Superexposição de crianças na internet: inteligência artificial acende alerta em pais; entenda


Filhos podem ter imagens geradas por ferramentas indevidas

Por Kashmir Hill

THE NEW YORK TIMES — Há duas facções distintas de pais no TikTok: aqueles que quebram ovos na cabeça de seus filhos para ganhar curtidas e aqueles que estão tentando desesperadamente garantir que a internet não saiba quem são seus filhos.

Para a estrela do TikTok de 35 anos que publica sob o nome de Kodye Elyse, uma experiência online desconfortável a fez parar de incluir seus três filhos em suas mídias sociais. Um vídeo que ela postou em 2020 de sua filha dançando atraiu milhões de visualizações e comentários assustadores de homens estranhos. (Ela solicitou que o The New York Times não publicasse seu nome completo porque ela e seus filhos já foram vítimas de doxxing no passado).

“É como se fosse o ‘Show de Truman’ na internet”, disse Kodye Elyse, que tem quatro milhões de seguidores no TikTok e publica sobre seu trabalho como tatuadora cosmética e suas experiências como mãe solteira. “Você nunca sabe quem está olhando.”

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Depois dessa experiência, ela retirou as imagens de seus filhos da internet. Ela rastreou todas as suas contas online, em sites como Facebook e Pinterest, e as excluiu ou as tornou privadas. Desde então, ela se juntou ao clamoroso grupo de tiktokers que incentivam outros pais a não publicar informações sobre seus filhos publicamente.

Mas, em setembro, ela descobriu que seus esforços não haviam sido totalmente bem-sucedidos. Kodye Elyse usou o PimEyes, um mecanismo de busca surpreendente que encontra fotos de uma pessoa na internet em segundos usando tecnologia de reconhecimento facial. Quando ela fez o upload de uma foto de seu filho de 7 anos, os resultados incluíram uma imagem dele que ela nunca tinha visto antes. Ela precisou de uma assinatura de US$ 29,99 para ver de onde a imagem tinha vindo.

Seu ex-marido havia levado o filho para um jogo de futebol e eles estavam no fundo de uma foto em um site de notícias esportivas, sentados na primeira fila, atrás do gol. Ela percebeu que não conseguiria fazer com que a organização de notícias retirasse a foto, mas enviou uma solicitação de remoção, por meio de um formulário on-line, para o PimEyes, para que a imagem de seu filho não aparecesse se outras pessoas procurassem pelo rosto dele.

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Ela também descobriu que uma foto de sua filha de 9 anos, ainda criança, estava sendo usada para promover um acampamento de verão do qual ela havia participado. Ela pediu ao acampamento que retirasse a foto, o que foi feito.

“Acho que todos deveriam verificar isso”, disse Kodye Elyse. “É uma boa maneira de saber que ninguém está reutilizando as imagens de seus filhos.”

A child uses a smartphone on Wall St. during the morning commute in New York City, U.S., February 19, 2019. REUTERS/Brendan McDermid Foto: Brendan McDermid/Reuters
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Cuidado com o ‘Sharenting’

O quanto os pais devem publicar sobre seus filhos online tem sido discutido e examinado de forma tão intensa que já tem seu próprio portmanteau desagradável: “sharenting”.

Historicamente, a principal crítica aos pais que compartilham demais online tem sido a invasão da privacidade de seus filhos, mas os avanços nas tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA) apresentam novas maneiras de os malfeitores se apropriarem indevidamente do conteúdo online das crianças.

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Entre os novos riscos estão os golpes com tecnologia deepfake que imitam as vozes das crianças e a possibilidade de um estranho saber o nome e o endereço de uma criança apenas com uma pesquisa de sua foto.

Amanda Lenhart, chefe de pesquisa da Common Sense Media, uma organização sem fins lucrativos que oferece consultoria de mídia aos pais, apontou para uma recente campanha de serviço público da Deutsche Telekom que recomendava um compartilhamento mais cuidadoso dos dados das crianças. O vídeo apresentava uma atriz que interpretava uma criança de 9 anos chamada Ella, cujos pais fictícios eram indiscretos ao publicar fotos e vídeos dela online. A tecnologia deepfake gerou uma versão envelhecida digitalmente de Ella, que admoesta seus pais fictícios, dizendo-lhes que sua identidade foi roubada, sua voz foi duplicada para induzi-los a pensar que ela foi sequestrada e que uma foto nua de sua infância foi explorada.

Amanda chamou o vídeo de “pesado”, mas disse que ele mostra que, “na verdade, essa tecnologia é realmente muito boa”. As pessoas já estão recebendo ligações de golpistas que imitam entes queridos em perigo usando versões de suas vozes criadas com ferramentas de IA.

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Jennifer DeStefano, uma mãe do Arizona, recebeu este ano uma ligação de alguém que dizia ter sequestrado sua filha de 15 anos. “Atendi o telefone e disse: ‘Alô’; do outro lado estava nossa filha Briana, soluçando e chorando, dizendo: ‘Mamãe’”, disse Jennifer em depoimento ao Congresso neste verão.

Ela estava negociando o pagamento de US$ 50 mil aos sequestradores quando descobriu que sua filha estava em casa “descansando em segurança na cama”.

