Mecanismo de busca do Google está pior? Entenda o que acontece com o serviço


Em meio a reclamações e novos rivais, empresa implementa mudanças em sua principal ferramenta

Por Bruna Arimathea
Atualização:

Há 25 anos, as dúvidas da humanidade têm sido sanadas pelo Google. Mas, nos últimos tempos, a principal ferramenta de buscas parece não funcionar tão bem como antes. Usuários passaram a reclamar enquanto surgiam concorrentes improváveis, como o TikTok e o ChatGPT. Nesse novo momento, a companhia passou a buscar melhorias para afastar a ideia de que o seu principal produto piorou.

Há alguns meses, usuários passaram a relatar o que consideram uma queda no mais famoso sistema de busca da internet. As principais reclamações são que os primeiros resultados de pesquisa não entregam links certeiros: geralmente, as primeiras linhas do buscador trazem links patrocinados, vídeos e cards de perguntas.

“Mesmo utilizando palavras-chave, tenho tido dificuldade de encontrar referências acadêmicas que antes apareciam mais facilmente. Na hora de fazer pesquisas sempre aparecem resultados parecidos (mesmos sites) e pouco espaço para indicações de algo mais diversificado”, explica a professora Millena Farias, 36.

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No X (antigo Twitter), o usuário @lucasfelix também é um dos que percebeu a mudança nos resultados de busca. “(o site) parece querer priorizar resultados recentes na marra, talvez pelo perfil de consumo de notícias, mas nem isso faz bem”, afirmou. Em outra publicação, o perfil @barbaara__ disse que os algoritmos estão priorizando conteúdos mais “fabricados” em vez dos resultados orgânicos.

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A percepção dos usuários não é um ponto fora da curva, segundo Fernando Meirelles, professor da Escola de Administração de Empresas da FGV. Para ele, os resultados de busca realmente estão diferentes do que costumavam ser.

“Houve uma piora nos últimos dois anos. Ela é muito sutil, mas houve. Ou seja, houve um aumento na prioridade dos algoritmos para os anúncios. Talvez a busca tenha que ser cada vez mais instantânea e, para isso, o algoritmo precisa ser mais simples”, explica Meirelles.

O algoritmo usado no motor de buscas do Google, e suas eventuais mudanças, sempre foi “secreto” - é a “fórmula da Coca-Cola” da gigante. No entanto, ao longo dos anos, a receita sempre se manteve mais ou menos a mesma: quanto mais uma página é citada, maior será a sua relevância, o que faz com que ela apareça melhor e com mais frequência nos resultados. A reclamação atual é que os resultados relevantes estão enterrados no índice.

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Para a reportagem, o Google afirma que sabe que as buscas podem melhorar, mas que tem uma abordagem meticulosa para medir a qualidade da busca, além de fazer refinamentos para garantir a melhoria contínua da qualidade dos resultados. “Nossas métricas internas nos mostram que estamos conseguindo”, diz a nota da empresa.

Carro-chefe

Atualmente, o mecanismo de pesquisa representa a maior fatia do faturamento da empresa, com cerca de 58% da receita total — no último trimestre, a área cresceu 11% e faturou US$ 39,5 bilhões. A representação no mercado também é bastante grande: cerca de 90% do ecossistema de buscas é dominado pelo Google e já são mais de 8 bilhões de pesquisas diárias feitas na plataforma, de acordo com um levantamento divulgado pela empresa de pesquisas Hubspot.

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Com os números gigantes, a empresa enfrenta duas situações com o mecanismo de busca: ao mesmo tempo em que precisa olhar para o seu produto principal frente às demandas de usuários, a empresa está segura que seu mecanismo ainda não encontra concorrentes à altura no mercado.

Para quem cresceu com a internet dos anos 90/2000, talvez não faça sentido pensar em uma perda de hegemonia do Google. Mas pessoas mais novas, como a Geração Z, enxergam suas redes sociais bem além da interação com amigos ou trends do momento. O TikTok, por exemplo, tem crescido como motor de buscas entre jovens.

