Primeiros desempregados pelo ChatGPT buscam recomeço com trabalhos manuais


Nos EUA, geração de profissionais substituídos por chatbots procuram fugir de carreiras ameaçadas pela onda de inteligência artificial

Por Pranshu Verma e Gerrit De Vynck

THE WASHINGTON POST - Quando o ChatGPT foi lançado em novembro passado, Olivia Lipkin, uma redatora de 25 anos em São Francisco (EUA), não deu muita bola. Depois, começaram a aparecer artigos sobre como usar o chatbot no trabalho nos grupos de Slack na startup onde ela trabalhava como redatora. Nos meses seguintes, as tarefas de Lipkin diminuíram até que, em abril, ela foi demitida. E ela descobriu que seus ex-chefes falavam sobre como usar ChatGPT era mais barato do que pagar um redator. “Sempre que as pessoas falavam de ChatGPT, eu me sentia insegura e ansiosa que ele me substituísse”, disse ela. “Agora eu tenho prova de que essas ansiedades eram justificadas. Eu realmente perdi emprego por causa de inteligência artificial (IA).”

A IA melhorou rapidamente em qualidade no último ano, dando origem a chatbots que podem manter conversas fluidas, escrever músicas e produzir código de computador. Na corrida para popularizar a tecnologia, as empresas do Vale do Silício estão oferecendo esses produtos a milhões de usuários gratuitamente, por enquanto. Alguns economistas preveem que a tecnologia pode substituir centenas de milhões de empregos, numa reorganização cataclísmica da força de trabalho que espelha a revolução industrial. Céticos dizem que este medo de perda de empregos é exagerado e que os chatbots de IA se tornarão auxiliares, permitindo que as pessoas trabalhem mais rápido.

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No entanto, para alguns trabalhadores, o impacto já é real. Aqueles que escrevem conteúdo de marketing e mídia social estão na primeira onda de pessoas sendo substituídas por ferramentas como chatbots. Especialistas dizem que mesmo a IA avançada não iguala as habilidades de escrita de um humano: ela carece de voz e estilo, e muitas vezes produz respostas erradas, sem sentido ou tendenciosas. Mas para muitas empresas, a redução de custos vale uma queda na qualidade. “Estamos realmente em um momento de crise”, diz Sarah T. Roberts, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles especializada em trabalho digital. “A IA está chegando para os empregos que deveriam ser à prova de automação.”

A IA e os algoritmos têm sido parte do mundo do trabalho por décadas. Por anos, empresas de produtos de consumo, supermercados e empresas de logística de armazéns têm usado algoritmos preditivos e robôs com sistemas de visão alimentados por IA para ajudar a tomar decisões de negócios, automatizar algumas tarefas rotineiras e gerenciar estoques. As plantas industriais e as fábricas foram dominadas por robôs durante grande parte do século 20, e inúmeras tarefas de escritório foram substituídas por software.

No entanto, a recente onda de inteligência artificial gerativa - que usa algoritmos complexos treinados em bilhões de palavras e imagens da internet aberta para produzir texto, imagens e áudio - tem potencial para uma nova fase no emprego. A capacidade da tecnologia de produzir prosa que soa humana coloca os trabalhadores do conhecimento bem remunerados na mira para substituição, dizem os especialistas.

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ChatGPT, da OpenAI, já está gerando desemprego em algumas áreas Foto: Joel Sagat / AFP

“Em todas as ameaças anteriores, a automação era sobre automatizar os trabalhos difíceis, sujos e repetitivos”, diz Ethan Mollick, professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia. “Desta vez, a ameaça de automação é direcionada diretamente aos empregos de maior remuneração e mais criativos, que exigem a maior formação educacional.”

Em março, a Goldman Sachs previu que 18% do trabalho mundial poderia ser automatizado pela IA, com trabalhadores de escritório, como advogados, em mais risco do que aqueles em ofícios como construção ou manutenção. “Ocupações para as quais uma parte significativa do tempo dos trabalhadores é gasta ao ar livre ou realizando trabalho físico não podem ser automatizadas pela IA”, disse o relatório.

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A Casa Branca também fez um alerta, dizendo em um relatório de dezembro que “a IA tem o potencial de automatizar tarefas ‘não rotineiras’, expondo grandes novas áreas da força de trabalho a potenciais disrupções”.

Mas Mollick disse que é muito cedo para avaliar o quanto a IA terá impacto na força de trabalho. Ele observou que empregos como redação publicitária, tradução de documentos e transcrição, e trabalho paralegal estão particularmente em risco, uma vez que eles têm tarefas que são facilmente feitas por chatbots. Análises jurídicas de alto nível, escrita criativa ou arte podem não ser tão facilmente substituíveis, disse ele, porque os humanos ainda superam a IA nessas áreas.

“Pense na IA como um estagiário de alto nível”, diz ele. “Empregos que são de nível inicial estão ameaçados.”

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Desta vez, a ameaça de automação é direcionada diretamente aos empregos de maior remuneração e mais criativos, que exigem a maior formação educacional

Ethan Mollick, professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia

Empresa fechada da noite para o dia

Eric Fein teve seu negócio de redação de conteúdo por 10 anos, cobrando $60 por hora. O homem de 34 anos de Bloomingdale, Illinois, construiu um negócio estável com 10 contratos contínuos, que compunham metade de sua renda anual e proporcionavam uma vida confortável para sua esposa e filho de 2 anos.