O direito de controlar uma pegada online

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Lucy e Mike Fitzgerald, dançarinos de salão profissionais em St. Louis que mantêm uma presença ativa na mídia social para divulgar seus negócios, evitam publicar imagens de suas filhas, de 5 e 3 anos, on-line e pediram a amigos e familiares que respeitassem essa proibição. Elas acreditam que suas filhas devem ter o direito de criar e controlar suas próprias pegadas on-line. Elas também temem que suas imagens possam ser usadas de forma inadequada.

“O fato de podermos roubar a foto de alguém com apenas alguns cliques e usá-la para o que quisermos é preocupante”, disse Fitzgerald. “Entendo o apelo de publicar as fotos de seus filhos, mas, em última análise, não queremos que eles tenham que lidar com possíveis consequências indesejadas.”

A Sra. Fitzgerald e seu marido não são especialistas que foram “informados sobre o que está surgindo no horizonte da tecnologia”, disse ela. Mas, acrescentou, eles “tiveram um pressentimento” anos atrás de que “haveria recursos que não podemos prever agora e que acabarão sendo problemáticos para nossos filhos”.

Lucy e Mike Fitzgerald com suas duas filhas em St. Louis, Estados Unidos Foto: Whitney Curtis/The New York Times - 4/9/2023

Os pais com maior probabilidade de saber detalhes sobre o que está por vir no horizonte da tecnologia, incluindo Edward Snowden, o contratado da Agência de Segurança Nacional que se tornou delator, e Mark Zuckerberg, o cofundador do Facebook, escondem os rostos de seus filhos em publicações públicas nas mídias sociais. Em postagens com o tema do feriado no Instagram, Zuckerberg usou o método desajeitado do emoji - postando um adesivo digital na cabeça de seus filhos mais velhos - enquanto Snowden e sua esposa, Lindsay Mills, colocaram artisticamente um de seus dois filhos atrás de um balão para ocultar seu rosto.

“Quero que meus filhos tenham a opção de se revelar ao mundo, da forma que escolherem, quando estiverem prontos”, disse a Sra. Mills.

Uma porta-voz do Sr. Zuckerberg não quis comentar ou explicar por que o rosto de seu bebê não recebeu o mesmo tratamento e se isso ocorreu porque a tecnologia de reconhecimento facial não funciona muito bem em bebês.

‘Um fantasma on-line’ para o sucesso futuro

Muitos especialistas observaram que os adolescentes pensam muito sobre como curam suas identidades digitais e que alguns usam pseudônimos on-line para evitar que pais, professores e possíveis empregadores encontrem suas contas. Mas se houver uma imagem pública nessa conta que apresente seu rosto, ela ainda poderá ser vinculada a eles por meio de um mecanismo de busca de rostos.

Seu rosto é muito difícil de ser mantido fora da web

Priya Kumar, professora da Universidade Estadual da Pensilvânia

“Seu rosto é muito difícil de ser mantido fora da Web”, disse Priya Kumar, professora assistente da Universidade Estadual da Pensilvânia, que estudou as implicações de privacidade do sharenting.

A Dra. Kumar sugere que os pais envolvam as crianças, por volta dos 4 anos de idade, no processo de postagem - e conversem com elas sobre quais imagens podem ser compartilhadas.

Amy Webb, executiva-chefe do Future Today Institute, uma consultoria de negócios com foco em tecnologia, comprometeu-se em uma publicação da Slate, há uma década, a não publicar fotos pessoais ou informações de identificação de seu filho pequeno online. (Alguns leitores aceitaram a promessa como um desafio e encontraram uma foto de família que a Sra. Webb havia tornado pública inadvertidamente, ilustrando como pode ser difícil manter uma criança fora da internet). Sua filha, agora adolescente, disse que gostava de ser um “fantasma online” e achava que isso a ajudaria profissionalmente.

Os futuros empregadores “não encontrarão literalmente nada sobre mim porque não tenho nenhuma plataforma”, disse ela. “Isso vai me ajudar a ter sucesso no meu futuro”.

Outros jovens que cresceram na era do compartilhamento online disseram que também eram gratos por terem pais que não publicavam fotos deles publicamente on-line. Shreya Nallamothu, 16 anos, é uma estudante do ensino médio cuja pesquisa sobre influenciadores infantis ajudou a criar uma nova lei do Estado americano de Illinois que exige que os pais reservem ganhos para seus filhos se eles os apresentarem em conteúdo online monetizado. Ela disse que estava “muito grata” por seus pais não terem publicado “momentos superembaraçosos meus nas mídias sociais”.

Atualmente, crianças são as cobaias da tecnologia. É nossa responsabilidade cuidar delas

Arielle Geismar, estudante e defensora da segurança digital

“Há pessoas na minha série que são realmente boas em encontrar o Facebook dos pais de seus colegas de classe e rolar a página para baixo”, disse ela. Eles usam qualquer coisa digna de vergonha para publicações de aniversário que desaparecem no Snapchat.

Arielle Geismar, 22 anos, estudante universitária e defensora da segurança digital em Washington, descreveu como um “privilégio crescer sem que uma identidade digital seja criada para você”.

