Satélite brasileiro lançado pela SpaceX vai homenagear pessoas que já morreram


Projeto de artista paulista tem lançamento marcado para 2023

Por Carolina Maingué Pires
Atualização:

Pelo menos 4,5 mil satélites artificiais orbitam o globo terrestre, mas em fevereiro de 2023 será lançado o primeiro capaz de garantir a quem já morreu um lugar no céu - ou quase isso. Em exposição até 20 de novembro na 13ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, o equipamento, batizado de “Templo Orbital”, foi concebido pelo paulistano Edson Pavoni e permite enviar nomes de pessoas já falecidas ao espaço - onde devem permanecer por cerca de dez anos.

O lançamento será realizado em parceria com a SpaceX, de Elon Musk, e com a empresa escocesa Alba Orbital. “A ideia do satélite é ser um templo extremamente inclusivo. Se eu dou às pessoas o poder de decidir quem vai pro céu, quem você manda?”

Os nomes já podem ser informados a partir de um website - posteriormente, os nomes serão enviados para o satélite. Quando ele estiver no espaço, uma antena será encarregada de fazer a sincronização com a lista de homenageados. Com apenas 5 cm de diâmetro, o satélite tem capacidade para armazenar bilhões de palavras, conta seu criador, que diz acreditar na humanização da tecnologia por meio da arte.

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A busca de Pavoni por humanidade no meio tecnológico não é uma coincidência. O artista cresceu na Vila Califórnia, bairro no sudeste da capital paulista, em uma pequena casa abarrotada de aparelhos eletrônicos. Seu padrasto consertava televisões de tubo e videocassetes, o que acabou virando inspiração desde muito cedo.

Aos 17 anos, Pavoni abriu sua primeira empresa de tecnologia, chamada D3 - mais tarde, formou-se em desenho industrial na Universidade Mackenzie. Criar o Templo Orbital foi a forma que ele e a equipe do projeto encontraram para questionar as noções de paraíso socialmente aceitas. “O objetivo não é falar mal de nenhuma Fé. Mas é colocar na experiência a ideia de que o céu também é uma coisa construída.”

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O satélite "Templo Orbital" está em exposição na 13ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre Foto: Clara Marques

‘Passageiros’

Não é preciso pagar para gravar o nome de uma pessoa querida no espaço. Pavoni e a equipe decidiram investir do próprio bolso, apostando na repercussão que o projeto deve gerar. O lançamento, que ocorrerá em um foguete da SpaceX, custou ao grupo cerca de US$ 60 mil dólares. A intermediação foi feita pela escocesa Alba Orbital, companhia especializada nos chamados “pocketcubes”, que são satélites de no máximo 5 cm.

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Luciana Hoerlle, 21, é uma das pessoas que decidiu homenagear familiares. Em um período de quatro meses em 2020, ela perdeu a avó e o avô, que agora terão os nomes enviados ao espaço. “No meu coração eles já estavam no que a gente chama de paraíso, mas foi uma oportunidade de relembrar”. Para ela, a pandemia tornou mais difícil a elaboração do luto, uma vez que não era possível estar próximo dos familiares naquele momento.

O Templo Orbital, porém, enviará para fora da Terra não apenas quem deixou a existência no sentido orgânico da palavra. Alex Rezende, de 19 anos, mudou-se para Porto Alegre no fim do ano passado para estudar Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ao nascer, recebeu um nome considerado feminino. Hoje, contudo, considera-se uma pessoa trans não binária. Quando visitou a Bienal do Mercosul, deparou-se com a obra de Pavoni e resolveu enviar seu “nome morto” para o satélite - isto é, o nome da certidão de nascimento.

O estudante, que morou a maior parte da vida em Ipatinga, no interior de Minas Gerais, conta que depois parou para refletir sobre o significado do gesto. “Quando eu descobri que não me encaixava no ideal de pessoas que vão pro céu, tive uma leve crise. Decidi enviar o nome morto como um gesto de autopiedade para uma criança que gostaria muito de ter ido pro céu, mas descobriu que não teria essa oportunidade”.

