Biografia de Elon Musk ajuda a explicar mundo atual da tecnologia e o seu futuro; leia análise


Livro traz bastidores da compra do Twitter, conflitos com autoridades na gestão da Tesla e detalhes da vida pessoal do bilionário

Por Bruno Romani e Guilherme Guerra

Poucas figuras tornaram-se tão importantes para o mundo quanto Elon Musk. O sul-africano comanda empresas de negócios tidos como críticos para a tecnologia e o futuro da Humanidade: carros elétricos (Tesla), infraestrutura e mobilidade (The Boring Company) foguetes e telecomunicações (SpaceX), redes sociais (X, ex-Twitter), inteligência artificial (X.AI) e até computação cerebral (Neuralink). Além disso, ele é o homem mais rico do mundo, com patrimônio avaliado em cerca de US$ 250 bilhões.

Uma nova biografia sobre o bilionário busca esclarecer quem é essa figura. À venda no Brasil e Estados Unidos desde o último dia 12, a obra, cujo título minimalista leva somente o nome e sobrenome do biografado, foi escrita pelo jornalista americano Walter Isaacson, célebre biógrafo de gênios como Isaac Newton, Leonardo da Vinci e Steve Jobs. O livro pode ser encontrado nas livrarias por R$ 99,90 ou R$ 69,90 pela versão em e-book, publicado pela Ed. Intrínseca.

Além da vida do biografado, Elon Musk funciona como um guia para entender os últimos cinco anos do mundo da tecnologia, quando houve a última “troca de guarda” entre figurões do setor — após lidar com o escândalos Cambridge Analytica e Facebook Papers, Mark Zuckerberg saiu do centro das discussões e deu lugar para o hoje dono do Twitter.

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De discreto coadjuvante até 2018, Musk passou a ser um protagonista vocal: a Tesla virou a montadora mais valiosa do mundo, a SpaceX conseguiu botar em órbita os foguetes Falcon 9 e deve levar astronautas para a Lua em parceria com a Nasa e a Neuralink começará testes de implantes de microchips em cérebros humanos . Até a OpenAI, pela qual Musk teve breve passagem como cofundador, se tornou o principal nome em inteligência artificial (IA) graças ao ChatGPT. Hoje, é impossível falar em Vale do Silício, inovação e novas tecnologias sem mencionar o nome do bilionário.

'Elon Musk', de Walter Isaacson, é a nova biografia sobre o bilionário dono da Tesla, SpaceX e Twitter Foto: Reprodução/Intrínseca

Um ponto marcante da obra de Isaacson é conectar o tempo todo a vida de Musk com acontecimentos do presente. Exemplo disso está no trecho que narra a participação de Musk na criação do PayPal, em 1999. Nele, o leitor descobre que a ambição de Musk era ter uma companhia chamada X.com, que misturava sistema de pagamentos e redes sociais. Inevitável não conectar com a recente mudança de nome do Twitter, cuja marca foi abandonada em julho de 2023. O quanto disso ficou na mente de Musk ao longo de mais de duas décadas é impossível de saber, mas a biografia faz parecer que tudo foi planejado pelo empresário.

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Outra pista sobre como o livro olha mais para o presente do que para o passado é o fato de a obra dedicar apenas 100 páginas aos primeiros 30 anos de vida de Musk, que teve uma infância atribulada, muito em parte da figura autoritária do pai. As outras mais de quinhentas páginas são dedicadas aos 22 anos de vida seguintes do empresário, o que incluem o mundo desde os anos 2000.

Sobre a compra do Twitter, que levou cerca de oito meses para ser concluída, Isaacson dedica 14 capítulos, que narram como Musk abandonou a cadeira de conselheiro para se tornar dono da rede social. Os bastidores trazidos pelo biógrafo ganham detalhes inéditos, como a demissão do antigo presidente executivo da empresa, Parag Agrawal, e o desdém do bilionário pelos funcionários da firma.

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Já sobre o surgimento da SpaceX, em 2001, o livro narra como empresário quase foi passado para trás por russos, que tentavam empurrar para o recém-milionário foguetes de segunda mão que seriam usados para enviar experimentos para Marte. Com o fracasso da negociação, Musk decidiu criar a própria companhia de foguetes - ele partiu do princípio que precisaria comprar apenas metal e combustível para tornar o sonho espacial em realidade.