“Atualmente, as crianças são as cobaias da tecnologia”, disse Geismar. “É nossa responsabilidade cuidar delas.” / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

THE NEW YORK TIMES — Há duas facções distintas de pais no TikTok: aqueles que quebram ovos na cabeça de seus filhos para ganhar curtidas e aqueles que estão tentando desesperadamente garantir que a internet não saiba quem são seus filhos.

Para a estrela do TikTok de 35 anos que publica sob o nome de Kodye Elyse, uma experiência online desconfortável a fez parar de incluir seus três filhos em suas mídias sociais. Um vídeo que ela postou em 2020 de sua filha dançando atraiu milhões de visualizações e comentários assustadores de homens estranhos. (Ela solicitou que o The New York Times não publicasse seu nome completo porque ela e seus filhos já foram vítimas de doxxing no passado).

“É como se fosse o ‘Show de Truman’ na internet”, disse Kodye Elyse, que tem quatro milhões de seguidores no TikTok e publica sobre seu trabalho como tatuadora cosmética e suas experiências como mãe solteira. “Você nunca sabe quem está olhando.”

Depois dessa experiência, ela retirou as imagens de seus filhos da internet. Ela rastreou todas as suas contas online, em sites como Facebook e Pinterest, e as excluiu ou as tornou privadas. Desde então, ela se juntou ao clamoroso grupo de tiktokers que incentivam outros pais a não publicar informações sobre seus filhos publicamente.

Mas, em setembro, ela descobriu que seus esforços não haviam sido totalmente bem-sucedidos. Kodye Elyse usou o PimEyes, um mecanismo de busca surpreendente que encontra fotos de uma pessoa na internet em segundos usando tecnologia de reconhecimento facial. Quando ela fez o upload de uma foto de seu filho de 7 anos, os resultados incluíram uma imagem dele que ela nunca tinha visto antes. Ela precisou de uma assinatura de US$ 29,99 para ver de onde a imagem tinha vindo.

Seu ex-marido havia levado o filho para um jogo de futebol e eles estavam no fundo de uma foto em um site de notícias esportivas, sentados na primeira fila, atrás do gol. Ela percebeu que não conseguiria fazer com que a organização de notícias retirasse a foto, mas enviou uma solicitação de remoção, por meio de um formulário on-line, para o PimEyes, para que a imagem de seu filho não aparecesse se outras pessoas procurassem pelo rosto dele.

Ela também descobriu que uma foto de sua filha de 9 anos, ainda criança, estava sendo usada para promover um acampamento de verão do qual ela havia participado. Ela pediu ao acampamento que retirasse a foto, o que foi feito.

“Acho que todos deveriam verificar isso”, disse Kodye Elyse. “É uma boa maneira de saber que ninguém está reutilizando as imagens de seus filhos.”

A child uses a smartphone on Wall St. during the morning commute in New York City, U.S., February 19, 2019. REUTERS/Brendan McDermid Foto: Brendan McDermid/Reuters

Cuidado com o ‘Sharenting’

O quanto os pais devem publicar sobre seus filhos online tem sido discutido e examinado de forma tão intensa que já tem seu próprio portmanteau desagradável: “sharenting”.

Historicamente, a principal crítica aos pais que compartilham demais online tem sido a invasão da privacidade de seus filhos, mas os avanços nas tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA) apresentam novas maneiras de os malfeitores se apropriarem indevidamente do conteúdo online das crianças.

Entre os novos riscos estão os golpes com tecnologia deepfake que imitam as vozes das crianças e a possibilidade de um estranho saber o nome e o endereço de uma criança apenas com uma pesquisa de sua foto.

Amanda Lenhart, chefe de pesquisa da Common Sense Media, uma organização sem fins lucrativos que oferece consultoria de mídia aos pais, apontou para uma recente campanha de serviço público da Deutsche Telekom que recomendava um compartilhamento mais cuidadoso dos dados das crianças. O vídeo apresentava uma atriz que interpretava uma criança de 9 anos chamada Ella, cujos pais fictícios eram indiscretos ao publicar fotos e vídeos dela online. A tecnologia deepfake gerou uma versão envelhecida digitalmente de Ella, que admoesta seus pais fictícios, dizendo-lhes que sua identidade foi roubada, sua voz foi duplicada para induzi-los a pensar que ela foi sequestrada e que uma foto nua de sua infância foi explorada.

Amanda chamou o vídeo de “pesado”, mas disse que ele mostra que, “na verdade, essa tecnologia é realmente muito boa”. As pessoas já estão recebendo ligações de golpistas que imitam entes queridos em perigo usando versões de suas vozes criadas com ferramentas de IA.

Jennifer DeStefano, uma mãe do Arizona, recebeu este ano uma ligação de alguém que dizia ter sequestrado sua filha de 15 anos. “Atendi o telefone e disse: ‘Alô’; do outro lado estava nossa filha Briana, soluçando e chorando, dizendo: ‘Mamãe’”, disse Jennifer em depoimento ao Congresso neste verão.

Ela estava negociando o pagamento de US$ 50 mil aos sequestradores quando descobriu que sua filha estava em casa “descansando em segurança na cama”.