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Mas em março, Fein recebeu um comunicado de seu maior cliente: seus serviços não seriam mais necessários porque a empresa adotaria o ChatGPT. Um a um, os outros nove contratos de Fein foram cancelados pelo mesmo motivo. Sua pequena empresa foi quase encerrada da noite para o dia.

“Acabou comigo”, disse Fein. Ele implorou aos seus clientes para reconsiderar, alertando que o ChatGPT não poderia escrever conteúdo com seu nível de criatividade, precisão técnica e originalidade. Ele disse que seus clientes entenderam isso, mas eles disseram que era muito mais barato usar o ChatGPT do que pagar seu salário por hora.

Fein foi recontratado por um de seus clientes, que não ficou satisfeito com o trabalho do ChatGPT. Mas isso não é suficiente para sustentar ele e sua família, que têm pouco mais de seis meses de reserva financeira antes de ficarem sem dinheiro. Agora, Fein decidiu buscar um emprego que a IA não pode fazer: ele se matriculou em cursos para se tornar um técnico de manutenção de ar condicionado. No próximo ano, ele planeja treinar para se tornar um encanador. “Um ofício é mais à prova de futuro”, disse ele.

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Eric Fein viu sua empresa quase ser fechada e decidiu virar técnico em manutenção de ar-condicionado  Foto: Taylor Glascock/The Washington Post

IA causa tropeços

Empresas que substituíram trabalhadores por chatbots também já experimentaram grandes tropeços. Quando o site de notícias de tecnologia CNET usou IA para escrever artigos, os resultados foram cheios de erros. Um advogado que confiou no ChatGPT para uma petição legal inventou precedentes fictícios. E a National Eating Disorders Association, que demitiu pessoas que atendiam sua linha de ajuda e supostamente as substituiu por um chatbot, suspendeu o uso da tecnologia depois que ela deu conselhos insensíveis e prejudiciais.

Roberts disse que os chatbots podem produzir erros caros e que as empresas que se apressam em incorporar o ChatGPT em suas operações estão “pulando etapas”. Como eles funcionam prevendo a palavra mais estatisticamente provável em uma frase, eles produzem conteúdo médio por padrão. Isso apresenta às empresas uma decisão difícil: qualidade vs. custo.

“Temos que perguntar: Um simulacro é bom o suficiente? Imitação é bom o suficiente? É tudo o que nos importa?”, questiona. “Vamos baixar o padrão de qualidade para que fim? Para que os proprietários e acionistas da empresa possam levar uma fatia maior do bolo?”

Vamos baixar o padrão de qualidade para que fim? Para que os proprietários e acionistas da empresa possam levar uma fatia maior do bolo?

Sarah T. Roberts, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles

Lipkin, a redatora que descobriu que havia sido substituída pelo ChatGPT, está reconsiderando o trabalho de escritório como um todo. Ela inicialmente entrou no marketing de conteúdo para que pudesse se sustentar enquanto seguia sua própria escrita criativa. Mas ela descobriu que o trabalho a esgotava e dificultava escrever por si mesma. Agora, ela está começando um trabalho como passeadora de cães.

“Estou tirando uma folga do mundo do escritório”, disse Lipkin. “As pessoas estão procurando a solução mais barata, e essa alternativa não é uma pessoa. É um robô.” / TRADUÇÃO DE BRUNO ROMANI

THE WASHINGTON POST - Quando o ChatGPT foi lançado em novembro passado, Olivia Lipkin, uma redatora de 25 anos em São Francisco (EUA), não deu muita bola. Depois, começaram a aparecer artigos sobre como usar o chatbot no trabalho nos grupos de Slack na startup onde ela trabalhava como redatora. Nos meses seguintes, as tarefas de Lipkin diminuíram até que, em abril, ela foi demitida. E ela descobriu que seus ex-chefes falavam sobre como usar ChatGPT era mais barato do que pagar um redator. “Sempre que as pessoas falavam de ChatGPT, eu me sentia insegura e ansiosa que ele me substituísse”, disse ela. “Agora eu tenho prova de que essas ansiedades eram justificadas. Eu realmente perdi emprego por causa de inteligência artificial (IA).”

A IA melhorou rapidamente em qualidade no último ano, dando origem a chatbots que podem manter conversas fluidas, escrever músicas e produzir código de computador. Na corrida para popularizar a tecnologia, as empresas do Vale do Silício estão oferecendo esses produtos a milhões de usuários gratuitamente, por enquanto. Alguns economistas preveem que a tecnologia pode substituir centenas de milhões de empregos, numa reorganização cataclísmica da força de trabalho que espelha a revolução industrial. Céticos dizem que este medo de perda de empregos é exagerado e que os chatbots de IA se tornarão auxiliares, permitindo que as pessoas trabalhem mais rápido.

No entanto, para alguns trabalhadores, o impacto já é real. Aqueles que escrevem conteúdo de marketing e mídia social estão na primeira onda de pessoas sendo substituídas por ferramentas como chatbots. Especialistas dizem que mesmo a IA avançada não iguala as habilidades de escrita de um humano: ela carece de voz e estilo, e muitas vezes produz respostas erradas, sem sentido ou tendenciosas. Mas para muitas empresas, a redução de custos vale uma queda na qualidade. “Estamos realmente em um momento de crise”, diz Sarah T. Roberts, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles especializada em trabalho digital. “A IA está chegando para os empregos que deveriam ser à prova de automação.”