Há também passagens com outras figuras famosas, como a disputa com o fundador da Amazon, Jeff Bezos (um rival no ramo da exploração espacial com a Blue Origin), a troca ácida de mensagens com o fundador da Microsoft, Bill Gates, e o primeiro encontro com a artista canadense Grimes. Os bilionários Larry Ellison, cofundador da Oracle, e Peter Thiel (investidor e um dos nomes responsáveis por catapultar o Facebook, em 2005) são figuras que aparecem com frequência na vida de Musk.

São todos esses bastidores que tornam tão divertido o livro, cuja leitura tem um ritmo leve para as mais de seiscentas páginas de história.

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Artista Grimes e empresário Elon Musk se conheceram em 2018 e têm três filhos juntos Foto: Charles Sykes/Invision/AP

Homem dos tempos atuais

Mais do que tecnologia, o livro ajuda a entender uma figura que simboliza vários temas fundamentais dos tempos atuais. O bilionário é participante de assuntos como Guerra da Ucrânia, moderação de conteúdo versus liberdade de expressão, radicalização nas redes, crise climática, disputas trabalhistas, comunicação global e concentração de renda e poder.

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Motivo de preocupação para a diplomacia de diversos países, Musk fornece conexão de internet via Starlink para a Ucrânia. A biografia conta como o bilionário impôs limitações de uso militar, o que enfureceu o governo de Volodmir Zelenski em meio à guerra.

Sobre a moderação de conteúdo, a obra conta esclarece os posicionamentos políticos de Musk (“anti-Trump”) e reforça a mensagem do bilionário sobre o que pensa da circulação de ideias nas redes sociais, principalmente em relação ao ativismo “woke”, expressão utilizada para denominar as pessoas a favor de pautas progressistas e de minorias.

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Claro, o leitor é bastante abastecido com a visão do bilionário, o que levanta dúvidas sobre o quão mais crítico Isaacson poderia ter sido. Biografias com biografados vivos sempre são mais delicadas — imagina se indispor com o homem mais rico e poderoso dos dias atuais?

Para a biografia, o jornalista explica que, nos dois anos de entrevistas e de apuração, Musk nunca pediu para ler o material antes da publicação.

Elon Musk e Steve Jobs

Apesar de toda grandeza que Musk parece atrair, o livro revela um personagem de habilidades sociais limitadas, suscetível a mudanças bruscas de humor, e carregado de traumas, abusos e teimosias — e costuma ser cruel não apenas com funcionários, mas com amigos e companheiras.

Esses comportamentos não são santificados por Isaacson. Nesse aspecto, o jornalista parece uma escolha perfeita para ser o biógrafo de Musk, já que está acostumado a figuras controversas da tecnologia.

Gênio, Steve Jobs burlava regras, assediava moralmente seus funcionários, acuava executivos e negava a paternidade da filha nos anos 1980 — e tudo isso é relatado na biografia do fundador da Apple, lançada em 2011.

De fato, o autor parece adorar a comparação entre os dois empresários. A começar pela capa, cujo retrato de Musk simula a pose de Jobs, bem como a tipografia da edição. Ainda, o livro abre com uma frase célebre do pai do iPhone: “As pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são as que de fato o mudam”. Em seguida, outras 20 citações ao nome dele são feitas ao longo da obra.

Biografia sobre Steve Jobs escrita por Walter Isaacson foi lançada 19 dias depois da morte do fundador da Apple, em outubro de 2011 Foto: Reprodução

“Portanto, a pergunta sobre Elon Musk é: poderia ele ser mais tranquilo e ainda ser a pessoa que está nos levando a Marte e a um futuro com veículos elétricos?”, questiona Isaacson no prólogo do livro após relatar que fez a mesma pergunta durante a apuração da obra sobre Jobs.

Até a conclusão da biografia, os maiores sonhos de Musk ainda não foram concretizados: levar a Humanidade a Marte e desenvolver uma inteligência artificial geral “do bem”. Mas pequenos grandes passos já foram dados — e é essa a história contada nesta biografia.

“Às vezes, grandes inovadores são homens com jeito de criança, que gostam de correr grandes riscos e resistem ao peniquinho. Eles podem ser imprudentes, causar vergonha alheia e até ser tóxicos. Podem ser loucos também. Loucos o suficiente para achar que podem mudar o mundo”, escreve Isaacson na última passagem do livro.

