Napster tinha um grande acervo, mas era um Velho Oeste digital


Programa que rompeu fronteira entre digital e analógico estava longe de ser apenas uma versão retrô do Spotify

Por Bruno Romani
Napster tinha grande acervo; na imagem, reprodução da interface do programa com músicas do Metallica usada em processo Foto: Reuters

Para muita gente, o Napster foi o primeiro gosto do impacto da internet no mundo real. Para mim, foi o início da minha transição do mundo analógico para o digital. Antes dele, baixar músicas em links espalhados pela web era uma experiência frustrante: nem sempre era possível achar o que eu procurava. Ao me conectar ao Napster, o horizonte se tornou infinito – não precisaria mais reservar pedidos de CDs para parentes e amigos em aniversário, Natal e amigo secreto. Como uma geração inteira, percebi que não precisaria mais pagar por música – nem pensar em R$ 40 por CD. 

Eu estava errado – até hoje gasto mensalmente com discos bem mais do que o orçamento permite. Mas o Napster conseguia reunir um grande acervo, de fato. Pode parecer uma versão retrô do Spotify, mas era bem mais complicado que isso: baixar arquivos mp3 por meio de conexão discada era um processo lento. Se você tivesse sorte, conseguiria baixar duas músicas por noite. Em casa, a internet só podia ser usada aos finais de semana a partir da meia-noite, pois a conexão discada significava pagar pelos pulsos telefônicos – e eu ainda tinha que dividir o tempo com as irmãs. Assim, em um bom final de semana, era possível sair com cinco canções baixadas. 

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Era preciso foco para ser produtivo. Nada de tentar discografias inteiras – o lance era ir apenas nas músicas mais conhecidas de cada artista ou naquelas que você realmente cortaria um braço para escutar. Era possível escolher arquivos com compressões (bitrate) diferentes – quanto mais comprimido, pior era a qualidade do áudio. Por outro lado, melhor a compressão, maior o tamanho do arquivo – e a espera para baixar. Dúvida cruel. Normalmente, eu escolhia arquivos em 128 kbps, o segundo pior tipo disponível. Atualmente, arquivos vendidos em lojas como o iTunes, ou transmitidos no Spotify estão em 320 kbps, a melhor bitrate possível em MP3. 

Havia mais dificuldades: se um usuário tentasse baixar uma música armazenada no meu PC, eu conseguia derrubar o download dele. E vice-versa. Então, não era incomum encontrar usuários sádicos que esperavam o arquivo atingir 99% para derrubar a transferência. Um novo download começava do zero – e não do ponto onde havia sido interrompido. Também existiam arquivos que eram nomeados errados de propósito – tentei Nirvana e recebi "Oxigênio", do Jota Quest. Tinha também as músicas que vinha só pela metade ou arquivos completamente corrompidos. Era um Velho Oeste digital.

Apesar disso, conseguia acumular algumas músicas e, de tempos em tempos, eu gravava fitinhas K7 para escutar no meu walkman a caminho da escola – sim, eu dei um jeito de conectar meu rádio na saída de áudio do PC para gravar as gloriosas mixtapes. Uma bela encruzilhada da minha vida entre analógico e digital.

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Em 2001, nos últimos meses de Napster, enquanto o programa estava sendo ferido de morte nos tribunais americanos, me mudei para os EUA. Tive a chance de viver algo alucinante: baixar música turbinado por uma conexão banda larga, algo espantoso para quem estava saindo das precárias conexões discadas do Brasil. Baixava discos inteiros em 10 segundos e já não dava mais conta nem de gravar as fitas K7. O último pacote de fitas da minha vida, comprado nos EUA, ficou intocado. Naquele ponto era impossível frear o poder da internet e não importava se o Napster tinha acabado. Eu já estava pronto para a música digital. 

Napster tinha grande acervo; na imagem, reprodução da interface do programa com músicas do Metallica usada em processo Foto: Reuters

Para muita gente, o Napster foi o primeiro gosto do impacto da internet no mundo real. Para mim, foi o início da minha transição do mundo analógico para o digital. Antes dele, baixar músicas em links espalhados pela web era uma experiência frustrante: nem sempre era possível achar o que eu procurava. Ao me conectar ao Napster, o horizonte se tornou infinito – não precisaria mais reservar pedidos de CDs para parentes e amigos em aniversário, Natal e amigo secreto. Como uma geração inteira, percebi que não precisaria mais pagar por música – nem pensar em R$ 40 por CD. 

Eu estava errado – até hoje gasto mensalmente com discos bem mais do que o orçamento permite. Mas o Napster conseguia reunir um grande acervo, de fato. Pode parecer uma versão retrô do Spotify, mas era bem mais complicado que isso: baixar arquivos mp3 por meio de conexão discada era um processo lento. Se você tivesse sorte, conseguiria baixar duas músicas por noite. Em casa, a internet só podia ser usada aos finais de semana a partir da meia-noite, pois a conexão discada significava pagar pelos pulsos telefônicos – e eu ainda tinha que dividir o tempo com as irmãs. Assim, em um bom final de semana, era possível sair com cinco canções baixadas. 

