THE NEW YORK TIMES - Em dezembro passado, quando estudantes do ensino médio e universitários americanos começaram a experimentar um novo chatbot de inteligência artificial (IA) chamado ChatGPT para produzir trabalhos de redação, a preocupação com trapaça em testes se espalhou pelos EUA.
Para impedir o plágio por meio de robôs, alguns grandes distritos de escolas públicas - incluindo os de Los Angeles, Seattle e Nova York - rapidamente bloquearam o ChatGPT nos laptops e no Wi-Fi das escolas. Mas o pânico pode ter sido exagerado, pelo menos nas escolas de ensino médio.
De acordo com uma nova pesquisa da Universidade Stanford, a popularização dos chatbots de IA não aumentou as taxas gerais de trapaça nas escolas. Em pesquisas realizadas este ano em mais de 40 escolas de ensino médio dos EUA, cerca de 60% a 70% dos alunos afirmaram ter trapaceado recentemente - aproximadamente a mesma porcentagem dos anos anteriores, afirmaram os pesquisadores educacionais de Stanford.
“Houve um pânico de que esses modelos de IA permitissem uma maneira totalmente nova de fazer algo que pudesse ser interpretado como trapaça”, disse Denise Pope, professora sênior da Stanford Graduate School of Education, que há mais de uma década faz pesquisas com alunos do ensino médio por meio de uma organização educacional sem fins lucrativos da qual é cofundadora. Mas “simplesmente não estamos vendo a mudança nos dados”.
O ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI, começou a capturar a imaginação do público no final do ano passado com sua capacidade de fabricar redações e e-mails com jeito humano. Quase imediatamente, os defensores da tecnologia em sala de aula começaram a prometer que ferramentas de IA como o ChatGPT revolucionariam a educação. E os críticos começaram a alertar que essas ferramentas - que inventam coisas livremente - permitiriam a trapaça generalizada e ampliariam a desinformação nas escolas.
Agora, a pesquisa de Stanford, juntamente com um relatório recente do Pew Research Center, está desafiando a noção de que os chatbots de IA estão revolucionando as escolas públicas.
Muitos adolescentes sabem pouco sobre o ChatGPT, segundo o Pew Research Center, e a maioria diz que nunca o usou para trabalhos escolares. Essas tendências podem mudar, é claro, à medida que mais alunos do ensino médio se familiarizarem com ferramentas de IA.
Muitos adolescentes nunca ouviram falar do ChatGPT
De setembro a outubro, o Pew Research Center fez uma pesquisa com mais de 1,4 mil adolescentes americanos, com idades entre 13 e 17 anos, sobre seu conhecimento, uso e opiniões sobre o ChatGPT. Os resultados podem parecer contraintuitivos, dada a grande quantidade de manchetes de pânico na primavera passada.
Quase um terço dos adolescentes disse não ter ouvido “absolutamente nada” sobre o chatbot, de acordo com a pesquisa do Pew Research Center, realizada de 26 de setembro a 23 de outubro de 2023. Outros 44% disseram ter ouvido falar “um pouco” sobre ele.
Apenas 23% disseram ter ouvido falar muito sobre o ChatGPT (a pesquisa não perguntou aos adolescentes sobre outros chatbots de IA, como o Bard do Google ou o GPT-4 da OpenAI).
As respostas variaram de acordo com a raça e a renda familiar. Cerca de 72% dos adolescentes brancos disseram ter ouvido falar do chatbot, em comparação com cerca de 56% dos adolescentes negros.
Ainda de acordo com a pesquisa, aproximadamente 75% dos adolescentes de famílias com renda anual de US$ 75 mil ou mais disseram ter ouvido falar do ChatGPT em comparação com apenas 41% dos adolescentes de famílias com renda anual inferior a US$ 30 mil.
O Pew Research Center também perguntou aos adolescentes se eles já haviam usado o ChatGPT para ajudar em suas tarefas escolares. Apenas uma pequena minoria - 13% - disse que sim.
Os resultados da pesquisa sugerem que o ChatGPT, pelo menos por enquanto, não se tornou o fenômeno perturbador nas escolas que os proponentes e críticos previram. Entre o subgrupo de adolescentes que disseram ter ouvido falar do chatbot, a grande maioria - 81% - afirmou não tê-lo usado para ajudar nas tarefas escolares.