Ainda que humanos jamais pisem em Marte e que o despertar das máquinas nunca vire realidade, Elon Musk é uma ótima foto do momento - e o caos de todo o processo - em que parecia que isso seria diferente.

Poucas figuras tornaram-se tão importantes para o mundo quanto Elon Musk. O sul-africano comanda empresas de negócios tidos como críticos para a tecnologia e o futuro da Humanidade: carros elétricos (Tesla), infraestrutura e mobilidade (The Boring Company) foguetes e telecomunicações (SpaceX), redes sociais (X, ex-Twitter), inteligência artificial (X.AI) e até computação cerebral (Neuralink). Além disso, ele é o homem mais rico do mundo, com patrimônio avaliado em cerca de US$ 250 bilhões.

Uma nova biografia sobre o bilionário busca esclarecer quem é essa figura. À venda no Brasil e Estados Unidos desde o último dia 12, a obra, cujo título minimalista leva somente o nome e sobrenome do biografado, foi escrita pelo jornalista americano Walter Isaacson, célebre biógrafo de gênios como Isaac Newton, Leonardo da Vinci e Steve Jobs. O livro pode ser encontrado nas livrarias por R$ 99,90 ou R$ 69,90 pela versão em e-book, publicado pela Ed. Intrínseca.

Além da vida do biografado, Elon Musk funciona como um guia para entender os últimos cinco anos do mundo da tecnologia, quando houve a última “troca de guarda” entre figurões do setor — após lidar com o escândalos Cambridge Analytica e Facebook Papers, Mark Zuckerberg saiu do centro das discussões e deu lugar para o hoje dono do Twitter.

De discreto coadjuvante até 2018, Musk passou a ser um protagonista vocal: a Tesla virou a montadora mais valiosa do mundo, a SpaceX conseguiu botar em órbita os foguetes Falcon 9 e deve levar astronautas para a Lua em parceria com a Nasa e a Neuralink começará testes de implantes de microchips em cérebros humanos . Até a OpenAI, pela qual Musk teve breve passagem como cofundador, se tornou o principal nome em inteligência artificial (IA) graças ao ChatGPT. Hoje, é impossível falar em Vale do Silício, inovação e novas tecnologias sem mencionar o nome do bilionário.

'Elon Musk', de Walter Isaacson, é a nova biografia sobre o bilionário dono da Tesla, SpaceX e Twitter Foto: Reprodução/Intrínseca

Um ponto marcante da obra de Isaacson é conectar o tempo todo a vida de Musk com acontecimentos do presente. Exemplo disso está no trecho que narra a participação de Musk na criação do PayPal, em 1999. Nele, o leitor descobre que a ambição de Musk era ter uma companhia chamada X.com, que misturava sistema de pagamentos e redes sociais. Inevitável não conectar com a recente mudança de nome do Twitter, cuja marca foi abandonada em julho de 2023. O quanto disso ficou na mente de Musk ao longo de mais de duas décadas é impossível de saber, mas a biografia faz parecer que tudo foi planejado pelo empresário.

Outra pista sobre como o livro olha mais para o presente do que para o passado é o fato de a obra dedicar apenas 100 páginas aos primeiros 30 anos de vida de Musk, que teve uma infância atribulada, muito em parte da figura autoritária do pai. As outras mais de quinhentas páginas são dedicadas aos 22 anos de vida seguintes do empresário, o que incluem o mundo desde os anos 2000.

Sobre a compra do Twitter, que levou cerca de oito meses para ser concluída, Isaacson dedica 14 capítulos, que narram como Musk abandonou a cadeira de conselheiro para se tornar dono da rede social. Os bastidores trazidos pelo biógrafo ganham detalhes inéditos, como a demissão do antigo presidente executivo da empresa, Parag Agrawal, e o desdém do bilionário pelos funcionários da firma.

Já sobre o surgimento da SpaceX, em 2001, o livro narra como empresário quase foi passado para trás por russos, que tentavam empurrar para o recém-milionário foguetes de segunda mão que seriam usados para enviar experimentos para Marte. Com o fracasso da negociação, Musk decidiu criar a própria companhia de foguetes - ele partiu do princípio que precisaria comprar apenas metal e combustível para tornar o sonho espacial em realidade.

