No século passado, o cinema foi revolucionado pela chegada da TV. Posteriormente, os celulares e tablets mudaram onde o conteúdo audiovisual é consumido. Em 2023, a moda entre os mais jovens é trocar tudo isso por miniprojetores de imagem - movimento que ganhou um empurrãozinho do TikTok, claro.
“Nunca tive televisão na minha casa, não costumo ver TV aberta, assistia streaming pelo monitor, mas em agosto ganhei de aniversário um projetor da marca Vankyo e mudou minha vida”, diz a redatora publicitária Julya Vendite, 29. “Até desisti de comprar uma televisão. Por enquanto, o projetor está me servindo muito bem”, diz ela.
Normalmente associados ao mundo corporativo, os projetores de imagem ganharam um banho de loja recentemente. Eles ficaram menores e ganharam visual mais atraente, o que fez os miniprojetores virarem uma subcategoria no portfólio das marcas.
A Samsung foi uma das primeiras empresas a comercializar aparelhos do tipo, ao lançar em abril do ano passado o Freestyle, que chegou com preço de R$ 4 mil. No entanto, foi só a partir de outubro deste ano que a “febre dos mini projetores” começou, segundo dados Google Trends, que mede o interesse por assuntos pesquisados no buscador.
Tendência no TikTok
Logo que o Freestyle foi lançado, a marca fez parceria com influenciadores digitais para divulgar o miniprojetor nas redes. “Toda a nossa campanha foi voltada para a Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012), nas redes sociais, mas, querendo ou não, acabou atingindo também a Geração Millennial (nascidos entre 1982 e 1996)”, explica Guilherme Campos, diretor de TVs da Samsung Brasil.
No entanto, foi no TikTok que a moda começou a pegar. Em novembro deste ano, a hashtag “projector”, em inglês, já acumulou mais de 1,8 bilhão de visualizações, enquanto aqui no Brasil, as versões “projetor” e “mini projetor” atraíram mais de 110,4 milhões e 56,1 milhões de visualizações, respectivamente.
A influenciadora digital, Samira Soma, 33, comprou um mini projetor recentemente e tem vídeos em seu TikTok e Instagram mostrando como ele funciona - ela já acumulou mais de 63,8 mil visualizações. “Eu já tenho uma TV em casa, comprei o aparelho mais pela estética de ter um projetor. Uso mais ou menos uma vez por semana”, disse, “uso bastante para ver filmes e séries, acho ele muito bom”.
Quem também comprou um miniprojetor após descobrir o gadget no TikTok foi a estudante de audiovisual Sarah Holtz, 19. “Eu já tinha visto esses mini projetores nas redes sociais e me interessado, então, quando eu fui comprar um pra mim, assisti várias resenhas no TikTok até decidir qual seria o melhor modelo”, diz.
Sarah Holtz, estudante de audiovisual
Preço e tamanho são atrativos
Conforme a popularidade dos miniprojetores foi aumentando nas redes sociais, marcas chinesas desconhecidas passaram a surfar a onda em marketplaces, como Shopee e Amazon. Em ambos sites, é possível encontrar modelos chineses entre R$ 200 e R$ 700.
Ao Estadão, a Shopee indicou que “no mês de outubro em comparação com o mês de setembro, observamos um aumento nas buscas de mais de 80% por mini projetores”. Além disso, a plataforma registrou mais de 40% de crescimento nas vendas desse produto.
A Amazon também relatou que, neste mês, houve crescimento de 300% nas vendas de miniprojetores em relação a novembro do ano passado. Mas diz que as marcas mais procuradas são mais conhecidas, como Epson, BenQ, Multi e Samsung.
No entanto, no Google Trends, o termo que disparou em interesse do público neste mês de novembro foi “projetor hy300″, aparelho da Magicubic, “clone” chinês dos mini projetores da Samsung.
“Eu comprei o miniprojetor da Magicubic pela Amazon por R$ 340″, diz Sarah. “Me mudei para São Paulo há 11 meses para fazer faculdade e peguei um studio de aluguel. Eu não tenho TV e nem estava pensando em comprar uma porque são caras e eu sou estudante. Eu nem teria espaço para colocar uma em casa. O projetor foi bem mais em conta e uso todo dia”, conta.
Já Samira comprou o mini projetor modelo Hongtop S30 por R$ 650 na Shopee. “A compra valeu a pena”, concluiu. O preço baixo, quando comparado a TVs, tem pesado tanto quanto os vídeos no TikTok.
Ricardo Moura, diretor de market intelligence da consultoria GfK, explica que o valor médio de uma TV no Brasil fica entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil. Apesar disso, aparelhos maiores, com mais de 40 polegadas, e de marcas mais conhecidas, acabam custando mais do que isso.
Assim, por um valor baixo, é possível obter uma “tela maior”, já que os equipamentos costumam ocupar grandes espaços suas projeções. “Agora tenho até que me acostumar com as telas das TVs, porque a do miniprojetor é muito maior, ocupa uma parede inteira”, diz Julya, “Quando vou na casa dos meus amigos com televisão, acho estranho: a tela parece que ficou pequena”.
Por fim, outro aspecto que atrai o público é justamente o tamanho dos projetores, que pesam menos de 1 kg, e permite que sejam transportados para qualquer lugar, além de muitos virem com acesso à internet e apps de streaming e de jogos.
Desvantagens
Apesar das vantagens como peso, preço e tamanho da projeção, os miniprojetores também tem seus defeitos. Sarah e Julya mencionaram que a qualidade do som de seus projetores não é das melhores. “O som não é bom”, afirma Sarah. “Eu tive que conectar à minha Alexa para o som sair por lá, porque se sair direto fica muito baixo”.
Para quem se interessou por um desses na Black Friday, outra questão a ser considerada é a durabilidade desses aparelhos, que é bem menor do que a de uma televisão. “Se uma pessoa tem condições de ter uma TV, tem espaço e tem a quantia em dinheiro, vale mais a pena comprar uma TV do que um projetor, levando em conta a qualidade de imagem e de som e a durabilidade do produto”, explica Renato Franzin, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
O Freestyle de segunda geração, por exemplo, tem LED com durabilidade de aproximadamente 10 anos (considerando uso de oito horas por dia), garantia de um ano e capacidade de fazer projeções entre 30 e 100 polegadas. Já a Smart TV Crystal 4K de 85 polegadas, também da Samsung, dura, em média, 15 anos (considerando uso de oito horas por dia) - a garantia também é de um ano. É uma troca que só pode fazer sentido do ponto de vista econômico.
Campos, da Samsung, acredita que o miniprojetor da sua marca não tem sido usado como uma substituição à TV, mas como um segundo aparelho de vídeo. “A grande maioria dos consumidores usa o Freestyle como complementar à TV. Muitas vezes a pessoa já tem uma TV na sala e coloca o projetor no quarto, ou usa para levar para outros lugares”, explicou.
Para Franzin, a realidade é clara: “acho que nunca vamos poder dizer que os projetores vão substituir totalmente as televisões, exceto se valer da demanda da pessoa”.
*Alice Labate é estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani