‘Stories’ do Instagram e TikTok mudam as Olimpíadas com ‘gostinho’ de bastidores


Na edição 2020 dos Jogos, atletas brasileiros viram influenciadores digitais e compartilham rotina olímpica com milhares de seguidores graças a ferramentas de vídeos curtos ou em tempo real

Por Bruna Arimathea e Giovanna Wolf
Atletas brasileiros acompanharam as mudanças das redes sociais Foto: Jonne Roriz/COB

Nas madrugadas das últimas duas semanas, muitos brasileiros fizeram um revezamento de telas para acompanhar o que estava acontecendo em Tóquio: os jogos começavam com as fofocas nos Stories, do Instagram, aconteciam na TV e terminavam no TikTok com algum conteúdo viralizado. Por essas plataformas, foi possível acompanhar detalhes dos preparativos, da comemoração e de quase qualquer coisa que os atletas quisessem mostrar nas redes sociais, desde a cama de papelão da Vila Olímpica até o funcionamento da privada tecnológica do Japão. Tudo isso pela lente dos protagonistas do evento. 

É algo novo destas Olimpíadas: nos últimos quatro anos, ferramentas de vídeos curtos ou de tempo real dominaram as plataformas tecnológicas. Publicações em texto e imagens supereditadas, que já apareciam nos jogos anteriores, deram espaço a conteúdos espontâneos com bastidores do dia a dia. Os Stories, em que os conteúdos desaparecem depois de 24 horas, foram lançados em 2016 – ou seja, era um recurso incipiente nos Jogos do Rio de Janeiro. O aplicativo chinês TikTok, conhecido pelos vídeos acelerados, chegou ao Brasil em 2018 e bombou de fato em 2020. E os atletas, é claro, acompanharam as mudanças. 

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Laura Pigossi, atual medalhista de bronze nas duplas do tênis feminino com Luísa Stefani, já era adepta dos Stories antes de Tóquio e aproveitou a estadia no Japão para compartilhar os detalhes da viagem nas redes sociais. “Minha família queria saber como era, então eu comecei a gravar e muitas pessoas me mandaram perguntas sobre coisas que elas queriam saber. Fiquei surpresa com a repercussão. Sempre gostei dos Stories e gostava de mostrar coisas que às vezes os jornalistas não conseguiam reportar, porque eram coisas mais pessoais dos atletas”, afirma a atleta ao Estadão

No Instagram, Laura viu seu número de seguidores saltar de 7 mil para 72 mil nestas Olimpíadas. Com a visão privilegiada do evento que só um atleta tem, ela mostrou em seus Stories coisas da rotina, como o interior de restaurantes e a chegada até as quadras – os conteúdos ultrapassaram as 70 mil visualizações em pouco tempo.

reference
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O uso das redes sociais foi conciliado com muita preparação e treino para as competições. “Eu tinha hora para tudo, inclusive para gravar os vídeos, gerando um pouco de conteúdo. Quando perdemos o jogo na semifinal, as pessoas mandaram muita força, falando que a gente ia conquistar algo, que a gente merecia a medalha de bronze. Foi um grande impulso”, conta Laura. 

A atleta Ágatha Rippel, do vôlei de praia, também viveu um processo semelhante nestes jogos. Desde que publicou um vídeo mostrando como funcionava o vaso sanitário tecnológico do alojamento, ela viu seu número de seguidores subir e também percebeu cada vez mais brasileiros pedindo detalhes do que acontecia na Vila Olímpica. No vídeo em questão, Ágatha brinca com os vários botões de controle do equipamento para explicar aos curiosos como funcionava.

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Se do lado do atleta fez sentido a exposição, do lado do espectador a sede por esses conteúdos foi grande: para quem assistiu a estes Jogos, apenas saber o resultado da competição não foi suficiente. Isabelle Brandão Otoni, de 28 anos, acompanhou todos os movimentos dos seus atletas favoritos, principalmente das seleções de vôlei e do skate brasileiro. Para a mineira, era uma forma de ver o dia a dia de modalidades menos conhecidas e ter uma visão interna do que acontece na competição.

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“Eu lembro que, em 2016, a gente ainda não sabia como era viver na Vila Olímpica, como é a interação de um atleta com outro, como os atletas também são fãs de outros. É legal saber que eles são pessoas normais, que vão fazer bagunça e vão ter seus ídolos lá dentro também”, afirma Isabelle.

Para o professor Ivan Martinho, especializado em marketing esportivo na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), essa conexão com os atletas teve uma dimensão ainda maior por conta da pandemia. “Foi um evento que teve restrição de público. Isso gera uma demanda reprimida grande por proximidade: muitas pessoas gostariam de ir e não puderam”, afirma. “E conteúdos nas redes sociais ganham ainda mais importância em uma competição que aconteceu no fuso horário contrário ao brasileiro”. 

Audiência

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Mais de 60 atletas brasileiros possuem contas no TikTok, de acordo com dados da rede social obtidos pelo Estadão — alguns contam com centenas de milhares de seguidores. As atualizações quase diárias de rotinas de treinos, brincadeiras e a convivência de atletas de diferentes modalidades e países fez com que a rede registrasse um pico de procura por conteúdos sobre os Jogos. Publicações relacionadas à jogadora de vôlei Fernanda Garay, por exemplo, circularam bastante pela plataforma – a pesquisa #fernandagaray soma mais de 100 mil resultados. 

Em alguns casos, as postagens de atletas em redes sociais atingiram níveis de influenciadores digitais. Rayssa Leal, a “Fadinha” do Skate Street, foi uma das que mais teve engajamento no TikTok. Um vídeo em que ela dança com a atleta filipina Margielyn Didal teve mais de 6 milhões de visualizações. A vice-campeã olímpica soma 3,5 milhões de seguidores no TikTok e 6,6 milhões no Instagram. 

@jrayssaleal W/ my G ♬ Silence - Silence

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O jogador Douglas Souza, da seleção masculina de vôlei, foi quem teve maior crescimento nas redes sociais como um todo desde que o evento começou: segundo um levantamento da B&Partners.co, o número de seguidores dele cresceu 895 % no Instagram, atingindo o número de 3,2 milhões.  

Com bom humor, o jogador mostrou como foi estar em Tóquio. Em uma das publicações, Souza chegou a fazer um teste da cama de papelão, em que pulava no colchão pra mostrar que a armação era realmente resistente – houve uma polêmica na internet de que a armação de papelão sustentava apenas uma pessoa, com o suposto objetivo de evitar que os atletas fizessem sexo durante os Jogos.

Para Alexandre Inagaki, consultor de redes sociais, a aproximação do atleta “influenciador digital” do público é uma tendência que veio para ficar – a imersão deve ser ainda maior na próxima edição dos Jogos, que acontecerá em Paris, em 2024. “Agora que estamos na cultura das mídias sociais, podemos seguir o dia a dia das nossas personalidades favoritas. É uma continuidade da competição e, no fim das contas, pela proximidade, o atleta meio que se torna um amigo”. 

Atletas brasileiros acompanharam as mudanças das redes sociais Foto: Jonne Roriz/COB

Nas madrugadas das últimas duas semanas, muitos brasileiros fizeram um revezamento de telas para acompanhar o que estava acontecendo em Tóquio: os jogos começavam com as fofocas nos Stories, do Instagram, aconteciam na TV e terminavam no TikTok com algum conteúdo viralizado. Por essas plataformas, foi possível acompanhar detalhes dos preparativos, da comemoração e de quase qualquer coisa que os atletas quisessem mostrar nas redes sociais, desde a cama de papelão da Vila Olímpica até o funcionamento da privada tecnológica do Japão. Tudo isso pela lente dos protagonistas do evento. 

É algo novo destas Olimpíadas: nos últimos quatro anos, ferramentas de vídeos curtos ou de tempo real dominaram as plataformas tecnológicas. Publicações em texto e imagens supereditadas, que já apareciam nos jogos anteriores, deram espaço a conteúdos espontâneos com bastidores do dia a dia. Os Stories, em que os conteúdos desaparecem depois de 24 horas, foram lançados em 2016 – ou seja, era um recurso incipiente nos Jogos do Rio de Janeiro. O aplicativo chinês TikTok, conhecido pelos vídeos acelerados, chegou ao Brasil em 2018 e bombou de fato em 2020. E os atletas, é claro, acompanharam as mudanças. 