Há também passagens com outras figuras famosas, como a disputa com o fundador da Amazon, Jeff Bezos (um rival no ramo da exploração espacial com a Blue Origin), a troca ácida de mensagens com o fundador da Microsoft, Bill Gates, e o primeiro encontro com a artista canadense Grimes. Os bilionários Larry Ellison, cofundador da Oracle, e Peter Thiel (investidor e um dos nomes responsáveis por catapultar o Facebook, em 2005) são figuras que aparecem com frequência na vida de Musk.

São todos esses bastidores que tornam tão divertido o livro, cuja leitura tem um ritmo leve para as mais de seiscentas páginas de história.

Artista Grimes e empresário Elon Musk se conheceram em 2018 e têm três filhos juntos Foto: Charles Sykes/Invision/AP

Homem dos tempos atuais

Mais do que tecnologia, o livro ajuda a entender uma figura que simboliza vários temas fundamentais dos tempos atuais. O bilionário é participante de assuntos como Guerra da Ucrânia, moderação de conteúdo versus liberdade de expressão, radicalização nas redes, crise climática, disputas trabalhistas, comunicação global e concentração de renda e poder.

Motivo de preocupação para a diplomacia de diversos países, Musk fornece conexão de internet via Starlink para a Ucrânia. A biografia conta como o bilionário impôs limitações de uso militar, o que enfureceu o governo de Volodmir Zelenski em meio à guerra.

Sobre a moderação de conteúdo, a obra conta esclarece os posicionamentos políticos de Musk (“anti-Trump”) e reforça a mensagem do bilionário sobre o que pensa da circulação de ideias nas redes sociais, principalmente em relação ao ativismo “woke”, expressão utilizada para denominar as pessoas a favor de pautas progressistas e de minorias.

Claro, o leitor é bastante abastecido com a visão do bilionário, o que levanta dúvidas sobre o quão mais crítico Isaacson poderia ter sido. Biografias com biografados vivos sempre são mais delicadas — imagina se indispor com o homem mais rico e poderoso dos dias atuais?

Para a biografia, o jornalista explica que, nos dois anos de entrevistas e de apuração, Musk nunca pediu para ler o material antes da publicação.

Elon Musk e Steve Jobs

Apesar de toda grandeza que Musk parece atrair, o livro revela um personagem de habilidades sociais limitadas, suscetível a mudanças bruscas de humor, e carregado de traumas, abusos e teimosias — e costuma ser cruel não apenas com funcionários, mas com amigos e companheiras.

Esses comportamentos não são santificados por Isaacson. Nesse aspecto, o jornalista parece uma escolha perfeita para ser o biógrafo de Musk, já que está acostumado a figuras controversas da tecnologia.

Gênio, Steve Jobs burlava regras, assediava moralmente seus funcionários, acuava executivos e negava a paternidade da filha nos anos 1980 — e tudo isso é relatado na biografia do fundador da Apple, lançada em 2011.

De fato, o autor parece adorar a comparação entre os dois empresários. A começar pela capa, cujo retrato de Musk simula a pose de Jobs, bem como a tipografia da edição. Ainda, o livro abre com uma frase célebre do pai do iPhone: “As pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são as que de fato o mudam”. Em seguida, outras 20 citações ao nome dele são feitas ao longo da obra.

Biografia sobre Steve Jobs escrita por Walter Isaacson foi lançada 19 dias depois da morte do fundador da Apple, em outubro de 2011 Foto: Reprodução

“Portanto, a pergunta sobre Elon Musk é: poderia ele ser mais tranquilo e ainda ser a pessoa que está nos levando a Marte e a um futuro com veículos elétricos?”, questiona Isaacson no prólogo do livro após relatar que fez a mesma pergunta durante a apuração da obra sobre Jobs.

Até a conclusão da biografia, os maiores sonhos de Musk ainda não foram concretizados: levar a Humanidade a Marte e desenvolver uma inteligência artificial geral “do bem”. Mas pequenos grandes passos já foram dados — e é essa a história contada nesta biografia.

“Às vezes, grandes inovadores são homens com jeito de criança, que gostam de correr grandes riscos e resistem ao peniquinho. Eles podem ser imprudentes, causar vergonha alheia e até ser tóxicos. Podem ser loucos também. Loucos o suficiente para achar que podem mudar o mundo”, escreve Isaacson na última passagem do livro.