“Em nossos estudos, cerca de 40% dos jovens não vão ao mapa ou à ferramenta de busca do Google quando procuram onde almoçar. Eles vão ao TikTok ou ao Instagram”, disse Prabhakar Raghavan, executivo da gigante da tecnologia na área de conhecimento e informação, em evento organizado pela revista americana Fortune em julho de 2022. Segundo ele, as gerações mais novas querem conteúdo imersivo, com formatos “ricos”, como vídeos.

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É uma mudança importante na organização da aglutinação de conhecimento na internet, que está migrando de sites indexados na web. Com redes sociais e interações cada vez mais nichadas, as informações ficam registradas em plataformas onde o buscador “não chega”.

“Hoje, muito da interação orgânica das pessoas com a internet fica concentrada nas redes sociais. O conceito de construir uma teia de informações na web está caindo. As pessoas basicamente pararam de construir a web em sites abertos”, explica Fábio de Miranda, coordenador do curso de Ciência da Computação do Insper.

Sobre as novas formas de procurar conhecimento, a companhia diz: “Não existe apenas uma maneira pela qual as pessoas desejam interagir com as informações. Agora existem mais tipos de informação ao seu alcance do que nunca - em imagens, vídeo, áudio e texto - e a nossa capacidade de compreender todos os tipos de informação tem continuado a melhorar. Portanto, a maneira como abordamos o desenvolvimento da busca é primeiramente pensando nas necessidades do usuário e criando soluções que sejam úteis para eles”.

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Buscas no Google representam mais de 90% do mercado no setor, mas usuários relatam que o serviço está menos eficiente Foto: Andrew Kelly/Reuters

Domínio e adaptação

Apesar dos diferentes desafios no horizonte, analistas acreditam que o Google não deve se preocupar com as críticas por ainda ter o produto dominante no mercado. Para o analista Nikhil Lai, da Forrester, a dominância de mercado e a tradição do buscador ainda podem manter o site no topo por muito tempo.

“O Google está sempre preocupado com a precisão dos resultados que fornece, mas, em relação a outros mecanismos de pesquisa, a empresa tem a plena confiança dos consumidores”, afirma Lai. Mesmo assim, a gigante parece empenhada em se adaptar aos novos tempos.

Na quarta, 8, o Google incorporou um novo recurso chamado SGE (Search Generative Experience, em inglês), que gera respostas no topo da ferramenta da mesma maneira que o ChatGPT, o que representa uma mudança profunda no formato de lista de links indexados - em um primeiro momento, é uma ferramenta que deve ser ativada pelos usuários e não substitui o buscador como conhecemos.

Quando está ativo, o SGE gera respostas para as buscas a partir de diversos links indexados publicamente na rede, algo semelhante ao que fazem os chatbots inteligentes, que trabalham com os textos que compõem sua base de dados. Segundo o Google, os textos não serão copiados de sites, mas criados a partir dos conteúdos. Isso permitirá a ferramenta apresentar um panorama sobre os assuntos pesquisados.

O SGE vai sugerir também perguntas para que o diálogo continue ativo, caso o usuário tenha mais dúvidas - a ferramenta será capaz de entender o contexto das perguntas anteriores. Abaixo da caixa de diálogo, o Google vai continuar apresentando links úteis para pesquisa, como era anteriormente. Embora o Google não consiga precisar, esses sites são os mesmos usados na construção da resposta do SGE.

Tudo isso, claro, é uma tentativa de responder a chatbots inteligentes, como ChatGPT, que apareceram também como ameaça ao buscador.

Para Meireles, da FGV, esse é um sinal de que a gigante das buscas não perdeu nem a hegemonia nem o conhecimento sobre como fornecer uma plataforma de buscas. Agora, é uma questão de afinar as ferramentas para se adaptar às novas demandas do mercado consumidor de internet no mundo.