Era preciso foco para ser produtivo. Nada de tentar discografias inteiras – o lance era ir apenas nas músicas mais conhecidas de cada artista ou naquelas que você realmente cortaria um braço para escutar. Era possível escolher arquivos com compressões (bitrate) diferentes – quanto mais comprimido, pior era a qualidade do áudio. Por outro lado, melhor a compressão, maior o tamanho do arquivo – e a espera para baixar. Dúvida cruel. Normalmente, eu escolhia arquivos em 128 kbps, o segundo pior tipo disponível. Atualmente, arquivos vendidos em lojas como o iTunes, ou transmitidos no Spotify estão em 320 kbps, a melhor bitrate possível em MP3. 

Havia mais dificuldades: se um usuário tentasse baixar uma música armazenada no meu PC, eu conseguia derrubar o download dele. E vice-versa. Então, não era incomum encontrar usuários sádicos que esperavam o arquivo atingir 99% para derrubar a transferência. Um novo download começava do zero – e não do ponto onde havia sido interrompido. Também existiam arquivos que eram nomeados errados de propósito – tentei Nirvana e recebi "Oxigênio", do Jota Quest. Tinha também as músicas que vinha só pela metade ou arquivos completamente corrompidos. Era um Velho Oeste digital.

Apesar disso, conseguia acumular algumas músicas e, de tempos em tempos, eu gravava fitinhas K7 para escutar no meu walkman a caminho da escola – sim, eu dei um jeito de conectar meu rádio na saída de áudio do PC para gravar as gloriosas mixtapes. Uma bela encruzilhada da minha vida entre analógico e digital.

Em 2001, nos últimos meses de Napster, enquanto o programa estava sendo ferido de morte nos tribunais americanos, me mudei para os EUA. Tive a chance de viver algo alucinante: baixar música turbinado por uma conexão banda larga, algo espantoso para quem estava saindo das precárias conexões discadas do Brasil. Baixava discos inteiros em 10 segundos e já não dava mais conta nem de gravar as fitas K7. O último pacote de fitas da minha vida, comprado nos EUA, ficou intocado. Naquele ponto era impossível frear o poder da internet e não importava se o Napster tinha acabado. Eu já estava pronto para a música digital. 

Napster tinha grande acervo; na imagem, reprodução da interface do programa com músicas do Metallica usada em processo Foto: Reuters

Para muita gente, o Napster foi o primeiro gosto do impacto da internet no mundo real. Para mim, foi o início da minha transição do mundo analógico para o digital. Antes dele, baixar músicas em links espalhados pela web era uma experiência frustrante: nem sempre era possível achar o que eu procurava. Ao me conectar ao Napster, o horizonte se tornou infinito – não precisaria mais reservar pedidos de CDs para parentes e amigos em aniversário, Natal e amigo secreto. Como uma geração inteira, percebi que não precisaria mais pagar por música – nem pensar em R$ 40 por CD. 

Eu estava errado – até hoje gasto mensalmente com discos bem mais do que o orçamento permite. Mas o Napster conseguia reunir um grande acervo, de fato. Pode parecer uma versão retrô do Spotify, mas era bem mais complicado que isso: baixar arquivos mp3 por meio de conexão discada era um processo lento. Se você tivesse sorte, conseguiria baixar duas músicas por noite. Em casa, a internet só podia ser usada aos finais de semana a partir da meia-noite, pois a conexão discada significava pagar pelos pulsos telefônicos – e eu ainda tinha que dividir o tempo com as irmãs. Assim, em um bom final de semana, era possível sair com cinco canções baixadas. 

Era preciso foco para ser produtivo. Nada de tentar discografias inteiras – o lance era ir apenas nas músicas mais conhecidas de cada artista ou naquelas que você realmente cortaria um braço para escutar. Era possível escolher arquivos com compressões (bitrate) diferentes – quanto mais comprimido, pior era a qualidade do áudio. Por outro lado, melhor a compressão, maior o tamanho do arquivo – e a espera para baixar. Dúvida cruel. Normalmente, eu escolhia arquivos em 128 kbps, o segundo pior tipo disponível. Atualmente, arquivos vendidos em lojas como o iTunes, ou transmitidos no Spotify estão em 320 kbps, a melhor bitrate possível em MP3. 

