Se não houver um grande acontecimento, Jair Bolsonaro será o primeiro presidente a não conseguir se reeleger desde que a possibilidade existe. E as pesquisas vêm se confirmando uma eleição presidencial após a outra.
A campanha de desinformação foi intensa este ano como o foi em 2018. Há quatro anos, porém, teve sucesso. Agora, o presidente luta para que sua derrota não seja humilhante a ponto de sequer haver segundo turno. O que mudou?
Uma hipótese é que a realidade se impôs. As fake news e a agressividade nas redes não se impuseram perante dois desastres. A fome e a irresponsabilidade ao lidar com a covid.
O que a ciência política vem nos ensinando é que populistas autoritários como Bolsonaro não costumam ser derrotados.
Em seu primeiro mandato, deixam políticos tradicionais desnorteados e eleitores em transe. Não é que governem bem, mas a incapacidade da gestão não costuma ser percebida perante a ilusão de que a máquina do Estado não os permite trabalhar. E Bolsonaro fez e faz este discurso.
No segundo mandato, começam a desmontar as proteções aos direitos individuais, atacam os Três Poderes, tornam-se ditadores de fato num regime com o verniz de eleições regulares. Foi assim na Venezuela, como foi na Hungria. Só um destes não conseguiu a reeleição: Donald Trump, nos EUA. Bolsonaro deve ser o segundo. O que os dois têm em comum é o fato de terem enfrentado no primeiro mandato a covid. Ambos reagiram negando a ciência, culpando os outros. E com nenhuma empatia.
Há outra semelhança, confirmando-se a eleição Lula. Os dois países terão escolhido para substituir o autoritário políticos tradicionais, há tantas décadas no cenário que completarão no cargo 80 anos. Democracias não costumam eleger presidentes tão idosos. Partindo do princípio de que há um padrão, a explicação pode ser que a realidade se impôs.
Perante o completo desastre dos governos, os eleitores talvez tenham buscado a opção mais previsível. Políticos velhos cujos defeitos e qualidades são conhecidos.
Mas isso não quer dizer que a máquina de desinformação tenha perdido seus dentes. Nos EUA, o Partido Republicano segue capturado pelo trumpismo. Sem um de seus dois partidos compromissado com a democracia, os americanos continuam num ambiente político disfuncional.
Bolsonaro não terá um partido, mas terá mais de 30% dos votos, em se confirmando as pesquisas. E terá uma máquina digital de comunicação. É suficiente para se manter um agitador radical que não deixa o Brasil em paz?