Nos EUA, a onda nos apps de namoro é procurar um relacionamento sério


Antecipando os meses horríveis que estão por vir, americanos estão de olho em compromisso com uma vontade que alguns especialistas dizem que nunca viram

Por Jonah Engel Bromwich e Sandra E. Garcia
Uma pesquisa mostrou que55% dos usuários de app de namoro estavam procurando novos relacionamentos mais do que antes da pandemia Foto: Akhtar Soomro/Reuters

Não deve ser surpresa que o coronavírus mudou o jeito de marcar encontros nos Estados Unidos. Muitos especialistas – e os próprios solteiros – dizem que as pessoas interessadas estão cada vez mais propensas a formar casais, a baixar seus padrões e a fazer o que podem para encontrar uma companhia para enfrentar o que vem pela frente. Esse desejo por companhia está particularmente pronunciado nos aplicativos de encontros, que viram o engajamento do usuário aumentar nos últimos meses.

O aplicativo Hinge, que se vende como um app que ajudará a achar relacionamentos duradouros, relatou que sua receita triplicou com relação ao mesmo período do ano passado. A maior parte do faturamento do app, que pertence ao Match Group, também dono do Tinder, vem de assinaturas e recursos pagos. Pesquisas de usuários indicam que 69% dos usuários do aplicativo estão “pensando mais na pessoa que realmente procuram” e 50% dizem que “não estão mais correndo atrás das pessoas que não estão interessadas neles”.

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“Acho que às vezes os aplicativos de namoro podem nos dar uma noção inflada de quem está no nosso meio, porque vemos muita gente, mas acho que as pessoas estão ficando mais específicas e realistas em relação ao que querem”, disse Justin McLeod, fundador e CEO do Hinge.

Uma pesquisa com cerca de 2 mil usuários do aplicativo de encontros Match, conduzida entre julho e agosto e divulgada na terça-feira, mostrou que 59% dos solteiros estavam considerando uma gama maior de pessoas como parceiros em potencial e que 55% estavam procurando novos relacionamentos mais do que antes da pandemia.

A intensidade com que os solteiros estão procurando matches e batendo papo é visível em todos os aplicativos de namoro do Match Group, os quais incluem Tinder, OKCupid, Match.com, Hinge e Plenty of Fish. Amarnath Thombre, CEO do Match Group Americas, disse que as mensagens aumentaram de 30% a 40% na maioria dos aplicativos da empresa em comparação com o mesmo período do ano passado.

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Thombre disse que a propensão para encontrar companhia a partir dos meses mais frios (que, por mais de uma década, ficou conhecida como “temporada de conchinha”, termo que provavelmente teve origem em Nova York e chegou ao Twitter em 2008) sempre apareceu nos dados. Mas, agora, essas métricas – mais atividade do usuário e disposição mais ampla para assinar recursos pagos – vêm se mostrando constantemente altas desde o verão. “É o que chamo de temporada de conchinha prolongada”, disse Thombre.

“Normalmente, ela começa depois do Dia do Trabalho (Labor Day), na segunda semana de setembro”, disse ele sobre a atividade nos aplicativos. “Desta vez, o que estamos vendo é muito incomum. Julho deste ano foi quase tão movimentado quanto fevereiro. Fevereiro geralmente é considerado um mês de pico, mas, neste ano, tivemos um mês de julho muito forte em todos os nossos negócios”.

Numa carta aos investidores em maio, o Match Group disse que o maior aumento no uso e na atividade no Tinder veio de “usuárias com menos de 30 anos, com a média diária de curtidas aumentando 37% nesse grupo demográfico no mês de abril em comparação com o período que se encerrou na última semana de fevereiro”. A mudança fica ainda mais notável, disse Thombre, quando se considera que os homens geralmente são mais ativos do que as mulheres nos aplicativos de namoro.

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Quando o Match entrevistou usuários no ano passado, menos de 10% estavam interessados em usar um recurso de chat de vídeo para encontrar parceiros em potencial, disse Thombre. Agora, como muitas pessoas estão evitando os encontros presenciais, 70% dizem que estão interessados no recurso.

Não são apenas os aplicativos do Match Group. O Coffee Meets Bagel, um aplicativo de namoro que também se concentra em relacionamentos, descobriu que a taxa de bate-papo de seus usuários tinha batido o recorde, e uma pesquisa recente mostrou que 91% de seus usuários disseram que estavam procurando um relacionamento sério.

