Telegram vira terreno para Hamas espalhar mensagens de terror


Serviços de mensagens sem moderação e vídeos fortes de um ataque mortal a um hospital de Gaza ajudam a transmitir mensagem do grupo terrorista

Por Drew Harwell e Elizabeth Dwoskin

THE WASHINGTON POST – Na caótica sequência de um ataque na terça-feira a um hospital de Gaza, enquanto autoridades israelenses e palestinas trocavam culpas por uma barragem aérea que matou pelo menos 500 pessoas, o grupo terrorista Hamas rapidamente se voltou para sua principal plataforma de mensagens: o aplicativo de bate-papo online Telegram.

Os militares de Israel atribuíram a explosão a foguetes mal disparados de outro grupo terrorista palestino. Mas, em uma série rápida de quase duas dúzias de mensagens em árabe e inglês, o Hamas disse ao seu público on-line de centenas de milhares de pessoas que o “massacre” havia sido causado por um ataque aéreo israelense e que o país e seus aliados ocidentais eram culpados pelo “genocídio”.

O Gaza Now, um canal do Telegram ligado ao Hamas com 1,4 milhão de assinantes, publicou fotos do que pareciam ser crianças mortas ou gravemente feridas no ataque. O canal oficial do Hamas exortou seus partidários, em uma postagem em árabe, a “agir diretamente, mostrar raiva. ... Não esperem pelo amanhã”.

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A responsabilidade pela explosão do hospital não foi determinada de forma definitiva. Mas, nos dias que se seguiram à invasão de suas forças no sul de Israel, o Hamas lançou uma campanha sem precedentes e multifacetada nas mídias sociais para contar sua versão da guerra com Israel, buscando persuadir o mundo de que seus terroristas são combatentes da liberdade, justificados por seus assassinatos e sequestros de civis israelenses.

Telegram é a plataforma escolhida pelo grupo terrorista Hamas para disseminar vídeos dos ataques Foto: Dado Ruvic/Reuters

Hamas cria estratégia inédita para redes sociais

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Proibido na maioria das principais redes sociais, o grupo está usando plataformas de mensagens sem moderação e vídeos terríveis em primeira pessoa com um nível de sofisticação nunca visto em conflitos anteriores.

O Hamas compartilhou mensagens no Telegram destinadas a fortalecer a determinação de seus partidários, despertar a ira anti-Israel nos países vizinhos, defender a brutalidade de seus terroristas e induzir a simpatia pela situação de Gaza, a faixa costeira que abriga 2 milhões de palestinos sob o controle do Hamas. O número de seguidores desses canais triplicou desde o ataque, de acordo com os números compilados pelo Digital Forensic Research Lab do Atlantic Council.

Em um vídeo postado no canal Telegram do Hamas, homens camuflados com rifles de assalto empurram um bebê chorando em um carrinho infantil do lado de fora de uma casa israelense saqueada. O clipe, que supostamente mostra “terroristas do Hamas demonstrando compaixão pelas crianças”, foi visto 200 mil vezes.

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Mas o grupo também tem trabalhado para usar a internet como uma ferramenta para o terror e o antissemitismo, baseando-se em um manual pioneiro do Estado Islâmico (EI) com o objetivo de instilar o medo, chamar a atenção e reunir apoio para possíveis ataques futuros.

O Hamas entendeu perfeitamente que o objetivo era realizar um ataque terrorista não apenas no mundo real, mas também online para glorificar seu ato e controlar a narrativa

Achiya Schatz, diretor do FakeReporter

Em alguns vídeos, os terroristas do Hamas mostram os reféns ensanguentados que fizeram, os mísseis de longo alcance que construíram e os exercícios de treinamento que realizaram com lançadores de foguetes e metralhadoras. Um vídeo tem a seguinte legenda em hebraico: “Isso é o que espera por você quando entra em Gaza”.

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“O Hamas veio armado com carregadores (para seus rifles), mas também com a bateria completa de seus telefones”, disse Achiya Schatz, diretor do FakeReporter, um grupo de vigilância israelense que rastreia a desinformação online e o discurso de ódio. “Eles entenderam perfeitamente que o objetivo era realizar um ataque terrorista não apenas no mundo real, mas também online para glorificar seu ato e controlar a narrativa.”

A estratégia de mídias sociais do Hamas ficou evidente nas primeiras horas de seu ataque sangrento, quando imagens viscerais de câmeras GoPro usadas no corpo inundaram rapidamente seus canais do Telegram. Em um clipe, um terrorista aponta a câmera para um corpo e diz: “Hora das fotos”.

Centenas de palestinos foram mortos após ataque a hospital na Faixa de Gaza Foto: Mohammed Al-Masri/REUTERS
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Mudança após ataques

Nos dias que se seguiram, o Hamas continuou a usar esses canais para publicar monólogos em vídeo de líderes políticos e militares, convocar apoiadores internacionais para pegar em armas e ameaçar transmitir execuções de reféns. Um canal postou vídeos curtos de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas que vive no exílio no Catar, enquanto outro postou mensagens de arrecadação de fundos buscando doações em criptomoedas.

Alguns dos vídeos mostram a força de combate do Hamas como implacável e engenhosa, e são editados para incluir trilhas sonoras dramáticas, animações de títulos, sequências em câmera lenta e outros toques profissionais. Um vídeo mostra uma montagem de treinamento no estilo de filme de ação, enquanto outro usa imagens gravadas por câmeras subaquáticas e drones voadores para mostrar como os terroristas transformaram dutos em mísseis.

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Rita Katz, diretora executiva do SITE Intelligence Group, que rastreia grupos terroristas online, disse que os canais do Hamas já foram uma mistura “entediante” de fotos mostrando lançamentos de foguetes e combatentes mortos, conhecidos como “relatórios de mártires”.

Desde a emboscada, no entanto, os canais passaram a publicar declarações de resposta rápida e vídeos altamente produzidos a qualquer hora – um fluxo de mensagens e propaganda em tempo de guerra que os apoiadores israelenses descreveram como guerra psicológica.

“Nunca vi a comunidade jihadista, e provavelmente também a comunidade de extrema direita, compartilhando tanto dos canais do Hamas”, disse ela. “Está em toda parte online. Não se pode ignorar isso”.

Foco no Telegram

O Hamas foi banido pelo Facebook, Instagram, TikTok, YouTube e X, anteriormente conhecido como Twitter. No entanto, muitos de seus vídeos foram repostados no X, que, segundo alguns especialistas, tem demorado para retirá-los do ar. A empresa disse em um comunicado que recentemente removeu centenas de contas do Hamas.

Mas o grupo publica seus vídeos mais violentos e mensagens extremas diretamente no Telegram, onde tem poucas preocupações de que eles sejam removidos e onde seus números de audiência aumentaram. Sua ala militar, as Brigadas al-Qassam, agora tem mais de 700 mil seguidores, ante 200 mil antes do ataque, e milhares de espectadores reagem com emojis a cada mensagem, como os emojis de coração, fogo e saudação.

O Telegram não respondeu aos pedidos de comentários, mas seu fundador, o bilionário Pavel Durov, nascido na Rússia, disse em uma postagem na sexta-feira que o serviço não “amplificava significativamente a propaganda” e era, em vez disso, uma “fonte única de informações em primeira mão para pesquisadores, jornalistas e verificadores de fatos”.