A IA e os algoritmos têm sido parte do mundo do trabalho por décadas. Por anos, empresas de produtos de consumo, supermercados e empresas de logística de armazéns têm usado algoritmos preditivos e robôs com sistemas de visão alimentados por IA para ajudar a tomar decisões de negócios, automatizar algumas tarefas rotineiras e gerenciar estoques. As plantas industriais e as fábricas foram dominadas por robôs durante grande parte do século 20, e inúmeras tarefas de escritório foram substituídas por software.

No entanto, a recente onda de inteligência artificial gerativa - que usa algoritmos complexos treinados em bilhões de palavras e imagens da internet aberta para produzir texto, imagens e áudio - tem potencial para uma nova fase no emprego. A capacidade da tecnologia de produzir prosa que soa humana coloca os trabalhadores do conhecimento bem remunerados na mira para substituição, dizem os especialistas.

ChatGPT, da OpenAI, já está gerando desemprego em algumas áreas Foto: Joel Sagat / AFP

“Em todas as ameaças anteriores, a automação era sobre automatizar os trabalhos difíceis, sujos e repetitivos”, diz Ethan Mollick, professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia. “Desta vez, a ameaça de automação é direcionada diretamente aos empregos de maior remuneração e mais criativos, que exigem a maior formação educacional.”

Em março, a Goldman Sachs previu que 18% do trabalho mundial poderia ser automatizado pela IA, com trabalhadores de escritório, como advogados, em mais risco do que aqueles em ofícios como construção ou manutenção. “Ocupações para as quais uma parte significativa do tempo dos trabalhadores é gasta ao ar livre ou realizando trabalho físico não podem ser automatizadas pela IA”, disse o relatório.

A Casa Branca também fez um alerta, dizendo em um relatório de dezembro que “a IA tem o potencial de automatizar tarefas ‘não rotineiras’, expondo grandes novas áreas da força de trabalho a potenciais disrupções”.

Mas Mollick disse que é muito cedo para avaliar o quanto a IA terá impacto na força de trabalho. Ele observou que empregos como redação publicitária, tradução de documentos e transcrição, e trabalho paralegal estão particularmente em risco, uma vez que eles têm tarefas que são facilmente feitas por chatbots. Análises jurídicas de alto nível, escrita criativa ou arte podem não ser tão facilmente substituíveis, disse ele, porque os humanos ainda superam a IA nessas áreas.

“Pense na IA como um estagiário de alto nível”, diz ele. “Empregos que são de nível inicial estão ameaçados.”

Desta vez, a ameaça de automação é direcionada diretamente aos empregos de maior remuneração e mais criativos, que exigem a maior formação educacional

Ethan Mollick, professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia

Empresa fechada da noite para o dia

Eric Fein teve seu negócio de redação de conteúdo por 10 anos, cobrando $60 por hora. O homem de 34 anos de Bloomingdale, Illinois, construiu um negócio estável com 10 contratos contínuos, que compunham metade de sua renda anual e proporcionavam uma vida confortável para sua esposa e filho de 2 anos.

Mas em março, Fein recebeu um comunicado de seu maior cliente: seus serviços não seriam mais necessários porque a empresa adotaria o ChatGPT. Um a um, os outros nove contratos de Fein foram cancelados pelo mesmo motivo. Sua pequena empresa foi quase encerrada da noite para o dia.

“Acabou comigo”, disse Fein. Ele implorou aos seus clientes para reconsiderar, alertando que o ChatGPT não poderia escrever conteúdo com seu nível de criatividade, precisão técnica e originalidade. Ele disse que seus clientes entenderam isso, mas eles disseram que era muito mais barato usar o ChatGPT do que pagar seu salário por hora.

Fein foi recontratado por um de seus clientes, que não ficou satisfeito com o trabalho do ChatGPT. Mas isso não é suficiente para sustentar ele e sua família, que têm pouco mais de seis meses de reserva financeira antes de ficarem sem dinheiro. Agora, Fein decidiu buscar um emprego que a IA não pode fazer: ele se matriculou em cursos para se tornar um técnico de manutenção de ar condicionado. No próximo ano, ele planeja treinar para se tornar um encanador. “Um ofício é mais à prova de futuro”, disse ele.

Eric Fein viu sua empresa quase ser fechada e decidiu virar técnico em manutenção de ar-condicionado  Foto: Taylor Glascock/The Washington Post

IA causa tropeços

Empresas que substituíram trabalhadores por chatbots também já experimentaram grandes tropeços. Quando o site de notícias de tecnologia CNET usou IA para escrever artigos, os resultados foram cheios de erros. Um advogado que confiou no ChatGPT para uma petição legal inventou precedentes fictícios. E a National Eating Disorders Association, que demitiu pessoas que atendiam sua linha de ajuda e supostamente as substituiu por um chatbot, suspendeu o uso da tecnologia depois que ela deu conselhos insensíveis e prejudiciais.

Roberts disse que os chatbots podem produzir erros caros e que as empresas que se apressam em incorporar o ChatGPT em suas operações estão “pulando etapas”. Como eles funcionam prevendo a palavra mais estatisticamente provável em uma frase, eles produzem conteúdo médio por padrão. Isso apresenta às empresas uma decisão difícil: qualidade vs. custo.