O direito de controlar uma pegada online

Lucy e Mike Fitzgerald, dançarinos de salão profissionais em St. Louis que mantêm uma presença ativa na mídia social para divulgar seus negócios, evitam publicar imagens de suas filhas, de 5 e 3 anos, on-line e pediram a amigos e familiares que respeitassem essa proibição. Elas acreditam que suas filhas devem ter o direito de criar e controlar suas próprias pegadas on-line. Elas também temem que suas imagens possam ser usadas de forma inadequada.

“O fato de podermos roubar a foto de alguém com apenas alguns cliques e usá-la para o que quisermos é preocupante”, disse Fitzgerald. “Entendo o apelo de publicar as fotos de seus filhos, mas, em última análise, não queremos que eles tenham que lidar com possíveis consequências indesejadas.”

A Sra. Fitzgerald e seu marido não são especialistas que foram “informados sobre o que está surgindo no horizonte da tecnologia”, disse ela. Mas, acrescentou, eles “tiveram um pressentimento” anos atrás de que “haveria recursos que não podemos prever agora e que acabarão sendo problemáticos para nossos filhos”.

Lucy e Mike Fitzgerald com suas duas filhas em St. Louis, Estados Unidos Foto: Whitney Curtis/The New York Times - 4/9/2023

Os pais com maior probabilidade de saber detalhes sobre o que está por vir no horizonte da tecnologia, incluindo Edward Snowden, o contratado da Agência de Segurança Nacional que se tornou delator, e Mark Zuckerberg, o cofundador do Facebook, escondem os rostos de seus filhos em publicações públicas nas mídias sociais. Em postagens com o tema do feriado no Instagram, Zuckerberg usou o método desajeitado do emoji - postando um adesivo digital na cabeça de seus filhos mais velhos - enquanto Snowden e sua esposa, Lindsay Mills, colocaram artisticamente um de seus dois filhos atrás de um balão para ocultar seu rosto.

“Quero que meus filhos tenham a opção de se revelar ao mundo, da forma que escolherem, quando estiverem prontos”, disse a Sra. Mills.

Uma porta-voz do Sr. Zuckerberg não quis comentar ou explicar por que o rosto de seu bebê não recebeu o mesmo tratamento e se isso ocorreu porque a tecnologia de reconhecimento facial não funciona muito bem em bebês.

‘Um fantasma on-line’ para o sucesso futuro

Muitos especialistas observaram que os adolescentes pensam muito sobre como curam suas identidades digitais e que alguns usam pseudônimos on-line para evitar que pais, professores e possíveis empregadores encontrem suas contas. Mas se houver uma imagem pública nessa conta que apresente seu rosto, ela ainda poderá ser vinculada a eles por meio de um mecanismo de busca de rostos.

Seu rosto é muito difícil de ser mantido fora da web

Priya Kumar, professora da Universidade Estadual da Pensilvânia

“Seu rosto é muito difícil de ser mantido fora da Web”, disse Priya Kumar, professora assistente da Universidade Estadual da Pensilvânia, que estudou as implicações de privacidade do sharenting.

A Dra. Kumar sugere que os pais envolvam as crianças, por volta dos 4 anos de idade, no processo de postagem - e conversem com elas sobre quais imagens podem ser compartilhadas.

Amy Webb, executiva-chefe do Future Today Institute, uma consultoria de negócios com foco em tecnologia, comprometeu-se em uma publicação da Slate, há uma década, a não publicar fotos pessoais ou informações de identificação de seu filho pequeno online. (Alguns leitores aceitaram a promessa como um desafio e encontraram uma foto de família que a Sra. Webb havia tornado pública inadvertidamente, ilustrando como pode ser difícil manter uma criança fora da internet). Sua filha, agora adolescente, disse que gostava de ser um “fantasma online” e achava que isso a ajudaria profissionalmente.

Os futuros empregadores “não encontrarão literalmente nada sobre mim porque não tenho nenhuma plataforma”, disse ela. “Isso vai me ajudar a ter sucesso no meu futuro”.

Outros jovens que cresceram na era do compartilhamento online disseram que também eram gratos por terem pais que não publicavam fotos deles publicamente on-line. Shreya Nallamothu, 16 anos, é uma estudante do ensino médio cuja pesquisa sobre influenciadores infantis ajudou a criar uma nova lei do Estado americano de Illinois que exige que os pais reservem ganhos para seus filhos se eles os apresentarem em conteúdo online monetizado. Ela disse que estava “muito grata” por seus pais não terem publicado “momentos superembaraçosos meus nas mídias sociais”.

Atualmente, crianças são as cobaias da tecnologia. É nossa responsabilidade cuidar delas

Arielle Geismar, estudante e defensora da segurança digital

“Há pessoas na minha série que são realmente boas em encontrar o Facebook dos pais de seus colegas de classe e rolar a página para baixo”, disse ela. Eles usam qualquer coisa digna de vergonha para publicações de aniversário que desaparecem no Snapchat.

Arielle Geismar, 22 anos, estudante universitária e defensora da segurança digital em Washington, descreveu como um “privilégio crescer sem que uma identidade digital seja criada para você”.