“No início desta semana, o Hamas usou o Telegram para avisar os civis em (a cidade israelense de) Ashkelon para deixar a área antes de seus ataques com mísseis”, acrescentou. “O fechamento do canal deles ajudaria a salvar vidas ou colocaria mais vidas em risco?”

Joel Finkelstein, cofundador do grupo de pesquisa Network Contagion Research Institute, disse que a estratégia de mídia social do Hamas decolou há dois anos, durante a guerra de 11 dias entre Israel e o grupo terrorista. Naquela época, uma das cinco principais hashtags que surgiram globalmente sobre o conflito foi #IsraeliCrimes, que, segundo Finkelstein, foi impulsionada por extensas redes de bots e contas falsas. Desde então, essas contas continuaram a “abastecer a bomba” com conteúdo antissemita, possivelmente em preparação para o ataque de 7 de outubro, disse ele.

As autoridades do Hamas não forneceram detalhes sobre como eles administram sua operação de mídia social. Mas a publicação contínua de vídeos e mensagens 24 horas por dia, 7 dias por semana, durante as interrupções em massa de energia e internet em Gaza, levou alguns pesquisadores a suspeitar que o grupo depende em parte de trabalhadores internacionais, talvez no vizinho Líbano ou Qatar.

Russo Pavel Durov é o fundador e presidente executivo do Telegram Foto: Albert Gea/Reuters

O Hamas possui um escritório de relações públicas e administra grupos de mídia como a Al-Aqsa TV, uma rede de entretenimento e propaganda com sede em Gaza, disponível via satélite e webcast.

O site das Brigadas al-Qassam é hospedado pela DigitalOcean, um provedor de servidores em nuvem com sede em Nova York, segundo registros de domínio. A empresa não respondeu aos pedidos de comentários feitos pelo Washington Post.

Ruslan Trad, pesquisador de segurança do Digital Forensic Research Lab do Atlantic Council, disse que a infraestrutura online do grupo funciona mais como uma burocracia governamental do que se poderia esperar de um grupo como o Estado Islâmico.

“O Hamas tem uma hierarquia rígida e testada, dividida por tarefas; a organização tem uma ala social e militar”, disse ele. “É mais parecido com uma estrutura estatal do que ter uma equipe de mídia como uma organização típica.”

Comunicação interna

O Hamas também está usando o Telegram como um megafone para sua alta cúpula. O porta-voz da ala militar do Hamas, que usa o nome Abu Obaida, postou várias declarações em vídeo, primeiro ameaçando transmitir execuções de reféns e depois, na segunda-feira, chamando os prisioneiros de “nossos convidados... que procuramos proteger”.

Nos vídeos, seu rosto é coberto por um cocar vermelho quadriculado chamado kaffiyeh. Um logotipo do Hamas aparece sobre seu ombro, no estilo de um noticiário de TV.

O Hamas também usou o canal na segunda-feira para transmitir um vídeo de uma de suas reféns, Mia Shem, uma mulher de 21 anos sequestrada em uma rave noturna no deserto, onde pelo menos 260 pessoas foram mortas. No vídeo, Shem diz sob coação que o grupo havia lhe dado tratamento médico, incluindo uma cirurgia de três horas para curar um grave ferimento no braço.

“Por favor, tire-nos daqui o mais rápido possível”, diz ela em hebraico. Não está claro quando o vídeo foi gravado. O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, disse em uma entrevista ao NBC News na terça-feira que se tratava de um “vídeo de propaganda muito mais do que uma prova de vida”.

O Hamas sempre quis ter certeza de que teria educadores, professores e pessoas da mídia no que chamam de ‘despertar das massas’. Agora, com o envolvimento da mídia social, o grupo tem isso

Pesquisador do Middle East Media Research Institute

Recentemente, o Hamas tem trabalhado para usar o Telegram como uma ferramenta estratégica de relações públicas, pedindo aos seus apoiadores que defendam o grupo em suas próprias contas e agradecendo à Rússia por seu apoio.

Mas as horas de vídeo que o Hamas coletou e compartilhou online também foram usadas por Israel para expor a barbárie do grupo. Na segunda-feira, os militares israelenses divulgaram um vídeo macabro, compilando imagens tiradas de câmeras corporais e contas de mídia social do Hamas, mostrando seus terroristas assassinando civis, invadindo casas, mutilando corpos e arrastando reféns.

O Hamas “sempre considerou a jihad em vídeo como uma de suas armas decisivas”, disse um pesquisador do Middle East Media Research Institute, um grupo com sede em Washington que acompanha as mensagens do Hamas, falando sob condição de anonimato por motivos de segurança. “Eles sempre quiseram ter certeza de que teriam educadores, professores e pessoas da mídia no que eles chamam de ‘despertar das massas’. Agora, com o envolvimento da mídia social, eles têm isso.” / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

THE WASHINGTON POST – Na caótica sequência de um ataque na terça-feira a um hospital de Gaza, enquanto autoridades israelenses e palestinas trocavam culpas por uma barragem aérea que matou pelo menos 500 pessoas, o grupo terrorista Hamas rapidamente se voltou para sua principal plataforma de mensagens: o aplicativo de bate-papo online Telegram.

Os militares de Israel atribuíram a explosão a foguetes mal disparados de outro grupo terrorista palestino. Mas, em uma série rápida de quase duas dúzias de mensagens em árabe e inglês, o Hamas disse ao seu público on-line de centenas de milhares de pessoas que o “massacre” havia sido causado por um ataque aéreo israelense e que o país e seus aliados ocidentais eram culpados pelo “genocídio”.

O Gaza Now, um canal do Telegram ligado ao Hamas com 1,4 milhão de assinantes, publicou fotos do que pareciam ser crianças mortas ou gravemente feridas no ataque. O canal oficial do Hamas exortou seus partidários, em uma postagem em árabe, a “agir diretamente, mostrar raiva. ... Não esperem pelo amanhã”.

A responsabilidade pela explosão do hospital não foi determinada de forma definitiva. Mas, nos dias que se seguiram à invasão de suas forças no sul de Israel, o Hamas lançou uma campanha sem precedentes e multifacetada nas mídias sociais para contar sua versão da guerra com Israel, buscando persuadir o mundo de que seus terroristas são combatentes da liberdade, justificados por seus assassinatos e sequestros de civis israelenses.

Telegram é a plataforma escolhida pelo grupo terrorista Hamas para disseminar vídeos dos ataques Foto: Dado Ruvic/Reuters

Hamas cria estratégia inédita para redes sociais

Proibido na maioria das principais redes sociais, o grupo está usando plataformas de mensagens sem moderação e vídeos terríveis em primeira pessoa com um nível de sofisticação nunca visto em conflitos anteriores.

O Hamas compartilhou mensagens no Telegram destinadas a fortalecer a determinação de seus partidários, despertar a ira anti-Israel nos países vizinhos, defender a brutalidade de seus terroristas e induzir a simpatia pela situação de Gaza, a faixa costeira que abriga 2 milhões de palestinos sob o controle do Hamas. O número de seguidores desses canais triplicou desde o ataque, de acordo com os números compilados pelo Digital Forensic Research Lab do Atlantic Council.

Em um vídeo postado no canal Telegram do Hamas, homens camuflados com rifles de assalto empurram um bebê chorando em um carrinho infantil do lado de fora de uma casa israelense saqueada. O clipe, que supostamente mostra “terroristas do Hamas demonstrando compaixão pelas crianças”, foi visto 200 mil vezes.