“Temos que perguntar: Um simulacro é bom o suficiente? Imitação é bom o suficiente? É tudo o que nos importa?”, questiona. “Vamos baixar o padrão de qualidade para que fim? Para que os proprietários e acionistas da empresa possam levar uma fatia maior do bolo?”

Vamos baixar o padrão de qualidade para que fim? Para que os proprietários e acionistas da empresa possam levar uma fatia maior do bolo?

Sarah T. Roberts, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles

Lipkin, a redatora que descobriu que havia sido substituída pelo ChatGPT, está reconsiderando o trabalho de escritório como um todo. Ela inicialmente entrou no marketing de conteúdo para que pudesse se sustentar enquanto seguia sua própria escrita criativa. Mas ela descobriu que o trabalho a esgotava e dificultava escrever por si mesma. Agora, ela está começando um trabalho como passeadora de cães.

“Estou tirando uma folga do mundo do escritório”, disse Lipkin. “As pessoas estão procurando a solução mais barata, e essa alternativa não é uma pessoa. É um robô.” / TRADUÇÃO DE BRUNO ROMANI

THE WASHINGTON POST - Quando o ChatGPT foi lançado em novembro passado, Olivia Lipkin, uma redatora de 25 anos em São Francisco (EUA), não deu muita bola. Depois, começaram a aparecer artigos sobre como usar o chatbot no trabalho nos grupos de Slack na startup onde ela trabalhava como redatora. Nos meses seguintes, as tarefas de Lipkin diminuíram até que, em abril, ela foi demitida. E ela descobriu que seus ex-chefes falavam sobre como usar ChatGPT era mais barato do que pagar um redator. “Sempre que as pessoas falavam de ChatGPT, eu me sentia insegura e ansiosa que ele me substituísse”, disse ela. “Agora eu tenho prova de que essas ansiedades eram justificadas. Eu realmente perdi emprego por causa de inteligência artificial (IA).”

A IA melhorou rapidamente em qualidade no último ano, dando origem a chatbots que podem manter conversas fluidas, escrever músicas e produzir código de computador. Na corrida para popularizar a tecnologia, as empresas do Vale do Silício estão oferecendo esses produtos a milhões de usuários gratuitamente, por enquanto. Alguns economistas preveem que a tecnologia pode substituir centenas de milhões de empregos, numa reorganização cataclísmica da força de trabalho que espelha a revolução industrial. Céticos dizem que este medo de perda de empregos é exagerado e que os chatbots de IA se tornarão auxiliares, permitindo que as pessoas trabalhem mais rápido.

No entanto, para alguns trabalhadores, o impacto já é real. Aqueles que escrevem conteúdo de marketing e mídia social estão na primeira onda de pessoas sendo substituídas por ferramentas como chatbots. Especialistas dizem que mesmo a IA avançada não iguala as habilidades de escrita de um humano: ela carece de voz e estilo, e muitas vezes produz respostas erradas, sem sentido ou tendenciosas. Mas para muitas empresas, a redução de custos vale uma queda na qualidade. “Estamos realmente em um momento de crise”, diz Sarah T. Roberts, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles especializada em trabalho digital. “A IA está chegando para os empregos que deveriam ser à prova de automação.”

A IA e os algoritmos têm sido parte do mundo do trabalho por décadas. Por anos, empresas de produtos de consumo, supermercados e empresas de logística de armazéns têm usado algoritmos preditivos e robôs com sistemas de visão alimentados por IA para ajudar a tomar decisões de negócios, automatizar algumas tarefas rotineiras e gerenciar estoques. As plantas industriais e as fábricas foram dominadas por robôs durante grande parte do século 20, e inúmeras tarefas de escritório foram substituídas por software.

No entanto, a recente onda de inteligência artificial gerativa - que usa algoritmos complexos treinados em bilhões de palavras e imagens da internet aberta para produzir texto, imagens e áudio - tem potencial para uma nova fase no emprego. A capacidade da tecnologia de produzir prosa que soa humana coloca os trabalhadores do conhecimento bem remunerados na mira para substituição, dizem os especialistas.

ChatGPT, da OpenAI, já está gerando desemprego em algumas áreas Foto: Joel Sagat / AFP

“Em todas as ameaças anteriores, a automação era sobre automatizar os trabalhos difíceis, sujos e repetitivos”, diz Ethan Mollick, professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia. “Desta vez, a ameaça de automação é direcionada diretamente aos empregos de maior remuneração e mais criativos, que exigem a maior formação educacional.”

Em março, a Goldman Sachs previu que 18% do trabalho mundial poderia ser automatizado pela IA, com trabalhadores de escritório, como advogados, em mais risco do que aqueles em ofícios como construção ou manutenção. “Ocupações para as quais uma parte significativa do tempo dos trabalhadores é gasta ao ar livre ou realizando trabalho físico não podem ser automatizadas pela IA”, disse o relatório.

A Casa Branca também fez um alerta, dizendo em um relatório de dezembro que “a IA tem o potencial de automatizar tarefas ‘não rotineiras’, expondo grandes novas áreas da força de trabalho a potenciais disrupções”.