“A maioria dos adolescentes tem algum nível de conhecimento sobre o ChatGPT”, disse Jeffrey Gottfried, diretor associado de pesquisa do Pew Research Center. “Mas ainda não é a maioria dos adolescentes que o está incorporando em seus trabalhos escolares.”
As taxas de trapaça não mudaram muito
A “cola” (ou a trapaça escolar) há muito tempo é uma prática desenfreada nas escolas. Em pesquisas com mais de 70 mil alunos do ensino médio entre 2002 e 2015, 64% disseram ter copiado em um teste e 58% afirmaram ter plagiado.
Desde a introdução do ChatGPT em 2022, a frequência geral de alunos do ensino médio que relataram ter trapaceado recentemente não aumentou, de acordo com os pesquisadores de Stanford.
A nova pesquisa não esclarece a frequência com que os estudantes universitários podem empregar chatbots como bots de trapaça. Os pesquisadores de Stanford e do Pew não pesquisaram estudantes universitários sobre o uso de ferramentas de IA.
Este ano, os pesquisadores de Stanford acrescentaram perguntas de pesquisa que questionavam especificamente os alunos do ensino médio sobre o uso de chatbots de IA. No último trimestre, de 12% a 28% dos alunos de quatro escolas de ensino médio da Costa Leste e da Costa Oeste disseram que usaram uma ferramenta de IA ou um dispositivo digital - como o ChatGPT ou um smartphone - no último mês como auxílio não autorizado durante um teste escolar, tarefa ou dever de casa.
Entre os alunos do ensino médio que disseram ter usado um chatbot de IA, cerca de 55% a 77% disseram que o usaram para gerar uma ideia para um trabalho, projeto ou tarefa; cerca de 19% a 49% disseram que o usaram para editar ou concluir uma parte de um trabalho; e cerca de 9% a 16% disseram que o usaram para escrever todo um trabalho ou outra tarefa, descobriram os pesquisadores de Stanford.
As descobertas podem ajudar a mudar as discussões sobre chatbots nas escolas para que se concentrem menos no medo de cola e mais em ajudar os alunos a aprender a entender, usar e pensar criticamente sobre as novas ferramentas de IA, disseram os pesquisadores.
“Há outras maneiras de pensar sobre a IA - não simplesmente como essa tentação incontrolável que mina tudo”, disse Victor R. Lee, professor associado da Stanford Graduate School of Education que pesquisa experiências de aprendizado com IA e liderou a recente pesquisa sobre trapaça com Pope. “Há muito mais que poderia e deveria ser discutido nas escolas.”
‘Inaceitável’ para redação
Enquanto as escolas ainda estão desenvolvendo regras de uso aceitáveis para as ferramentas de IA, os alunos estão desenvolvendo visões diferenciadas sobre o uso do ChatGPT para trabalhos escolares.
Apenas 20% dos adolescentes de 13 a 17 anos disseram que achavam aceitável que os alunos usassem o ChatGPT para escrever redações, segundo o Pew Research Center. Mas quase 70% disseram que era aceitável que os alunos usassem o chatbot de IA para pesquisar novos tópicos.
Victor R. Lee, professor associado da Stanford Graduate School of Education
Isso não significa que os alunos não estejam tentando passar textos gerados por chatbots como se fossem seus próprios trabalhos escolares.
Christine Meade, professora de história em uma escola de ensino médio, disse que a trapaça do chatbot foi generalizada entre os alunos do último ano de março a maio. Ela chegou a flagrar alguns deles usando os chatbots de IA em seus smartwatches durante os testes escolares.
Mas este ano, depois que ela disse aos alunos que eles poderiam usar o ChatGPT e o Bard para determinados projetos de pesquisa, a situação “mudou completamente”, disse ela.
“Vários alunos da minha turma de história usaram chatbots para gerar uma lista de eventos que aconteceram logo após a Guerra Civil, na década de 1880″, disse Meade. “Foi bastante preciso - exceto pelo evento da década de 1980, durante o governo Reagan.”
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