Mas o grupo também tem trabalhado para usar a internet como uma ferramenta para o terror e o antissemitismo, baseando-se em um manual pioneiro do Estado Islâmico (EI) com o objetivo de instilar o medo, chamar a atenção e reunir apoio para possíveis ataques futuros.

O Hamas entendeu perfeitamente que o objetivo era realizar um ataque terrorista não apenas no mundo real, mas também online para glorificar seu ato e controlar a narrativa

Achiya Schatz, diretor do FakeReporter

Em alguns vídeos, os terroristas do Hamas mostram os reféns ensanguentados que fizeram, os mísseis de longo alcance que construíram e os exercícios de treinamento que realizaram com lançadores de foguetes e metralhadoras. Um vídeo tem a seguinte legenda em hebraico: “Isso é o que espera por você quando entra em Gaza”.

“O Hamas veio armado com carregadores (para seus rifles), mas também com a bateria completa de seus telefones”, disse Achiya Schatz, diretor do FakeReporter, um grupo de vigilância israelense que rastreia a desinformação online e o discurso de ódio. “Eles entenderam perfeitamente que o objetivo era realizar um ataque terrorista não apenas no mundo real, mas também online para glorificar seu ato e controlar a narrativa.”

A estratégia de mídias sociais do Hamas ficou evidente nas primeiras horas de seu ataque sangrento, quando imagens viscerais de câmeras GoPro usadas no corpo inundaram rapidamente seus canais do Telegram. Em um clipe, um terrorista aponta a câmera para um corpo e diz: “Hora das fotos”.

Centenas de palestinos foram mortos após ataque a hospital na Faixa de Gaza Foto: Mohammed Al-Masri/REUTERS

Mudança após ataques

Nos dias que se seguiram, o Hamas continuou a usar esses canais para publicar monólogos em vídeo de líderes políticos e militares, convocar apoiadores internacionais para pegar em armas e ameaçar transmitir execuções de reféns. Um canal postou vídeos curtos de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas que vive no exílio no Catar, enquanto outro postou mensagens de arrecadação de fundos buscando doações em criptomoedas.

Alguns dos vídeos mostram a força de combate do Hamas como implacável e engenhosa, e são editados para incluir trilhas sonoras dramáticas, animações de títulos, sequências em câmera lenta e outros toques profissionais. Um vídeo mostra uma montagem de treinamento no estilo de filme de ação, enquanto outro usa imagens gravadas por câmeras subaquáticas e drones voadores para mostrar como os terroristas transformaram dutos em mísseis.

Rita Katz, diretora executiva do SITE Intelligence Group, que rastreia grupos terroristas online, disse que os canais do Hamas já foram uma mistura “entediante” de fotos mostrando lançamentos de foguetes e combatentes mortos, conhecidos como “relatórios de mártires”.

Desde a emboscada, no entanto, os canais passaram a publicar declarações de resposta rápida e vídeos altamente produzidos a qualquer hora – um fluxo de mensagens e propaganda em tempo de guerra que os apoiadores israelenses descreveram como guerra psicológica.

“Nunca vi a comunidade jihadista, e provavelmente também a comunidade de extrema direita, compartilhando tanto dos canais do Hamas”, disse ela. “Está em toda parte online. Não se pode ignorar isso”.

Foco no Telegram

O Hamas foi banido pelo Facebook, Instagram, TikTok, YouTube e X, anteriormente conhecido como Twitter. No entanto, muitos de seus vídeos foram repostados no X, que, segundo alguns especialistas, tem demorado para retirá-los do ar. A empresa disse em um comunicado que recentemente removeu centenas de contas do Hamas.

Mas o grupo publica seus vídeos mais violentos e mensagens extremas diretamente no Telegram, onde tem poucas preocupações de que eles sejam removidos e onde seus números de audiência aumentaram. Sua ala militar, as Brigadas al-Qassam, agora tem mais de 700 mil seguidores, ante 200 mil antes do ataque, e milhares de espectadores reagem com emojis a cada mensagem, como os emojis de coração, fogo e saudação.

O Telegram não respondeu aos pedidos de comentários, mas seu fundador, o bilionário Pavel Durov, nascido na Rússia, disse em uma postagem na sexta-feira que o serviço não “amplificava significativamente a propaganda” e era, em vez disso, uma “fonte única de informações em primeira mão para pesquisadores, jornalistas e verificadores de fatos”.

“No início desta semana, o Hamas usou o Telegram para avisar os civis em (a cidade israelense de) Ashkelon para deixar a área antes de seus ataques com mísseis”, acrescentou. “O fechamento do canal deles ajudaria a salvar vidas ou colocaria mais vidas em risco?”

Joel Finkelstein, cofundador do grupo de pesquisa Network Contagion Research Institute, disse que a estratégia de mídia social do Hamas decolou há dois anos, durante a guerra de 11 dias entre Israel e o grupo terrorista. Naquela época, uma das cinco principais hashtags que surgiram globalmente sobre o conflito foi #IsraeliCrimes, que, segundo Finkelstein, foi impulsionada por extensas redes de bots e contas falsas. Desde então, essas contas continuaram a “abastecer a bomba” com conteúdo antissemita, possivelmente em preparação para o ataque de 7 de outubro, disse ele.

As autoridades do Hamas não forneceram detalhes sobre como eles administram sua operação de mídia social. Mas a publicação contínua de vídeos e mensagens 24 horas por dia, 7 dias por semana, durante as interrupções em massa de energia e internet em Gaza, levou alguns pesquisadores a suspeitar que o grupo depende em parte de trabalhadores internacionais, talvez no vizinho Líbano ou Qatar.

Russo Pavel Durov é o fundador e presidente executivo do Telegram Foto: Albert Gea/Reuters

O Hamas possui um escritório de relações públicas e administra grupos de mídia como a Al-Aqsa TV, uma rede de entretenimento e propaganda com sede em Gaza, disponível via satélite e webcast.

O site das Brigadas al-Qassam é hospedado pela DigitalOcean, um provedor de servidores em nuvem com sede em Nova York, segundo registros de domínio. A empresa não respondeu aos pedidos de comentários feitos pelo Washington Post.

Ruslan Trad, pesquisador de segurança do Digital Forensic Research Lab do Atlantic Council, disse que a infraestrutura online do grupo funciona mais como uma burocracia governamental do que se poderia esperar de um grupo como o Estado Islâmico.

“O Hamas tem uma hierarquia rígida e testada, dividida por tarefas; a organização tem uma ala social e militar”, disse ele. “É mais parecido com uma estrutura estatal do que ter uma equipe de mídia como uma organização típica.”

Comunicação interna

O Hamas também está usando o Telegram como um megafone para sua alta cúpula. O porta-voz da ala militar do Hamas, que usa o nome Abu Obaida, postou várias declarações em vídeo, primeiro ameaçando transmitir execuções de reféns e depois, na segunda-feira, chamando os prisioneiros de “nossos convidados... que procuramos proteger”.

Nos vídeos, seu rosto é coberto por um cocar vermelho quadriculado chamado kaffiyeh. Um logotipo do Hamas aparece sobre seu ombro, no estilo de um noticiário de TV.

O Hamas também usou o canal na segunda-feira para transmitir um vídeo de uma de suas reféns, Mia Shem, uma mulher de 21 anos sequestrada em uma rave noturna no deserto, onde pelo menos 260 pessoas foram mortas. No vídeo, Shem diz sob coação que o grupo havia lhe dado tratamento médico, incluindo uma cirurgia de três horas para curar um grave ferimento no braço.

