRL tem seus escritórios, o professor Biercuk disse que os próximos anos serão cruciais. Se as democracias amigas não desenvolverem juntas os pontos fortes do quantum, outros países passarão rapidamente com forças armadas mais afiadas e oportunidades lucrativas.

“É melhor acreditar que a China e as nações aliadas à China não vão impor restrições a si mesmas ou a seus parceiros”, disse ele. “Sempre que regulamentamos excessivamente as áreas emergentes da ciência, corremos o risco de simplesmente interromper o progresso localmente e ceder a vantagem tecnológica aos nossos adversários.”

A corrida global para desenvolver tecnologias quânticas de todos os tipos tem se acelerado à medida que os governos investem no setor e os cientistas fazem rápidos avanços técnicos. Mas para manter uma vantagem sobre a China - que adota uma abordagem centralizada para o desenvolvimento de tecnologia - os Estados Unidos estão considerando controles de exportação mais rígidos para o setor, um movimento bastante conservador para a cultura de desenvolvimento do país.

O desafio é claro: como equilibrar protecionismo e cooperação em um campo em que o talento é escasso e menos concentrado nos Estados Unidos, tornando a interdependência inevitável e cada vez mais necessária?

Aliados americanos afirmam que um maior limite poderia sufocar o ímpeto do desenvolvimento desse tipo de tecnologia, porque a força do modelo americano na área vem, justamente, de sua abertura, combinando pools de dinheiro público para pesquisa com investimento privado para apoiar cientistas de muitos países.

“O mundo mudou, e o ritmo da tecnologia é muito mais rápido do que costumava ser”, disse John Christianson, bolsista militar do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, coautor de um relatório recente sobre o AUKUS, o acordo de segurança de 2021 entre os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Austrália. “Não podemos confiar apenas no fato de que os americanos sempre têm o melhor material.”

Apenas nos últimos anos a tecnologia quântica chegou ao ponto de ser amplamente utilizada. Agora, empresas, nações e investidores ajudam os cientistas a transformar a extrema sensibilidade dos átomos em sensores poderosos, sistemas de comunicação mais seguros e computadores super-rápidos. Isso pode impulsionar o progresso exponencial em inteligência artificial (IA), descoberta de medicamentos, mineração, finanças e outros setores.

Computador quântico do Google foi apresentado em 2019  Foto: HANNAH BENET/Google

Concorrência

Com seu método centralizado de canalizar bilhões de dólares para universidades afiliadas a militares, a China produziu resultados que quase igualaram ou superaram a abordagem americana. Algumas de suas afirmações sobre descobertas quânticas e promessas de financiamento foram contestadas, mas um aumento demonstrável na experiência chinesa começou há cerca de uma década. O movimento se deu com o aumento do investimento do governo depois que o vazamento de Edward Snowden confirmou, em 2013, que as agências de inteligência dos EUA e da Grã-Bretanha haviam encontrado maneiras de quebrar e espionar o tráfego criptografado da internet.

Em 2017, a China construiu um campus de 91 acres em Hefei, a oeste de Xangai, com o maior laboratório nacional de ciência quântica do mundo. Desde então, os pesquisadores chineses publicaram milhares de artigos demonstrando avanços importantes. Uma delas, inclusive, em 2021, sobre o uso de uma “rede de comunicação quântica espaço-terra” ligando satélites a um cabo de fibra óptica que conecta Xangai a Pequim.

“Para a China, o caso Snowden teve um impacto psicológico”, disse Edward Parker, físico especializado em tecnologias emergentes da RAND Corporation. “Há também um certo aspecto de orgulho nacional - eles identificaram isso como uma tecnologia quântica muito demonstrável em que poderiam se tornar os melhores do mundo.”

Jian-Wei Pan, às vezes chamado de “pai da quântica” da China, tem sido uma figura importante. Seu Ph.D. concentrou-se na ciência da informação quântica na Universidade de Viena, sob a orientação de Anton Zeilinger, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física do ano passado. As conquistas mais notáveis da China no setor vieram com a comunicação que aproveita as leis da física quântica para proteger os dados.

Soberania

Michael Biercuk, 43 anos, fundador da Q-CTRL, é um físico americano com um ar militar e um Ph.D. em Harvard que se mudou para a Austrália em 2010 para lecionar na Universidade de Sydney. Ele e sua startup, com escritórios em Sidney, Los Angeles, Berlim e Oxford, fazem parte de um grupo de ponta de líderes quânticos globais que veem exagero e estadismo em muitos anúncios quânticos chineses.

“Para nós, o AUKUS é excepcionalmente importante”, disse o professor Biercuk, observando que a Q-CTRL trabalha com sensores e computação quântica. “É uma oportunidade real para que a capacidade interna que estamos desenvolvendo na Austrália seja implantada em uma estrutura internacional.”

