Famosa, mas pouco usada. Um lugar onde se brinca com as notícias em 140 caracteres, o Twitter é polarizador: ou você é um viciado nele, ou nem consegue entender o fascínio que alguns têm por ele.
Se você usa o Twitter, explicar porque está ali – e não consegue parar de checá-lo mesmo quando sua filha de três anos cai do balanço e bate o rosto, o que acaba de acontecer comigo – pode ser um desafio até em tempos normais.
Acontece que os últimos meses não foram nada normais. O período foi forte em grandes coberturas: não só de Donald Trump, mas de San Bernardino, Paris, Brexit, da Suprema Corte norte-americana e da vitória dos Cubs no beiselbol (já falamos de Donald Trump?). A cada fato, a atração do Twitter cresceu para se tornar irresistível e engolir o mundo.
Um dia, historiadores vão analisar se a devoção dos jornalistas a uma plataforma cheia de comentários mordazes – e com pouca sutileza e empatia – foi boa para a República dos EUA. Para viciados em notícias como eu, isso pouco importa. Em 2016, o Twitter foi visceral e viciante.
Tá, mas e agora? Como empresa, o Twitter já não andava bem das pernas antes do desenlace espetacular das eleições presidenciais. O serviço atrai novos usuários com dificuldade há mais de um ano e quem está conectado o utiliza cada vez menos. E quando tentou se pôr à venda, há alguns meses, ninguém quis comprá-lo.
Usuários e compradores em potencial parecem desanimar diante de sua complexidade, sua feiura e sua aparente inutilidade para quem não está envolvido com tecnologia, política ou imprensa. Além disso, o Twitter virou um bastião de misóginos, racistas e trolls.
Levando isso em consideração, o Twitter rendeu bem durante as eleições dos EUA de 2016. Na noite da eleição, enquanto assistíamos a um acontecimento que só se vê uma vez na vida, a rede social foi inundada de comentários – para xingar, comentar e parabenizar os vencedores. No dia seguinte, enquanto as ações da maioria das empresas de tecnologia despencaram, as do Twitter tiveram uma leve valorização.
Altos e baixos. Não será surpresa se este momento for o auge da plataforma. Após as eleições, fãs ardorosos do Twitter se mostraram ressentidos com o papel do serviço em suas vidas e no país este ano. “Na melhor das hipóteses, foram só piadas e reclamações – substancioso como comer doces no jantar”, disse Brent Simmons, desenvolvedor de software que abandonou o serviço.
“O Twitter é tóxico”, tuitou o usuário Steve Kovach, comparando o serviço a um vício. “Não aguento mais. Comecei aos poucos, deletando meus tuítes agora, no meio do ano, deixei de seguir todo mundo, mas comecei de novo. Estava me enlouquecendo e me deixando triste”, confessou ele, em mensagem privada. Kovach confirmou ter dificuldade em manter a promessa que fizera a si mesmo de parar, mas o fim da campanha só reforçou sua intenção.
Sendo viciado, tive um impulso semelhante de questionar meu compromisso com a rede social após as eleições. Parecia tão insular, consumia tanto tempo e, apesar disso, dava a impressão de ser totalmente inútil sob uma perspectiva mais ampla. Acho que é hora de um detox. Como dizem no Twitter (onde as pessoas gostam de falar de um jeito estranho): O que nós estamos fazendo aqui? Por que não conseguimos parar?
O Facebook é a maior rede social do mundo. Mas o Twitter foi o pulso da eleição. Toda história da campanha só ganhava impulso ali: um furo só era um furo de verdade se houvesse um tuíte comentando o caso – para depois ir para o resto da internet e as TVs.
Olivia Nuzzi, que cobre política para o Daily Beast, me disse que acha o Twitter “muito frustrante”, mas a considera essencial para seu trabalho. “Se sair do Twitter meia hora, posso perder uma história”, diz.
Em uma tarde de sexta-feira, perto do fim da campanha, ela cochilou na mesa da cozinha – e acordou com a nota divulgada pelos assessores de Trump defendendo a forma com que ele se expressou como “conversa de vestiário”. “Como eu tinha me desligado por 15 minutos, perdi o fio da meada”, diz.
Quando perguntado, no terceiro debate presidencial, por que usava o serviço, Trump pareceu perdido. “Tuitar é uma forma moderna de comunicação”, disse. Depois de se gabar do número de seguidores, acrescentou: “Para ser sincero, tenho muito orgulho, sabe?”
Foi o que eu senti. O Twitter, durante essa campanha, parecia minha segunda casa. Claro, estava toda cheia de lixo, tão assombrada que quase sempre testava o limite da minha sanidade. Ela pouco fez para reforçar nossa democracia, promovendo a ideia destruidora de que o furo de campanha era um esporte – e não algo essencial para o país e tudo mais.
Não era uma casa legal. E talvez seja melhor sair de lá de vez em quando. Mas ainda assim, para ser sincero, tenho muito orgulho, sabe?