“Por favor, tire-nos daqui o mais rápido possível”, diz ela em hebraico. Não está claro quando o vídeo foi gravado. O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, disse em uma entrevista ao NBC News na terça-feira que se tratava de um “vídeo de propaganda muito mais do que uma prova de vida”.

O Hamas sempre quis ter certeza de que teria educadores, professores e pessoas da mídia no que chamam de ‘despertar das massas’. Agora, com o envolvimento da mídia social, o grupo tem isso

Pesquisador do Middle East Media Research Institute

Recentemente, o Hamas tem trabalhado para usar o Telegram como uma ferramenta estratégica de relações públicas, pedindo aos seus apoiadores que defendam o grupo em suas próprias contas e agradecendo à Rússia por seu apoio.

Mas as horas de vídeo que o Hamas coletou e compartilhou online também foram usadas por Israel para expor a barbárie do grupo. Na segunda-feira, os militares israelenses divulgaram um vídeo macabro, compilando imagens tiradas de câmeras corporais e contas de mídia social do Hamas, mostrando seus terroristas assassinando civis, invadindo casas, mutilando corpos e arrastando reféns.

O Hamas “sempre considerou a jihad em vídeo como uma de suas armas decisivas”, disse um pesquisador do Middle East Media Research Institute, um grupo com sede em Washington que acompanha as mensagens do Hamas, falando sob condição de anonimato por motivos de segurança. “Eles sempre quiseram ter certeza de que teriam educadores, professores e pessoas da mídia no que eles chamam de ‘despertar das massas’. Agora, com o envolvimento da mídia social, eles têm isso.” / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

THE WASHINGTON POST – Na caótica sequência de um ataque na terça-feira a um hospital de Gaza, enquanto autoridades israelenses e palestinas trocavam culpas por uma barragem aérea que matou pelo menos 500 pessoas, o grupo terrorista Hamas rapidamente se voltou para sua principal plataforma de mensagens: o aplicativo de bate-papo online Telegram.

Os militares de Israel atribuíram a explosão a foguetes mal disparados de outro grupo terrorista palestino. Mas, em uma série rápida de quase duas dúzias de mensagens em árabe e inglês, o Hamas disse ao seu público on-line de centenas de milhares de pessoas que o “massacre” havia sido causado por um ataque aéreo israelense e que o país e seus aliados ocidentais eram culpados pelo “genocídio”.

O Gaza Now, um canal do Telegram ligado ao Hamas com 1,4 milhão de assinantes, publicou fotos do que pareciam ser crianças mortas ou gravemente feridas no ataque. O canal oficial do Hamas exortou seus partidários, em uma postagem em árabe, a “agir diretamente, mostrar raiva. ... Não esperem pelo amanhã”.

A responsabilidade pela explosão do hospital não foi determinada de forma definitiva. Mas, nos dias que se seguiram à invasão de suas forças no sul de Israel, o Hamas lançou uma campanha sem precedentes e multifacetada nas mídias sociais para contar sua versão da guerra com Israel, buscando persuadir o mundo de que seus terroristas são combatentes da liberdade, justificados por seus assassinatos e sequestros de civis israelenses.

Telegram é a plataforma escolhida pelo grupo terrorista Hamas para disseminar vídeos dos ataques Foto: Dado Ruvic/Reuters

Hamas cria estratégia inédita para redes sociais

Proibido na maioria das principais redes sociais, o grupo está usando plataformas de mensagens sem moderação e vídeos terríveis em primeira pessoa com um nível de sofisticação nunca visto em conflitos anteriores.

O Hamas compartilhou mensagens no Telegram destinadas a fortalecer a determinação de seus partidários, despertar a ira anti-Israel nos países vizinhos, defender a brutalidade de seus terroristas e induzir a simpatia pela situação de Gaza, a faixa costeira que abriga 2 milhões de palestinos sob o controle do Hamas. O número de seguidores desses canais triplicou desde o ataque, de acordo com os números compilados pelo Digital Forensic Research Lab do Atlantic Council.

Em um vídeo postado no canal Telegram do Hamas, homens camuflados com rifles de assalto empurram um bebê chorando em um carrinho infantil do lado de fora de uma casa israelense saqueada. O clipe, que supostamente mostra “terroristas do Hamas demonstrando compaixão pelas crianças”, foi visto 200 mil vezes.

Mas o grupo também tem trabalhado para usar a internet como uma ferramenta para o terror e o antissemitismo, baseando-se em um manual pioneiro do Estado Islâmico (EI) com o objetivo de instilar o medo, chamar a atenção e reunir apoio para possíveis ataques futuros.

O Hamas entendeu perfeitamente que o objetivo era realizar um ataque terrorista não apenas no mundo real, mas também online para glorificar seu ato e controlar a narrativa

Achiya Schatz, diretor do FakeReporter

Em alguns vídeos, os terroristas do Hamas mostram os reféns ensanguentados que fizeram, os mísseis de longo alcance que construíram e os exercícios de treinamento que realizaram com lançadores de foguetes e metralhadoras. Um vídeo tem a seguinte legenda em hebraico: “Isso é o que espera por você quando entra em Gaza”.

“O Hamas veio armado com carregadores (para seus rifles), mas também com a bateria completa de seus telefones”, disse Achiya Schatz, diretor do FakeReporter, um grupo de vigilância israelense que rastreia a desinformação online e o discurso de ódio. “Eles entenderam perfeitamente que o objetivo era realizar um ataque terrorista não apenas no mundo real, mas também online para glorificar seu ato e controlar a narrativa.”

A estratégia de mídias sociais do Hamas ficou evidente nas primeiras horas de seu ataque sangrento, quando imagens viscerais de câmeras GoPro usadas no corpo inundaram rapidamente seus canais do Telegram. Em um clipe, um terrorista aponta a câmera para um corpo e diz: “Hora das fotos”.

Centenas de palestinos foram mortos após ataque a hospital na Faixa de Gaza Foto: Mohammed Al-Masri/REUTERS

Mudança após ataques

Nos dias que se seguiram, o Hamas continuou a usar esses canais para publicar monólogos em vídeo de líderes políticos e militares, convocar apoiadores internacionais para pegar em armas e ameaçar transmitir execuções de reféns. Um canal postou vídeos curtos de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas que vive no exílio no Catar, enquanto outro postou mensagens de arrecadação de fundos buscando doações em criptomoedas.

Alguns dos vídeos mostram a força de combate do Hamas como implacável e engenhosa, e são editados para incluir trilhas sonoras dramáticas, animações de títulos, sequências em câmera lenta e outros toques profissionais. Um vídeo mostra uma montagem de treinamento no estilo de filme de ação, enquanto outro usa imagens gravadas por câmeras subaquáticas e drones voadores para mostrar como os terroristas transformaram dutos em mísseis.

Rita Katz, diretora executiva do SITE Intelligence Group, que rastreia grupos terroristas online, disse que os canais do Hamas já foram uma mistura “entediante” de fotos mostrando lançamentos de foguetes e combatentes mortos, conhecidos como “relatórios de mártires”.

Desde a emboscada, no entanto, os canais passaram a publicar declarações de resposta rápida e vídeos altamente produzidos a qualquer hora – um fluxo de mensagens e propaganda em tempo de guerra que os apoiadores israelenses descreveram como guerra psicológica.