Laura Pigossi, atual medalhista de bronze nas duplas do tênis feminino com Luísa Stefani, já era adepta dos Stories antes de Tóquio e aproveitou a estadia no Japão para compartilhar os detalhes da viagem nas redes sociais. “Minha família queria saber como era, então eu comecei a gravar e muitas pessoas me mandaram perguntas sobre coisas que elas queriam saber. Fiquei surpresa com a repercussão. Sempre gostei dos Stories e gostava de mostrar coisas que às vezes os jornalistas não conseguiam reportar, porque eram coisas mais pessoais dos atletas”, afirma a atleta ao Estadão

No Instagram, Laura viu seu número de seguidores saltar de 7 mil para 72 mil nestas Olimpíadas. Com a visão privilegiada do evento que só um atleta tem, ela mostrou em seus Stories coisas da rotina, como o interior de restaurantes e a chegada até as quadras – os conteúdos ultrapassaram as 70 mil visualizações em pouco tempo.

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O uso das redes sociais foi conciliado com muita preparação e treino para as competições. “Eu tinha hora para tudo, inclusive para gravar os vídeos, gerando um pouco de conteúdo. Quando perdemos o jogo na semifinal, as pessoas mandaram muita força, falando que a gente ia conquistar algo, que a gente merecia a medalha de bronze. Foi um grande impulso”, conta Laura. 

A atleta Ágatha Rippel, do vôlei de praia, também viveu um processo semelhante nestes jogos. Desde que publicou um vídeo mostrando como funcionava o vaso sanitário tecnológico do alojamento, ela viu seu número de seguidores subir e também percebeu cada vez mais brasileiros pedindo detalhes do que acontecia na Vila Olímpica. No vídeo em questão, Ágatha brinca com os vários botões de controle do equipamento para explicar aos curiosos como funcionava.

Se do lado do atleta fez sentido a exposição, do lado do espectador a sede por esses conteúdos foi grande: para quem assistiu a estes Jogos, apenas saber o resultado da competição não foi suficiente. Isabelle Brandão Otoni, de 28 anos, acompanhou todos os movimentos dos seus atletas favoritos, principalmente das seleções de vôlei e do skate brasileiro. Para a mineira, era uma forma de ver o dia a dia de modalidades menos conhecidas e ter uma visão interna do que acontece na competição.

“Eu lembro que, em 2016, a gente ainda não sabia como era viver na Vila Olímpica, como é a interação de um atleta com outro, como os atletas também são fãs de outros. É legal saber que eles são pessoas normais, que vão fazer bagunça e vão ter seus ídolos lá dentro também”, afirma Isabelle.

Para o professor Ivan Martinho, especializado em marketing esportivo na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), essa conexão com os atletas teve uma dimensão ainda maior por conta da pandemia. “Foi um evento que teve restrição de público. Isso gera uma demanda reprimida grande por proximidade: muitas pessoas gostariam de ir e não puderam”, afirma. “E conteúdos nas redes sociais ganham ainda mais importância em uma competição que aconteceu no fuso horário contrário ao brasileiro”. 

Audiência

Mais de 60 atletas brasileiros possuem contas no TikTok, de acordo com dados da rede social obtidos pelo Estadão — alguns contam com centenas de milhares de seguidores. As atualizações quase diárias de rotinas de treinos, brincadeiras e a convivência de atletas de diferentes modalidades e países fez com que a rede registrasse um pico de procura por conteúdos sobre os Jogos. Publicações relacionadas à jogadora de vôlei Fernanda Garay, por exemplo, circularam bastante pela plataforma – a pesquisa #fernandagaray soma mais de 100 mil resultados. 

Em alguns casos, as postagens de atletas em redes sociais atingiram níveis de influenciadores digitais. Rayssa Leal, a “Fadinha” do Skate Street, foi uma das que mais teve engajamento no TikTok. Um vídeo em que ela dança com a atleta filipina Margielyn Didal teve mais de 6 milhões de visualizações. A vice-campeã olímpica soma 3,5 milhões de seguidores no TikTok e 6,6 milhões no Instagram. 