O uso de vídeos no Coffee Meets Bagel também disparou. A mesma pesquisa descobriu que um terço de seus usuários levaria a sério a possibilidade de ter um relacionamento monogâmico com alguém exclusivamente por vídeo. Trinta e sete por cento dos usuários do Hinge disseram o mesmo.

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Questionada se o Match Group sentia algum desconforto em possibilitar que os solteiros se encontrassem com desconhecidos no meio de uma pandemia, a porta-voz Vidhya Murugesan disse que a empresa estava incentivando todos os seus usuários a cumprir as diretrizes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças sobre as maneiras seguras de encontrar pessoas e assim o fizeram ao longo de todo o ano. O Match Group também adicionou recursos de vídeo, disse Murugesan, para que os usuários pudessem marcar encontros digitais, e não só presenciais.

Questão de sobrevivência

Os especialistas dizem que as questões práticas são apenas o fator de motivação mais óbvio que leva os solteiros a mudar seu status de relacionamento. Galit Atlas, psicoterapeuta e professora da Universidade de Nova York, especializada em psicologia da sexualidade e do desejo, disse que vinha observando em sua própria clínica que a ansiedade crescente estava levando ao desejo por companhia.

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“O que posso dizer como psicóloga sexual é que, quando temos medo, tendemos a querer ficar juntos”, disse Atlas. “Acho que, neste momento, há muita ansiedade em relação ao futuro, em relação à segunda onda da covid, em relação a quem sabe o que vai acontecer depois da eleição. As pessoas estão falando em guerra civil, teorias da conspiração e medo do futuro. Acho que isso faz com que elas não queiram ficar sozinhas”.

Mas Atlas fez uma ressalva. O desejo não é universal. Existem aquelas pessoas, disse ela, para quem estar com um parceiro pode representar uma ameaça psicológica mais do que uma solução ou uma sensação de segurança. Mas ela disse que, para as outras pessoas, acaba sendo uma questão de sobrevivência, que as coisas parecem mais possíveis quando elas estão num relacionamento.

Na verdade, existem muitas pessoas para quem a pandemia deixou bem claro o extremo oposto: não seria uma boa ideia entrar num relacionamento agora. Uma delas é Danila Merejildo, 29 anos, recepcionista de um serviço de radiologia, que, quando contatada no fim de setembro, havia excluído seus aplicativos de encontros no dia anterior.

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“Definitivamente não estou preocupada em ficar sozinha”, disse ela. “No fundo, sou solitária por opção. Trabalho e pandemia, não consigo lidar com mais nada além disso. Não seria nada legal ter que lidar com a pandemia e com um relacionamento ruim ao mesmo tempo”.

Cinco homens que sinalizaram que estavam procurando companhia concordaram em dar entrevistas para esta matéria e forneceram seus números de telefone. Nenhum deles respondeu quando o New York Times os contatou dias depois.

No Match Group existem várias teorias sobre por que a atividade das mulheres aumentou. A primeira é que o uso de aplicativos como canais para encontrar parceiros sexuais – ferramenta mais usada por homens do que por mulheres – diminuiu. Outra teoria postula que as mulheres, que podem ter mais facilidade para conhecer pessoas em circunstâncias normais, foram levadas aos aplicativos pela falta de oportunidades no mundo presencial. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Uma pesquisa mostrou que55% dos usuários de app de namoro estavam procurando novos relacionamentos mais do que antes da pandemia Foto: Akhtar Soomro/Reuters

Não deve ser surpresa que o coronavírus mudou o jeito de marcar encontros nos Estados Unidos. Muitos especialistas – e os próprios solteiros – dizem que as pessoas interessadas estão cada vez mais propensas a formar casais, a baixar seus padrões e a fazer o que podem para encontrar uma companhia para enfrentar o que vem pela frente. Esse desejo por companhia está particularmente pronunciado nos aplicativos de encontros, que viram o engajamento do usuário aumentar nos últimos meses.

O aplicativo Hinge, que se vende como um app que ajudará a achar relacionamentos duradouros, relatou que sua receita triplicou com relação ao mesmo período do ano passado. A maior parte do faturamento do app, que pertence ao Match Group, também dono do Tinder, vem de assinaturas e recursos pagos. Pesquisas de usuários indicam que 69% dos usuários do aplicativo estão “pensando mais na pessoa que realmente procuram” e 50% dizem que “não estão mais correndo atrás das pessoas que não estão interessadas neles”.

“Acho que às vezes os aplicativos de namoro podem nos dar uma noção inflada de quem está no nosso meio, porque vemos muita gente, mas acho que as pessoas estão ficando mais específicas e realistas em relação ao que querem”, disse Justin McLeod, fundador e CEO do Hinge.