Mas Mollick disse que é muito cedo para avaliar o quanto a IA terá impacto na força de trabalho. Ele observou que empregos como redação publicitária, tradução de documentos e transcrição, e trabalho paralegal estão particularmente em risco, uma vez que eles têm tarefas que são facilmente feitas por chatbots. Análises jurídicas de alto nível, escrita criativa ou arte podem não ser tão facilmente substituíveis, disse ele, porque os humanos ainda superam a IA nessas áreas.

“Pense na IA como um estagiário de alto nível”, diz ele. “Empregos que são de nível inicial estão ameaçados.”

Desta vez, a ameaça de automação é direcionada diretamente aos empregos de maior remuneração e mais criativos, que exigem a maior formação educacional

Ethan Mollick, professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia

Empresa fechada da noite para o dia

Eric Fein teve seu negócio de redação de conteúdo por 10 anos, cobrando $60 por hora. O homem de 34 anos de Bloomingdale, Illinois, construiu um negócio estável com 10 contratos contínuos, que compunham metade de sua renda anual e proporcionavam uma vida confortável para sua esposa e filho de 2 anos.

Mas em março, Fein recebeu um comunicado de seu maior cliente: seus serviços não seriam mais necessários porque a empresa adotaria o ChatGPT. Um a um, os outros nove contratos de Fein foram cancelados pelo mesmo motivo. Sua pequena empresa foi quase encerrada da noite para o dia.

“Acabou comigo”, disse Fein. Ele implorou aos seus clientes para reconsiderar, alertando que o ChatGPT não poderia escrever conteúdo com seu nível de criatividade, precisão técnica e originalidade. Ele disse que seus clientes entenderam isso, mas eles disseram que era muito mais barato usar o ChatGPT do que pagar seu salário por hora.

Fein foi recontratado por um de seus clientes, que não ficou satisfeito com o trabalho do ChatGPT. Mas isso não é suficiente para sustentar ele e sua família, que têm pouco mais de seis meses de reserva financeira antes de ficarem sem dinheiro. Agora, Fein decidiu buscar um emprego que a IA não pode fazer: ele se matriculou em cursos para se tornar um técnico de manutenção de ar condicionado. No próximo ano, ele planeja treinar para se tornar um encanador. “Um ofício é mais à prova de futuro”, disse ele.

Eric Fein viu sua empresa quase ser fechada e decidiu virar técnico em manutenção de ar-condicionado  Foto: Taylor Glascock/The Washington Post

IA causa tropeços

Empresas que substituíram trabalhadores por chatbots também já experimentaram grandes tropeços. Quando o site de notícias de tecnologia CNET usou IA para escrever artigos, os resultados foram cheios de erros. Um advogado que confiou no ChatGPT para uma petição legal inventou precedentes fictícios. E a National Eating Disorders Association, que demitiu pessoas que atendiam sua linha de ajuda e supostamente as substituiu por um chatbot, suspendeu o uso da tecnologia depois que ela deu conselhos insensíveis e prejudiciais.

Roberts disse que os chatbots podem produzir erros caros e que as empresas que se apressam em incorporar o ChatGPT em suas operações estão “pulando etapas”. Como eles funcionam prevendo a palavra mais estatisticamente provável em uma frase, eles produzem conteúdo médio por padrão. Isso apresenta às empresas uma decisão difícil: qualidade vs. custo.

“Temos que perguntar: Um simulacro é bom o suficiente? Imitação é bom o suficiente? É tudo o que nos importa?”, questiona. “Vamos baixar o padrão de qualidade para que fim? Para que os proprietários e acionistas da empresa possam levar uma fatia maior do bolo?”

Vamos baixar o padrão de qualidade para que fim? Para que os proprietários e acionistas da empresa possam levar uma fatia maior do bolo?

Sarah T. Roberts, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles

Lipkin, a redatora que descobriu que havia sido substituída pelo ChatGPT, está reconsiderando o trabalho de escritório como um todo. Ela inicialmente entrou no marketing de conteúdo para que pudesse se sustentar enquanto seguia sua própria escrita criativa. Mas ela descobriu que o trabalho a esgotava e dificultava escrever por si mesma. Agora, ela está começando um trabalho como passeadora de cães.

“Estou tirando uma folga do mundo do escritório”, disse Lipkin. “As pessoas estão procurando a solução mais barata, e essa alternativa não é uma pessoa. É um robô.” / TRADUÇÃO DE BRUNO ROMANI

THE WASHINGTON POST - Quando o ChatGPT foi lançado em novembro passado, Olivia Lipkin, uma redatora de 25 anos em São Francisco (EUA), não deu muita bola. Depois, começaram a aparecer artigos sobre como usar o chatbot no trabalho nos grupos de Slack na startup onde ela trabalhava como redatora. Nos meses seguintes, as tarefas de Lipkin diminuíram até que, em abril, ela foi demitida. E ela descobriu que seus ex-chefes falavam sobre como usar ChatGPT era mais barato do que pagar um redator. “Sempre que as pessoas falavam de ChatGPT, eu me sentia insegura e ansiosa que ele me substituísse”, disse ela. “Agora eu tenho prova de que essas ansiedades eram justificadas. Eu realmente perdi emprego por causa de inteligência artificial (IA).”