Ainda que humanos jamais pisem em Marte e que o despertar das máquinas nunca vire realidade, Elon Musk é uma ótima foto do momento - e o caos de todo o processo - em que parecia que isso seria diferente.

Poucas figuras tornaram-se tão importantes para o mundo quanto Elon Musk. O sul-africano comanda empresas de negócios tidos como críticos para a tecnologia e o futuro da Humanidade: carros elétricos (Tesla), infraestrutura e mobilidade (The Boring Company) foguetes e telecomunicações (SpaceX), redes sociais (X, ex-Twitter), inteligência artificial (X.AI) e até computação cerebral (Neuralink). Além disso, ele é o homem mais rico do mundo, com patrimônio avaliado em cerca de US$ 250 bilhões.

Uma nova biografia sobre o bilionário busca esclarecer quem é essa figura. À venda no Brasil e Estados Unidos desde o último dia 12, a obra, cujo título minimalista leva somente o nome e sobrenome do biografado, foi escrita pelo jornalista americano Walter Isaacson, célebre biógrafo de gênios como Isaac Newton, Leonardo da Vinci e Steve Jobs. O livro pode ser encontrado nas livrarias por R$ 99,90 ou R$ 69,90 pela versão em e-book, publicado pela Ed. Intrínseca.

Além da vida do biografado, Elon Musk funciona como um guia para entender os últimos cinco anos do mundo da tecnologia, quando houve a última “troca de guarda” entre figurões do setor — após lidar com o escândalos Cambridge Analytica e Facebook Papers, Mark Zuckerberg saiu do centro das discussões e deu lugar para o hoje dono do Twitter.

De discreto coadjuvante até 2018, Musk passou a ser um protagonista vocal: a Tesla virou a montadora mais valiosa do mundo, a SpaceX conseguiu botar em órbita os foguetes Falcon 9 e deve levar astronautas para a Lua em parceria com a Nasa e a Neuralink começará testes de implantes de microchips em cérebros humanos . Até a OpenAI, pela qual Musk teve breve passagem como cofundador, se tornou o principal nome em inteligência artificial (IA) graças ao ChatGPT. Hoje, é impossível falar em Vale do Silício, inovação e novas tecnologias sem mencionar o nome do bilionário.

'Elon Musk', de Walter Isaacson, é a nova biografia sobre o bilionário dono da Tesla, SpaceX e Twitter Foto: Reprodução/Intrínseca

Um ponto marcante da obra de Isaacson é conectar o tempo todo a vida de Musk com acontecimentos do presente. Exemplo disso está no trecho que narra a participação de Musk na criação do PayPal, em 1999. Nele, o leitor descobre que a ambição de Musk era ter uma companhia chamada X.com, que misturava sistema de pagamentos e redes sociais. Inevitável não conectar com a recente mudança de nome do Twitter, cuja marca foi abandonada em julho de 2023. O quanto disso ficou na mente de Musk ao longo de mais de duas décadas é impossível de saber, mas a biografia faz parecer que tudo foi planejado pelo empresário.

Outra pista sobre como o livro olha mais para o presente do que para o passado é o fato de a obra dedicar apenas 100 páginas aos primeiros 30 anos de vida de Musk, que teve uma infância atribulada, muito em parte da figura autoritária do pai. As outras mais de quinhentas páginas são dedicadas aos 22 anos de vida seguintes do empresário, o que incluem o mundo desde os anos 2000.

Sobre a compra do Twitter, que levou cerca de oito meses para ser concluída, Isaacson dedica 14 capítulos, que narram como Musk abandonou a cadeira de conselheiro para se tornar dono da rede social. Os bastidores trazidos pelo biógrafo ganham detalhes inéditos, como a demissão do antigo presidente executivo da empresa, Parag Agrawal, e o desdém do bilionário pelos funcionários da firma.

Já sobre o surgimento da SpaceX, em 2001, o livro narra como empresário quase foi passado para trás por russos, que tentavam empurrar para o recém-milionário foguetes de segunda mão que seriam usados para enviar experimentos para Marte. Com o fracasso da negociação, Musk decidiu criar a própria companhia de foguetes - ele partiu do princípio que precisaria comprar apenas metal e combustível para tornar o sonho espacial em realidade.