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Decidi enviar o nome morto como um gesto de autopiedade para uma criança que gostaria muito de ter ido pro céu, mas descobriu que não teria essa oportunidade

Alex Rezende, estudante

Ocupação espacial

Além de suscitar reflexões a respeito da ideia de paraíso, o Templo Orbital também visa questionar a participação do Brasil e da América Latina na ocupação espacial. “Nos foi vendido, na América Latina, o imaginário de que o espaço é o meio ambiente dos ricos”, diz Pavoni. “Mas ele também é nosso meio ambiente”.

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Segundo o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) Clezio Marcos de Nardin, o Brasil possui, hoje, cinco satélites ativos em órbita. Ele defende que os benefícios da presença brasileira no espaço são inúmeros, embora o Brasil tenha reduzido o investimento em seus projetos espaciais. Entre os benefícios estão medições de chuvas, controle de recursos hídricos, estimativas de safras na agricultura, monitoramentos ambientais, acompanhamento de obras públicas, posicionamento de aeronaves, controle de frotas de transportes e o próprio censo demográfico nacional.

“Desligue os satélites e veja o caos que se forma”, diz.

Em relação ao Templo Orbital, após o lançamento, ele entrará em uma espécie de “queda contínua” em direção à Terra. Com base na força gravitacional exercida pelo planeta, calcula-se que o satélite levará uma média de dez anos até entrar em contato com a atmosfera terrestre novamente. Quando isso acontecer, ele irá se desintegrar, explica o engenheiro eletrônico do projeto, André Biagioni. “Ele não se desintegra no lançamento porque ele vai num foguete, e a reentrada na atmosfera é muito mais difícil que a saída”.

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Dispositivo será lançado ao espaço pela SpaceX em parceria com a Alba Orbital Foto: Clara Marques

Pelo menos 4,5 mil satélites artificiais orbitam o globo terrestre, mas em fevereiro de 2023 será lançado o primeiro capaz de garantir a quem já morreu um lugar no céu - ou quase isso. Em exposição até 20 de novembro na 13ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, o equipamento, batizado de “Templo Orbital”, foi concebido pelo paulistano Edson Pavoni e permite enviar nomes de pessoas já falecidas ao espaço - onde devem permanecer por cerca de dez anos.

O lançamento será realizado em parceria com a SpaceX, de Elon Musk, e com a empresa escocesa Alba Orbital. “A ideia do satélite é ser um templo extremamente inclusivo. Se eu dou às pessoas o poder de decidir quem vai pro céu, quem você manda?”

Os nomes já podem ser informados a partir de um website - posteriormente, os nomes serão enviados para o satélite. Quando ele estiver no espaço, uma antena será encarregada de fazer a sincronização com a lista de homenageados. Com apenas 5 cm de diâmetro, o satélite tem capacidade para armazenar bilhões de palavras, conta seu criador, que diz acreditar na humanização da tecnologia por meio da arte.

A busca de Pavoni por humanidade no meio tecnológico não é uma coincidência. O artista cresceu na Vila Califórnia, bairro no sudeste da capital paulista, em uma pequena casa abarrotada de aparelhos eletrônicos. Seu padrasto consertava televisões de tubo e videocassetes, o que acabou virando inspiração desde muito cedo.

Aos 17 anos, Pavoni abriu sua primeira empresa de tecnologia, chamada D3 - mais tarde, formou-se em desenho industrial na Universidade Mackenzie. Criar o Templo Orbital foi a forma que ele e a equipe do projeto encontraram para questionar as noções de paraíso socialmente aceitas. “O objetivo não é falar mal de nenhuma Fé. Mas é colocar na experiência a ideia de que o céu também é uma coisa construída.”

O satélite "Templo Orbital" está em exposição na 13ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre Foto: Clara Marques

‘Passageiros’

Não é preciso pagar para gravar o nome de uma pessoa querida no espaço. Pavoni e a equipe decidiram investir do próprio bolso, apostando na repercussão que o projeto deve gerar. O lançamento, que ocorrerá em um foguete da SpaceX, custou ao grupo cerca de US$ 60 mil dólares. A intermediação foi feita pela escocesa Alba Orbital, companhia especializada nos chamados “pocketcubes”, que são satélites de no máximo 5 cm.

Luciana Hoerlle, 21, é uma das pessoas que decidiu homenagear familiares. Em um período de quatro meses em 2020, ela perdeu a avó e o avô, que agora terão os nomes enviados ao espaço. “No meu coração eles já estavam no que a gente chama de paraíso, mas foi uma oportunidade de relembrar”. Para ela, a pandemia tornou mais difícil a elaboração do luto, uma vez que não era possível estar próximo dos familiares naquele momento.