“O Google sempre simplificou o algoritmo para dar conta da demanda. E eu acho que essa simplificação vai, com o tempo e inteligência artificial, ficar melhor do que era antes. Mas vai levar tempo”, aponta Meirelles.

Há 25 anos, as dúvidas da humanidade têm sido sanadas pelo Google. Mas, nos últimos tempos, a principal ferramenta de buscas parece não funcionar tão bem como antes. Usuários passaram a reclamar enquanto surgiam concorrentes improváveis, como o TikTok e o ChatGPT. Nesse novo momento, a companhia passou a buscar melhorias para afastar a ideia de que o seu principal produto piorou.

Há alguns meses, usuários passaram a relatar o que consideram uma queda no mais famoso sistema de busca da internet. As principais reclamações são que os primeiros resultados de pesquisa não entregam links certeiros: geralmente, as primeiras linhas do buscador trazem links patrocinados, vídeos e cards de perguntas.

“Mesmo utilizando palavras-chave, tenho tido dificuldade de encontrar referências acadêmicas que antes apareciam mais facilmente. Na hora de fazer pesquisas sempre aparecem resultados parecidos (mesmos sites) e pouco espaço para indicações de algo mais diversificado”, explica a professora Millena Farias, 36.

No X (antigo Twitter), o usuário @lucasfelix também é um dos que percebeu a mudança nos resultados de busca. “(o site) parece querer priorizar resultados recentes na marra, talvez pelo perfil de consumo de notícias, mas nem isso faz bem”, afirmou. Em outra publicação, o perfil @barbaara__ disse que os algoritmos estão priorizando conteúdos mais “fabricados” em vez dos resultados orgânicos.

A percepção dos usuários não é um ponto fora da curva, segundo Fernando Meirelles, professor da Escola de Administração de Empresas da FGV. Para ele, os resultados de busca realmente estão diferentes do que costumavam ser.

“Houve uma piora nos últimos dois anos. Ela é muito sutil, mas houve. Ou seja, houve um aumento na prioridade dos algoritmos para os anúncios. Talvez a busca tenha que ser cada vez mais instantânea e, para isso, o algoritmo precisa ser mais simples”, explica Meirelles.

O algoritmo usado no motor de buscas do Google, e suas eventuais mudanças, sempre foi “secreto” - é a “fórmula da Coca-Cola” da gigante. No entanto, ao longo dos anos, a receita sempre se manteve mais ou menos a mesma: quanto mais uma página é citada, maior será a sua relevância, o que faz com que ela apareça melhor e com mais frequência nos resultados. A reclamação atual é que os resultados relevantes estão enterrados no índice.

Para a reportagem, o Google afirma que sabe que as buscas podem melhorar, mas que tem uma abordagem meticulosa para medir a qualidade da busca, além de fazer refinamentos para garantir a melhoria contínua da qualidade dos resultados. “Nossas métricas internas nos mostram que estamos conseguindo”, diz a nota da empresa.

Carro-chefe

Atualmente, o mecanismo de pesquisa representa a maior fatia do faturamento da empresa, com cerca de 58% da receita total — no último trimestre, a área cresceu 11% e faturou US$ 39,5 bilhões. A representação no mercado também é bastante grande: cerca de 90% do ecossistema de buscas é dominado pelo Google e já são mais de 8 bilhões de pesquisas diárias feitas na plataforma, de acordo com um levantamento divulgado pela empresa de pesquisas Hubspot.

Com os números gigantes, a empresa enfrenta duas situações com o mecanismo de busca: ao mesmo tempo em que precisa olhar para o seu produto principal frente às demandas de usuários, a empresa está segura que seu mecanismo ainda não encontra concorrentes à altura no mercado.

Para quem cresceu com a internet dos anos 90/2000, talvez não faça sentido pensar em uma perda de hegemonia do Google. Mas pessoas mais novas, como a Geração Z, enxergam suas redes sociais bem além da interação com amigos ou trends do momento. O TikTok, por exemplo, tem crescido como motor de buscas entre jovens.