“Atualmente, as crianças são as cobaias da tecnologia”, disse Geismar. “É nossa responsabilidade cuidar delas.” / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

THE NEW YORK TIMES — Há duas facções distintas de pais no TikTok: aqueles que quebram ovos na cabeça de seus filhos para ganhar curtidas e aqueles que estão tentando desesperadamente garantir que a internet não saiba quem são seus filhos.

Para a estrela do TikTok de 35 anos que publica sob o nome de Kodye Elyse, uma experiência online desconfortável a fez parar de incluir seus três filhos em suas mídias sociais. Um vídeo que ela postou em 2020 de sua filha dançando atraiu milhões de visualizações e comentários assustadores de homens estranhos. (Ela solicitou que o The New York Times não publicasse seu nome completo porque ela e seus filhos já foram vítimas de doxxing no passado).

“É como se fosse o ‘Show de Truman’ na internet”, disse Kodye Elyse, que tem quatro milhões de seguidores no TikTok e publica sobre seu trabalho como tatuadora cosmética e suas experiências como mãe solteira. “Você nunca sabe quem está olhando.”

Depois dessa experiência, ela retirou as imagens de seus filhos da internet. Ela rastreou todas as suas contas online, em sites como Facebook e Pinterest, e as excluiu ou as tornou privadas. Desde então, ela se juntou ao clamoroso grupo de tiktokers que incentivam outros pais a não publicar informações sobre seus filhos publicamente.

Mas, em setembro, ela descobriu que seus esforços não haviam sido totalmente bem-sucedidos. Kodye Elyse usou o PimEyes, um mecanismo de busca surpreendente que encontra fotos de uma pessoa na internet em segundos usando tecnologia de reconhecimento facial. Quando ela fez o upload de uma foto de seu filho de 7 anos, os resultados incluíram uma imagem dele que ela nunca tinha visto antes. Ela precisou de uma assinatura de US$ 29,99 para ver de onde a imagem tinha vindo.

Seu ex-marido havia levado o filho para um jogo de futebol e eles estavam no fundo de uma foto em um site de notícias esportivas, sentados na primeira fila, atrás do gol. Ela percebeu que não conseguiria fazer com que a organização de notícias retirasse a foto, mas enviou uma solicitação de remoção, por meio de um formulário on-line, para o PimEyes, para que a imagem de seu filho não aparecesse se outras pessoas procurassem pelo rosto dele.

Ela também descobriu que uma foto de sua filha de 9 anos, ainda criança, estava sendo usada para promover um acampamento de verão do qual ela havia participado. Ela pediu ao acampamento que retirasse a foto, o que foi feito.

“Acho que todos deveriam verificar isso”, disse Kodye Elyse. “É uma boa maneira de saber que ninguém está reutilizando as imagens de seus filhos.”

A child uses a smartphone on Wall St. during the morning commute in New York City, U.S., February 19, 2019. REUTERS/Brendan McDermid Foto: Brendan McDermid/Reuters

Cuidado com o ‘Sharenting’

O quanto os pais devem publicar sobre seus filhos online tem sido discutido e examinado de forma tão intensa que já tem seu próprio portmanteau desagradável: “sharenting”.

Historicamente, a principal crítica aos pais que compartilham demais online tem sido a invasão da privacidade de seus filhos, mas os avanços nas tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA) apresentam novas maneiras de os malfeitores se apropriarem indevidamente do conteúdo online das crianças.

Entre os novos riscos estão os golpes com tecnologia deepfake que imitam as vozes das crianças e a possibilidade de um estranho saber o nome e o endereço de uma criança apenas com uma pesquisa de sua foto.

Amanda Lenhart, chefe de pesquisa da Common Sense Media, uma organização sem fins lucrativos que oferece consultoria de mídia aos pais, apontou para uma recente campanha de serviço público da Deutsche Telekom que recomendava um compartilhamento mais cuidadoso dos dados das crianças. O vídeo apresentava uma atriz que interpretava uma criança de 9 anos chamada Ella, cujos pais fictícios eram indiscretos ao publicar fotos e vídeos dela online. A tecnologia deepfake gerou uma versão envelhecida digitalmente de Ella, que admoesta seus pais fictícios, dizendo-lhes que sua identidade foi roubada, sua voz foi duplicada para induzi-los a pensar que ela foi sequestrada e que uma foto nua de sua infância foi explorada.

Amanda chamou o vídeo de “pesado”, mas disse que ele mostra que, “na verdade, essa tecnologia é realmente muito boa”. As pessoas já estão recebendo ligações de golpistas que imitam entes queridos em perigo usando versões de suas vozes criadas com ferramentas de IA.

Jennifer DeStefano, uma mãe do Arizona, recebeu este ano uma ligação de alguém que dizia ter sequestrado sua filha de 15 anos. “Atendi o telefone e disse: ‘Alô’; do outro lado estava nossa filha Briana, soluçando e chorando, dizendo: ‘Mamãe’”, disse Jennifer em depoimento ao Congresso neste verão.

Ela estava negociando o pagamento de US$ 50 mil aos sequestradores quando descobriu que sua filha estava em casa “descansando em segurança na cama”.

