Um dos maiores atrativos do YouTube é que nele qualquer um pode se tornar famoso. Não é preciso paparicar intermediários, agentes ou executivos de televisão. Estrelas podem surgir do nada. E surgem.
A mais recente lista da revista Forbes dos mais ricos do YouTube é a prova: está cheia de gente que posta clipes sobre como jogar videogames e até mesmo de crianças brincando. No topo da lista está Daniel Middleton, conhecido como DanTDB, um inglês de 26 anos que ganhou US$ 16,5 milhões no ano passado como jogador profissional de games.
Entretanto, um novo estudo descobriu que a possibilidade de se ficar rico com o YouTube, ou mesmo ganhar modestamente a vida nele, é desanimadoramente pequena.
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Chegar aos 3,5% dos canais mais vistos do YouTube - o que significa atingir um mínimo de 1 milhão de visualizações por mês – rende apenas de US$ 12 mil a US$ 16 mil (entre R$ 42 mil e R$ 56 mil ao ano) de faturamento anual com anúncios, segundo o estudo de Mathias Bartl, professor da Universidade Offenburg de Ciências Aplicadas, da Alemanha. O levantamento feito por Bartl é um dos primeiros a examinar dados do YouTube atrás de indícios de como ele funciona para criadores de conteúdo.
Bartl descobriu que está cada vez mais difícil chegar ao topo, uma vez que a cada minuto, 300 novas horas de vídeo são enviadas aos servidores do YouTube. Além disso, as grandes estrelas têm cada vez mais sucesso. A média de visualizações por vídeo caiu para 89 em 2016, de 10.262 uma década antes.
Ao mesmo tempo, os maiores canais do YouTube estão engolindo mais espectadores. Os 3% de canais do topo ficavam com mais de 64% das visitas em 2006. Uma década depois, eles ficam com 90%.
O YouTube ainda não respondeu a um pedido para comentar o estudo.
Adeus, cauda longa. O que está acontecendo no YouTube, na verdade, acontece em toda a internet, onde criadores estão descobrindo que as probabilidades de sucesso no mundo online não são muito diferentes daquelas na vida real, Na verdade, podem até ser piores – negando uma popular teoria do início da internet, a da Cauda Longa. Cunhada pelo ex-editor da revista Wired Chris Anderson, ela dizia que produtos de nicho conseguiriam finalmente achar seu espaço e sobreviver mercadologicamente falando na rede.
Em música, serviços de streaming como Spotify e Apple Music favorecem principalmente os superastros. Ninguém precisa mais brigar com uma gravadora para ter sua música distribuída, mas conseguir ouvintes é outra história. Menos de 1% das canções respondem por 86% da música escutada no ano passado, segundo a empresa de pesquisa de mercado Nielsen.
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E, uma vez que hoje ninguém mais compra música, mesmo para render pouco dinheiro no streaming, canções têm de ser tocadas milhões de vezes. Os mais prejudicados são os artistas intermediários, que antes conseguiam faturar razoavelmente vendendo milhares de álbuns por ano e excursionando pelo país mesmo sem nunca ter chegado a fazer grande sucesso. Cada vez mais, esses artistas têm duas opções: ou viralizam, ou abandonam a carreira.
Na televisão, há tantos programas novos que ninguém consegue assistir a todos. Quase 500 séries originais foram ao ar no ano passado. As redes tradicionais de TV estão sendo desafiadas pela TV a cabo e pelos serviços de streaming. Isso levou a inúmeras novas oportunidades para atores e roteiristas. Mas a nova era enfrenta desafios diferentes, incluindo temporadas mais curtas e horários menos previsíveis que dificultam que muitos espectadores consigam acompanhar algo até o fim.
Problemas. A acirrada competição entre criadores no YouTube também gera problemas.
Em fevereiro, o YouTube suspendeu todos os anúncios em canais de Logan Paul, um de seus maiores astros, após uma série de controvérsias que incluíam vídeos feitos por ele numa chamada “floresta dos suicidas” do Japão e de piadas sobre comer cápsulas do detergente Tide.
Outro astro, Felix Kjellberg, conhecido como PewDiePie, fez piadas racistas e antissemitas em alguns de seus games. Ele foi excluído do lucrativo serviço de anúncios do Google para vídeos de alto desempenho e sua planejada série no canal pago YouTube Red foi cancelada.
Agora, o YouTube está adotando medidas que tornam ainda mais difícil a vida dos criadores de menor sucesso. Recentemente, a empresa decidiu que os canais têm de ter atingido pelo menos mil inscritos e 4 mil horas de visualização nos 12 meses anteriores para começarem a receber dinheiro de anúncios. Segundo o YouTube, a mudança visa a desestimular vídeos com conteúdo problemático ou ofensivo, e apenas “um número insignificante de canais” seria afetado por ela.
O estudo de Bartl ainda dá alguma esperança para aspirantes ao YouTube, com dicas de como aumentar as chances de sucesso financeiro. O YouTube oferece 18 categorias de estilo, e selecionar a certa significa uma “previsão altamente significativa de sucesso num canal”, escreveu Bartls. As categorias mais populares através da última década foram de vídeos de entretenimento, com 24% de todas as visualizações, seguidos de música e games.
Mas as chances de um canal no YouTube chegar aos rarefeitos 3% do topo são melhores para outras áreas, como comédias; entretenimento; “como fazer” e estilo; e games. São piores para: esportes; educação; atividades não lucrativas e ativismo; e pessoas e blogs.
Bartl também assinalou que os altos escalões do YouTube ainda usam uma mistura de vídeos profissionais e vídeos gerados por usuários, concluindo que isso “dá esperanças de que a retórica do‘divulgue-se a si mesmo’ do YouTube não seja uma ficção completa”. /TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