O Templo Orbital, porém, enviará para fora da Terra não apenas quem deixou a existência no sentido orgânico da palavra. Alex Rezende, de 19 anos, mudou-se para Porto Alegre no fim do ano passado para estudar Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ao nascer, recebeu um nome considerado feminino. Hoje, contudo, considera-se uma pessoa trans não binária. Quando visitou a Bienal do Mercosul, deparou-se com a obra de Pavoni e resolveu enviar seu “nome morto” para o satélite - isto é, o nome da certidão de nascimento.

O estudante, que morou a maior parte da vida em Ipatinga, no interior de Minas Gerais, conta que depois parou para refletir sobre o significado do gesto. “Quando eu descobri que não me encaixava no ideal de pessoas que vão pro céu, tive uma leve crise. Decidi enviar o nome morto como um gesto de autopiedade para uma criança que gostaria muito de ter ido pro céu, mas descobriu que não teria essa oportunidade”.

Decidi enviar o nome morto como um gesto de autopiedade para uma criança que gostaria muito de ter ido pro céu, mas descobriu que não teria essa oportunidade

Alex Rezende, estudante

Ocupação espacial

Além de suscitar reflexões a respeito da ideia de paraíso, o Templo Orbital também visa questionar a participação do Brasil e da América Latina na ocupação espacial. “Nos foi vendido, na América Latina, o imaginário de que o espaço é o meio ambiente dos ricos”, diz Pavoni. “Mas ele também é nosso meio ambiente”.

Segundo o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) Clezio Marcos de Nardin, o Brasil possui, hoje, cinco satélites ativos em órbita. Ele defende que os benefícios da presença brasileira no espaço são inúmeros, embora o Brasil tenha reduzido o investimento em seus projetos espaciais. Entre os benefícios estão medições de chuvas, controle de recursos hídricos, estimativas de safras na agricultura, monitoramentos ambientais, acompanhamento de obras públicas, posicionamento de aeronaves, controle de frotas de transportes e o próprio censo demográfico nacional.

“Desligue os satélites e veja o caos que se forma”, diz.

Em relação ao Templo Orbital, após o lançamento, ele entrará em uma espécie de “queda contínua” em direção à Terra. Com base na força gravitacional exercida pelo planeta, calcula-se que o satélite levará uma média de dez anos até entrar em contato com a atmosfera terrestre novamente. Quando isso acontecer, ele irá se desintegrar, explica o engenheiro eletrônico do projeto, André Biagioni. “Ele não se desintegra no lançamento porque ele vai num foguete, e a reentrada na atmosfera é muito mais difícil que a saída”.

Dispositivo será lançado ao espaço pela SpaceX em parceria com a Alba Orbital Foto: Clara Marques

Pelo menos 4,5 mil satélites artificiais orbitam o globo terrestre, mas em fevereiro de 2023 será lançado o primeiro capaz de garantir a quem já morreu um lugar no céu - ou quase isso. Em exposição até 20 de novembro na 13ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, o equipamento, batizado de “Templo Orbital”, foi concebido pelo paulistano Edson Pavoni e permite enviar nomes de pessoas já falecidas ao espaço - onde devem permanecer por cerca de dez anos.

O lançamento será realizado em parceria com a SpaceX, de Elon Musk, e com a empresa escocesa Alba Orbital. “A ideia do satélite é ser um templo extremamente inclusivo. Se eu dou às pessoas o poder de decidir quem vai pro céu, quem você manda?”

Os nomes já podem ser informados a partir de um website - posteriormente, os nomes serão enviados para o satélite. Quando ele estiver no espaço, uma antena será encarregada de fazer a sincronização com a lista de homenageados. Com apenas 5 cm de diâmetro, o satélite tem capacidade para armazenar bilhões de palavras, conta seu criador, que diz acreditar na humanização da tecnologia por meio da arte.

A busca de Pavoni por humanidade no meio tecnológico não é uma coincidência. O artista cresceu na Vila Califórnia, bairro no sudeste da capital paulista, em uma pequena casa abarrotada de aparelhos eletrônicos. Seu padrasto consertava televisões de tubo e videocassetes, o que acabou virando inspiração desde muito cedo.