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O jogador Douglas Souza, da seleção masculina de vôlei, foi quem teve maior crescimento nas redes sociais como um todo desde que o evento começou: segundo um levantamento da B&Partners.co, o número de seguidores dele cresceu 895 % no Instagram, atingindo o número de 3,2 milhões.  

Com bom humor, o jogador mostrou como foi estar em Tóquio. Em uma das publicações, Souza chegou a fazer um teste da cama de papelão, em que pulava no colchão pra mostrar que a armação era realmente resistente – houve uma polêmica na internet de que a armação de papelão sustentava apenas uma pessoa, com o suposto objetivo de evitar que os atletas fizessem sexo durante os Jogos.

Para Alexandre Inagaki, consultor de redes sociais, a aproximação do atleta “influenciador digital” do público é uma tendência que veio para ficar – a imersão deve ser ainda maior na próxima edição dos Jogos, que acontecerá em Paris, em 2024. “Agora que estamos na cultura das mídias sociais, podemos seguir o dia a dia das nossas personalidades favoritas. É uma continuidade da competição e, no fim das contas, pela proximidade, o atleta meio que se torna um amigo”. 

Atletas brasileiros acompanharam as mudanças das redes sociais Foto: Jonne Roriz/COB

Nas madrugadas das últimas duas semanas, muitos brasileiros fizeram um revezamento de telas para acompanhar o que estava acontecendo em Tóquio: os jogos começavam com as fofocas nos Stories, do Instagram, aconteciam na TV e terminavam no TikTok com algum conteúdo viralizado. Por essas plataformas, foi possível acompanhar detalhes dos preparativos, da comemoração e de quase qualquer coisa que os atletas quisessem mostrar nas redes sociais, desde a cama de papelão da Vila Olímpica até o funcionamento da privada tecnológica do Japão. Tudo isso pela lente dos protagonistas do evento. 

É algo novo destas Olimpíadas: nos últimos quatro anos, ferramentas de vídeos curtos ou de tempo real dominaram as plataformas tecnológicas. Publicações em texto e imagens supereditadas, que já apareciam nos jogos anteriores, deram espaço a conteúdos espontâneos com bastidores do dia a dia. Os Stories, em que os conteúdos desaparecem depois de 24 horas, foram lançados em 2016 – ou seja, era um recurso incipiente nos Jogos do Rio de Janeiro. O aplicativo chinês TikTok, conhecido pelos vídeos acelerados, chegou ao Brasil em 2018 e bombou de fato em 2020. E os atletas, é claro, acompanharam as mudanças. 

Laura Pigossi, atual medalhista de bronze nas duplas do tênis feminino com Luísa Stefani, já era adepta dos Stories antes de Tóquio e aproveitou a estadia no Japão para compartilhar os detalhes da viagem nas redes sociais. “Minha família queria saber como era, então eu comecei a gravar e muitas pessoas me mandaram perguntas sobre coisas que elas queriam saber. Fiquei surpresa com a repercussão. Sempre gostei dos Stories e gostava de mostrar coisas que às vezes os jornalistas não conseguiam reportar, porque eram coisas mais pessoais dos atletas”, afirma a atleta ao Estadão

No Instagram, Laura viu seu número de seguidores saltar de 7 mil para 72 mil nestas Olimpíadas. Com a visão privilegiada do evento que só um atleta tem, ela mostrou em seus Stories coisas da rotina, como o interior de restaurantes e a chegada até as quadras – os conteúdos ultrapassaram as 70 mil visualizações em pouco tempo.

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O uso das redes sociais foi conciliado com muita preparação e treino para as competições. “Eu tinha hora para tudo, inclusive para gravar os vídeos, gerando um pouco de conteúdo. Quando perdemos o jogo na semifinal, as pessoas mandaram muita força, falando que a gente ia conquistar algo, que a gente merecia a medalha de bronze. Foi um grande impulso”, conta Laura. 

A atleta Ágatha Rippel, do vôlei de praia, também viveu um processo semelhante nestes jogos. Desde que publicou um vídeo mostrando como funcionava o vaso sanitário tecnológico do alojamento, ela viu seu número de seguidores subir e também percebeu cada vez mais brasileiros pedindo detalhes do que acontecia na Vila Olímpica. No vídeo em questão, Ágatha brinca com os vários botões de controle do equipamento para explicar aos curiosos como funcionava.