“Nunca vi a comunidade jihadista, e provavelmente também a comunidade de extrema direita, compartilhando tanto dos canais do Hamas”, disse ela. “Está em toda parte online. Não se pode ignorar isso”.

Foco no Telegram

O Hamas foi banido pelo Facebook, Instagram, TikTok, YouTube e X, anteriormente conhecido como Twitter. No entanto, muitos de seus vídeos foram repostados no X, que, segundo alguns especialistas, tem demorado para retirá-los do ar. A empresa disse em um comunicado que recentemente removeu centenas de contas do Hamas.

Mas o grupo publica seus vídeos mais violentos e mensagens extremas diretamente no Telegram, onde tem poucas preocupações de que eles sejam removidos e onde seus números de audiência aumentaram. Sua ala militar, as Brigadas al-Qassam, agora tem mais de 700 mil seguidores, ante 200 mil antes do ataque, e milhares de espectadores reagem com emojis a cada mensagem, como os emojis de coração, fogo e saudação.

O Telegram não respondeu aos pedidos de comentários, mas seu fundador, o bilionário Pavel Durov, nascido na Rússia, disse em uma postagem na sexta-feira que o serviço não “amplificava significativamente a propaganda” e era, em vez disso, uma “fonte única de informações em primeira mão para pesquisadores, jornalistas e verificadores de fatos”.

“No início desta semana, o Hamas usou o Telegram para avisar os civis em (a cidade israelense de) Ashkelon para deixar a área antes de seus ataques com mísseis”, acrescentou. “O fechamento do canal deles ajudaria a salvar vidas ou colocaria mais vidas em risco?”

Joel Finkelstein, cofundador do grupo de pesquisa Network Contagion Research Institute, disse que a estratégia de mídia social do Hamas decolou há dois anos, durante a guerra de 11 dias entre Israel e o grupo terrorista. Naquela época, uma das cinco principais hashtags que surgiram globalmente sobre o conflito foi #IsraeliCrimes, que, segundo Finkelstein, foi impulsionada por extensas redes de bots e contas falsas. Desde então, essas contas continuaram a “abastecer a bomba” com conteúdo antissemita, possivelmente em preparação para o ataque de 7 de outubro, disse ele.

As autoridades do Hamas não forneceram detalhes sobre como eles administram sua operação de mídia social. Mas a publicação contínua de vídeos e mensagens 24 horas por dia, 7 dias por semana, durante as interrupções em massa de energia e internet em Gaza, levou alguns pesquisadores a suspeitar que o grupo depende em parte de trabalhadores internacionais, talvez no vizinho Líbano ou Qatar.

Russo Pavel Durov é o fundador e presidente executivo do Telegram Foto: Albert Gea/Reuters

O Hamas possui um escritório de relações públicas e administra grupos de mídia como a Al-Aqsa TV, uma rede de entretenimento e propaganda com sede em Gaza, disponível via satélite e webcast.

O site das Brigadas al-Qassam é hospedado pela DigitalOcean, um provedor de servidores em nuvem com sede em Nova York, segundo registros de domínio. A empresa não respondeu aos pedidos de comentários feitos pelo Washington Post.

Ruslan Trad, pesquisador de segurança do Digital Forensic Research Lab do Atlantic Council, disse que a infraestrutura online do grupo funciona mais como uma burocracia governamental do que se poderia esperar de um grupo como o Estado Islâmico.

“O Hamas tem uma hierarquia rígida e testada, dividida por tarefas; a organização tem uma ala social e militar”, disse ele. “É mais parecido com uma estrutura estatal do que ter uma equipe de mídia como uma organização típica.”

Comunicação interna

O Hamas também está usando o Telegram como um megafone para sua alta cúpula. O porta-voz da ala militar do Hamas, que usa o nome Abu Obaida, postou várias declarações em vídeo, primeiro ameaçando transmitir execuções de reféns e depois, na segunda-feira, chamando os prisioneiros de “nossos convidados... que procuramos proteger”.

Nos vídeos, seu rosto é coberto por um cocar vermelho quadriculado chamado kaffiyeh. Um logotipo do Hamas aparece sobre seu ombro, no estilo de um noticiário de TV.

O Hamas também usou o canal na segunda-feira para transmitir um vídeo de uma de suas reféns, Mia Shem, uma mulher de 21 anos sequestrada em uma rave noturna no deserto, onde pelo menos 260 pessoas foram mortas. No vídeo, Shem diz sob coação que o grupo havia lhe dado tratamento médico, incluindo uma cirurgia de três horas para curar um grave ferimento no braço.

“Por favor, tire-nos daqui o mais rápido possível”, diz ela em hebraico. Não está claro quando o vídeo foi gravado. O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, disse em uma entrevista ao NBC News na terça-feira que se tratava de um “vídeo de propaganda muito mais do que uma prova de vida”.

O Hamas sempre quis ter certeza de que teria educadores, professores e pessoas da mídia no que chamam de ‘despertar das massas’. Agora, com o envolvimento da mídia social, o grupo tem isso

Pesquisador do Middle East Media Research Institute

Recentemente, o Hamas tem trabalhado para usar o Telegram como uma ferramenta estratégica de relações públicas, pedindo aos seus apoiadores que defendam o grupo em suas próprias contas e agradecendo à Rússia por seu apoio.

Mas as horas de vídeo que o Hamas coletou e compartilhou online também foram usadas por Israel para expor a barbárie do grupo. Na segunda-feira, os militares israelenses divulgaram um vídeo macabro, compilando imagens tiradas de câmeras corporais e contas de mídia social do Hamas, mostrando seus terroristas assassinando civis, invadindo casas, mutilando corpos e arrastando reféns.

O Hamas “sempre considerou a jihad em vídeo como uma de suas armas decisivas”, disse um pesquisador do Middle East Media Research Institute, um grupo com sede em Washington que acompanha as mensagens do Hamas, falando sob condição de anonimato por motivos de segurança. “Eles sempre quiseram ter certeza de que teriam educadores, professores e pessoas da mídia no que eles chamam de ‘despertar das massas’. Agora, com o envolvimento da mídia social, eles têm isso.” / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

THE WASHINGTON POST – Na caótica sequência de um ataque na terça-feira a um hospital de Gaza, enquanto autoridades israelenses e palestinas trocavam culpas por uma barragem aérea que matou pelo menos 500 pessoas, o grupo terrorista Hamas rapidamente se voltou para sua principal plataforma de mensagens: o aplicativo de bate-papo online Telegram.

Os militares de Israel atribuíram a explosão a foguetes mal disparados de outro grupo terrorista palestino. Mas, em uma série rápida de quase duas dúzias de mensagens em árabe e inglês, o Hamas disse ao seu público on-line de centenas de milhares de pessoas que o “massacre” havia sido causado por um ataque aéreo israelense e que o país e seus aliados ocidentais eram culpados pelo “genocídio”.

O Gaza Now, um canal do Telegram ligado ao Hamas com 1,4 milhão de assinantes, publicou fotos do que pareciam ser crianças mortas ou gravemente feridas no ataque. O canal oficial do Hamas exortou seus partidários, em uma postagem em árabe, a “agir diretamente, mostrar raiva. ... Não esperem pelo amanhã”.

A responsabilidade pela explosão do hospital não foi determinada de forma definitiva. Mas, nos dias que se seguiram à invasão de suas forças no sul de Israel, o Hamas lançou uma campanha sem precedentes e multifacetada nas mídias sociais para contar sua versão da guerra com Israel, buscando persuadir o mundo de que seus terroristas são combatentes da liberdade, justificados por seus assassinatos e sequestros de civis israelenses.