Uma pesquisa com cerca de 2 mil usuários do aplicativo de encontros Match, conduzida entre julho e agosto e divulgada na terça-feira, mostrou que 59% dos solteiros estavam considerando uma gama maior de pessoas como parceiros em potencial e que 55% estavam procurando novos relacionamentos mais do que antes da pandemia.

A intensidade com que os solteiros estão procurando matches e batendo papo é visível em todos os aplicativos de namoro do Match Group, os quais incluem Tinder, OKCupid, Match.com, Hinge e Plenty of Fish. Amarnath Thombre, CEO do Match Group Americas, disse que as mensagens aumentaram de 30% a 40% na maioria dos aplicativos da empresa em comparação com o mesmo período do ano passado.

Thombre disse que a propensão para encontrar companhia a partir dos meses mais frios (que, por mais de uma década, ficou conhecida como “temporada de conchinha”, termo que provavelmente teve origem em Nova York e chegou ao Twitter em 2008) sempre apareceu nos dados. Mas, agora, essas métricas – mais atividade do usuário e disposição mais ampla para assinar recursos pagos – vêm se mostrando constantemente altas desde o verão. “É o que chamo de temporada de conchinha prolongada”, disse Thombre.

“Normalmente, ela começa depois do Dia do Trabalho (Labor Day), na segunda semana de setembro”, disse ele sobre a atividade nos aplicativos. “Desta vez, o que estamos vendo é muito incomum. Julho deste ano foi quase tão movimentado quanto fevereiro. Fevereiro geralmente é considerado um mês de pico, mas, neste ano, tivemos um mês de julho muito forte em todos os nossos negócios”.

Numa carta aos investidores em maio, o Match Group disse que o maior aumento no uso e na atividade no Tinder veio de “usuárias com menos de 30 anos, com a média diária de curtidas aumentando 37% nesse grupo demográfico no mês de abril em comparação com o período que se encerrou na última semana de fevereiro”. A mudança fica ainda mais notável, disse Thombre, quando se considera que os homens geralmente são mais ativos do que as mulheres nos aplicativos de namoro.

Quando o Match entrevistou usuários no ano passado, menos de 10% estavam interessados em usar um recurso de chat de vídeo para encontrar parceiros em potencial, disse Thombre. Agora, como muitas pessoas estão evitando os encontros presenciais, 70% dizem que estão interessados no recurso.

Não são apenas os aplicativos do Match Group. O Coffee Meets Bagel, um aplicativo de namoro que também se concentra em relacionamentos, descobriu que a taxa de bate-papo de seus usuários tinha batido o recorde, e uma pesquisa recente mostrou que 91% de seus usuários disseram que estavam procurando um relacionamento sério.

O uso de vídeos no Coffee Meets Bagel também disparou. A mesma pesquisa descobriu que um terço de seus usuários levaria a sério a possibilidade de ter um relacionamento monogâmico com alguém exclusivamente por vídeo. Trinta e sete por cento dos usuários do Hinge disseram o mesmo.

Questionada se o Match Group sentia algum desconforto em possibilitar que os solteiros se encontrassem com desconhecidos no meio de uma pandemia, a porta-voz Vidhya Murugesan disse que a empresa estava incentivando todos os seus usuários a cumprir as diretrizes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças sobre as maneiras seguras de encontrar pessoas e assim o fizeram ao longo de todo o ano. O Match Group também adicionou recursos de vídeo, disse Murugesan, para que os usuários pudessem marcar encontros digitais, e não só presenciais.

Questão de sobrevivência

Os especialistas dizem que as questões práticas são apenas o fator de motivação mais óbvio que leva os solteiros a mudar seu status de relacionamento. Galit Atlas, psicoterapeuta e professora da Universidade de Nova York, especializada em psicologia da sexualidade e do desejo, disse que vinha observando em sua própria clínica que a ansiedade crescente estava levando ao desejo por companhia.

“O que posso dizer como psicóloga sexual é que, quando temos medo, tendemos a querer ficar juntos”, disse Atlas. “Acho que, neste momento, há muita ansiedade em relação ao futuro, em relação à segunda onda da covid, em relação a quem sabe o que vai acontecer depois da eleição. As pessoas estão falando em guerra civil, teorias da conspiração e medo do futuro. Acho que isso faz com que elas não queiram ficar sozinhas”.