Se do lado do atleta fez sentido a exposição, do lado do espectador a sede por esses conteúdos foi grande: para quem assistiu a estes Jogos, apenas saber o resultado da competição não foi suficiente. Isabelle Brandão Otoni, de 28 anos, acompanhou todos os movimentos dos seus atletas favoritos, principalmente das seleções de vôlei e do skate brasileiro. Para a mineira, era uma forma de ver o dia a dia de modalidades menos conhecidas e ter uma visão interna do que acontece na competição.

“Eu lembro que, em 2016, a gente ainda não sabia como era viver na Vila Olímpica, como é a interação de um atleta com outro, como os atletas também são fãs de outros. É legal saber que eles são pessoas normais, que vão fazer bagunça e vão ter seus ídolos lá dentro também”, afirma Isabelle.

Para o professor Ivan Martinho, especializado em marketing esportivo na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), essa conexão com os atletas teve uma dimensão ainda maior por conta da pandemia. “Foi um evento que teve restrição de público. Isso gera uma demanda reprimida grande por proximidade: muitas pessoas gostariam de ir e não puderam”, afirma. “E conteúdos nas redes sociais ganham ainda mais importância em uma competição que aconteceu no fuso horário contrário ao brasileiro”. 

Audiência

Mais de 60 atletas brasileiros possuem contas no TikTok, de acordo com dados da rede social obtidos pelo Estadão — alguns contam com centenas de milhares de seguidores. As atualizações quase diárias de rotinas de treinos, brincadeiras e a convivência de atletas de diferentes modalidades e países fez com que a rede registrasse um pico de procura por conteúdos sobre os Jogos. Publicações relacionadas à jogadora de vôlei Fernanda Garay, por exemplo, circularam bastante pela plataforma – a pesquisa #fernandagaray soma mais de 100 mil resultados. 

Em alguns casos, as postagens de atletas em redes sociais atingiram níveis de influenciadores digitais. Rayssa Leal, a “Fadinha” do Skate Street, foi uma das que mais teve engajamento no TikTok. Um vídeo em que ela dança com a atleta filipina Margielyn Didal teve mais de 6 milhões de visualizações. A vice-campeã olímpica soma 3,5 milhões de seguidores no TikTok e 6,6 milhões no Instagram. 

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O jogador Douglas Souza, da seleção masculina de vôlei, foi quem teve maior crescimento nas redes sociais como um todo desde que o evento começou: segundo um levantamento da B&Partners.co, o número de seguidores dele cresceu 895 % no Instagram, atingindo o número de 3,2 milhões.  

Com bom humor, o jogador mostrou como foi estar em Tóquio. Em uma das publicações, Souza chegou a fazer um teste da cama de papelão, em que pulava no colchão pra mostrar que a armação era realmente resistente – houve uma polêmica na internet de que a armação de papelão sustentava apenas uma pessoa, com o suposto objetivo de evitar que os atletas fizessem sexo durante os Jogos.

Para Alexandre Inagaki, consultor de redes sociais, a aproximação do atleta “influenciador digital” do público é uma tendência que veio para ficar – a imersão deve ser ainda maior na próxima edição dos Jogos, que acontecerá em Paris, em 2024. “Agora que estamos na cultura das mídias sociais, podemos seguir o dia a dia das nossas personalidades favoritas. É uma continuidade da competição e, no fim das contas, pela proximidade, o atleta meio que se torna um amigo”. 

Atletas brasileiros acompanharam as mudanças das redes sociais Foto: Jonne Roriz/COB

Nas madrugadas das últimas duas semanas, muitos brasileiros fizeram um revezamento de telas para acompanhar o que estava acontecendo em Tóquio: os jogos começavam com as fofocas nos Stories, do Instagram, aconteciam na TV e terminavam no TikTok com algum conteúdo viralizado. Por essas plataformas, foi possível acompanhar detalhes dos preparativos, da comemoração e de quase qualquer coisa que os atletas quisessem mostrar nas redes sociais, desde a cama de papelão da Vila Olímpica até o funcionamento da privada tecnológica do Japão. Tudo isso pela lente dos protagonistas do evento. 