O direito de controlar uma pegada online

Lucy e Mike Fitzgerald, dançarinos de salão profissionais em St. Louis que mantêm uma presença ativa na mídia social para divulgar seus negócios, evitam publicar imagens de suas filhas, de 5 e 3 anos, on-line e pediram a amigos e familiares que respeitassem essa proibição. Elas acreditam que suas filhas devem ter o direito de criar e controlar suas próprias pegadas on-line. Elas também temem que suas imagens possam ser usadas de forma inadequada.

“O fato de podermos roubar a foto de alguém com apenas alguns cliques e usá-la para o que quisermos é preocupante”, disse Fitzgerald. “Entendo o apelo de publicar as fotos de seus filhos, mas, em última análise, não queremos que eles tenham que lidar com possíveis consequências indesejadas.”

A Sra. Fitzgerald e seu marido não são especialistas que foram “informados sobre o que está surgindo no horizonte da tecnologia”, disse ela. Mas, acrescentou, eles “tiveram um pressentimento” anos atrás de que “haveria recursos que não podemos prever agora e que acabarão sendo problemáticos para nossos filhos”.

Lucy e Mike Fitzgerald com suas duas filhas em St. Louis, Estados Unidos Foto: Whitney Curtis/The New York Times - 4/9/2023

Os pais com maior probabilidade de saber detalhes sobre o que está por vir no horizonte da tecnologia, incluindo Edward Snowden, o contratado da Agência de Segurança Nacional que se tornou delator, e Mark Zuckerberg, o cofundador do Facebook, escondem os rostos de seus filhos em publicações públicas nas mídias sociais. Em postagens com o tema do feriado no Instagram, Zuckerberg usou o método desajeitado do emoji - postando um adesivo digital na cabeça de seus filhos mais velhos - enquanto Snowden e sua esposa, Lindsay Mills, colocaram artisticamente um de seus dois filhos atrás de um balão para ocultar seu rosto.

“Quero que meus filhos tenham a opção de se revelar ao mundo, da forma que escolherem, quando estiverem prontos”, disse a Sra. Mills.

Uma porta-voz do Sr. Zuckerberg não quis comentar ou explicar por que o rosto de seu bebê não recebeu o mesmo tratamento e se isso ocorreu porque a tecnologia de reconhecimento facial não funciona muito bem em bebês.

‘Um fantasma on-line’ para o sucesso futuro

Muitos especialistas observaram que os adolescentes pensam muito sobre como curam suas identidades digitais e que alguns usam pseudônimos on-line para evitar que pais, professores e possíveis empregadores encontrem suas contas. Mas se houver uma imagem pública nessa conta que apresente seu rosto, ela ainda poderá ser vinculada a eles por meio de um mecanismo de busca de rostos.

Seu rosto é muito difícil de ser mantido fora da web

Priya Kumar, professora da Universidade Estadual da Pensilvânia

“Seu rosto é muito difícil de ser mantido fora da Web”, disse Priya Kumar, professora assistente da Universidade Estadual da Pensilvânia, que estudou as implicações de privacidade do sharenting.

A Dra. Kumar sugere que os pais envolvam as crianças, por volta dos 4 anos de idade, no processo de postagem - e conversem com elas sobre quais imagens podem ser compartilhadas.

Amy Webb, executiva-chefe do Future Today Institute, uma consultoria de negócios com foco em tecnologia, comprometeu-se em uma publicação da Slate, há uma década, a não publicar fotos pessoais ou informações de identificação de seu filho pequeno online. (Alguns leitores aceitaram a promessa como um desafio e encontraram uma foto de família que a Sra. Webb havia tornado pública inadvertidamente, ilustrando como pode ser difícil manter uma criança fora da internet). Sua filha, agora adolescente, disse que gostava de ser um “fantasma online” e achava que isso a ajudaria profissionalmente.

Os futuros empregadores “não encontrarão literalmente nada sobre mim porque não tenho nenhuma plataforma”, disse ela. “Isso vai me ajudar a ter sucesso no meu futuro”.

Outros jovens que cresceram na era do compartilhamento online disseram que também eram gratos por terem pais que não publicavam fotos deles publicamente on-line. Shreya Nallamothu, 16 anos, é uma estudante do ensino médio cuja pesquisa sobre influenciadores infantis ajudou a criar uma nova lei do Estado americano de Illinois que exige que os pais reservem ganhos para seus filhos se eles os apresentarem em conteúdo online monetizado. Ela disse que estava “muito grata” por seus pais não terem publicado “momentos superembaraçosos meus nas mídias sociais”.

Atualmente, crianças são as cobaias da tecnologia. É nossa responsabilidade cuidar delas

Arielle Geismar, estudante e defensora da segurança digital

“Há pessoas na minha série que são realmente boas em encontrar o Facebook dos pais de seus colegas de classe e rolar a página para baixo”, disse ela. Eles usam qualquer coisa digna de vergonha para publicações de aniversário que desaparecem no Snapchat.

Arielle Geismar, 22 anos, estudante universitária e defensora da segurança digital em Washington, descreveu como um “privilégio crescer sem que uma identidade digital seja criada para você”.