Mas Atlas fez uma ressalva. O desejo não é universal. Existem aquelas pessoas, disse ela, para quem estar com um parceiro pode representar uma ameaça psicológica mais do que uma solução ou uma sensação de segurança. Mas ela disse que, para as outras pessoas, acaba sendo uma questão de sobrevivência, que as coisas parecem mais possíveis quando elas estão num relacionamento.

Na verdade, existem muitas pessoas para quem a pandemia deixou bem claro o extremo oposto: não seria uma boa ideia entrar num relacionamento agora. Uma delas é Danila Merejildo, 29 anos, recepcionista de um serviço de radiologia, que, quando contatada no fim de setembro, havia excluído seus aplicativos de encontros no dia anterior.

“Definitivamente não estou preocupada em ficar sozinha”, disse ela. “No fundo, sou solitária por opção. Trabalho e pandemia, não consigo lidar com mais nada além disso. Não seria nada legal ter que lidar com a pandemia e com um relacionamento ruim ao mesmo tempo”.

Cinco homens que sinalizaram que estavam procurando companhia concordaram em dar entrevistas para esta matéria e forneceram seus números de telefone. Nenhum deles respondeu quando o New York Times os contatou dias depois.

No Match Group existem várias teorias sobre por que a atividade das mulheres aumentou. A primeira é que o uso de aplicativos como canais para encontrar parceiros sexuais – ferramenta mais usada por homens do que por mulheres – diminuiu. Outra teoria postula que as mulheres, que podem ter mais facilidade para conhecer pessoas em circunstâncias normais, foram levadas aos aplicativos pela falta de oportunidades no mundo presencial. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Uma pesquisa mostrou que55% dos usuários de app de namoro estavam procurando novos relacionamentos mais do que antes da pandemia Foto: Akhtar Soomro/Reuters

Não deve ser surpresa que o coronavírus mudou o jeito de marcar encontros nos Estados Unidos. Muitos especialistas – e os próprios solteiros – dizem que as pessoas interessadas estão cada vez mais propensas a formar casais, a baixar seus padrões e a fazer o que podem para encontrar uma companhia para enfrentar o que vem pela frente. Esse desejo por companhia está particularmente pronunciado nos aplicativos de encontros, que viram o engajamento do usuário aumentar nos últimos meses.

O aplicativo Hinge, que se vende como um app que ajudará a achar relacionamentos duradouros, relatou que sua receita triplicou com relação ao mesmo período do ano passado. A maior parte do faturamento do app, que pertence ao Match Group, também dono do Tinder, vem de assinaturas e recursos pagos. Pesquisas de usuários indicam que 69% dos usuários do aplicativo estão “pensando mais na pessoa que realmente procuram” e 50% dizem que “não estão mais correndo atrás das pessoas que não estão interessadas neles”.

“Acho que às vezes os aplicativos de namoro podem nos dar uma noção inflada de quem está no nosso meio, porque vemos muita gente, mas acho que as pessoas estão ficando mais específicas e realistas em relação ao que querem”, disse Justin McLeod, fundador e CEO do Hinge.

Uma pesquisa com cerca de 2 mil usuários do aplicativo de encontros Match, conduzida entre julho e agosto e divulgada na terça-feira, mostrou que 59% dos solteiros estavam considerando uma gama maior de pessoas como parceiros em potencial e que 55% estavam procurando novos relacionamentos mais do que antes da pandemia.

A intensidade com que os solteiros estão procurando matches e batendo papo é visível em todos os aplicativos de namoro do Match Group, os quais incluem Tinder, OKCupid, Match.com, Hinge e Plenty of Fish. Amarnath Thombre, CEO do Match Group Americas, disse que as mensagens aumentaram de 30% a 40% na maioria dos aplicativos da empresa em comparação com o mesmo período do ano passado.

Thombre disse que a propensão para encontrar companhia a partir dos meses mais frios (que, por mais de uma década, ficou conhecida como “temporada de conchinha”, termo que provavelmente teve origem em Nova York e chegou ao Twitter em 2008) sempre apareceu nos dados. Mas, agora, essas métricas – mais atividade do usuário e disposição mais ampla para assinar recursos pagos – vêm se mostrando constantemente altas desde o verão. “É o que chamo de temporada de conchinha prolongada”, disse Thombre.

“Normalmente, ela começa depois do Dia do Trabalho (Labor Day), na segunda semana de setembro”, disse ele sobre a atividade nos aplicativos. “Desta vez, o que estamos vendo é muito incomum. Julho deste ano foi quase tão movimentado quanto fevereiro. Fevereiro geralmente é considerado um mês de pico, mas, neste ano, tivemos um mês de julho muito forte em todos os nossos negócios”.