É algo novo destas Olimpíadas: nos últimos quatro anos, ferramentas de vídeos curtos ou de tempo real dominaram as plataformas tecnológicas. Publicações em texto e imagens supereditadas, que já apareciam nos jogos anteriores, deram espaço a conteúdos espontâneos com bastidores do dia a dia. Os Stories, em que os conteúdos desaparecem depois de 24 horas, foram lançados em 2016 – ou seja, era um recurso incipiente nos Jogos do Rio de Janeiro. O aplicativo chinês TikTok, conhecido pelos vídeos acelerados, chegou ao Brasil em 2018 e bombou de fato em 2020. E os atletas, é claro, acompanharam as mudanças. 

Laura Pigossi, atual medalhista de bronze nas duplas do tênis feminino com Luísa Stefani, já era adepta dos Stories antes de Tóquio e aproveitou a estadia no Japão para compartilhar os detalhes da viagem nas redes sociais. “Minha família queria saber como era, então eu comecei a gravar e muitas pessoas me mandaram perguntas sobre coisas que elas queriam saber. Fiquei surpresa com a repercussão. Sempre gostei dos Stories e gostava de mostrar coisas que às vezes os jornalistas não conseguiam reportar, porque eram coisas mais pessoais dos atletas”, afirma a atleta ao Estadão

No Instagram, Laura viu seu número de seguidores saltar de 7 mil para 72 mil nestas Olimpíadas. Com a visão privilegiada do evento que só um atleta tem, ela mostrou em seus Stories coisas da rotina, como o interior de restaurantes e a chegada até as quadras – os conteúdos ultrapassaram as 70 mil visualizações em pouco tempo.

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O uso das redes sociais foi conciliado com muita preparação e treino para as competições. “Eu tinha hora para tudo, inclusive para gravar os vídeos, gerando um pouco de conteúdo. Quando perdemos o jogo na semifinal, as pessoas mandaram muita força, falando que a gente ia conquistar algo, que a gente merecia a medalha de bronze. Foi um grande impulso”, conta Laura. 

A atleta Ágatha Rippel, do vôlei de praia, também viveu um processo semelhante nestes jogos. Desde que publicou um vídeo mostrando como funcionava o vaso sanitário tecnológico do alojamento, ela viu seu número de seguidores subir e também percebeu cada vez mais brasileiros pedindo detalhes do que acontecia na Vila Olímpica. No vídeo em questão, Ágatha brinca com os vários botões de controle do equipamento para explicar aos curiosos como funcionava.

Se do lado do atleta fez sentido a exposição, do lado do espectador a sede por esses conteúdos foi grande: para quem assistiu a estes Jogos, apenas saber o resultado da competição não foi suficiente. Isabelle Brandão Otoni, de 28 anos, acompanhou todos os movimentos dos seus atletas favoritos, principalmente das seleções de vôlei e do skate brasileiro. Para a mineira, era uma forma de ver o dia a dia de modalidades menos conhecidas e ter uma visão interna do que acontece na competição.

“Eu lembro que, em 2016, a gente ainda não sabia como era viver na Vila Olímpica, como é a interação de um atleta com outro, como os atletas também são fãs de outros. É legal saber que eles são pessoas normais, que vão fazer bagunça e vão ter seus ídolos lá dentro também”, afirma Isabelle.

Para o professor Ivan Martinho, especializado em marketing esportivo na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), essa conexão com os atletas teve uma dimensão ainda maior por conta da pandemia. “Foi um evento que teve restrição de público. Isso gera uma demanda reprimida grande por proximidade: muitas pessoas gostariam de ir e não puderam”, afirma. “E conteúdos nas redes sociais ganham ainda mais importância em uma competição que aconteceu no fuso horário contrário ao brasileiro”. 

Audiência

Mais de 60 atletas brasileiros possuem contas no TikTok, de acordo com dados da rede social obtidos pelo Estadão — alguns contam com centenas de milhares de seguidores. As atualizações quase diárias de rotinas de treinos, brincadeiras e a convivência de atletas de diferentes modalidades e países fez com que a rede registrasse um pico de procura por conteúdos sobre os Jogos. Publicações relacionadas à jogadora de vôlei Fernanda Garay, por exemplo, circularam bastante pela plataforma – a pesquisa #fernandagaray soma mais de 100 mil resultados. 