A IA melhorou rapidamente em qualidade no último ano, dando origem a chatbots que podem manter conversas fluidas, escrever músicas e produzir código de computador. Na corrida para popularizar a tecnologia, as empresas do Vale do Silício estão oferecendo esses produtos a milhões de usuários gratuitamente, por enquanto. Alguns economistas preveem que a tecnologia pode substituir centenas de milhões de empregos, numa reorganização cataclísmica da força de trabalho que espelha a revolução industrial. Céticos dizem que este medo de perda de empregos é exagerado e que os chatbots de IA se tornarão auxiliares, permitindo que as pessoas trabalhem mais rápido.

No entanto, para alguns trabalhadores, o impacto já é real. Aqueles que escrevem conteúdo de marketing e mídia social estão na primeira onda de pessoas sendo substituídas por ferramentas como chatbots. Especialistas dizem que mesmo a IA avançada não iguala as habilidades de escrita de um humano: ela carece de voz e estilo, e muitas vezes produz respostas erradas, sem sentido ou tendenciosas. Mas para muitas empresas, a redução de custos vale uma queda na qualidade. “Estamos realmente em um momento de crise”, diz Sarah T. Roberts, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles especializada em trabalho digital. “A IA está chegando para os empregos que deveriam ser à prova de automação.”

A IA e os algoritmos têm sido parte do mundo do trabalho por décadas. Por anos, empresas de produtos de consumo, supermercados e empresas de logística de armazéns têm usado algoritmos preditivos e robôs com sistemas de visão alimentados por IA para ajudar a tomar decisões de negócios, automatizar algumas tarefas rotineiras e gerenciar estoques. As plantas industriais e as fábricas foram dominadas por robôs durante grande parte do século 20, e inúmeras tarefas de escritório foram substituídas por software.

No entanto, a recente onda de inteligência artificial gerativa - que usa algoritmos complexos treinados em bilhões de palavras e imagens da internet aberta para produzir texto, imagens e áudio - tem potencial para uma nova fase no emprego. A capacidade da tecnologia de produzir prosa que soa humana coloca os trabalhadores do conhecimento bem remunerados na mira para substituição, dizem os especialistas.

ChatGPT, da OpenAI, já está gerando desemprego em algumas áreas Foto: Joel Sagat / AFP

“Em todas as ameaças anteriores, a automação era sobre automatizar os trabalhos difíceis, sujos e repetitivos”, diz Ethan Mollick, professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia. “Desta vez, a ameaça de automação é direcionada diretamente aos empregos de maior remuneração e mais criativos, que exigem a maior formação educacional.”

Em março, a Goldman Sachs previu que 18% do trabalho mundial poderia ser automatizado pela IA, com trabalhadores de escritório, como advogados, em mais risco do que aqueles em ofícios como construção ou manutenção. “Ocupações para as quais uma parte significativa do tempo dos trabalhadores é gasta ao ar livre ou realizando trabalho físico não podem ser automatizadas pela IA”, disse o relatório.

A Casa Branca também fez um alerta, dizendo em um relatório de dezembro que “a IA tem o potencial de automatizar tarefas ‘não rotineiras’, expondo grandes novas áreas da força de trabalho a potenciais disrupções”.

Mas Mollick disse que é muito cedo para avaliar o quanto a IA terá impacto na força de trabalho. Ele observou que empregos como redação publicitária, tradução de documentos e transcrição, e trabalho paralegal estão particularmente em risco, uma vez que eles têm tarefas que são facilmente feitas por chatbots. Análises jurídicas de alto nível, escrita criativa ou arte podem não ser tão facilmente substituíveis, disse ele, porque os humanos ainda superam a IA nessas áreas.

“Pense na IA como um estagiário de alto nível”, diz ele. “Empregos que são de nível inicial estão ameaçados.”

Desta vez, a ameaça de automação é direcionada diretamente aos empregos de maior remuneração e mais criativos, que exigem a maior formação educacional

Ethan Mollick, professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia

Empresa fechada da noite para o dia

Eric Fein teve seu negócio de redação de conteúdo por 10 anos, cobrando $60 por hora. O homem de 34 anos de Bloomingdale, Illinois, construiu um negócio estável com 10 contratos contínuos, que compunham metade de sua renda anual e proporcionavam uma vida confortável para sua esposa e filho de 2 anos.

Mas em março, Fein recebeu um comunicado de seu maior cliente: seus serviços não seriam mais necessários porque a empresa adotaria o ChatGPT. Um a um, os outros nove contratos de Fein foram cancelados pelo mesmo motivo. Sua pequena empresa foi quase encerrada da noite para o dia.

“Acabou comigo”, disse Fein. Ele implorou aos seus clientes para reconsiderar, alertando que o ChatGPT não poderia escrever conteúdo com seu nível de criatividade, precisão técnica e originalidade. Ele disse que seus clientes entenderam isso, mas eles disseram que era muito mais barato usar o ChatGPT do que pagar seu salário por hora.

Fein foi recontratado por um de seus clientes, que não ficou satisfeito com o trabalho do ChatGPT. Mas isso não é suficiente para sustentar ele e sua família, que têm pouco mais de seis meses de reserva financeira antes de ficarem sem dinheiro. Agora, Fein decidiu buscar um emprego que a IA não pode fazer: ele se matriculou em cursos para se tornar um técnico de manutenção de ar condicionado. No próximo ano, ele planeja treinar para se tornar um encanador. “Um ofício é mais à prova de futuro”, disse ele.