“Em nossos estudos, cerca de 40% dos jovens não vão ao mapa ou à ferramenta de busca do Google quando procuram onde almoçar. Eles vão ao TikTok ou ao Instagram”, disse Prabhakar Raghavan, executivo da gigante da tecnologia na área de conhecimento e informação, em evento organizado pela revista americana Fortune em julho de 2022. Segundo ele, as gerações mais novas querem conteúdo imersivo, com formatos “ricos”, como vídeos.

É uma mudança importante na organização da aglutinação de conhecimento na internet, que está migrando de sites indexados na web. Com redes sociais e interações cada vez mais nichadas, as informações ficam registradas em plataformas onde o buscador “não chega”.

“Hoje, muito da interação orgânica das pessoas com a internet fica concentrada nas redes sociais. O conceito de construir uma teia de informações na web está caindo. As pessoas basicamente pararam de construir a web em sites abertos”, explica Fábio de Miranda, coordenador do curso de Ciência da Computação do Insper.

Sobre as novas formas de procurar conhecimento, a companhia diz: “Não existe apenas uma maneira pela qual as pessoas desejam interagir com as informações. Agora existem mais tipos de informação ao seu alcance do que nunca - em imagens, vídeo, áudio e texto - e a nossa capacidade de compreender todos os tipos de informação tem continuado a melhorar. Portanto, a maneira como abordamos o desenvolvimento da busca é primeiramente pensando nas necessidades do usuário e criando soluções que sejam úteis para eles”.

Buscas no Google representam mais de 90% do mercado no setor, mas usuários relatam que o serviço está menos eficiente Foto: Andrew Kelly/Reuters

Domínio e adaptação

Apesar dos diferentes desafios no horizonte, analistas acreditam que o Google não deve se preocupar com as críticas por ainda ter o produto dominante no mercado. Para o analista Nikhil Lai, da Forrester, a dominância de mercado e a tradição do buscador ainda podem manter o site no topo por muito tempo.

“O Google está sempre preocupado com a precisão dos resultados que fornece, mas, em relação a outros mecanismos de pesquisa, a empresa tem a plena confiança dos consumidores”, afirma Lai. Mesmo assim, a gigante parece empenhada em se adaptar aos novos tempos.

Na quarta, 8, o Google incorporou um novo recurso chamado SGE (Search Generative Experience, em inglês), que gera respostas no topo da ferramenta da mesma maneira que o ChatGPT, o que representa uma mudança profunda no formato de lista de links indexados - em um primeiro momento, é uma ferramenta que deve ser ativada pelos usuários e não substitui o buscador como conhecemos.

Quando está ativo, o SGE gera respostas para as buscas a partir de diversos links indexados publicamente na rede, algo semelhante ao que fazem os chatbots inteligentes, que trabalham com os textos que compõem sua base de dados. Segundo o Google, os textos não serão copiados de sites, mas criados a partir dos conteúdos. Isso permitirá a ferramenta apresentar um panorama sobre os assuntos pesquisados.

O SGE vai sugerir também perguntas para que o diálogo continue ativo, caso o usuário tenha mais dúvidas - a ferramenta será capaz de entender o contexto das perguntas anteriores. Abaixo da caixa de diálogo, o Google vai continuar apresentando links úteis para pesquisa, como era anteriormente. Embora o Google não consiga precisar, esses sites são os mesmos usados na construção da resposta do SGE.

Tudo isso, claro, é uma tentativa de responder a chatbots inteligentes, como ChatGPT, que apareceram também como ameaça ao buscador.

Para Meireles, da FGV, esse é um sinal de que a gigante das buscas não perdeu nem a hegemonia nem o conhecimento sobre como fornecer uma plataforma de buscas. Agora, é uma questão de afinar as ferramentas para se adaptar às novas demandas do mercado consumidor de internet no mundo.

“O Google sempre simplificou o algoritmo para dar conta da demanda. E eu acho que essa simplificação vai, com o tempo e inteligência artificial, ficar melhor do que era antes. Mas vai levar tempo”, aponta Meirelles.