Em alguns casos, as postagens de atletas em redes sociais atingiram níveis de influenciadores digitais. Rayssa Leal, a “Fadinha” do Skate Street, foi uma das que mais teve engajamento no TikTok. Um vídeo em que ela dança com a atleta filipina Margielyn Didal teve mais de 6 milhões de visualizações. A vice-campeã olímpica soma 3,5 milhões de seguidores no TikTok e 6,6 milhões no Instagram. 

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O jogador Douglas Souza, da seleção masculina de vôlei, foi quem teve maior crescimento nas redes sociais como um todo desde que o evento começou: segundo um levantamento da B&Partners.co, o número de seguidores dele cresceu 895 % no Instagram, atingindo o número de 3,2 milhões.  

Com bom humor, o jogador mostrou como foi estar em Tóquio. Em uma das publicações, Souza chegou a fazer um teste da cama de papelão, em que pulava no colchão pra mostrar que a armação era realmente resistente – houve uma polêmica na internet de que a armação de papelão sustentava apenas uma pessoa, com o suposto objetivo de evitar que os atletas fizessem sexo durante os Jogos.

Para Alexandre Inagaki, consultor de redes sociais, a aproximação do atleta “influenciador digital” do público é uma tendência que veio para ficar – a imersão deve ser ainda maior na próxima edição dos Jogos, que acontecerá em Paris, em 2024. “Agora que estamos na cultura das mídias sociais, podemos seguir o dia a dia das nossas personalidades favoritas. É uma continuidade da competição e, no fim das contas, pela proximidade, o atleta meio que se torna um amigo”. 

Atletas brasileiros acompanharam as mudanças das redes sociais Foto: Jonne Roriz/COB

Nas madrugadas das últimas duas semanas, muitos brasileiros fizeram um revezamento de telas para acompanhar o que estava acontecendo em Tóquio: os jogos começavam com as fofocas nos Stories, do Instagram, aconteciam na TV e terminavam no TikTok com algum conteúdo viralizado. Por essas plataformas, foi possível acompanhar detalhes dos preparativos, da comemoração e de quase qualquer coisa que os atletas quisessem mostrar nas redes sociais, desde a cama de papelão da Vila Olímpica até o funcionamento da privada tecnológica do Japão. Tudo isso pela lente dos protagonistas do evento. 

É algo novo destas Olimpíadas: nos últimos quatro anos, ferramentas de vídeos curtos ou de tempo real dominaram as plataformas tecnológicas. Publicações em texto e imagens supereditadas, que já apareciam nos jogos anteriores, deram espaço a conteúdos espontâneos com bastidores do dia a dia. Os Stories, em que os conteúdos desaparecem depois de 24 horas, foram lançados em 2016 – ou seja, era um recurso incipiente nos Jogos do Rio de Janeiro. O aplicativo chinês TikTok, conhecido pelos vídeos acelerados, chegou ao Brasil em 2018 e bombou de fato em 2020. E os atletas, é claro, acompanharam as mudanças. 

Laura Pigossi, atual medalhista de bronze nas duplas do tênis feminino com Luísa Stefani, já era adepta dos Stories antes de Tóquio e aproveitou a estadia no Japão para compartilhar os detalhes da viagem nas redes sociais. “Minha família queria saber como era, então eu comecei a gravar e muitas pessoas me mandaram perguntas sobre coisas que elas queriam saber. Fiquei surpresa com a repercussão. Sempre gostei dos Stories e gostava de mostrar coisas que às vezes os jornalistas não conseguiam reportar, porque eram coisas mais pessoais dos atletas”, afirma a atleta ao Estadão

No Instagram, Laura viu seu número de seguidores saltar de 7 mil para 72 mil nestas Olimpíadas. Com a visão privilegiada do evento que só um atleta tem, ela mostrou em seus Stories coisas da rotina, como o interior de restaurantes e a chegada até as quadras – os conteúdos ultrapassaram as 70 mil visualizações em pouco tempo.