Eric Fein viu sua empresa quase ser fechada e decidiu virar técnico em manutenção de ar-condicionado  Foto: Taylor Glascock/The Washington Post

IA causa tropeços

Empresas que substituíram trabalhadores por chatbots também já experimentaram grandes tropeços. Quando o site de notícias de tecnologia CNET usou IA para escrever artigos, os resultados foram cheios de erros. Um advogado que confiou no ChatGPT para uma petição legal inventou precedentes fictícios. E a National Eating Disorders Association, que demitiu pessoas que atendiam sua linha de ajuda e supostamente as substituiu por um chatbot, suspendeu o uso da tecnologia depois que ela deu conselhos insensíveis e prejudiciais.

Roberts disse que os chatbots podem produzir erros caros e que as empresas que se apressam em incorporar o ChatGPT em suas operações estão “pulando etapas”. Como eles funcionam prevendo a palavra mais estatisticamente provável em uma frase, eles produzem conteúdo médio por padrão. Isso apresenta às empresas uma decisão difícil: qualidade vs. custo.

“Temos que perguntar: Um simulacro é bom o suficiente? Imitação é bom o suficiente? É tudo o que nos importa?”, questiona. “Vamos baixar o padrão de qualidade para que fim? Para que os proprietários e acionistas da empresa possam levar uma fatia maior do bolo?”

Vamos baixar o padrão de qualidade para que fim? Para que os proprietários e acionistas da empresa possam levar uma fatia maior do bolo?

Sarah T. Roberts, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles

Lipkin, a redatora que descobriu que havia sido substituída pelo ChatGPT, está reconsiderando o trabalho de escritório como um todo. Ela inicialmente entrou no marketing de conteúdo para que pudesse se sustentar enquanto seguia sua própria escrita criativa. Mas ela descobriu que o trabalho a esgotava e dificultava escrever por si mesma. Agora, ela está começando um trabalho como passeadora de cães.

“Estou tirando uma folga do mundo do escritório”, disse Lipkin. “As pessoas estão procurando a solução mais barata, e essa alternativa não é uma pessoa. É um robô.” / TRADUÇÃO DE BRUNO ROMANI

THE WASHINGTON POST - Quando o ChatGPT foi lançado em novembro passado, Olivia Lipkin, uma redatora de 25 anos em São Francisco (EUA), não deu muita bola. Depois, começaram a aparecer artigos sobre como usar o chatbot no trabalho nos grupos de Slack na startup onde ela trabalhava como redatora. Nos meses seguintes, as tarefas de Lipkin diminuíram até que, em abril, ela foi demitida. E ela descobriu que seus ex-chefes falavam sobre como usar ChatGPT era mais barato do que pagar um redator. “Sempre que as pessoas falavam de ChatGPT, eu me sentia insegura e ansiosa que ele me substituísse”, disse ela. “Agora eu tenho prova de que essas ansiedades eram justificadas. Eu realmente perdi emprego por causa de inteligência artificial (IA).”

A IA melhorou rapidamente em qualidade no último ano, dando origem a chatbots que podem manter conversas fluidas, escrever músicas e produzir código de computador. Na corrida para popularizar a tecnologia, as empresas do Vale do Silício estão oferecendo esses produtos a milhões de usuários gratuitamente, por enquanto. Alguns economistas preveem que a tecnologia pode substituir centenas de milhões de empregos, numa reorganização cataclísmica da força de trabalho que espelha a revolução industrial. Céticos dizem que este medo de perda de empregos é exagerado e que os chatbots de IA se tornarão auxiliares, permitindo que as pessoas trabalhem mais rápido.

No entanto, para alguns trabalhadores, o impacto já é real. Aqueles que escrevem conteúdo de marketing e mídia social estão na primeira onda de pessoas sendo substituídas por ferramentas como chatbots. Especialistas dizem que mesmo a IA avançada não iguala as habilidades de escrita de um humano: ela carece de voz e estilo, e muitas vezes produz respostas erradas, sem sentido ou tendenciosas. Mas para muitas empresas, a redução de custos vale uma queda na qualidade. “Estamos realmente em um momento de crise”, diz Sarah T. Roberts, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles especializada em trabalho digital. “A IA está chegando para os empregos que deveriam ser à prova de automação.”

A IA e os algoritmos têm sido parte do mundo do trabalho por décadas. Por anos, empresas de produtos de consumo, supermercados e empresas de logística de armazéns têm usado algoritmos preditivos e robôs com sistemas de visão alimentados por IA para ajudar a tomar decisões de negócios, automatizar algumas tarefas rotineiras e gerenciar estoques. As plantas industriais e as fábricas foram dominadas por robôs durante grande parte do século 20, e inúmeras tarefas de escritório foram substituídas por software.

No entanto, a recente onda de inteligência artificial gerativa - que usa algoritmos complexos treinados em bilhões de palavras e imagens da internet aberta para produzir texto, imagens e áudio - tem potencial para uma nova fase no emprego. A capacidade da tecnologia de produzir prosa que soa humana coloca os trabalhadores do conhecimento bem remunerados na mira para substituição, dizem os especialistas.

ChatGPT, da OpenAI, já está gerando desemprego em algumas áreas Foto: Joel Sagat / AFP

“Em todas as ameaças anteriores, a automação era sobre automatizar os trabalhos difíceis, sujos e repetitivos”, diz Ethan Mollick, professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia. “Desta vez, a ameaça de automação é direcionada diretamente aos empregos de maior remuneração e mais criativos, que exigem a maior formação educacional.”