Havia mais dificuldades: se um usuário tentasse baixar uma música armazenada no meu PC, eu conseguia derrubar o download dele. E vice-versa. Então, não era incomum encontrar usuários sádicos que esperavam o arquivo atingir 99% para derrubar a transferência. Um novo download começava do zero – e não do ponto onde havia sido interrompido. Também existiam arquivos que eram nomeados errados de propósito – tentei Nirvana e recebi "Oxigênio", do Jota Quest. Tinha também as músicas que vinha só pela metade ou arquivos completamente corrompidos. Era um Velho Oeste digital.

Apesar disso, conseguia acumular algumas músicas e, de tempos em tempos, eu gravava fitinhas K7 para escutar no meu walkman a caminho da escola – sim, eu dei um jeito de conectar meu rádio na saída de áudio do PC para gravar as gloriosas mixtapes. Uma bela encruzilhada da minha vida entre analógico e digital.

Em 2001, nos últimos meses de Napster, enquanto o programa estava sendo ferido de morte nos tribunais americanos, me mudei para os EUA. Tive a chance de viver algo alucinante: baixar música turbinado por uma conexão banda larga, algo espantoso para quem estava saindo das precárias conexões discadas do Brasil. Baixava discos inteiros em 10 segundos e já não dava mais conta nem de gravar as fitas K7. O último pacote de fitas da minha vida, comprado nos EUA, ficou intocado. Naquele ponto era impossível frear o poder da internet e não importava se o Napster tinha acabado. Eu já estava pronto para a música digital. 

Napster tinha grande acervo; na imagem, reprodução da interface do programa com músicas do Metallica usada em processo Foto: Reuters

Para muita gente, o Napster foi o primeiro gosto do impacto da internet no mundo real. Para mim, foi o início da minha transição do mundo analógico para o digital. Antes dele, baixar músicas em links espalhados pela web era uma experiência frustrante: nem sempre era possível achar o que eu procurava. Ao me conectar ao Napster, o horizonte se tornou infinito – não precisaria mais reservar pedidos de CDs para parentes e amigos em aniversário, Natal e amigo secreto. Como uma geração inteira, percebi que não precisaria mais pagar por música – nem pensar em R$ 40 por CD. 

Eu estava errado – até hoje gasto mensalmente com discos bem mais do que o orçamento permite. Mas o Napster conseguia reunir um grande acervo, de fato. Pode parecer uma versão retrô do Spotify, mas era bem mais complicado que isso: baixar arquivos mp3 por meio de conexão discada era um processo lento. Se você tivesse sorte, conseguiria baixar duas músicas por noite. Em casa, a internet só podia ser usada aos finais de semana a partir da meia-noite, pois a conexão discada significava pagar pelos pulsos telefônicos – e eu ainda tinha que dividir o tempo com as irmãs. Assim, em um bom final de semana, era possível sair com cinco canções baixadas. 

Era preciso foco para ser produtivo. Nada de tentar discografias inteiras – o lance era ir apenas nas músicas mais conhecidas de cada artista ou naquelas que você realmente cortaria um braço para escutar. Era possível escolher arquivos com compressões (bitrate) diferentes – quanto mais comprimido, pior era a qualidade do áudio. Por outro lado, melhor a compressão, maior o tamanho do arquivo – e a espera para baixar. Dúvida cruel. Normalmente, eu escolhia arquivos em 128 kbps, o segundo pior tipo disponível. Atualmente, arquivos vendidos em lojas como o iTunes, ou transmitidos no Spotify estão em 320 kbps, a melhor bitrate possível em MP3. 

Havia mais dificuldades: se um usuário tentasse baixar uma música armazenada no meu PC, eu conseguia derrubar o download dele. E vice-versa. Então, não era incomum encontrar usuários sádicos que esperavam o arquivo atingir 99% para derrubar a transferência. Um novo download começava do zero – e não do ponto onde havia sido interrompido. Também existiam arquivos que eram nomeados errados de propósito – tentei Nirvana e recebi "Oxigênio", do Jota Quest. Tinha também as músicas que vinha só pela metade ou arquivos completamente corrompidos. Era um Velho Oeste digital.

Apesar disso, conseguia acumular algumas músicas e, de tempos em tempos, eu gravava fitinhas K7 para escutar no meu walkman a caminho da escola – sim, eu dei um jeito de conectar meu rádio na saída de áudio do PC para gravar as gloriosas mixtapes. Uma bela encruzilhada da minha vida entre analógico e digital.

Em 2001, nos últimos meses de Napster, enquanto o programa estava sendo ferido de morte nos tribunais americanos, me mudei para os EUA. Tive a chance de viver algo alucinante: baixar música turbinado por uma conexão banda larga, algo espantoso para quem estava saindo das precárias conexões discadas do Brasil. Baixava discos inteiros em 10 segundos e já não dava mais conta nem de gravar as fitas K7. O último pacote de fitas da minha vida, comprado nos EUA, ficou intocado. Naquele ponto era impossível frear o poder da internet e não importava se o Napster tinha acabado. Eu já estava pronto para a música digital. 

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