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O uso das redes sociais foi conciliado com muita preparação e treino para as competições. “Eu tinha hora para tudo, inclusive para gravar os vídeos, gerando um pouco de conteúdo. Quando perdemos o jogo na semifinal, as pessoas mandaram muita força, falando que a gente ia conquistar algo, que a gente merecia a medalha de bronze. Foi um grande impulso”, conta Laura. 

A atleta Ágatha Rippel, do vôlei de praia, também viveu um processo semelhante nestes jogos. Desde que publicou um vídeo mostrando como funcionava o vaso sanitário tecnológico do alojamento, ela viu seu número de seguidores subir e também percebeu cada vez mais brasileiros pedindo detalhes do que acontecia na Vila Olímpica. No vídeo em questão, Ágatha brinca com os vários botões de controle do equipamento para explicar aos curiosos como funcionava.

Se do lado do atleta fez sentido a exposição, do lado do espectador a sede por esses conteúdos foi grande: para quem assistiu a estes Jogos, apenas saber o resultado da competição não foi suficiente. Isabelle Brandão Otoni, de 28 anos, acompanhou todos os movimentos dos seus atletas favoritos, principalmente das seleções de vôlei e do skate brasileiro. Para a mineira, era uma forma de ver o dia a dia de modalidades menos conhecidas e ter uma visão interna do que acontece na competição.

“Eu lembro que, em 2016, a gente ainda não sabia como era viver na Vila Olímpica, como é a interação de um atleta com outro, como os atletas também são fãs de outros. É legal saber que eles são pessoas normais, que vão fazer bagunça e vão ter seus ídolos lá dentro também”, afirma Isabelle.

Para o professor Ivan Martinho, especializado em marketing esportivo na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), essa conexão com os atletas teve uma dimensão ainda maior por conta da pandemia. “Foi um evento que teve restrição de público. Isso gera uma demanda reprimida grande por proximidade: muitas pessoas gostariam de ir e não puderam”, afirma. “E conteúdos nas redes sociais ganham ainda mais importância em uma competição que aconteceu no fuso horário contrário ao brasileiro”. 

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Mais de 60 atletas brasileiros possuem contas no TikTok, de acordo com dados da rede social obtidos pelo Estadão — alguns contam com centenas de milhares de seguidores. As atualizações quase diárias de rotinas de treinos, brincadeiras e a convivência de atletas de diferentes modalidades e países fez com que a rede registrasse um pico de procura por conteúdos sobre os Jogos. Publicações relacionadas à jogadora de vôlei Fernanda Garay, por exemplo, circularam bastante pela plataforma – a pesquisa #fernandagaray soma mais de 100 mil resultados. 

Em alguns casos, as postagens de atletas em redes sociais atingiram níveis de influenciadores digitais. Rayssa Leal, a “Fadinha” do Skate Street, foi uma das que mais teve engajamento no TikTok. Um vídeo em que ela dança com a atleta filipina Margielyn Didal teve mais de 6 milhões de visualizações. A vice-campeã olímpica soma 3,5 milhões de seguidores no TikTok e 6,6 milhões no Instagram. 

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O jogador Douglas Souza, da seleção masculina de vôlei, foi quem teve maior crescimento nas redes sociais como um todo desde que o evento começou: segundo um levantamento da B&Partners.co, o número de seguidores dele cresceu 895 % no Instagram, atingindo o número de 3,2 milhões.  

Com bom humor, o jogador mostrou como foi estar em Tóquio. Em uma das publicações, Souza chegou a fazer um teste da cama de papelão, em que pulava no colchão pra mostrar que a armação era realmente resistente – houve uma polêmica na internet de que a armação de papelão sustentava apenas uma pessoa, com o suposto objetivo de evitar que os atletas fizessem sexo durante os Jogos.

Para Alexandre Inagaki, consultor de redes sociais, a aproximação do atleta “influenciador digital” do público é uma tendência que veio para ficar – a imersão deve ser ainda maior na próxima edição dos Jogos, que acontecerá em Paris, em 2024. “Agora que estamos na cultura das mídias sociais, podemos seguir o dia a dia das nossas personalidades favoritas. É uma continuidade da competição e, no fim das contas, pela proximidade, o atleta meio que se torna um amigo”. 

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