Em março, a Goldman Sachs previu que 18% do trabalho mundial poderia ser automatizado pela IA, com trabalhadores de escritório, como advogados, em mais risco do que aqueles em ofícios como construção ou manutenção. “Ocupações para as quais uma parte significativa do tempo dos trabalhadores é gasta ao ar livre ou realizando trabalho físico não podem ser automatizadas pela IA”, disse o relatório.

A Casa Branca também fez um alerta, dizendo em um relatório de dezembro que “a IA tem o potencial de automatizar tarefas ‘não rotineiras’, expondo grandes novas áreas da força de trabalho a potenciais disrupções”.

Mas Mollick disse que é muito cedo para avaliar o quanto a IA terá impacto na força de trabalho. Ele observou que empregos como redação publicitária, tradução de documentos e transcrição, e trabalho paralegal estão particularmente em risco, uma vez que eles têm tarefas que são facilmente feitas por chatbots. Análises jurídicas de alto nível, escrita criativa ou arte podem não ser tão facilmente substituíveis, disse ele, porque os humanos ainda superam a IA nessas áreas.

“Pense na IA como um estagiário de alto nível”, diz ele. “Empregos que são de nível inicial estão ameaçados.”

Desta vez, a ameaça de automação é direcionada diretamente aos empregos de maior remuneração e mais criativos, que exigem a maior formação educacional

Ethan Mollick, professor da Escola de Negócios Wharton da Universidade da Pensilvânia

Empresa fechada da noite para o dia

Eric Fein teve seu negócio de redação de conteúdo por 10 anos, cobrando $60 por hora. O homem de 34 anos de Bloomingdale, Illinois, construiu um negócio estável com 10 contratos contínuos, que compunham metade de sua renda anual e proporcionavam uma vida confortável para sua esposa e filho de 2 anos.

Mas em março, Fein recebeu um comunicado de seu maior cliente: seus serviços não seriam mais necessários porque a empresa adotaria o ChatGPT. Um a um, os outros nove contratos de Fein foram cancelados pelo mesmo motivo. Sua pequena empresa foi quase encerrada da noite para o dia.

“Acabou comigo”, disse Fein. Ele implorou aos seus clientes para reconsiderar, alertando que o ChatGPT não poderia escrever conteúdo com seu nível de criatividade, precisão técnica e originalidade. Ele disse que seus clientes entenderam isso, mas eles disseram que era muito mais barato usar o ChatGPT do que pagar seu salário por hora.

Fein foi recontratado por um de seus clientes, que não ficou satisfeito com o trabalho do ChatGPT. Mas isso não é suficiente para sustentar ele e sua família, que têm pouco mais de seis meses de reserva financeira antes de ficarem sem dinheiro. Agora, Fein decidiu buscar um emprego que a IA não pode fazer: ele se matriculou em cursos para se tornar um técnico de manutenção de ar condicionado. No próximo ano, ele planeja treinar para se tornar um encanador. “Um ofício é mais à prova de futuro”, disse ele.

Eric Fein viu sua empresa quase ser fechada e decidiu virar técnico em manutenção de ar-condicionado  Foto: Taylor Glascock/The Washington Post

IA causa tropeços

Empresas que substituíram trabalhadores por chatbots também já experimentaram grandes tropeços. Quando o site de notícias de tecnologia CNET usou IA para escrever artigos, os resultados foram cheios de erros. Um advogado que confiou no ChatGPT para uma petição legal inventou precedentes fictícios. E a National Eating Disorders Association, que demitiu pessoas que atendiam sua linha de ajuda e supostamente as substituiu por um chatbot, suspendeu o uso da tecnologia depois que ela deu conselhos insensíveis e prejudiciais.

Roberts disse que os chatbots podem produzir erros caros e que as empresas que se apressam em incorporar o ChatGPT em suas operações estão “pulando etapas”. Como eles funcionam prevendo a palavra mais estatisticamente provável em uma frase, eles produzem conteúdo médio por padrão. Isso apresenta às empresas uma decisão difícil: qualidade vs. custo.

“Temos que perguntar: Um simulacro é bom o suficiente? Imitação é bom o suficiente? É tudo o que nos importa?”, questiona. “Vamos baixar o padrão de qualidade para que fim? Para que os proprietários e acionistas da empresa possam levar uma fatia maior do bolo?”

Vamos baixar o padrão de qualidade para que fim? Para que os proprietários e acionistas da empresa possam levar uma fatia maior do bolo?

Sarah T. Roberts, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles

Lipkin, a redatora que descobriu que havia sido substituída pelo ChatGPT, está reconsiderando o trabalho de escritório como um todo. Ela inicialmente entrou no marketing de conteúdo para que pudesse se sustentar enquanto seguia sua própria escrita criativa. Mas ela descobriu que o trabalho a esgotava e dificultava escrever por si mesma. Agora, ela está começando um trabalho como passeadora de cães.

“Estou tirando uma folga do mundo do escritório”, disse Lipkin. “As pessoas estão procurando a solução mais barata, e essa alternativa não é uma pessoa. É um robô.” / TRADUÇÃO DE BRUNO ROMANI

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