Há também passagens com outras figuras famosas, como a disputa com o fundador da Amazon, Jeff Bezos (um rival no ramo da exploração espacial com a Blue Origin), a troca ácida de mensagens com o fundador da Microsoft, Bill Gates, e o primeiro encontro com a artista canadense Grimes. Os bilionários Larry Ellison, cofundador da Oracle, e Peter Thiel (investidor e um dos nomes responsáveis por catapultar o Facebook, em 2005) são figuras que aparecem com frequência na vida de Musk.

São todos esses bastidores que tornam tão divertido o livro, cuja leitura tem um ritmo leve para as mais de seiscentas páginas de história.

Artista Grimes e empresário Elon Musk se conheceram em 2018 e têm três filhos juntos Foto: Charles Sykes/Invision/AP

Homem dos tempos atuais

Mais do que tecnologia, o livro ajuda a entender uma figura que simboliza vários temas fundamentais dos tempos atuais. O bilionário é participante de assuntos como Guerra da Ucrânia, moderação de conteúdo versus liberdade de expressão, radicalização nas redes, crise climática, disputas trabalhistas, comunicação global e concentração de renda e poder.

Motivo de preocupação para a diplomacia de diversos países, Musk fornece conexão de internet via Starlink para a Ucrânia. A biografia conta como o bilionário impôs limitações de uso militar, o que enfureceu o governo de Volodmir Zelenski em meio à guerra.

Sobre a moderação de conteúdo, a obra conta esclarece os posicionamentos políticos de Musk (“anti-Trump”) e reforça a mensagem do bilionário sobre o que pensa da circulação de ideias nas redes sociais, principalmente em relação ao ativismo “woke”, expressão utilizada para denominar as pessoas a favor de pautas progressistas e de minorias.

Claro, o leitor é bastante abastecido com a visão do bilionário, o que levanta dúvidas sobre o quão mais crítico Isaacson poderia ter sido. Biografias com biografados vivos sempre são mais delicadas — imagina se indispor com o homem mais rico e poderoso dos dias atuais?

Para a biografia, o jornalista explica que, nos dois anos de entrevistas e de apuração, Musk nunca pediu para ler o material antes da publicação.

Elon Musk e Steve Jobs

Apesar de toda grandeza que Musk parece atrair, o livro revela um personagem de habilidades sociais limitadas, suscetível a mudanças bruscas de humor, e carregado de traumas, abusos e teimosias — e costuma ser cruel não apenas com funcionários, mas com amigos e companheiras.

Esses comportamentos não são santificados por Isaacson. Nesse aspecto, o jornalista parece uma escolha perfeita para ser o biógrafo de Musk, já que está acostumado a figuras controversas da tecnologia.

Gênio, Steve Jobs burlava regras, assediava moralmente seus funcionários, acuava executivos e negava a paternidade da filha nos anos 1980 — e tudo isso é relatado na biografia do fundador da Apple, lançada em 2011.

De fato, o autor parece adorar a comparação entre os dois empresários. A começar pela capa, cujo retrato de Musk simula a pose de Jobs, bem como a tipografia da edição. Ainda, o livro abre com uma frase célebre do pai do iPhone: “As pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são as que de fato o mudam”. Em seguida, outras 20 citações ao nome dele são feitas ao longo da obra.

Biografia sobre Steve Jobs escrita por Walter Isaacson foi lançada 19 dias depois da morte do fundador da Apple, em outubro de 2011 Foto: Reprodução

“Portanto, a pergunta sobre Elon Musk é: poderia ele ser mais tranquilo e ainda ser a pessoa que está nos levando a Marte e a um futuro com veículos elétricos?”, questiona Isaacson no prólogo do livro após relatar que fez a mesma pergunta durante a apuração da obra sobre Jobs.

Até a conclusão da biografia, os maiores sonhos de Musk ainda não foram concretizados: levar a Humanidade a Marte e desenvolver uma inteligência artificial geral “do bem”. Mas pequenos grandes passos já foram dados — e é essa a história contada nesta biografia.

“Às vezes, grandes inovadores são homens com jeito de criança, que gostam de correr grandes riscos e resistem ao peniquinho. Eles podem ser imprudentes, causar vergonha alheia e até ser tóxicos. Podem ser loucos também. Loucos o suficiente para achar que podem mudar o mundo”, escreve Isaacson na última passagem do livro.

Ainda que humanos jamais pisem em Marte e que o despertar das máquinas nunca vire realidade, Elon Musk é uma ótima foto do momento - e o caos de todo o processo - em que parecia que isso seria diferente.

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