“Atualmente, as crianças são as cobaias da tecnologia”, disse Geismar. “É nossa responsabilidade cuidar delas.” / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

THE NEW YORK TIMES — Há duas facções distintas de pais no TikTok: aqueles que quebram ovos na cabeça de seus filhos para ganhar curtidas e aqueles que estão tentando desesperadamente garantir que a internet não saiba quem são seus filhos.

Para a estrela do TikTok de 35 anos que publica sob o nome de Kodye Elyse, uma experiência online desconfortável a fez parar de incluir seus três filhos em suas mídias sociais. Um vídeo que ela postou em 2020 de sua filha dançando atraiu milhões de visualizações e comentários assustadores de homens estranhos. (Ela solicitou que o The New York Times não publicasse seu nome completo porque ela e seus filhos já foram vítimas de doxxing no passado).

“É como se fosse o ‘Show de Truman’ na internet”, disse Kodye Elyse, que tem quatro milhões de seguidores no TikTok e publica sobre seu trabalho como tatuadora cosmética e suas experiências como mãe solteira. “Você nunca sabe quem está olhando.”

Depois dessa experiência, ela retirou as imagens de seus filhos da internet. Ela rastreou todas as suas contas online, em sites como Facebook e Pinterest, e as excluiu ou as tornou privadas. Desde então, ela se juntou ao clamoroso grupo de tiktokers que incentivam outros pais a não publicar informações sobre seus filhos publicamente.

Mas, em setembro, ela descobriu que seus esforços não haviam sido totalmente bem-sucedidos. Kodye Elyse usou o PimEyes, um mecanismo de busca surpreendente que encontra fotos de uma pessoa na internet em segundos usando tecnologia de reconhecimento facial. Quando ela fez o upload de uma foto de seu filho de 7 anos, os resultados incluíram uma imagem dele que ela nunca tinha visto antes. Ela precisou de uma assinatura de US$ 29,99 para ver de onde a imagem tinha vindo.

Seu ex-marido havia levado o filho para um jogo de futebol e eles estavam no fundo de uma foto em um site de notícias esportivas, sentados na primeira fila, atrás do gol. Ela percebeu que não conseguiria fazer com que a organização de notícias retirasse a foto, mas enviou uma solicitação de remoção, por meio de um formulário on-line, para o PimEyes, para que a imagem de seu filho não aparecesse se outras pessoas procurassem pelo rosto dele.

Ela também descobriu que uma foto de sua filha de 9 anos, ainda criança, estava sendo usada para promover um acampamento de verão do qual ela havia participado. Ela pediu ao acampamento que retirasse a foto, o que foi feito.

“Acho que todos deveriam verificar isso”, disse Kodye Elyse. “É uma boa maneira de saber que ninguém está reutilizando as imagens de seus filhos.”

A child uses a smartphone on Wall St. during the morning commute in New York City, U.S., February 19, 2019. REUTERS/Brendan McDermid Foto: Brendan McDermid/Reuters

Cuidado com o ‘Sharenting’

O quanto os pais devem publicar sobre seus filhos online tem sido discutido e examinado de forma tão intensa que já tem seu próprio portmanteau desagradável: “sharenting”.

Historicamente, a principal crítica aos pais que compartilham demais online tem sido a invasão da privacidade de seus filhos, mas os avanços nas tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA) apresentam novas maneiras de os malfeitores se apropriarem indevidamente do conteúdo online das crianças.

Entre os novos riscos estão os golpes com tecnologia deepfake que imitam as vozes das crianças e a possibilidade de um estranho saber o nome e o endereço de uma criança apenas com uma pesquisa de sua foto.

Amanda Lenhart, chefe de pesquisa da Common Sense Media, uma organização sem fins lucrativos que oferece consultoria de mídia aos pais, apontou para uma recente campanha de serviço público da Deutsche Telekom que recomendava um compartilhamento mais cuidadoso dos dados das crianças. O vídeo apresentava uma atriz que interpretava uma criança de 9 anos chamada Ella, cujos pais fictícios eram indiscretos ao publicar fotos e vídeos dela online. A tecnologia deepfake gerou uma versão envelhecida digitalmente de Ella, que admoesta seus pais fictícios, dizendo-lhes que sua identidade foi roubada, sua voz foi duplicada para induzi-los a pensar que ela foi sequestrada e que uma foto nua de sua infância foi explorada.

Amanda chamou o vídeo de “pesado”, mas disse que ele mostra que, “na verdade, essa tecnologia é realmente muito boa”. As pessoas já estão recebendo ligações de golpistas que imitam entes queridos em perigo usando versões de suas vozes criadas com ferramentas de IA.

Jennifer DeStefano, uma mãe do Arizona, recebeu este ano uma ligação de alguém que dizia ter sequestrado sua filha de 15 anos. “Atendi o telefone e disse: ‘Alô’; do outro lado estava nossa filha Briana, soluçando e chorando, dizendo: ‘Mamãe’”, disse Jennifer em depoimento ao Congresso neste verão.

Ela estava negociando o pagamento de US$ 50 mil aos sequestradores quando descobriu que sua filha estava em casa “descansando em segurança na cama”.