Telegram é a plataforma escolhida pelo grupo terrorista Hamas para disseminar vídeos dos ataques Foto: Dado Ruvic/Reuters

Hamas cria estratégia inédita para redes sociais

Proibido na maioria das principais redes sociais, o grupo está usando plataformas de mensagens sem moderação e vídeos terríveis em primeira pessoa com um nível de sofisticação nunca visto em conflitos anteriores.

O Hamas compartilhou mensagens no Telegram destinadas a fortalecer a determinação de seus partidários, despertar a ira anti-Israel nos países vizinhos, defender a brutalidade de seus terroristas e induzir a simpatia pela situação de Gaza, a faixa costeira que abriga 2 milhões de palestinos sob o controle do Hamas. O número de seguidores desses canais triplicou desde o ataque, de acordo com os números compilados pelo Digital Forensic Research Lab do Atlantic Council.

Em um vídeo postado no canal Telegram do Hamas, homens camuflados com rifles de assalto empurram um bebê chorando em um carrinho infantil do lado de fora de uma casa israelense saqueada. O clipe, que supostamente mostra “terroristas do Hamas demonstrando compaixão pelas crianças”, foi visto 200 mil vezes.

Mas o grupo também tem trabalhado para usar a internet como uma ferramenta para o terror e o antissemitismo, baseando-se em um manual pioneiro do Estado Islâmico (EI) com o objetivo de instilar o medo, chamar a atenção e reunir apoio para possíveis ataques futuros.

O Hamas entendeu perfeitamente que o objetivo era realizar um ataque terrorista não apenas no mundo real, mas também online para glorificar seu ato e controlar a narrativa

Achiya Schatz, diretor do FakeReporter

Em alguns vídeos, os terroristas do Hamas mostram os reféns ensanguentados que fizeram, os mísseis de longo alcance que construíram e os exercícios de treinamento que realizaram com lançadores de foguetes e metralhadoras. Um vídeo tem a seguinte legenda em hebraico: “Isso é o que espera por você quando entra em Gaza”.

“O Hamas veio armado com carregadores (para seus rifles), mas também com a bateria completa de seus telefones”, disse Achiya Schatz, diretor do FakeReporter, um grupo de vigilância israelense que rastreia a desinformação online e o discurso de ódio. “Eles entenderam perfeitamente que o objetivo era realizar um ataque terrorista não apenas no mundo real, mas também online para glorificar seu ato e controlar a narrativa.”

A estratégia de mídias sociais do Hamas ficou evidente nas primeiras horas de seu ataque sangrento, quando imagens viscerais de câmeras GoPro usadas no corpo inundaram rapidamente seus canais do Telegram. Em um clipe, um terrorista aponta a câmera para um corpo e diz: “Hora das fotos”.

Centenas de palestinos foram mortos após ataque a hospital na Faixa de Gaza Foto: Mohammed Al-Masri/REUTERS

Mudança após ataques

Nos dias que se seguiram, o Hamas continuou a usar esses canais para publicar monólogos em vídeo de líderes políticos e militares, convocar apoiadores internacionais para pegar em armas e ameaçar transmitir execuções de reféns. Um canal postou vídeos curtos de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas que vive no exílio no Catar, enquanto outro postou mensagens de arrecadação de fundos buscando doações em criptomoedas.

Alguns dos vídeos mostram a força de combate do Hamas como implacável e engenhosa, e são editados para incluir trilhas sonoras dramáticas, animações de títulos, sequências em câmera lenta e outros toques profissionais. Um vídeo mostra uma montagem de treinamento no estilo de filme de ação, enquanto outro usa imagens gravadas por câmeras subaquáticas e drones voadores para mostrar como os terroristas transformaram dutos em mísseis.

Rita Katz, diretora executiva do SITE Intelligence Group, que rastreia grupos terroristas online, disse que os canais do Hamas já foram uma mistura “entediante” de fotos mostrando lançamentos de foguetes e combatentes mortos, conhecidos como “relatórios de mártires”.

Desde a emboscada, no entanto, os canais passaram a publicar declarações de resposta rápida e vídeos altamente produzidos a qualquer hora – um fluxo de mensagens e propaganda em tempo de guerra que os apoiadores israelenses descreveram como guerra psicológica.

“Nunca vi a comunidade jihadista, e provavelmente também a comunidade de extrema direita, compartilhando tanto dos canais do Hamas”, disse ela. “Está em toda parte online. Não se pode ignorar isso”.

Foco no Telegram

O Hamas foi banido pelo Facebook, Instagram, TikTok, YouTube e X, anteriormente conhecido como Twitter. No entanto, muitos de seus vídeos foram repostados no X, que, segundo alguns especialistas, tem demorado para retirá-los do ar. A empresa disse em um comunicado que recentemente removeu centenas de contas do Hamas.

Mas o grupo publica seus vídeos mais violentos e mensagens extremas diretamente no Telegram, onde tem poucas preocupações de que eles sejam removidos e onde seus números de audiência aumentaram. Sua ala militar, as Brigadas al-Qassam, agora tem mais de 700 mil seguidores, ante 200 mil antes do ataque, e milhares de espectadores reagem com emojis a cada mensagem, como os emojis de coração, fogo e saudação.

O Telegram não respondeu aos pedidos de comentários, mas seu fundador, o bilionário Pavel Durov, nascido na Rússia, disse em uma postagem na sexta-feira que o serviço não “amplificava significativamente a propaganda” e era, em vez disso, uma “fonte única de informações em primeira mão para pesquisadores, jornalistas e verificadores de fatos”.

“No início desta semana, o Hamas usou o Telegram para avisar os civis em (a cidade israelense de) Ashkelon para deixar a área antes de seus ataques com mísseis”, acrescentou. “O fechamento do canal deles ajudaria a salvar vidas ou colocaria mais vidas em risco?”

Joel Finkelstein, cofundador do grupo de pesquisa Network Contagion Research Institute, disse que a estratégia de mídia social do Hamas decolou há dois anos, durante a guerra de 11 dias entre Israel e o grupo terrorista. Naquela época, uma das cinco principais hashtags que surgiram globalmente sobre o conflito foi #IsraeliCrimes, que, segundo Finkelstein, foi impulsionada por extensas redes de bots e contas falsas. Desde então, essas contas continuaram a “abastecer a bomba” com conteúdo antissemita, possivelmente em preparação para o ataque de 7 de outubro, disse ele.

As autoridades do Hamas não forneceram detalhes sobre como eles administram sua operação de mídia social. Mas a publicação contínua de vídeos e mensagens 24 horas por dia, 7 dias por semana, durante as interrupções em massa de energia e internet em Gaza, levou alguns pesquisadores a suspeitar que o grupo depende em parte de trabalhadores internacionais, talvez no vizinho Líbano ou Qatar.

Russo Pavel Durov é o fundador e presidente executivo do Telegram Foto: Albert Gea/Reuters

O Hamas possui um escritório de relações públicas e administra grupos de mídia como a Al-Aqsa TV, uma rede de entretenimento e propaganda com sede em Gaza, disponível via satélite e webcast.

O site das Brigadas al-Qassam é hospedado pela DigitalOcean, um provedor de servidores em nuvem com sede em Nova York, segundo registros de domínio. A empresa não respondeu aos pedidos de comentários feitos pelo Washington Post.

