THE NEW YORK TIMES - Myuri Thiruna, uma fotógrafa freelancer de Toronto, Canadá, costumava postar com frequência no Instagram e discutir fotografia com outros usuários. Mas ela disse que havia parado há dois anos, sentindo-se “esgotada” pelas demandas da rede social e pela busca de seguidores e tendências.
Então, em julho, Thiruna descobriu a Can of Soup, uma nova rede social somente para convidados onde os usuários fazem imagens fantásticas de si mesmas com inteligência artificial (IA) e compartilham com outras pessoas. Entusiasmada com essas habilidades, ela criou imagens de IA que a mostravam sentada em um unicórnio flutuando em um oceano e vestindo uma jaqueta feita de Froot Loops.
Thiruna, 33 anos, também comentava as publicações de outros usuários, conversando com eles e criando imagens juntos. Ela agora passa até cinco horas por dia interagindo com outras pessoas no aplicativo, disse ela.
“Conheci muitas pessoas nesse aplicativo que eu não conhecia antes e isso vai além de apenas postar e receber curtidas”, disse ela. “É essa conexão significativa com as pessoas e também ser inspirado pelo que elas estão fazendo.”
Os aplicativos de redes sociais estão começando a integrar a IA em seus recursos de imagem para tornar suas plataformas mais sociais. Depois que o Facebook, o Instagram e outros aplicativos se tornaram mais corporativos ao longo dos anos, as imagens de IA representam uma forma de trazer de volta o capricho e a diversão para que os usuários possam redescobrir o que antes era o objetivo das plataformas: compartilhar e interagir uns com os outros.
Grandes plataformas sociais e novos aplicativos estão incorporando recursos de imagem de IA. No mês passado, o Snapchat anunciou o Dreams, um recurso de imagem de IA que permite que os usuários da Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia criem fotos bizarras. No ano passado, o TikTok lançou vários filtros no aplicativo que usam a IA para transformar selfies no estilo de uma história em quadrinhos ou de um personagem onírico. O BeFake, um aplicativo social lançado em agosto, também está fazendo experiências com selfies e imagens com IA.
Em setembro, a Meta, dona do Facebook, Instagram, WhatsApp e Messenger, também entrou na onda. A proprietária dos aplicativos disse que os serviços agora ofereceriam ferramentas de IA para gerar instantaneamente figurinhas fotorrealistas, que podem ser compartilhadas. A companhia de Mark Zuckerberg acrescentou que introduziria ferramentas semelhantes para editar e remodelar imagens existentes. Essas ferramentas poderiam colocar botas de caubói em dois bebês em uma foto de família, por exemplo.
“Você pode gerar imagens dentro de seus bate-papos”, disse Ahmad Al-Dahle, vice-presidente de IA generativa da Meta. Enquanto a maioria das ferramentas de geração de imagens precisa de 10 a 20 segundos para criar uma imagem, acrescentou ele, a nova ferramenta da empresa precisa de apenas cinco.
Tendência
O número crescente de ferramentas de imagens de IA em vários aplicativos destaca como “o uso interativo da IA é o caminho que as redes sociais seguirão”, disse Sam Saliba, que foi líder global de marketing de marca do Instagram e agora é consultor de marketing e marca no Vale do Silício.
A tendência leva as imagens feitas com a tecnologia mais longe do que os apps. Esses aplicativos incluíam o Lensa AI — que permitia que as pessoas criassem selfies de IA em estilos como “cósmico”, “princesa das fadas” e “anime” — bem como Remini, Snow e Wombo. O interesse por esses aplicativos atingiu o pico em meados de dezembro do ano passado e, desde então, os downloads diminuíram, de acordo com a empresa de inteligência de mercado Apptopia.
Ben-Zion Benkhin, fundador da Wombo, disse que muitas pessoas não aderiram aos aplicativos de IA que eram apenas uma “ferramenta de criação” e que não permitiam que os usuários conversassem uns com os outros sobre o que haviam produzido.
“Todos esses aplicativos são muito limitados”, disse ele. A adição de redes sociais, segundo ele, “conecta você a outras pessoas”.
Essa compreensão ajudou a impulsionar novos aplicativos como o BeFake, que combinou recursos de imagem de IA com socialização e compartilhamento. O BeFake solicita que os usuários tirem uma foto em um horário diferente todos os dias com as câmeras frontal e traseira do smartphone e, em seguida, a IA transforma a imagem.
Os usuários precisam compartilhar suas publicações antes de ver os conteúdos de outras pessoas. O conceito foi emprestado do BeReal, um aplicativo de compartilhamento de fotos que tem sido popular entre os usuários jovens.
O BeFake conecta as pessoas por meio de sua criatividade, disse Kristen Garcia Dumont, uma das fundadoras do app. “O que isso significa para cada pessoa é único e intrigante, e você pode explorar isso com quem quiser no aplicativo”, disse ela.
A empresa controladora da BeFake arrecadou US$ 3 milhões e o aplicativo tem dezenas de milhares de usuários, disseram Dumont e sua cofundadora, Tracy Lane.
Hayley Fligel, 17 anos, estudante do ensino médio em Burlingame, Califórnia, disse que começou a usar o BeFake em julho depois que uma amiga a convidou para participar. É diferente de aplicativos como Snapchat, TikTok e Instagram, que são estressantes porque “se você quiser tirar fotos ou fazer vídeos de si mesmo, precisa se preparar, se vestir e estar fazendo alguma coisa ou ter um fundo bonito ao seu redor”, disse ela.
Ela disse que poderia usar a IA no BeFake para se parecer com Taylor Swift ou parecer que estava jogando vôlei, o que mostra “um trecho mais pessoal de quem você é”. Embora raramente interaja com outras pessoas no Instagram, ela disse que comenta as publicações de seus amigos no BeFake e navega em um feed para se inspirar em outras publicações.
Gabriel Birnbaum, que criou o Can of Soup com Eric Meier em maio, disse que o objetivo era incentivar a criação e a diversão. “É um aplicativo em que você passa tempo com seus amigos”, disse ele.
Desde então, disse ele, tem visto muitos momentos criativos e sociais acontecerem no aplicativo. Em particular, um recurso chamado Stir — que permite que os usuários se coloquem em cenários criados por outra pessoa — compõe uma em cada quatro postagens na plataforma, disse Birnbaum, com as pessoas se inserindo em uma imagem de Einstein dentro de um buraco negro no espaço, por exemplo.
Birnbaum, que se recusou a revelar o financiamento e o número de usuários do Can of Soup, disse que não planejava lançar o aplicativo amplamente até que ele tivesse a “confiança e segurança certas”, com usuários confortáveis com o conteúdo e com quem eles criam fotos.
“Gosto do aspecto da criação e das pessoas que gostam do meu trabalho e interagem com ele”, disse Alex Rosenblatt, 35 anos, de São Francisco, que usa o Can of Soup desde junho. “A maioria das minhas interações nele é com pessoas que não conheço, na verdade.” /TRADUÇÃO POR ALICE LABATE