O direito de controlar uma pegada online

Lucy e Mike Fitzgerald, dançarinos de salão profissionais em St. Louis que mantêm uma presença ativa na mídia social para divulgar seus negócios, evitam publicar imagens de suas filhas, de 5 e 3 anos, on-line e pediram a amigos e familiares que respeitassem essa proibição. Elas acreditam que suas filhas devem ter o direito de criar e controlar suas próprias pegadas on-line. Elas também temem que suas imagens possam ser usadas de forma inadequada.

“O fato de podermos roubar a foto de alguém com apenas alguns cliques e usá-la para o que quisermos é preocupante”, disse Fitzgerald. “Entendo o apelo de publicar as fotos de seus filhos, mas, em última análise, não queremos que eles tenham que lidar com possíveis consequências indesejadas.”

A Sra. Fitzgerald e seu marido não são especialistas que foram “informados sobre o que está surgindo no horizonte da tecnologia”, disse ela. Mas, acrescentou, eles “tiveram um pressentimento” anos atrás de que “haveria recursos que não podemos prever agora e que acabarão sendo problemáticos para nossos filhos”.

Lucy e Mike Fitzgerald com suas duas filhas em St. Louis, Estados Unidos Foto: Whitney Curtis/The New York Times - 4/9/2023

Os pais com maior probabilidade de saber detalhes sobre o que está por vir no horizonte da tecnologia, incluindo Edward Snowden, o contratado da Agência de Segurança Nacional que se tornou delator, e Mark Zuckerberg, o cofundador do Facebook, escondem os rostos de seus filhos em publicações públicas nas mídias sociais. Em postagens com o tema do feriado no Instagram, Zuckerberg usou o método desajeitado do emoji - postando um adesivo digital na cabeça de seus filhos mais velhos - enquanto Snowden e sua esposa, Lindsay Mills, colocaram artisticamente um de seus dois filhos atrás de um balão para ocultar seu rosto.

“Quero que meus filhos tenham a opção de se revelar ao mundo, da forma que escolherem, quando estiverem prontos”, disse a Sra. Mills.

Uma porta-voz do Sr. Zuckerberg não quis comentar ou explicar por que o rosto de seu bebê não recebeu o mesmo tratamento e se isso ocorreu porque a tecnologia de reconhecimento facial não funciona muito bem em bebês.

‘Um fantasma on-line’ para o sucesso futuro

Muitos especialistas observaram que os adolescentes pensam muito sobre como curam suas identidades digitais e que alguns usam pseudônimos on-line para evitar que pais, professores e possíveis empregadores encontrem suas contas. Mas se houver uma imagem pública nessa conta que apresente seu rosto, ela ainda poderá ser vinculada a eles por meio de um mecanismo de busca de rostos.

Seu rosto é muito difícil de ser mantido fora da web

Priya Kumar, professora da Universidade Estadual da Pensilvânia

“Seu rosto é muito difícil de ser mantido fora da Web”, disse Priya Kumar, professora assistente da Universidade Estadual da Pensilvânia, que estudou as implicações de privacidade do sharenting.

A Dra. Kumar sugere que os pais envolvam as crianças, por volta dos 4 anos de idade, no processo de postagem - e conversem com elas sobre quais imagens podem ser compartilhadas.

Amy Webb, executiva-chefe do Future Today Institute, uma consultoria de negócios com foco em tecnologia, comprometeu-se em uma publicação da Slate, há uma década, a não publicar fotos pessoais ou informações de identificação de seu filho pequeno online. (Alguns leitores aceitaram a promessa como um desafio e encontraram uma foto de família que a Sra. Webb havia tornado pública inadvertidamente, ilustrando como pode ser difícil manter uma criança fora da internet). Sua filha, agora adolescente, disse que gostava de ser um “fantasma online” e achava que isso a ajudaria profissionalmente.

Os futuros empregadores “não encontrarão literalmente nada sobre mim porque não tenho nenhuma plataforma”, disse ela. “Isso vai me ajudar a ter sucesso no meu futuro”.

Outros jovens que cresceram na era do compartilhamento online disseram que também eram gratos por terem pais que não publicavam fotos deles publicamente on-line. Shreya Nallamothu, 16 anos, é uma estudante do ensino médio cuja pesquisa sobre influenciadores infantis ajudou a criar uma nova lei do Estado americano de Illinois que exige que os pais reservem ganhos para seus filhos se eles os apresentarem em conteúdo online monetizado. Ela disse que estava “muito grata” por seus pais não terem publicado “momentos superembaraçosos meus nas mídias sociais”.

Atualmente, crianças são as cobaias da tecnologia. É nossa responsabilidade cuidar delas

Arielle Geismar, estudante e defensora da segurança digital

“Há pessoas na minha série que são realmente boas em encontrar o Facebook dos pais de seus colegas de classe e rolar a página para baixo”, disse ela. Eles usam qualquer coisa digna de vergonha para publicações de aniversário que desaparecem no Snapchat.

Arielle Geismar, 22 anos, estudante universitária e defensora da segurança digital em Washington, descreveu como um “privilégio crescer sem que uma identidade digital seja criada para você”.

“Atualmente, as crianças são as cobaias da tecnologia”, disse Geismar. “É nossa responsabilidade cuidar delas.” / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

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