Ruslan Trad, pesquisador de segurança do Digital Forensic Research Lab do Atlantic Council, disse que a infraestrutura online do grupo funciona mais como uma burocracia governamental do que se poderia esperar de um grupo como o Estado Islâmico.

“O Hamas tem uma hierarquia rígida e testada, dividida por tarefas; a organização tem uma ala social e militar”, disse ele. “É mais parecido com uma estrutura estatal do que ter uma equipe de mídia como uma organização típica.”

Comunicação interna

O Hamas também está usando o Telegram como um megafone para sua alta cúpula. O porta-voz da ala militar do Hamas, que usa o nome Abu Obaida, postou várias declarações em vídeo, primeiro ameaçando transmitir execuções de reféns e depois, na segunda-feira, chamando os prisioneiros de “nossos convidados... que procuramos proteger”.

Nos vídeos, seu rosto é coberto por um cocar vermelho quadriculado chamado kaffiyeh. Um logotipo do Hamas aparece sobre seu ombro, no estilo de um noticiário de TV.

O Hamas também usou o canal na segunda-feira para transmitir um vídeo de uma de suas reféns, Mia Shem, uma mulher de 21 anos sequestrada em uma rave noturna no deserto, onde pelo menos 260 pessoas foram mortas. No vídeo, Shem diz sob coação que o grupo havia lhe dado tratamento médico, incluindo uma cirurgia de três horas para curar um grave ferimento no braço.

“Por favor, tire-nos daqui o mais rápido possível”, diz ela em hebraico. Não está claro quando o vídeo foi gravado. O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, disse em uma entrevista ao NBC News na terça-feira que se tratava de um “vídeo de propaganda muito mais do que uma prova de vida”.

O Hamas sempre quis ter certeza de que teria educadores, professores e pessoas da mídia no que chamam de ‘despertar das massas’. Agora, com o envolvimento da mídia social, o grupo tem isso

Pesquisador do Middle East Media Research Institute

Recentemente, o Hamas tem trabalhado para usar o Telegram como uma ferramenta estratégica de relações públicas, pedindo aos seus apoiadores que defendam o grupo em suas próprias contas e agradecendo à Rússia por seu apoio.

Mas as horas de vídeo que o Hamas coletou e compartilhou online também foram usadas por Israel para expor a barbárie do grupo. Na segunda-feira, os militares israelenses divulgaram um vídeo macabro, compilando imagens tiradas de câmeras corporais e contas de mídia social do Hamas, mostrando seus terroristas assassinando civis, invadindo casas, mutilando corpos e arrastando reféns.

O Hamas “sempre considerou a jihad em vídeo como uma de suas armas decisivas”, disse um pesquisador do Middle East Media Research Institute, um grupo com sede em Washington que acompanha as mensagens do Hamas, falando sob condição de anonimato por motivos de segurança. “Eles sempre quiseram ter certeza de que teriam educadores, professores e pessoas da mídia no que eles chamam de ‘despertar das massas’. Agora, com o envolvimento da mídia social, eles têm isso.” / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

THE WASHINGTON POST – Na caótica sequência de um ataque na terça-feira a um hospital de Gaza, enquanto autoridades israelenses e palestinas trocavam culpas por uma barragem aérea que matou pelo menos 500 pessoas, o grupo terrorista Hamas rapidamente se voltou para sua principal plataforma de mensagens: o aplicativo de bate-papo online Telegram.

Os militares de Israel atribuíram a explosão a foguetes mal disparados de outro grupo terrorista palestino. Mas, em uma série rápida de quase duas dúzias de mensagens em árabe e inglês, o Hamas disse ao seu público on-line de centenas de milhares de pessoas que o “massacre” havia sido causado por um ataque aéreo israelense e que o país e seus aliados ocidentais eram culpados pelo “genocídio”.

O Gaza Now, um canal do Telegram ligado ao Hamas com 1,4 milhão de assinantes, publicou fotos do que pareciam ser crianças mortas ou gravemente feridas no ataque. O canal oficial do Hamas exortou seus partidários, em uma postagem em árabe, a “agir diretamente, mostrar raiva. ... Não esperem pelo amanhã”.

A responsabilidade pela explosão do hospital não foi determinada de forma definitiva. Mas, nos dias que se seguiram à invasão de suas forças no sul de Israel, o Hamas lançou uma campanha sem precedentes e multifacetada nas mídias sociais para contar sua versão da guerra com Israel, buscando persuadir o mundo de que seus terroristas são combatentes da liberdade, justificados por seus assassinatos e sequestros de civis israelenses.

Telegram é a plataforma escolhida pelo grupo terrorista Hamas para disseminar vídeos dos ataques Foto: Dado Ruvic/Reuters

Hamas cria estratégia inédita para redes sociais

Proibido na maioria das principais redes sociais, o grupo está usando plataformas de mensagens sem moderação e vídeos terríveis em primeira pessoa com um nível de sofisticação nunca visto em conflitos anteriores.

O Hamas compartilhou mensagens no Telegram destinadas a fortalecer a determinação de seus partidários, despertar a ira anti-Israel nos países vizinhos, defender a brutalidade de seus terroristas e induzir a simpatia pela situação de Gaza, a faixa costeira que abriga 2 milhões de palestinos sob o controle do Hamas. O número de seguidores desses canais triplicou desde o ataque, de acordo com os números compilados pelo Digital Forensic Research Lab do Atlantic Council.

Em um vídeo postado no canal Telegram do Hamas, homens camuflados com rifles de assalto empurram um bebê chorando em um carrinho infantil do lado de fora de uma casa israelense saqueada. O clipe, que supostamente mostra “terroristas do Hamas demonstrando compaixão pelas crianças”, foi visto 200 mil vezes.

Mas o grupo também tem trabalhado para usar a internet como uma ferramenta para o terror e o antissemitismo, baseando-se em um manual pioneiro do Estado Islâmico (EI) com o objetivo de instilar o medo, chamar a atenção e reunir apoio para possíveis ataques futuros.

O Hamas entendeu perfeitamente que o objetivo era realizar um ataque terrorista não apenas no mundo real, mas também online para glorificar seu ato e controlar a narrativa

Achiya Schatz, diretor do FakeReporter

Em alguns vídeos, os terroristas do Hamas mostram os reféns ensanguentados que fizeram, os mísseis de longo alcance que construíram e os exercícios de treinamento que realizaram com lançadores de foguetes e metralhadoras. Um vídeo tem a seguinte legenda em hebraico: “Isso é o que espera por você quando entra em Gaza”.

“O Hamas veio armado com carregadores (para seus rifles), mas também com a bateria completa de seus telefones”, disse Achiya Schatz, diretor do FakeReporter, um grupo de vigilância israelense que rastreia a desinformação online e o discurso de ódio. “Eles entenderam perfeitamente que o objetivo era realizar um ataque terrorista não apenas no mundo real, mas também online para glorificar seu ato e controlar a narrativa.”

A estratégia de mídias sociais do Hamas ficou evidente nas primeiras horas de seu ataque sangrento, quando imagens viscerais de câmeras GoPro usadas no corpo inundaram rapidamente seus canais do Telegram. Em um clipe, um terrorista aponta a câmera para um corpo e diz: “Hora das fotos”.