Cerca de metade dos 100 funcionários da Q-CTRL é australiana, metade é de outros países, e muitos, inclusive o professor Biercuk, têm experiência de trabalho nos laboratórios civis e de defesa de elite dos Estados Unidos. O principal produto de software da empresa, que “estabiliza o hardware contra tudo o que dá errado no campo”, disse o professor Biercuk, já está sendo usado por desenvolvedores quânticos nos Estados Unidos, Canadá e Europa, onde a tecnologia de sensores precisos também está avançando.

Anton Zeilinger foi um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física do ano passado Foto: LEONHARD FOEGER / REUTERS

Mas a transferência de tecnologia sensível de uma nação para outra, ou o desenvolvimento de tecnologia com equipes transfronteiriças, têm se tornado cada vez mais problemáticos.

Temendo que sua tecnologia seja usada para construir as economias de países maiores, a Austrália vem explorando como manter seus próprios avanços em segredo. Os cientistas da Q-CTRL em Sydney já evitam cautelosamente compartilhar informações técnicas com colegas nos Estados Unidos para não ficarem sujeitos ao ITAR (International Traffic in Arms Regulations) dos EUA, um conjunto de salvaguardas restritivas para tecnologia militar que é amplamente visto como um grande obstáculo à modernização das alianças dos EUA na região.

Se as autoridades americanas levarem adiante seu plano de expandir os controles de exportação para a computação quântica, a própria informação poderia ser considerada um produto, o que significa que os detalhes não poderiam ser compartilhados com pessoas nascidas fora dos Estados Unidos.

“É muito complicado se você tiver que ter laboratórios separados para coisas mais sensíveis”, disse o Dr. Parker, o físico da RAND.

Muitas empresas quânticas dos Estados Unidos e de outros países, inclusive a Q-CTRL, esperam que haja diretrizes claras e sensatas. As autoridades australianas e alguns legisladores americanos também estão pressionando por uma isenção dos regulamentos de armas dos EUA para que as empresas australianas não sejam tratadas como entidades estrangeiras.

Para muitos que trabalham com tecnologia avançada, em que a inovação exige o compartilhamento de informações, há uma preocupação constante de que os Estados Unidos e seus aliados mais próximos correm o risco de desperdiçar os ganhos recentes ao esperar muito tempo para esclarecer os mecanismos legais de cooperação.

Em uma tarde recente na antiga fábrica de locomotivas onde a Q-CTRL tem seus escritórios, o professor Biercuk disse que os próximos anos serão cruciais. Se as democracias amigas não desenvolverem juntas os pontos fortes do quantum, outros países passarão rapidamente com forças armadas mais afiadas e oportunidades lucrativas.

“É melhor acreditar que a China e as nações aliadas à China não vão impor restrições a si mesmas ou a seus parceiros”, disse ele. “Sempre que regulamentamos excessivamente as áreas emergentes da ciência, corremos o risco de simplesmente interromper o progresso localmente e ceder a vantagem tecnológica aos nossos adversários.”

A corrida global para desenvolver tecnologias quânticas de todos os tipos tem se acelerado à medida que os governos investem no setor e os cientistas fazem rápidos avanços técnicos. Mas para manter uma vantagem sobre a China - que adota uma abordagem centralizada para o desenvolvimento de tecnologia - os Estados Unidos estão considerando controles de exportação mais rígidos para o setor, um movimento bastante conservador para a cultura de desenvolvimento do país.

O desafio é claro: como equilibrar protecionismo e cooperação em um campo em que o talento é escasso e menos concentrado nos Estados Unidos, tornando a interdependência inevitável e cada vez mais necessária?

Aliados americanos afirmam que um maior limite poderia sufocar o ímpeto do desenvolvimento desse tipo de tecnologia, porque a força do modelo americano na área vem, justamente, de sua abertura, combinando pools de dinheiro público para pesquisa com investimento privado para apoiar cientistas de muitos países.

“O mundo mudou, e o ritmo da tecnologia é muito mais rápido do que costumava ser”, disse John Christianson, bolsista militar do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, coautor de um relatório recente sobre o AUKUS, o acordo de segurança de 2021 entre os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Austrália. “Não podemos confiar apenas no fato de que os americanos sempre têm o melhor material.”

Apenas nos últimos anos a tecnologia quântica chegou ao ponto de ser amplamente utilizada. Agora, empresas, nações e investidores ajudam os cientistas a transformar a extrema sensibilidade dos átomos em sensores poderosos, sistemas de comunicação mais seguros e computadores super-rápidos. Isso pode impulsionar o progresso exponencial em inteligência artificial (IA), descoberta de medicamentos, mineração, finanças e outros setores.

Computador quântico do Google foi apresentado em 2019  Foto: HANNAH BENET/Google

Concorrência

Com seu método centralizado de canalizar bilhões de dólares para universidades afiliadas a militares, a China produziu resultados que quase igualaram ou superaram a abordagem americana. Algumas de suas afirmações sobre descobertas quânticas e promessas de financiamento foram contestadas, mas um aumento demonstrável na experiência chinesa começou há cerca de uma década. O movimento se deu com o aumento do investimento do governo depois que o vazamento de Edward Snowden confirmou, em 2013, que as agências de inteligência dos EUA e da Grã-Bretanha haviam encontrado maneiras de quebrar e espionar o tráfego criptografado da internet.