Há 25 anos, as dúvidas da humanidade têm sido sanadas pelo Google. Mas, nos últimos tempos, a principal ferramenta de buscas parece não funcionar tão bem como antes. Usuários passaram a reclamar enquanto surgiam concorrentes improváveis, como o TikTok e o ChatGPT. Nesse novo momento, a companhia passou a buscar melhorias para afastar a ideia de que o seu principal produto piorou.

Há alguns meses, usuários passaram a relatar o que consideram uma queda no mais famoso sistema de busca da internet. As principais reclamações são que os primeiros resultados de pesquisa não entregam links certeiros: geralmente, as primeiras linhas do buscador trazem links patrocinados, vídeos e cards de perguntas.

“Mesmo utilizando palavras-chave, tenho tido dificuldade de encontrar referências acadêmicas que antes apareciam mais facilmente. Na hora de fazer pesquisas sempre aparecem resultados parecidos (mesmos sites) e pouco espaço para indicações de algo mais diversificado”, explica a professora Millena Farias, 36.

No X (antigo Twitter), o usuário @lucasfelix também é um dos que percebeu a mudança nos resultados de busca. “(o site) parece querer priorizar resultados recentes na marra, talvez pelo perfil de consumo de notícias, mas nem isso faz bem”, afirmou. Em outra publicação, o perfil @barbaara__ disse que os algoritmos estão priorizando conteúdos mais “fabricados” em vez dos resultados orgânicos.

A percepção dos usuários não é um ponto fora da curva, segundo Fernando Meirelles, professor da Escola de Administração de Empresas da FGV. Para ele, os resultados de busca realmente estão diferentes do que costumavam ser.

“Houve uma piora nos últimos dois anos. Ela é muito sutil, mas houve. Ou seja, houve um aumento na prioridade dos algoritmos para os anúncios. Talvez a busca tenha que ser cada vez mais instantânea e, para isso, o algoritmo precisa ser mais simples”, explica Meirelles.

O algoritmo usado no motor de buscas do Google, e suas eventuais mudanças, sempre foi “secreto” - é a “fórmula da Coca-Cola” da gigante. No entanto, ao longo dos anos, a receita sempre se manteve mais ou menos a mesma: quanto mais uma página é citada, maior será a sua relevância, o que faz com que ela apareça melhor e com mais frequência nos resultados. A reclamação atual é que os resultados relevantes estão enterrados no índice.

Para a reportagem, o Google afirma que sabe que as buscas podem melhorar, mas que tem uma abordagem meticulosa para medir a qualidade da busca, além de fazer refinamentos para garantir a melhoria contínua da qualidade dos resultados. “Nossas métricas internas nos mostram que estamos conseguindo”, diz a nota da empresa.

Carro-chefe

Atualmente, o mecanismo de pesquisa representa a maior fatia do faturamento da empresa, com cerca de 58% da receita total — no último trimestre, a área cresceu 11% e faturou US$ 39,5 bilhões. A representação no mercado também é bastante grande: cerca de 90% do ecossistema de buscas é dominado pelo Google e já são mais de 8 bilhões de pesquisas diárias feitas na plataforma, de acordo com um levantamento divulgado pela empresa de pesquisas Hubspot.

Com os números gigantes, a empresa enfrenta duas situações com o mecanismo de busca: ao mesmo tempo em que precisa olhar para o seu produto principal frente às demandas de usuários, a empresa está segura que seu mecanismo ainda não encontra concorrentes à altura no mercado.

Para quem cresceu com a internet dos anos 90/2000, talvez não faça sentido pensar em uma perda de hegemonia do Google. Mas pessoas mais novas, como a Geração Z, enxergam suas redes sociais bem além da interação com amigos ou trends do momento. O TikTok, por exemplo, tem crescido como motor de buscas entre jovens.