Centenas de palestinos foram mortos após ataque a hospital na Faixa de Gaza Foto: Mohammed Al-Masri/REUTERS

Mudança após ataques

Nos dias que se seguiram, o Hamas continuou a usar esses canais para publicar monólogos em vídeo de líderes políticos e militares, convocar apoiadores internacionais para pegar em armas e ameaçar transmitir execuções de reféns. Um canal postou vídeos curtos de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas que vive no exílio no Catar, enquanto outro postou mensagens de arrecadação de fundos buscando doações em criptomoedas.

Alguns dos vídeos mostram a força de combate do Hamas como implacável e engenhosa, e são editados para incluir trilhas sonoras dramáticas, animações de títulos, sequências em câmera lenta e outros toques profissionais. Um vídeo mostra uma montagem de treinamento no estilo de filme de ação, enquanto outro usa imagens gravadas por câmeras subaquáticas e drones voadores para mostrar como os terroristas transformaram dutos em mísseis.

Rita Katz, diretora executiva do SITE Intelligence Group, que rastreia grupos terroristas online, disse que os canais do Hamas já foram uma mistura “entediante” de fotos mostrando lançamentos de foguetes e combatentes mortos, conhecidos como “relatórios de mártires”.

Desde a emboscada, no entanto, os canais passaram a publicar declarações de resposta rápida e vídeos altamente produzidos a qualquer hora – um fluxo de mensagens e propaganda em tempo de guerra que os apoiadores israelenses descreveram como guerra psicológica.

“Nunca vi a comunidade jihadista, e provavelmente também a comunidade de extrema direita, compartilhando tanto dos canais do Hamas”, disse ela. “Está em toda parte online. Não se pode ignorar isso”.

Foco no Telegram

O Hamas foi banido pelo Facebook, Instagram, TikTok, YouTube e X, anteriormente conhecido como Twitter. No entanto, muitos de seus vídeos foram repostados no X, que, segundo alguns especialistas, tem demorado para retirá-los do ar. A empresa disse em um comunicado que recentemente removeu centenas de contas do Hamas.

Mas o grupo publica seus vídeos mais violentos e mensagens extremas diretamente no Telegram, onde tem poucas preocupações de que eles sejam removidos e onde seus números de audiência aumentaram. Sua ala militar, as Brigadas al-Qassam, agora tem mais de 700 mil seguidores, ante 200 mil antes do ataque, e milhares de espectadores reagem com emojis a cada mensagem, como os emojis de coração, fogo e saudação.

O Telegram não respondeu aos pedidos de comentários, mas seu fundador, o bilionário Pavel Durov, nascido na Rússia, disse em uma postagem na sexta-feira que o serviço não “amplificava significativamente a propaganda” e era, em vez disso, uma “fonte única de informações em primeira mão para pesquisadores, jornalistas e verificadores de fatos”.

“No início desta semana, o Hamas usou o Telegram para avisar os civis em (a cidade israelense de) Ashkelon para deixar a área antes de seus ataques com mísseis”, acrescentou. “O fechamento do canal deles ajudaria a salvar vidas ou colocaria mais vidas em risco?”

Joel Finkelstein, cofundador do grupo de pesquisa Network Contagion Research Institute, disse que a estratégia de mídia social do Hamas decolou há dois anos, durante a guerra de 11 dias entre Israel e o grupo terrorista. Naquela época, uma das cinco principais hashtags que surgiram globalmente sobre o conflito foi #IsraeliCrimes, que, segundo Finkelstein, foi impulsionada por extensas redes de bots e contas falsas. Desde então, essas contas continuaram a “abastecer a bomba” com conteúdo antissemita, possivelmente em preparação para o ataque de 7 de outubro, disse ele.

As autoridades do Hamas não forneceram detalhes sobre como eles administram sua operação de mídia social. Mas a publicação contínua de vídeos e mensagens 24 horas por dia, 7 dias por semana, durante as interrupções em massa de energia e internet em Gaza, levou alguns pesquisadores a suspeitar que o grupo depende em parte de trabalhadores internacionais, talvez no vizinho Líbano ou Qatar.

Russo Pavel Durov é o fundador e presidente executivo do Telegram Foto: Albert Gea/Reuters

O Hamas possui um escritório de relações públicas e administra grupos de mídia como a Al-Aqsa TV, uma rede de entretenimento e propaganda com sede em Gaza, disponível via satélite e webcast.

O site das Brigadas al-Qassam é hospedado pela DigitalOcean, um provedor de servidores em nuvem com sede em Nova York, segundo registros de domínio. A empresa não respondeu aos pedidos de comentários feitos pelo Washington Post.

Ruslan Trad, pesquisador de segurança do Digital Forensic Research Lab do Atlantic Council, disse que a infraestrutura online do grupo funciona mais como uma burocracia governamental do que se poderia esperar de um grupo como o Estado Islâmico.

“O Hamas tem uma hierarquia rígida e testada, dividida por tarefas; a organização tem uma ala social e militar”, disse ele. “É mais parecido com uma estrutura estatal do que ter uma equipe de mídia como uma organização típica.”

Comunicação interna

O Hamas também está usando o Telegram como um megafone para sua alta cúpula. O porta-voz da ala militar do Hamas, que usa o nome Abu Obaida, postou várias declarações em vídeo, primeiro ameaçando transmitir execuções de reféns e depois, na segunda-feira, chamando os prisioneiros de “nossos convidados... que procuramos proteger”.

Nos vídeos, seu rosto é coberto por um cocar vermelho quadriculado chamado kaffiyeh. Um logotipo do Hamas aparece sobre seu ombro, no estilo de um noticiário de TV.

O Hamas também usou o canal na segunda-feira para transmitir um vídeo de uma de suas reféns, Mia Shem, uma mulher de 21 anos sequestrada em uma rave noturna no deserto, onde pelo menos 260 pessoas foram mortas. No vídeo, Shem diz sob coação que o grupo havia lhe dado tratamento médico, incluindo uma cirurgia de três horas para curar um grave ferimento no braço.

“Por favor, tire-nos daqui o mais rápido possível”, diz ela em hebraico. Não está claro quando o vídeo foi gravado. O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, disse em uma entrevista ao NBC News na terça-feira que se tratava de um “vídeo de propaganda muito mais do que uma prova de vida”.

O Hamas sempre quis ter certeza de que teria educadores, professores e pessoas da mídia no que chamam de ‘despertar das massas’. Agora, com o envolvimento da mídia social, o grupo tem isso

Pesquisador do Middle East Media Research Institute

Recentemente, o Hamas tem trabalhado para usar o Telegram como uma ferramenta estratégica de relações públicas, pedindo aos seus apoiadores que defendam o grupo em suas próprias contas e agradecendo à Rússia por seu apoio.

Mas as horas de vídeo que o Hamas coletou e compartilhou online também foram usadas por Israel para expor a barbárie do grupo. Na segunda-feira, os militares israelenses divulgaram um vídeo macabro, compilando imagens tiradas de câmeras corporais e contas de mídia social do Hamas, mostrando seus terroristas assassinando civis, invadindo casas, mutilando corpos e arrastando reféns.

O Hamas “sempre considerou a jihad em vídeo como uma de suas armas decisivas”, disse um pesquisador do Middle East Media Research Institute, um grupo com sede em Washington que acompanha as mensagens do Hamas, falando sob condição de anonimato por motivos de segurança. “Eles sempre quiseram ter certeza de que teriam educadores, professores e pessoas da mídia no que eles chamam de ‘despertar das massas’. Agora, com o envolvimento da mídia social, eles têm isso.” / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

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