Aos 17 anos, Pavoni abriu sua primeira empresa de tecnologia, chamada D3 - mais tarde, formou-se em desenho industrial na Universidade Mackenzie. Criar o Templo Orbital foi a forma que ele e a equipe do projeto encontraram para questionar as noções de paraíso socialmente aceitas. “O objetivo não é falar mal de nenhuma Fé. Mas é colocar na experiência a ideia de que o céu também é uma coisa construída.”

O satélite "Templo Orbital" está em exposição na 13ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre Foto: Clara Marques

‘Passageiros’

Não é preciso pagar para gravar o nome de uma pessoa querida no espaço. Pavoni e a equipe decidiram investir do próprio bolso, apostando na repercussão que o projeto deve gerar. O lançamento, que ocorrerá em um foguete da SpaceX, custou ao grupo cerca de US$ 60 mil dólares. A intermediação foi feita pela escocesa Alba Orbital, companhia especializada nos chamados “pocketcubes”, que são satélites de no máximo 5 cm.

Luciana Hoerlle, 21, é uma das pessoas que decidiu homenagear familiares. Em um período de quatro meses em 2020, ela perdeu a avó e o avô, que agora terão os nomes enviados ao espaço. “No meu coração eles já estavam no que a gente chama de paraíso, mas foi uma oportunidade de relembrar”. Para ela, a pandemia tornou mais difícil a elaboração do luto, uma vez que não era possível estar próximo dos familiares naquele momento.

O Templo Orbital, porém, enviará para fora da Terra não apenas quem deixou a existência no sentido orgânico da palavra. Alex Rezende, de 19 anos, mudou-se para Porto Alegre no fim do ano passado para estudar Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ao nascer, recebeu um nome considerado feminino. Hoje, contudo, considera-se uma pessoa trans não binária. Quando visitou a Bienal do Mercosul, deparou-se com a obra de Pavoni e resolveu enviar seu “nome morto” para o satélite - isto é, o nome da certidão de nascimento.

O estudante, que morou a maior parte da vida em Ipatinga, no interior de Minas Gerais, conta que depois parou para refletir sobre o significado do gesto. “Quando eu descobri que não me encaixava no ideal de pessoas que vão pro céu, tive uma leve crise. Decidi enviar o nome morto como um gesto de autopiedade para uma criança que gostaria muito de ter ido pro céu, mas descobriu que não teria essa oportunidade”.

Decidi enviar o nome morto como um gesto de autopiedade para uma criança que gostaria muito de ter ido pro céu, mas descobriu que não teria essa oportunidade

Alex Rezende, estudante

Ocupação espacial

Além de suscitar reflexões a respeito da ideia de paraíso, o Templo Orbital também visa questionar a participação do Brasil e da América Latina na ocupação espacial. “Nos foi vendido, na América Latina, o imaginário de que o espaço é o meio ambiente dos ricos”, diz Pavoni. “Mas ele também é nosso meio ambiente”.

Segundo o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) Clezio Marcos de Nardin, o Brasil possui, hoje, cinco satélites ativos em órbita. Ele defende que os benefícios da presença brasileira no espaço são inúmeros, embora o Brasil tenha reduzido o investimento em seus projetos espaciais. Entre os benefícios estão medições de chuvas, controle de recursos hídricos, estimativas de safras na agricultura, monitoramentos ambientais, acompanhamento de obras públicas, posicionamento de aeronaves, controle de frotas de transportes e o próprio censo demográfico nacional.

“Desligue os satélites e veja o caos que se forma”, diz.

Em relação ao Templo Orbital, após o lançamento, ele entrará em uma espécie de “queda contínua” em direção à Terra. Com base na força gravitacional exercida pelo planeta, calcula-se que o satélite levará uma média de dez anos até entrar em contato com a atmosfera terrestre novamente. Quando isso acontecer, ele irá se desintegrar, explica o engenheiro eletrônico do projeto, André Biagioni. “Ele não se desintegra no lançamento porque ele vai num foguete, e a reentrada na atmosfera é muito mais difícil que a saída”.

Dispositivo será lançado ao espaço pela SpaceX em parceria com a Alba Orbital Foto: Clara Marques

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