“Em nossos estudos, cerca de 40% dos jovens não vão ao mapa ou à ferramenta de busca do Google quando procuram onde almoçar. Eles vão ao TikTok ou ao Instagram”, disse Prabhakar Raghavan, executivo da gigante da tecnologia na área de conhecimento e informação, em evento organizado pela revista americana Fortune em julho de 2022. Segundo ele, as gerações mais novas querem conteúdo imersivo, com formatos “ricos”, como vídeos.

É uma mudança importante na organização da aglutinação de conhecimento na internet, que está migrando de sites indexados na web. Com redes sociais e interações cada vez mais nichadas, as informações ficam registradas em plataformas onde o buscador “não chega”.

“Hoje, muito da interação orgânica das pessoas com a internet fica concentrada nas redes sociais. O conceito de construir uma teia de informações na web está caindo. As pessoas basicamente pararam de construir a web em sites abertos”, explica Fábio de Miranda, coordenador do curso de Ciência da Computação do Insper.

Sobre as novas formas de procurar conhecimento, a companhia diz: “Não existe apenas uma maneira pela qual as pessoas desejam interagir com as informações. Agora existem mais tipos de informação ao seu alcance do que nunca - em imagens, vídeo, áudio e texto - e a nossa capacidade de compreender todos os tipos de informação tem continuado a melhorar. Portanto, a maneira como abordamos o desenvolvimento da busca é primeiramente pensando nas necessidades do usuário e criando soluções que sejam úteis para eles”.

Buscas no Google representam mais de 90% do mercado no setor, mas usuários relatam que o serviço está menos eficiente Foto: Andrew Kelly/Reuters

Domínio e adaptação

Apesar dos diferentes desafios no horizonte, analistas acreditam que o Google não deve se preocupar com as críticas por ainda ter o produto dominante no mercado. Para o analista Nikhil Lai, da Forrester, a dominância de mercado e a tradição do buscador ainda podem manter o site no topo por muito tempo.

“O Google está sempre preocupado com a precisão dos resultados que fornece, mas, em relação a outros mecanismos de pesquisa, a empresa tem a plena confiança dos consumidores”, afirma Lai. Mesmo assim, a gigante parece empenhada em se adaptar aos novos tempos.

Na quarta, 8, o Google incorporou um novo recurso chamado SGE (Search Generative Experience, em inglês), que gera respostas no topo da ferramenta da mesma maneira que o ChatGPT, o que representa uma mudança profunda no formato de lista de links indexados - em um primeiro momento, é uma ferramenta que deve ser ativada pelos usuários e não substitui o buscador como conhecemos.

Quando está ativo, o SGE gera respostas para as buscas a partir de diversos links indexados publicamente na rede, algo semelhante ao que fazem os chatbots inteligentes, que trabalham com os textos que compõem sua base de dados. Segundo o Google, os textos não serão copiados de sites, mas criados a partir dos conteúdos. Isso permitirá a ferramenta apresentar um panorama sobre os assuntos pesquisados.

O SGE vai sugerir também perguntas para que o diálogo continue ativo, caso o usuário tenha mais dúvidas - a ferramenta será capaz de entender o contexto das perguntas anteriores. Abaixo da caixa de diálogo, o Google vai continuar apresentando links úteis para pesquisa, como era anteriormente. Embora o Google não consiga precisar, esses sites são os mesmos usados na construção da resposta do SGE.

Tudo isso, claro, é uma tentativa de responder a chatbots inteligentes, como ChatGPT, que apareceram também como ameaça ao buscador.

Para Meireles, da FGV, esse é um sinal de que a gigante das buscas não perdeu nem a hegemonia nem o conhecimento sobre como fornecer uma plataforma de buscas. Agora, é uma questão de afinar as ferramentas para se adaptar às novas demandas do mercado consumidor de internet no mundo.

“O Google sempre simplificou o algoritmo para dar conta da demanda. E eu acho que essa simplificação vai, com o tempo e inteligência artificial, ficar melhor do que era antes. Mas vai levar tempo”, aponta Meirelles.

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