Numa carta aos investidores em maio, o Match Group disse que o maior aumento no uso e na atividade no Tinder veio de “usuárias com menos de 30 anos, com a média diária de curtidas aumentando 37% nesse grupo demográfico no mês de abril em comparação com o período que se encerrou na última semana de fevereiro”. A mudança fica ainda mais notável, disse Thombre, quando se considera que os homens geralmente são mais ativos do que as mulheres nos aplicativos de namoro.

Quando o Match entrevistou usuários no ano passado, menos de 10% estavam interessados em usar um recurso de chat de vídeo para encontrar parceiros em potencial, disse Thombre. Agora, como muitas pessoas estão evitando os encontros presenciais, 70% dizem que estão interessados no recurso.

Não são apenas os aplicativos do Match Group. O Coffee Meets Bagel, um aplicativo de namoro que também se concentra em relacionamentos, descobriu que a taxa de bate-papo de seus usuários tinha batido o recorde, e uma pesquisa recente mostrou que 91% de seus usuários disseram que estavam procurando um relacionamento sério.

O uso de vídeos no Coffee Meets Bagel também disparou. A mesma pesquisa descobriu que um terço de seus usuários levaria a sério a possibilidade de ter um relacionamento monogâmico com alguém exclusivamente por vídeo. Trinta e sete por cento dos usuários do Hinge disseram o mesmo.

Questionada se o Match Group sentia algum desconforto em possibilitar que os solteiros se encontrassem com desconhecidos no meio de uma pandemia, a porta-voz Vidhya Murugesan disse que a empresa estava incentivando todos os seus usuários a cumprir as diretrizes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças sobre as maneiras seguras de encontrar pessoas e assim o fizeram ao longo de todo o ano. O Match Group também adicionou recursos de vídeo, disse Murugesan, para que os usuários pudessem marcar encontros digitais, e não só presenciais.

Questão de sobrevivência

Os especialistas dizem que as questões práticas são apenas o fator de motivação mais óbvio que leva os solteiros a mudar seu status de relacionamento. Galit Atlas, psicoterapeuta e professora da Universidade de Nova York, especializada em psicologia da sexualidade e do desejo, disse que vinha observando em sua própria clínica que a ansiedade crescente estava levando ao desejo por companhia.

“O que posso dizer como psicóloga sexual é que, quando temos medo, tendemos a querer ficar juntos”, disse Atlas. “Acho que, neste momento, há muita ansiedade em relação ao futuro, em relação à segunda onda da covid, em relação a quem sabe o que vai acontecer depois da eleição. As pessoas estão falando em guerra civil, teorias da conspiração e medo do futuro. Acho que isso faz com que elas não queiram ficar sozinhas”.

Mas Atlas fez uma ressalva. O desejo não é universal. Existem aquelas pessoas, disse ela, para quem estar com um parceiro pode representar uma ameaça psicológica mais do que uma solução ou uma sensação de segurança. Mas ela disse que, para as outras pessoas, acaba sendo uma questão de sobrevivência, que as coisas parecem mais possíveis quando elas estão num relacionamento.

Na verdade, existem muitas pessoas para quem a pandemia deixou bem claro o extremo oposto: não seria uma boa ideia entrar num relacionamento agora. Uma delas é Danila Merejildo, 29 anos, recepcionista de um serviço de radiologia, que, quando contatada no fim de setembro, havia excluído seus aplicativos de encontros no dia anterior.

“Definitivamente não estou preocupada em ficar sozinha”, disse ela. “No fundo, sou solitária por opção. Trabalho e pandemia, não consigo lidar com mais nada além disso. Não seria nada legal ter que lidar com a pandemia e com um relacionamento ruim ao mesmo tempo”.

Cinco homens que sinalizaram que estavam procurando companhia concordaram em dar entrevistas para esta matéria e forneceram seus números de telefone. Nenhum deles respondeu quando o New York Times os contatou dias depois.

No Match Group existem várias teorias sobre por que a atividade das mulheres aumentou. A primeira é que o uso de aplicativos como canais para encontrar parceiros sexuais – ferramenta mais usada por homens do que por mulheres – diminuiu. Outra teoria postula que as mulheres, que podem ter mais facilidade para conhecer pessoas em circunstâncias normais, foram levadas aos aplicativos pela falta de oportunidades no mundo presencial. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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