Em 2017, a China construiu um campus de 91 acres em Hefei, a oeste de Xangai, com o maior laboratório nacional de ciência quântica do mundo. Desde então, os pesquisadores chineses publicaram milhares de artigos demonstrando avanços importantes. Uma delas, inclusive, em 2021, sobre o uso de uma “rede de comunicação quântica espaço-terra” ligando satélites a um cabo de fibra óptica que conecta Xangai a Pequim.

“Para a China, o caso Snowden teve um impacto psicológico”, disse Edward Parker, físico especializado em tecnologias emergentes da RAND Corporation. “Há também um certo aspecto de orgulho nacional - eles identificaram isso como uma tecnologia quântica muito demonstrável em que poderiam se tornar os melhores do mundo.”

Jian-Wei Pan, às vezes chamado de “pai da quântica” da China, tem sido uma figura importante. Seu Ph.D. concentrou-se na ciência da informação quântica na Universidade de Viena, sob a orientação de Anton Zeilinger, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física do ano passado. As conquistas mais notáveis da China no setor vieram com a comunicação que aproveita as leis da física quântica para proteger os dados.

Soberania

Michael Biercuk, 43 anos, fundador da Q-CTRL, é um físico americano com um ar militar e um Ph.D. em Harvard que se mudou para a Austrália em 2010 para lecionar na Universidade de Sydney. Ele e sua startup, com escritórios em Sidney, Los Angeles, Berlim e Oxford, fazem parte de um grupo de ponta de líderes quânticos globais que veem exagero e estadismo em muitos anúncios quânticos chineses.

“Para nós, o AUKUS é excepcionalmente importante”, disse o professor Biercuk, observando que a Q-CTRL trabalha com sensores e computação quântica. “É uma oportunidade real para que a capacidade interna que estamos desenvolvendo na Austrália seja implantada em uma estrutura internacional.”

Cerca de metade dos 100 funcionários da Q-CTRL é australiana, metade é de outros países, e muitos, inclusive o professor Biercuk, têm experiência de trabalho nos laboratórios civis e de defesa de elite dos Estados Unidos. O principal produto de software da empresa, que “estabiliza o hardware contra tudo o que dá errado no campo”, disse o professor Biercuk, já está sendo usado por desenvolvedores quânticos nos Estados Unidos, Canadá e Europa, onde a tecnologia de sensores precisos também está avançando.

Anton Zeilinger foi um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física do ano passado Foto: LEONHARD FOEGER / REUTERS

Mas a transferência de tecnologia sensível de uma nação para outra, ou o desenvolvimento de tecnologia com equipes transfronteiriças, têm se tornado cada vez mais problemáticos.

Temendo que sua tecnologia seja usada para construir as economias de países maiores, a Austrália vem explorando como manter seus próprios avanços em segredo. Os cientistas da Q-CTRL em Sydney já evitam cautelosamente compartilhar informações técnicas com colegas nos Estados Unidos para não ficarem sujeitos ao ITAR (International Traffic in Arms Regulations) dos EUA, um conjunto de salvaguardas restritivas para tecnologia militar que é amplamente visto como um grande obstáculo à modernização das alianças dos EUA na região.

Se as autoridades americanas levarem adiante seu plano de expandir os controles de exportação para a computação quântica, a própria informação poderia ser considerada um produto, o que significa que os detalhes não poderiam ser compartilhados com pessoas nascidas fora dos Estados Unidos.

“É muito complicado se você tiver que ter laboratórios separados para coisas mais sensíveis”, disse o Dr. Parker, o físico da RAND.

Muitas empresas quânticas dos Estados Unidos e de outros países, inclusive a Q-CTRL, esperam que haja diretrizes claras e sensatas. As autoridades australianas e alguns legisladores americanos também estão pressionando por uma isenção dos regulamentos de armas dos EUA para que as empresas australianas não sejam tratadas como entidades estrangeiras.

Para muitos que trabalham com tecnologia avançada, em que a inovação exige o compartilhamento de informações, há uma preocupação constante de que os Estados Unidos e seus aliados mais próximos correm o risco de desperdiçar os ganhos recentes ao esperar muito tempo para esclarecer os mecanismos legais de cooperação.

Em uma tarde recente na antiga fábrica de locomotivas onde a Q-CTRL tem seus escritórios, o professor Biercuk disse que os próximos anos serão cruciais. Se as democracias amigas não desenvolverem juntas os pontos fortes do quantum, outros países passarão rapidamente com forças armadas mais afiadas e oportunidades lucrativas.

“É melhor acreditar que a China e as nações aliadas à China não vão impor restrições a si mesmas ou a seus parceiros”, disse ele. “Sempre que regulamentamos excessivamente as áreas emergentes da ciência, corremos o risco de simplesmente interromper o progresso localmente e ceder a vantagem tecnológica aos nossos adversários.”

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